Os Jessups ficaram tão
magoados e consternados que foi preciso cuidadosos e amorosos apelos por parte
dos Walroths para que eles voltassem à comunhão; Judy Waring estava abrigando
bastante amargura contra gente como Donna Hemphile que a havia usado — e à sua
boca — para prejudicar o povo de Deus. Mas teve de admitir, afinal, que foram a
sua boca e o seu coração, e começou a reviravolta com essas duas áreas de sua
vida. Cada um deles precisou reavaliar totalmente sua opinião sobre Tom Harris,
e ainda estavam nesse processo enquanto oravam.
Não foi uma restauração fácil
para nenhum deles, mas à luz da revelação do seu inimigo, tinham uma escolha
clara: voltar ao exército de Deus e lutar contra o mal que estava naquele
instante destruindo-os, às suas famílias e à sua fé cristã, ou... continuar a
ser destruídos.
Resolveram unir-se no
exército divino e lutar fortemente.
Os anjos mantinham-se quietos, escondidos, e sem falar muito enquanto secretamente se posicionavam em pontos estratégicos por todo o país, esperando que o "incêndio" de Tal começasse.
Mota, o polinésio, e Signa, o
oriental, tinham muitos pontos a cobrir por toda a área de Baskon, mas
dispunham agora de guerreiros mais do que suficientes, que cuidadosa e
metodicamente os cobriam. Terga, o príncipe da cidade de ego sensível, estava
ficando nervoso com a súbita maré de orações que vinha dos santos reunidos, mas
até então não havia percebido a atividade que todas aquelas preces estavam
precipitando. Ademais, ele tinha ouvido a notícia dos poderes acima dele: a
mulher havia sido capturada; o perigo havia terminado.
Cree, o índio americano, e Si, do leste indiano, haviam voltado de novo ao Centro Ômega para Estudos Educacionais, e estavam agora postando guerreiros angelicais como cargas de explosivos nos lugares certos por todo o campus. Era um trabalho entediante, perigoso, sendo a descoberta o maior dos perigos. Enquanto rastejavam por ali ou debaixo do chão, moviam-se por sob a superfície do lago, iam furtivamente de árvore em árvore, ou passavam horas totalmente imóveis debaixo de pedras, barcos ou prédios a fim de evitar serem descobertos. Quase sempre conseguiam ver Barquit, o Príncipe de Ômega, disparando para cá e para lá, seus olhos por toda a parte, rindo e exultando a cada progresso feito nas classes e nas oficinas de trabalho, depois rosnando e cuspindo ante qualquer movimento desajeitado por parte dos seus demônios ou de sua gente-marionete lá em baixo. Ele ainda dominava totalmente e controlava suas hordas demoníacas com pulso de ferro. Agora que a mulher havia sido capturada, ele não sentia qualquer temor ou preocupação, e obviamente tencionava permanecer para sempre em seu posto.
Por fora, a Universidade Bentmore parecia a mesma antiga alma mater de tijolos vermelhos permanentemente estabelecida que sempre tinha sido, e as classes iam a todo vapor como sempre.
Na esfera espiritual,
entretanto, Corruptor, o rotundo senhor de desinformação e indulgência carnal
de Bentmore, movia-se como um dirigível sobre o campus, procurando qualquer
dano em que a escola pudesse ter incorrido resultante daquele recente e
violento intercâmbio com os guerreiros dos Céus. Ah! Destruidor nada mais era
do que um poço de preocupação ansioso para não perder o seu status! Dano? Quase
não havia nenhum digno de nota. O professor Lynch havia estado um tanto adoentado
ultimamente, mas afinal ele estava ficando velho, e havia muitos outros no lugar
de onde ele tinha vindo. Com a mulher capturada, o futuro estava escancarado.Do
outro lado do rio, em cima da Companhia Norte-Americana de Latas, Chimon, o
europeu, e Scion, das Ilhas Britânicas, estavam de volta, escondidos atrás de
uma das muitas chaminés de ventilação da fábrica. As coisas pareciam calmas em
Bentmore naquele momento, mas quando o incêndio de Tal tivesse início, haveria
barulho o bastante.
Chimon e Scion estavam
procurando esconderijos e enviando tropas a ocupá-los. O depósito perto do rio
podia abrigar uma miríade mais ou menos; o cais no lado de Bentmore também
serviria muito bem, por estar mais perto do campus. As tropas moviam-se
silenciosa e rapidamente. Um movimento em falso, uma chispa luminosa fora de
hora, podia colocá-los a todos em perigo.
A cada ponto ao longo da jornada de Sally, a cada fortaleza de Satanás, os anjos se posicionavam e então esperavam o sinal.
Mas todos eles sabiam que
estavam esperando mais tempo do que haviam previsto.
Nos picos acima do Summit, Tal e Guilo vigiavam e escutavam a fim de ter alguma indicação do que poderia estar acontecendo lá dentro. Atrás deles, um exército oculto jazia à espera, pronto.
— A qualquer momento — disse
Tal mais de uma vez. — A qualquer momento.
Num sentido puramente físico, o chalé do Sr. Goring era uma atraente estrutura em formato de A, construída com madeira grosseiramente talhada e uma frente de vidro que ia até o teto e oferecia uma vista maravilhosa das montanhas. Poderia ter servido muito bem como um pavilhão para esquiadores ou um retiro nas montanhas.
Num sentido espiritual, era
um ninho de marimbondos, tumultuado, espumante de maldade, e Sally pôde
senti-lo mesmo antes que seus captores a conduzissem através da porta da
frente. Ela sabia que estava sendo vigiada de cada direção; podia discernir o
ódio opressivo, sufocante que cobria o lugar como uma bruma de chumbo.
Destruidor já se encontrava
no chalé, forçando passagem à sala de estar, empurrando para o lado os demônios
e assistentes do Homem Forte com rude atrevimento. E lá foi ele adentrando o
covil do Homem Forte, marchando empertigado pela estreita passagem formada por
duas filas alinhadas de senhores demoníacos de todo o mundo, até que enfim se
postou na presença do Homem Forte.— Meu Ba-al — disse em voz bem alta, com uma
mesura um tanto exibicionista — trago-lhe Sally Beth Roe!
O Homem Forte tinha ouvido a
nuvem demoníaca em alvoroço, e agora podia ver Kholl e seus homens trazendo
Sally Roe à porta da frente. Ele moveu a cabeça em aprovação cuidadosamente
medida.
— Trouxe mesmo. Trouxe mesmo.
Os senhores demoníacos ergueram
as espadas para começar a dar vivas. O Homem Forte grunhiu, os braços
estendidos:
— Esperem! — Eles se
detiveram bruscamente e fitaram-no. — Primeiro veremos se existe alguma coisa
para aplaudir.
A pesada porta de pranchões fechou-se atrás de Sally e de seus captores. Estavam em pé na espaçosa e confortável sala de estar do Sr. Goring. Num dos lados, havia enorme lareira de pedras; no outro lado, uma parede de vidro trazia as montanhas para dentro; o teto de vigas expostas pairava acima deles até o cume do telhado, e da maciça viga da cumeeira, rústicas luminárias de ferro pendiam de longas correntes.
Três homens ergueram-se de
seus lugares perto do fogo. Sally reconheceu Steele, e o sorriso satisfeito
deste deixava patente que ele a reconhecia.
Foi Goring quem ordenou.
— Tragam-na aqui e façam-na
sentar.
Kholl estava atrás de um
pouco de glória. Ele agarrou o braço de Sally e a puxou para diante, mantendo-a
constantemente desequilibrada, e depois, com um aperto cruel que lhe machucou o
braço, jogou-a sobre o sofá. Com apenas alguns gestos discretos, ele ordenou
aos seus quatro capangas que montassem guarda em torno dela.
— Senhores — disse ele com
arrogância — trago-lhes Sally Beth Roe.
Os três homens postaram-se
diante dela, fitando-a com grande interesse. O homem de cabelos grisalhos com
a barba perfeitamente aparada e o colar de osso olhou para o homem alto, de
cabelos prateados, com cara de executivo, e então ambos olharam para Steele.
— É ela — disse Steele. —
Muito bem, Sr. Kholl. Aceitaremos a nossa conta com o senhor imediatamente.
Entretanto, se concordar, poderemos precisar ainda dos seus serviços.
Kholl sorriu, lançando a
Sally um malicioso olhar de esguelha.
— Seria um prazer.
— Então, por favor, fique
mais um pouco, o senhor e o seu pessoal. Tentaremos resolver este negócio o
mais rápido possível.
— Não tem pressa.
Com Sally colocada seguramente
no sofá, e debaixo de guarda competente, os três cavalheiros descontraíram-se
e tomaram seus assentos, osdois homens mais velhos em outro sofá de frente para
Sally, e Steele numa grande cadeira preguiçosa entre os dois sofás, de frente
para o fogo. Steele deu inicio à conversa.
— Sally, deixe-me
apresentar-lhe meus dois amigos. — Ele indicou o homem com a barba
perfeitamente aparada. — Este é o Sr. Emile Goring, presentemente diretor de
finanças da Associação Mannesville, um pensador ambiental e humanitário de
renome internacional, e mobilizador de projetos globais. É um dos principais
acionistas e diretor em mais de quarenta firmas mundiais de óleo, gás,
transportes, exportações, mineração e assim por diante.
Sally olhou na direção de
Goring, que lhe fez um movimento de cabeça com expressão sombria, mas ainda
fascinada.
Steele queria certificar-se
de que Sally ficasse impressionada.
— Conseqüentemente, o que o
Sr. Goring desejar fazer, tem os meios para fazer. Ele e seus associados são
importantes contribuidores e agentes para empreendimentos como o Instituto
Summit; este instituto é parte de sua visão, e não estaria aqui se não fosse
por seus esforços.
— O outro cavalheiro é o Sr.
Carl Santinelli, Sócio Sênior na firma de Evans, Santinelli, Farnsworth e
McCutcheon, uma das firmas de advocacia mais poderosas no país e, de certo modo,
a nau capitania da ACAL. É homem de grandes causas de lei e de jurisprudência,
um ativista judicial da mais alta ordem, e definitivamente não um homem com
quem se intrometer.
Sally olhou para Santinelli,
e recebeu um olhar fixo, frio e perscrutador, de volta.
Então Steele voltou-se para
Goring e Santinelli.
— Sr. Goring e Sr.
Santinelli, apresento-lhes a Srta. Sally Beth Roe, antiga Diretora dos Recursos
para Currículos Primários do Centro Ômega para Estudos Educacionais, condenada
por homicídio, ex-detenta, operária de produção na Fábrica de Portas Bergen, e,
mais recentemente, nômade.
Goring e Santinelli
continuaram a estudá-la como se estivessem olhando para uma verdadeira
raridade.
Steele relaxou em sua cadeira
e a estudou por si mesmo.
— Tem sido uma aventura e
tanto, não?
— Tem, sim — respondeu ela.
— Estou vendo que as raízes
do seu cabelo estão começando a aparecer. Realmente sinto falta de ver seu
chame jante cabelo ruivo. E desde quando você usa óculos coloridos?
Ela suspirou e tirou-os,
esfregando os olhos cansados. — Tudo um disfarce, naturalmente. — Depois ela
admitiu com amargura. — E muito inútil.
— Muito inútil — concordou
Steele. — Mas você compreende, não é mesmo, por que precisamos capturá-la? A
pergunta enraiveceu-a.
— É minha impressão, Sr.
Steele, que o senhor e seus associados me querem morta, e eu gostaria de saber
porquê.
— Ora, vamos! Uma pessoa tão
brilhante e experiente quanto você deveria saber o quanto nos atrapalha. Quanto
àquele atentado inicial contra a sua vida, direi sem rodeios. Foi erro crasso,
um fiasco infeliz perpetrado por uns incompetentes que acharam que nos
agradariam. Não gostamos. Matá-la dessa forma nunca foi a nossa intenção original.
— Então qual era a sua
intenção original? Santinelli sorriu.
— Nossa intenção original era
a ação judicial contra a Academia do Bom Pastor em Baskon, a cidade em que
atualmente reside. O fato de você ter tropeçado no meio do nosso projeto foi
surpresa total para nós.
Sally precisava confirmar
aquilo de que desconfiava.
— Vocês são, em última
instância, os responsáveis pela ação judicial contra a escola cristã?
Santinelli assentiu com a
cabeça.
— Lucy Brandon primeiro
entrou em contato com a nossa filial local da ACAL, a filial entrou em contato
com a associação estadual, a associação estadual entrou em contato conosco, e
resolvemos que o caso poderia vir a ser proveitoso. Imediatamente, colocamos
nossa força e influência por trás dele.
— Mas não por causa da
criança, Amber, naturalmente?
Santinelli trocou um olhar
com os outros. Essa mulher era tão esperta quanto Steele havia dito que era.
— Obviamente, você não tem
ilusões sobre a nossa preocupação com a segurança, os direitos e o bem-estar
das crianças, especialmente visto que a ACAL defende com regularidade os
interesses dos pornógrafos e abusadores de crianças. — Ele se recostou no sofá
com o queixo levantado, batendo de leve com as pontas dos dedos umas nas
outras, observando-lhe os olhos à espera de uma reação.
Ele forçou um canto da boca a
se espichar para cima e fez um gesto afirmativo com a cabeça.
— Como bem pode imaginar, o
verdadeiro objetivo da ação judicial não é a concessão de indenização à
acusadora, mas o de abrir um precedente legal, o de moldar e ajustar a lei, até
reescrever a lei, através de um caso ideal para o estabelecimento de um
precedente.
Steele contribuiu:
— A Srta. Roe está bastante
familiarizada com a nossa pauta para transformação social através de educação
pública controlada pelo estado. Ela foi importante contribuidora para esse
esforço em certa época.
Santinelli assentiu com a
cabeça, impressionado.
— Portanto, você percebe que
grande impedimento à nossa causa os cristãos representam enquanto lhes for
permitido criar e educar seus próprios filhos segundo suas crenças bíblicas.
Mesmo antes de seus anos no Ômega, estávamos procurando legislação e precedente
legal que pudesse ser usado a fim de sufocar esse impedimento. Demorou todo
esse tempo para que isso ocorresse.
— Mas ocorreu! — exclamou
Goring com um sorriso triunfante. Santinelli permitiu-se o mesmo sorriso e
continuou:
— A última legislação para
nosso uso foi o Decreto Federal de Assistência a Creches e a Escolas Primárias
Particulares, e o Decreto de Direitos Civis Munson-Ross, cada um deles uma
pilha bastante confusa de leis que, como havíamos esperado, teria de ser
testada e esclarecida pelos tribunais. O caso da Academia do Bom Pastor parecia
feito sob medida para esse propósito. Não apenas envolvia fundos federais
gastos numa escola cristã, e daí a intervenção e controle do governo, como
também incluía o ângulo útil, inflamatório de abuso infantil, algo que podíamos
usar a fim de incitar o apoio da imprensa e da mentalidade pública, fazendo com
que todos eles passassem para o nosso lado independente das verdadeiras
questões. Com o público chocado e preocupado com a proteção de crianças
inocentes, seríamos vistos como nada menos do que defensores das crianças ao
estabelecer através da abertura de precedentes o direito e o dever de o estado
controlar a educação religiosa.
Ele não pôde resistir a uma
risada de prazer, antes de prosseguir.
— Mesmo após o trauma inicial,
real ou forjado, contra a criança ter-se desvanecido no passado e sido
esquecido, as leis ainda estarão nos livros, e o governo firmemente plantado
dentro das paredes da igreja.
— Conforme você mesma ensinou
e aprendeu — continuou Santinelli — uma vez que esse controle da
instrução religiosa seja estabelecido, a eliminação metódica e gradual de toda
instrução religiosa é apenas questão de tempo. E então pessoas como você foi
terão tremendo poder, de longo alcance, para controlar e moldar, sem resistência,
cada segmento da próxima geração.
Sally assentiu com a cabeça.
Ela havia aprendido esse catecismo. Goring apanhou o fio da narrativa.
— Bem, parecia prometedor,
naturalmente. Mas isso foi antes de você surgir por acaso. Pode imaginar o
choque que foi ficar sabendo que você havia saído da prisão e que morava na
própria cidade onde havíamos movido a ação judicial. Pior do que isso foi a
maneira pela qual descobrimos: O nosso pequenino troféu, a própria criança em
questão, supostamente a pura, totalmente inocente vítima de fanáticos e
violentadores cristãos, de súbito escolheu exibir sua verdadeira natureza certo
dia no Correio local. Ah! Vejo que se lembra do incidente! De todas as pessoas
que poderiam presenciar a explosão, tinha de ser você!
— Quando a Sra. Brandon levou
o incidente ao conhecimento de seus advogados, eles nos avisaram, e, sabendo
quem você era, vimos um risco substancioso de que você reconhecesse a condição
da criança, especialmente visto que você havia escrito o currículo que a
causara. Percebemos que você poderia prejudicar severamente o nosso caso se
resolvesse apresentar-se.
Santinelli permitiu-se uma
risada pesarosa.
— Mas realmente, ainda não
havíamos decidido qual seria o nosso curso de ação quando um membro mal
orientado — ex-membro agora — de nossa equipe tomou as rédeas na questão e
contratou os serviços de uma assassina.
— Com essa parte você está
bem familiarizada — afirmou Goring.
— Oh, sim.
— E isso — disse Santinelli —
nos traz ao motivo pelo qual temos todos estado envolvidos nessa bela
perseguição. Srta. Roe, se você tivesse morrido então, poderíamos ter absorvido
o erro e continuado com nosso plano, em nada prejudicado pela impulsividade do
nosso amigo. — Ele suspirou. — Mas sendo a pessoa impressionante que é, você
não apenas viveu, mas matou a assassina e a deixou lá a fim de criar todo o
tipo de pergunta se fosse encontrada, e escapou com o anel que a assassina
usava no dedo, um anel que podia eventualmente ligar todo o negócio malvado a
nós.
Sally nada disse, e tentou evitar
que seu rosto dissesse alguma coisa.
— A assassina era espertinha.
Era amante daquele ex-membro de nossa equipe, e surrupiou o anel dele,
acreditamos, com o propósito de chantagem e manipulação. Aquele anel poderia
ter contado a qualquer um quem era seu verdadeiro dono, tudo o que seria
necessário era a obtenção das listas de membros da Nação nos quais todos os
nomes codificados estão enumerados. Os dois itens estão agora, acreditamos, em
sua posse?
— Estou preparada para
negociar — replicou ela. Todos eles sufocaram uma risada e trocaram olhares.
Steele aventurou uma pergunta
que todos achavam desnecessária.
— Então... está disposta a
renunciar às listas e ao anel em troca de alguma coisa? E o que seria essa
coisa?
Sally olhou todos eles nos
olhos e falou claramente.
— Que vocês abandonem a ação
judicial, deixem a escola cristã em paz, e permitam que Tom Harris possa reaver
os filhos.
Dessa vez eles não sufocaram
a risada de forma alguma, mas deliciaram-se plenamente com o apelo dela.
— E depois - disse Goring —
você nos devolverá as listas e o anel para dispormos deles?
— Podemos certamente
conversar sobre isso; estou certa de que poderemos chegar a um acordo.
Santinelli inclinou-se para
diante.— É uma corrente o que vejo em torno do seu pescoço?
Kholl certificou-se de que
era. Ele forçou a cabeça dela para o lado e agarrou a corrente, puxando-a com
força de sob a blusa.
Um anel de ouro pendia na
ponta.
Com um safanão cruel que a
ergueu do sofá e penetrou-lhe no pescoço, ele agarrou de súbito a corrente e
arrancou-a. Sally foi parar no tapete com um grito de dor, apenas para ser
erguida pelos capangas e atirada sobre o sofá novamente.
— Ei, parem com isso! —
ordenou Goring. Depois ele apontou o pescoço dela que sangrava. — Coloquem um
pano sobre isso. Não quero que manche o sofá.
Um dos homens de Kholl
colocou um lenço em torno do pescoço de Sally.
Kholl balançou o anel acima
da palma de Santinelli, e em seguida deixou-o cair.
Santinelli examinou o anel.
— Mm-hm. O Anel de
Fraternidade na Ordem Real e Sagrada da Nação. Um objeto sagrado, é certo. —
Ele olhou enraivecido para Sally. — Sagrado demais para estar em sua posse...
ou continuar em sua posse.
Sally segurou o lenço de
encontro ao pescoço, atordoada e esvaziada em seu espírito, e estremecendo pela
dor causticante do ferimento.
— Estou vendo que pertence a
esse grupo.
Santinelli olhou para o Anel
de Fraternidade em sua própria mão.
— Oh, a Nação consiste de
muitos irmãos, todos em lugares vitais: no governo, nos bancos, nos tribunais
federais, nos colegiados e conselhos das universidades. Você conheceu bem o
Owen Bennett, claro, e estou certa de que já leu uma quantidade impressionante
de nomes nessas listas que roubou. Como qualquer outra sociedade secreta,
ajudamos todos os nossos iniciados a se estabelecerem nos lugares certos, e
cuidamos dos interesses uns dos outros, contanto, naturalmente, que o interesse
de cada homem se conforme aos interesses da sociedade.
— Aparentemente, os
interesses de James Bardine não se conformaram. Santinelli sorriu.
— Ah, sim, aquele
"ex-membro de nossa equipe" tem um nome. Então foi você que ligou
para o nosso escritório? Soube que a nossa recepcionista recentemente informou
uma interlocutora anônima sobre a sua morte prematura. — Ele deixou o anel
ficar caindo de uma mão para a outra. — Fraternidade é uma coisa; violação de
sagrados votos de sangue de manter segredo é outra.
Ela olhou pelas janelas na
direção das montanhas.
— Há algumas coisas que é
melhor manter lacradas, Srta. Roe. Se pudesse ter dado uma volta pelos
arredores, ou caminhado pela cidade de Summit e encontrado algumas das pessoas
que estão aqui esta semana,teria encontrado muitas diferentes organizações
esotéricas representadas, e alguns... indivíduos... bem... singulares. Somos
todos uma família global, como sabe; esse é o brado unificador de cada coração.
Proclamamos essa idéia aqui e em toda a parte, da mesma forma que você própria
a proclamou, e ensinamos que todos são iguais. — Ele pausou para causar efeito.
— Mas não revelamos a mais ninguém o fato de que alguns são superiores a
outros, e muito mais capazes de governar.
Ele colocou o anel sobre a mesinha
de centro e depois olhou para ela diretamente.
— Confio que agora você avalia
plenamente o que está em jogo aqui, quão implacáveis e determinados somos, e
quanto a sua situação é desesperadora. Não estamos aqui para negociar, Srta.
Roe, mas para pôr um fim na ameaça que você representa para nós. Exatamente que
processo será necessário para conseguir isso dependerá em grande parte de você
mesma.
— Ele olhou para Kholl. —
Estou certo de que pouco conforto lhe trará saber que o Sr. Kholl e seus quatro
comparsas são membros da mesma ordem secreta à qual pertencia a sua assassina,
uma seita satânica conhecida como Vidoeiro Quebrado. São um bando implacável
que viceja com derramamento de sangue, tortura, sacrifício humano. Muito
repugnante.
— Ele voltou o olhar a Sally.
— Srta. Roe, somos decentes, e não lhe desejamos mais desconforto do que você
possa tornar necessário. Para falar às claras, seu destino depende de seu
desempenho.
Natã, o árabe, e seu pequeno bando de sentinelas continuava defendendo o caminhão do correio à medida que este se aproximava mais e mais de Ashton. Armoth, o africano, havia voado adiante a fim de avisar Krioni e Triskal, os anjos de guarda da cidade. Era apenas uma questão de tempo antes que Destruidor soubesse da carta que aquele caminhão transportava.
No jardim de ervas que não ficava longe do chalé de Goring, um grupo de mais ou menos trinta participantes se reunia ao ar fresco e perfumado para um período de trabalho matinal, conduzido por um famoso cantor. O jovem de cabelos loiros havia trazido seu violão, e havia umas canções planejadas para antes de sua palestra sobre "Ecologia: A Fusão da Terra e do Espírito."
Havia certa euforia no grupo.
Essas pessoas jamais haviam estado tão perto assim de alguém tão famoso, e ele
não era a única pessoa famosa sentada ali entre o alecrim, o tomilho e as orelhas
de burro. Dois ministros de estatura mundial que apareciam nos noticiários
também estavam presentes, bem como o diretor de filmes místicos de ficção
científica cujo nome era conhecido por todos, e cujos personagens dos filmes
eram agora brinquedos de plástico no quarto de cada criança no pais e lá fora.
O cantor loiro dedilhou o
violão, e todos se puseram a cantar uma de suas conhecidas baladas. O momento
era mágico.
Os demônios entre eles também
estavam se deleitando. Adoração e atenção tais como as que estavam agora
recebendo eram como uma boa massagem nas costas, e eles chegavam mesmo a se
contorcer e remexer de gozo a cada compasso do sentido duplo cuidadosamente
disfarçado da música.
Huh? O que foi aquilo? Os demônios viraram as cabeças a fim de olhar na
direção do distúrbio.
Dois guerreiros demoníacos
chegavam, deslizando por cima do topo do Pavilhão Goring, aparentemente rumando
para o chalé de Goring. Levavam entre si o vulto murcho, lasso de um demônio
estropiado, ainda ganindo e berrando de agonia. Com um som suave, farfalhante,
eles passaram bem acima do jardim de ervas e em seguida desapareceram por trás
da alta cerca viva.
Os demônios no jardim de
ervas se remexeram, alvoroçaram e resmungaram uns para os outros. O que foi
aquilo? O que foi aquilo? O que aconteceu?
Alguns médiuns haviam
comparecido, e os demônios grudados em seus cérebros ficaram tão alvoroçados
quanto os outros. Os médiuns puderam sentir imediatamente.
O jovem loiro chegou a parar
a música.
— O que é?
— Um distúrbio — informou uma
advogada que era médium.
— Sim — confirmou um
professor de quinta série, os olhos fechados. — Algum tipo de má energia. Há
algo errado em algum lugar.
No chalé, Destruidor se deliciava com toda a conversa, o mesmo ocorrendo com o Homem Forte, embora esse último se impacientasse.
Por que esperar tanto? rosnou
ele. Faça-a falar, e depois dê cabo dela! O Plano está esperando!
— Destruidor! — veio uma voz
áspera do lado de fora do prédio. Era um dos capangas de Destruidor. — Um
guerreiro traz notícias!
— Agora não! — vociferou
Destruidor, querendo ver o que aconteceria à mulher.
— Vá! — disse o Homem Forte.
Ele foi, saindo para fora do
chalé a fim de escutar um espírito de aparência lastimável.
— O que aconteceu com você?
O demônio sentou-se sobre as
ancas no chão, as asas estendidas como lonas negras e esfarrapadas, amassadas,
flácidas e cheias de buracos. Sua cabeça estava toda machucada, e ele se
apoiava a fim de evitar cair.
— Atacamos um caminhão do
correio que ia para Ashton. Destruidor abaixou-se bastante.
— Você disse Ashton?
O demônio começou a tombar.
Destruidor agarrou-o pelo
pescoço e fê-lo ficar ereto com um safanão.
— Você disse Ashton?
O demônio deu uma resposta
indistinta e fraca.
— Ashton. A carta está indo
para Ashton, e os Exércitos Celestiais a guardam.
Destruidor disparou uma
olhada para dentro do chalé. O Homem Forte ainda observava o interrogatório de
Sally Roe. Ainda estava impaciente. Ele queria resultados. Se não obtivesse
resultados, e depressa, certas cabeças iriam rolar.
Destruidor quase podia sentir
sua cabeça rolando. Ele deixou o demônio cair pesadamente ao chão, depois fez
sinal aos seus capitães que se reuniram em torno dele.
— Há uma carta destinada a
Ashton, guardada pelo Exército Celestial. Eles não a guardam a troco de nada! —
Seu rosto enrugou-se grotescamente ao pensar nisso. — Sally Roe pode ter
escrito a alguém lá.
Os capitães se entreolharam
boquiabertos.
— Então? — exigiu Destruidor.
— Vocês me ouviram?
— Ashton! — exclamou um
deles.
— Não podemos voltar lá! —
disse outro. Destruidor pediu silêncio com um gesto rápido.
— Apenas dêem uma olhada, e
façam-no na surdina. Estou certo de que não é nada com que nos preocuparmos,
apenas uma cartinha.
Eles olharam uns para os
outros.
— Qual de nós deveria ir? —
perguntaram-se. Destruidor reteve um berro e, em vez disso, sibilou:
— Que tal todos vocês?
E levem alguns guerreiros a mais.
Todos foram, reunindo tantos
demônios desordeiros quantos quisessem ir.
Destruidor apressou-se de
volta ao chalé de Goring. O Homem Forte ouvia atentamente o interrogatório de
Sally e não perguntou o motivo da interrupção.
Destruidor não tinha nenhuma
intenção de contar-lhe.
Em Ashton, Krioni e Triskal podiam ver o caminhão do correio entrando nos limites da cidade, bem no horário. Infelizmente, a preciosa carta que trazia estava com um dia de atraso.Triskal olhou pata o oeste.
— Até agora, nenhum problema.
Krioni não se mostrava otimista.
— Eles virão aqui.