de pragas do velho sítio dos
Bensons. A tinta branca da sede se tornava um cinza granulado e começava a
descascar como uma queimadura de sol; as janelas, quebradas; as telhas de
madeira no teto começando a lascar com o vento. As macieiras e as pereiras na
frente da casa floresciam, mas agora erguiam-se rumo ao céu em selvagem
profusão de troncos não podados e parasitas feiosos. O sítio dos Bensons havia
estado abandonado por tempo excessivamente longo, e simplesmente não sobrevivia,
mas desaparecia de maneira inalterável em podridão e ruína a cada estação que
passava.
Pesada corrente bloqueava a
entrada, e Marshall não pôde dirigir seu carrão adiante. Uma placa de ENTRADA
PROIBIDA, pendurada numa corrente, balançava para a frente e para trás ao
vento, logo acima do pára-choque do carro.
— É este o lugar? — perguntou
ele.
Kyle Krantz, o jovem
delinqüente que pelo visto não conseguia manter-se fora de apuros, estava
sentado no banco ao seu lado, fazendo que sim com a cabeça e parecendo
amedrontado. No banco de trás, Abby Grayson e Ben Cole olharam o lúgubre
cenário diante de si, e acharam fácil acreditar o que Kyle lhes havia contado a
respeito.
Kyle apontou.
— É aquele celeiro lá no
fundo. Foi lá que aconteceu.— Pelo que estou vendo, eles invadiam o local como
você o fazia? — perguntou Marshall.
Kyle havia-se tornado
insensível a declarações tendenciosas como essa.
— Eles estavam aqui, cara.
Marshall olhou para os outros.
— Então, acho que também
teremos de invadir a propriedade.
Eles saíram do carro e
tiraram um momento a fim de examinar o lugar. Por tudo o que podiam ver,
eram os únicos seres viventes ali. Não havia som algum exceto pelo vento e o
ocasional pipilo das andorinhas aninhadas debaixo do beirai da sede.
Marshall abaixou-se para
passar pela corrente e os outros seguiram-no. A entrada dava a volta em torno
da casa, passava por uma garagem e barracão de ferramentas, depois abria-se em
ampla área coberta de pedriscos nos fundos — um retorno e acesso para
maquinário agrícola, suprimentos e gado que já não estavam ali. Na outra ponta
dessa área aberta ficava o velho celeiro cinzento, desgastado pela ação do
tempo mas intacto, as portas principais fechadas.
— Afinal, o que exatamente
você fazia aqui? — perguntou Marshall ao rapazinho.
— Billy e eu procurávamos um
bom lugar para dar uma tragada. Sempre fazemos isso porque encontramos bons
lugares que ninguém conhece.
— Então esse celeiro deve ter
parecido bem convidativo.
— É, naquela hora parecia.
Agora não.
— Como foi que conseguiram
chegar tão perto sem que ninguém os visse?
— Estava escuro e nos
esgueiramos pelo outro lado da casa. Eles não vigiavam para ver se vinha
alguém, de qualquer jeito; estavam ocupados demais com todo o seu negócio
esquisito.
Eles chegaram à porta.
— Já foi lá dentro alguma
vez?
— De jeito nenhum. Eu e o
Billy apenas queríamos dar o fora daqui, só isso.
A grande porta abriu-se com
um longo rangido de velhice. O interior do celeiro era fresco, escuro e amplo.
Ninguém entrou. Marshall esperou que seus olhos se acostumassem à penumbra.
Finalmente todos eles podiam
distinguir o chão de terra. Parecia suficientemente comum — apenas terra lisa.
Nada viram de extraordinário. Eles olharam para Kyle. Este ficou imediatamente
desassossegado e na defensiva.
— Eu vi, cara. Eles estavam
aqui.
— Está bem — disse Marshall —
mostre-nos o que viu.
Kyle foi ao centro do chão e
voltou-se num círculo, o dedo estendido e apontando para o chão.— Eles tinham
um grande circulo recortado na terra bem aqui, e um grande pentagrama no meio
dele. — Depois ele apontou para um lugar na direção da parede dos fundos. —
Havia um grande banco ali, como um altar, e havia sangue sobre ele, e havia
cerca de vinte pessoas em pé ao redor de todo o circulo vestindo roupões e com
capuzes sobre as cabeças, e estavam todos entoando e gritando, e havia velas em
torno do circulo. Eles tinha velas em todas as pontas do pentagrama.
Marshall olhou à volta do
celeiro.
— Através de que fendas você
e Billy olharam para ver tudo isso? Kyle apontou para o lado do celeiro.
— Bem ali.
A luz do dia era agora
claramente visível através de dois grandes espaços entre umas pranchas soltas.
Marshall dirigiu-se até onde se encontravam as fendas, agachou-se até o nível
delas, e olhou para trás. Deu-se por satisfeito — as fendas forneciam uma visão
ampla e clara da área em questão.
— Você disse que eles tinham
capuzes nas cabeças?
— É. Roupões pretos e
capuzes, e estavam descalços.
— Então como sabe quem eram?
— Porque alguns deles estavam
de frente para este lado. Pude ver os rostos deles virados bem para mim. — Kyle
se sentia ofendido e nervoso. — Não sei por que não acredita em mim!
Marshall ergueu a mão para
acalmar o garoto.
— Ei, eu não disse que não
acreditava em você. Mas ouça: você tem motivos mais que suficientes para querer
vingar-se de Mulligan, ou qualquer tira que seja.
— Sem nem falar em conseguir
de volta o seu emprego — disse Abby.
— Não estou inventando, cara!
Vi Mulligan. Ele estava bem aqui, com um roupão de capuz, e entoando como todos
os outros.
Ben inspecionava o local onde
Kyle alegara que havia existido um altar.
— Marshall.
Marshall reuniu-se a ele. Ben
havia arranhado a terra com o dedo e descoberto algumas manchas marrons. Ele
conseguiu apanhar alguns torrões de terra manchada nos dedos.
— Poderia ser sangue. Levarei
uma amostra.
— Está vendo? — disse Kyle. Marshall
perguntou:
— Conte-me a respeito do
sangue que viu. O que faziam com ele?
— Bebiam o sangue de um
grande cálice, um grande cálice de prata. Passavam o cálice de mão em mão.
— Como sabe que era sangue?
— A mulher disse que era.
— Que mulher?— Bem, a chefe,
acho eu. Ela estava de pé bem ali, e disse alguma coisa a respeito de fazer
alguma mulher morrer e surrar todos os cristãos. Umm... ela disse:
"Derrota para os cristãos!" E bebeu do cálice e passou-o em volta, e
todos eles beberam do cálice. — Então Kyle lembrou-se de outra coisa. — Oh,
sim, cara, escute isto: eles tinham as pernas de algum animal bem aqui no meio
do círculo.
Kyle podia ver que os havia
impressionado com essa. Hogan e Cole olhavam para ele, muito sérios e prontos
para ouvir mais.
— Conte-me a respeito das
pernas de animal — disse Marshall.
— Elas tinham de ser pernas
de cabra. Estavam cruzadas bem aqui, como um X. — Ele viu algo. — Ei!
— Espere! — disse Marshall,
tocando Kyle a fim de impedi-lo de remexer a terra a seus pés. — Ben.
Ben agachou-se para olhar
mais de perto.
— É. Mais sangue. E aqui
estão uns pelos.
— Pelos de cabra — disse
Kyle. — É isso o que são.
— Então, eles queriam
derrotar os cristãos, hein? — perguntou Marshall.
— É, estavam realmente
berrando a respeito. — Outra lembrança. — Oh, e diziam algo sobre um tribunal,
ganhar no tribunal.
— E estavam atrás de alguma
mulher também?
— Isso.
— Falaram o nome dela?
O nome nada significava para
Kyle, mas ele se lembrava de tê-lo ouvido.
— Umm, Sally-alguma-coisa.
Ele acertara em cheio agora.
Podia ver escrito por todo o rosto deles. Marshall enfiou a mão no bolso do
paletó.
— Você viu o rosto de alguma
outra pessoa?
— Claro. A chefe tirou o
capuz e pude vê-la.
Marshall puxou de dentro do
casaco algumas fotografias coloridas que havia tirado com muito cuidado,
dissimulação, e uma lente telefoto. Ele mostrou a Kyle uma fotografia de Claire
Johanson.
— É! Sim, era ela!
— A mulher que chefiou essa
coisa toda? — Sim.
Marshall mostrou a Kyle uma
foto de Jon Schmidt.
— É! Ele também estava aqui.
Marshall fez aparecer uma
fotografia de sua irmã.
— Não. Nunca vi essa ai
antes. Uma foto de Irene Bledsoe.
— Umm... não, acho que não. O
agente Leonard Johnson. — Não.
Bruce Woodard, o diretor da
escola de primeiro grau.— Não, não o Sr. Woodard. Cara, onde foi que tirou
todas essas fotos? Marshall guardou as fotografias.
— Kyle, acho que você fala a
verdade. Agora escute, não sou um tira, e seja lá o que for que me contar não vou
repassar para a policia. Apenas preciso de informação. É importante. Quero que
me diga toda a verdade: você levou alguma maconha quando foi trabalhar na
Fábrica de Portas Bergen?
Kyle ergueu a mão como se
estivesse fazendo um juramento.
— Não, juro. Ei, Cole sabe
que já carreguei um pouco aqui e ali, mas não no serviço. Meu velho me mataria,
e, além disso, não posso ficar sem o emprego.
Abby interveio.
— Então você diz que foi
incriminado para ter de ser despedido?
— Isso mesmo. Não coloquei
aquela maconha no meu armário. Marshall olhou para Ben e pôde ver que ele se
lembrava de um incidente semelhante envolvendo maconha num armário.
— Alguma idéia de quem a
colocou lá?
— Quem você acha? Eu a vi lá,
e então abri a boca a respeito no refeitório, e ela deve ter descoberto. Ela me
lançou uns olhares bem sujos depois daquilo, e então, bam! Foi ela quem
disse que deveriam revistar o meu armário, e então encontraram a droga. Muito a
calhar, sabem?
Ben acrescentou
compreensivamente:
— E considerando a sua reputação,
não adiantaria muito negar.
— É isso aí. Abby protestou:
— Mas Donna está na fábrica
há quase tanto tempo quanto eu. Não posso acreditar que ela faria uma coisa
dessas.
— Ela estava aqui — insistiu
Kyle. — Bem do lado de Mulligan. Eu a vi, e ela sabe, e é por isso que fui
demitido.
Kyle lembrou-se então
amargamente:
— Depois o Mulligan vai lá na
fábrica e me diz que deixará a coisa passar dessa vez se eu me comportar e
"fizer as escolhas certas", disse ele. Sei o que ele fazia. Ele me
dizia que ficasse de boca fechada ou seria arruinado de vez.
Marshall reviu tudo mentalmente.
— Então... parece que
poderíamos ter um verdadeiro clube aqui: Claire Johanson, Jon Schmidt, o sargento
Mulligan, e... Kyle não gostou da hesitação de Marshall.
— Ela estava aqui! Juro!
Marshall completou a sentença.
— Donna Hemphile, supervisora
de Kyle na Fábrica de Portas Bergen, e membro ativo da Igreja Comunitária do
Bom Pastor!Na tarde de quinta-feira, o Agente Leonardo Jackson teve uns
visitantes indesejáveis. Ele estava sentado no carro-patrulha, habilmente
escondido nas árvores que ficavam na ponta oeste da Ponte do Rio Snyder, apenas
vigiando quem passava com excesso de velocidade e tendo um dia agradável
aumentando a sua quota de multas, quando subitamente, sem qualquer notificação
prévia, um grande carro marrom saiu da estrada e entrou no meio das árvores,
encostando bem ao seu lado.
Ora, quem é que poderia ser?
Leonardo sentiu-se invadido. Isso era profanação de um lugar santo.
Um preto bonitão abaixou a
janela do lado de passageiros do carrão.
— Ei, Leonardo, como estão as
coisas? Ben Cole.
Leonardo tentou ser sociável.
— Tudo bem, acho eu. O que
posso fazer por você? Ben olhou na direção do motorista do carro.
— Você já conhece o Marshall
Hogan?
Leonardo o havia visto pela
cidade e nunca se sentira bem com relação a ele.
— Não, não fomos
apresentados. Marshall saudou-o:
— Alô, Agente Jackson. — Alô.
Bendisse:
— Gostaríamos de dar-lhe uma
palavrinha.
— Bem, estou de serviço...
— Como está a sua quota até
agora?
Leonardo percebeu que Ben
saberia tudo a respeito daquele serviço, por isso não seria possível blefar.
— Ora... acho que estou indo
bem. Já anotei doze até agora. Ben ficou impressionado.
— Ei, você está bem
adiantado! Que tal tirar uma breve folga para uma pequena conferência?
— Prometo que vai achar
interessante — disse Marshall.
No Summit, cinco mensageiros demoníacos reuniram-se do lado de fora das câmaras escuras, mofadas e secretas do Homem Forte, cada um deles com uma mensagem urgente de Destruidor.
O primeiro demônio disse aos
companheiros:
— Trago a notícia de que
abriram uma brecha no Vidoeiro Quebrado!
Um segundo demônio assentiu
com a cabeça em reconhecimento e acrescentou:— Eu trago a noticia de que Hogan
e Cole estão prestes a encostar o agente Jackson na parede!
O terceiro demônio arquejou
ao ouvir a notícia e rosnou a sua.
— Trago a noticia de que eles
irão ver Joey Parnell de novo e podem assustá-lo a ponto de fazê-lo falar!
O quarto disse:
— Trago a noticia de que o
pastor Mark Howard está acabando com a divisão em sua igreja neste mesmo
instante, e que o Inimigo está curando todo o dano que causamos!
Disse o quinto:
— Trago a noticia de que
Sally Roe se...
Oh. O chão tremeu subitamente
com um rugido que veio de dentro da toca do Homem Forte. Aparentemente
Destruidor e o Homem Forte já sabiam disso.
Destruidor não se atrevia a puxar a espada — um movimento agressivo desses só podia aumentar a fúria do Homem Forte. Portanto, ele se atirava de um lado para o outro, agarrando o ar em movimentos violentos e desesperados das asas, os braços cobrindo-lhe a cabeça e a cara, enquanto o Homem Forte o perseguia com a lâmina voando e o punho socando, a boca espumando de fúria, as bochechas sacudindo, o hálito repugnante deixando o ar amarelo.
— Uma inversão! — berrou o
Homem Forte. — Ela era nossa, e agora você lhes permitiu ficar com ela!
— Não permiti nada disso! —
contraveio Destruidor. — Esperava o momento.
Contradizer o Homem Forte era
uma má idéia. Assegurou ao Destruidor uma violenta pancada na cabeça com a
parte chata da lamina do Homem Forte.
— Idiota preguiçoso, imóvel,
cego!
— Ela é nossa, meu soberano!
— gritou Destruidor acima dos rugidos do Homem Forte. — Tal e suas hordas se
enfraquecem a cada dia! — BAM! Um punho enorme no pescoço. — Logo eles
cairão para longe dela como fruta que passou do ponto — Um pé cheio de garras e
escamas no traseiro.
— Cairá da árvore, e a
tomaremos! — UUF! Um joelho no estômago.
— Você ia tirar a cobertura
de oração de Tal! — berrou o Homem Forte. — O que aconteceu com isso?
— Como já tentei dizer-lhe,
temos estado desbastando-a aos poucos!
— Desbastando quando
deveriam ter estado picando, espatifando, retalhando, trucidando!
— O senhor o verá!
— Desejo vê-la destruída,
espírito cheio de si! Faça juz ao seu nome,gabola! Trespasse-a por uma fresta
em sua armadura! Deixe que seus próprios pecados a apodreçam!
— Os pecados dela se foram,
meu Ba-al! Ela foi à Cruz...
UHAM! Uma asa dobrada contra o meio do corpo. Destruidor
revirou e adejou de lado atravessando o aposento.
— NÃÃÃO! — berrou o Homem
Forte. — Não mencione isso!
— Mas ainda podemos
tomá-la... — insistiu Destruidor, embora um tanto fracamente.
— Não... voltaremos... atrás!
— bramiu o Homem Forte, brandindo a espada num arco chamejante e impetuoso a
cada palavra. — Tenho um plano... farei como que se desenrole! Deixe que o
sangue do Cordeiro derrote os outros... não me derrotará! Espezinharei esse
sangue, marcharei à volta dele, atacarei e enterrarei, mas não me renderei a
ele!
— Sei que a tomaremos! —
insistiu novamente Destruidor.
— IAAAA!— O Homem Forte
abaixou a espada com fúria imensurável, deixando uma trilha longa e vermelha
de luz.
Destruidor puxou sua própria
lâmina num instante e aparou o corte afiado com uma chuveirada de fagulhas. A
força do golpe jogou-o contra a parede, e o Homem Forte segurou-o ali como uma
tonelada de terra caída.
Agora eles estavam cara a
cara, os globos amarelos e brilhantes dos olhos quase se tocando, seus hálitos
sulfurosos misturando-se em pútrida nuvem que lhes obscurecia as feições. O
braço do Homem Forte não se enfraqueceu; ele não diminuiu o peso que
imobilizava Destruidor.
— Você o fará — disse ele
enfim, a voz um resfolegar baixo e arquejante — ou eu mesmo o atirarei aos
anjos... em migalhas!
Com uma explosão de braços,
asas, e uma lâmina que parecia ser muitas, o Homem Forte expulsou Destruidor do
aposento, e ele revirou em cima dos cinco demônios que ainda esperavam por ele
no lado de fora. Eles se curvaram diante dele — assim que conseguiram sair
engatinhando debaixo dele.
— Trazemos notícias, Ba-al! —
disseram.
— Que notícias? — perguntou
ele. Eles lhe contaram.
Ele os picou em pedacinhos.
Tom, estou livre. Pude ver aquela Cruz tão claramente, exatamente como deve ter parecido naquele monte nu, desesperançado há dois mil anos, e caí sobre o rosto diante dela, tão prostrada com os meus erros, minha jactância, minhas escolhas, meu EU, que não podia erguer-me nem um centímetro. Tudo o que podia fazer era ficar deitada ali, admitindo e confessando tudo e tentando alcançar aquele pedaço de madeira grosseiramente esculpido como alguém que se afoga tenta alcançar um salva-vidas, e agarrando-o como se minha própria vida dependesse dele.
E como posso descrever o
acontecido? Peço desculpas, mas as palavras não captarão a experiência: eu
nada tinha para oferecer-lhe, nenhum incentivo para que ele me perdoasse, nem
mesmo o mais insignificante item de valor com o qual negociar ou persuadir.
Tudo o que eu tinha era o que eu era.
Mas ele me aceitou. Fiquei
tão surpresa, e depois aliviada, e depois, com a firme percepção do que havia
acontecido, extasiada! Minha oferta — nada além de minha pessoa, Sally Beth
Roe, miserável, deficiente e instável—foi aceita. Eu era o que ele sempre quis
antes de tudo, e ele me recebeu. Ele tirou o peso do meu coração, e pude sentir
que se fora; pude simplesmente sentir tudo sendo tirado de mim e
precipitando-se para aquela Cruz. Senti-me tão leve que achei que podia ser carregada
pela menor brisa.
Consegui erguer a cabeça, e
então vi a conclusão da nossa transação: um fio de sangue escorrendo pela
madeira e formando uma poça no chão. O pagamento. Uma visão muito medonha, um
pensamento muito incômodo, mas realmente, para dizer a verdade, muito apropriado
considerando o que Jesus, o Filho de Deus, havia acabado de comprar.
Estou livre. Estou resgatada.
Nunca me senti assim antes, como uma escrava que já nasceu na escravidão e
jamais conheceu a liberdade, libertada.
Quero conhecer melhor esse
Jesus que me resgatou. Acabamos de nos encontrar.
Sally descansou a caneta sobre a escrivaninha do pequenino quarto de hotel, e enxugou umas lágrimas. Ela ainda tremia. Bem ao lado do seu caderno, uma Bíblia dos Gideões jazia aberta no Evangelho de Mateus, capítulo 11:
"Vinde a mim todos os
que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o
meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é
leve."