pela indignação afoita de
Destruidor e pela sede de vitória imediata sobre o sutil Capitão do Exército e
seu prêmio, a elusiva Sally Beth Roe.
Infestados por demônios
mentirosos, os Warings (Ed e Judy) e os Jessups (Andréa e Wes) se reuniam para
o almoço na casa dos Warings para orar e discutir as últimas novidades que
haviam acabado de ser transmitidas pela corrente de oração: June Walroth havia
acabado de ficar sabendo que Tom surrava regularmente a filha Rute, e que
sempre a vestia com mangas compridas a fim de que ninguém descobrisse; outra
pessoa — eles não sabiam quem, mas a pessoa tinha de ser confiável — estava
preocupada porque o pastor Mark e Cathy tinham alguns problemas conjugais,
muito provavelmente porque Mark havia sido infiel anos antes; a escola cristã
estava de fato afundada em terrível dívida porque Tom e a Sra. Fields vinham
surrupiando parte do dinheiro. Andréa ficou estupefata.
— Você tem certeza disso? Não
posso acreditar que a Sra. Fields fizesse uma coisa dessas.
— Bem — disse Judy — você
sabe a miséria que ela ganha para dar aula naquela escola? Convenhamos que
seria uma verdadeira tentação.
— Mas quem foi que lhes
contou sobre isso? Ed mostrou-se relutante em revelar a fonte.
— É .. Bem, deixe-me apenas
dizer que é alguém próximo ao conselho da igreja, alguém a quem realmente vim a
respeitar, está bem? Mas tudo isto é estritamente confidencial!
Wes ficou zangado
imediatamente.
— E por que o conselho não
contou ao resto da igreja?
— A pessoa com quem falei
está preocupada com a mesma coisa. Ela está num verdadeiro apuro: não deseja
violar a confiança do conselho, mas ao mesmo tempo está magoada porque tanta
coisa está sendo mantida em segredo.
Judy se manifestou: — Acho
que precisamos de uma assembléia da congregação, isso é o que eu acho! Andréa
concordou.
— E tirar tudo isso a limpo
de uma vez por todas! Ed assentiu com a cabeça.
— Bem, já falei com Ted e
June Walroth, e eles estão prontos para uma assembléia.
Wes apenas sacudiu a cabeça e
chegou a rir para dar vazão ao nervoso.
— Isso tudo vai ser exposto
no julgamento, sabem? De alguma forma, esses sujeitos da ACAL vão desenterrar
isso, e vão mover uma ação que deixará a nossa igreja de tanga!
Mexerico, Calúnia e Despeito
acharam graça naquilo, e guincharam de tanto rir. No que essa gente não
acreditaria?
Na escola, a Sra. Fields e Mark haviam terminado de apartar a terceira briga, e agora oito guris — seis que brigavam e dois que os incitavam —haviam ficado retidos no recreio do meio-dia, limpando os quadros-negros, tirando o pó da mobília e varrendo o chão. Havia sido um dia exasperante.
A Sra. Fields deixou-se cair
em sua cadeira e soltou um suspiro profundo.
— Pastor, o que está
acontecendo por aqui?
Mark queria dizer que estavam
sob ataque espiritual, mas esquivou-se a essa resposta por preocupação com a Sra.
Fields. Ela era uma mulher sensível, e ficaria aflita ao saber a respeito do que
ele havia encontrado nos degraus da frente aquela manhã.
Por fim, apenas pediu-lhe que
orasse com ele, e foi assim que passaram sua hora de almoço — entre missões de
manutenção da paz no pátio.
Sonhando, sonhando... nenezinho... Raquel... rosada e gorducha, rindo...
— Vamos lá, doçura, hora do
banho.
A água correndo na banheira,
à temperatura exatamente certa. Deixe-a brincar na água corrente.
— Está vendo isso? Não é divertido?
Hora de ficar limpinha. Jonas. Ele está chamando.
Agora não. Estou dando banho
na Raquel!
Puxando, puxando,
arrancando-me do meu corpo... Não, agora não...
Escuridão repentina,
flutuando, nenhum sentimento, nenhum som, nenhuma dor, nada além de doce amor,
ventura, união... Um longo, longo túnel, uma luz brilhante no fim, chegando
mais perto, mais perto, quase ali, tenho de voltar! O que está acontecendo com
Raquel?
PAFT! Uma mão acertou-lhe o rosto!
— Vamos, moça, volte a si!
Levante-se!
Água por toda a parte, por
todo o chão. Estou sentada nela, estou ensopada. Quem é este sujeito?
— Pode ouvir-me? Levante-se!
É um tira! O que está errado?
— Ah, ela está fora, cara,
prá lá de Bagdá!
— Onde está Raquel? Onde está
o meu nenê?
A banheira, cheia até a
borda, transbordando, água por toda a parte, tiras, paramédicos, a senhoria,
tudo um borrão.
Um horror agudo, penetrante
subindo devagar. O impensável invadiu-lhe a mente.
— Oh, não! Matei o meu nenê!
— Senhora, preciso informá-la
dos seus direitos. Tem o direito de nada dizer...
Erguida do chão, segura por
braços fortes, as mãos presas atrás de si.
— Onde está o meu nenê?—
Tire-a daqui.
— Onde está o meu nenê?
— O seu nenê está morto,
Sally. Venha.
A imagem mais rápida,
aparecendo apenas por um segundo: um pacotinho sobre a mesa da cozinha,
completamente arrodeado por paramédicos, coberto com um pano branco... uma
mãozinha cor-de-rosa aparecendo.
— Oh, não! Raquel! Matei o
meu nenê! Jonas!
Dor das algemas, os braços
retorcendo, ensopada, empurrada para fora da porta.
— Raquel!
— Venha, Sally, vamos embora!
AAUU! Sally acordou com um pulo no quarto escuro, quase caindo da cama. Seus quatro companheiros atormentadores a cobriam totalmente.
Para sempre, para sempre,
dizia Desespero, será condenada para sempre. Você é o que é, jamais pode mudar
isso.
Loucura manifestou-se com
vigor renovado: Sabe, tudo está em sua própria mente retorcida. Você é uma mulher
muito doente!
A Morte sempre a segue, disse
Morte. Tudo o que você toca, tudo o que você ama, simplesmente morrerá.
E vão apanhá-la por isso!
disse Medo. Todos os espíritos que você já traiu estão esperando para
apanhá-la!
Sally virou de lado e
enterrou o rosto no travesseiro.
— Ó Deus, ajude-me!
Ele não pode ajudá-la... você
o ofendeu, ele nunca a ouvirá... você é nossa agora...
Sally olhou na direção da
janela. A luz do dia ainda era visível em torno das beiradas da cortina
fechada. Olhou o relógio ao lado da cama. Quatro da tarde. Deixou-se cair de
costas e tentou acalmar-se, fazer o coração estabilizar-se, respirar mais
devagar.
Disse a si mesma: Calma,
garota, foi tudo um sonho, um pesadelo. Acalme-se.
Seu coração ainda batia com
força e o rosto brilhava de suor. Que beleza de soneca esta acabou sendo;
sinto-me pior.
Ela tentou analisar tudo.
Sim, o sonho foi como uma fita de vídeo; foi assim que aconteceu. Não tinha
tido uma lembrança tão nítida assim em anos. Oh, Deus, o que foi que fiz, o
que foi que fiz? Como pude permitir que isso acontecesse comigo, com a minha
filha?
Jonas, o meu conselheiro e
amigo maravilhoso, meu espírito guia infinitamente sábio!
Pensar naquele espírito deixou-a
nauseada.Confiei nele! Dei-lhe a minha vida, meus pensamentos, meu espírito,
minha mente, e agora... agora descubro quanto era maléfico. Ou é.
O mal. Bem, aí está outro
absoluto. Jonas é um espírito incrivelmente maléfico, e ninguém vai-me
convencer do contrário.
O que tinha acabado de ler?
Ela rolou devagar da cama, plantou os pés no chão, e foi até a janela. Abriu a
cortina e teve de entrefechar os olhos à luz do dia que inundou o quarto. Ali,
na mesa debaixo da janela, estava a Bíblia de Sara, ainda aberta no Evangelho
de Marcos. Ela havia apenas começado a ler antes de sentir-se sonolenta e
deitar-se. Havia lido algo que lhe falara ao coração e na hora ela mal havia prestado
atenção.
Sentou-se à mesa e examinou a
passagem novamente. Ali estava, no primeiro capítulo: "Não tardou que
aparecesse na sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou:
Que temos nós contigo, Jesus
Nazareno? Vieste para prender-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!
Mas Jesus o repreendeu,
dizendo: Cala-te, e sai desse homem.
Então o espírito imundo,
agitando-o violentamente, e bradando em alta voz, saiu dele.
Todos se admiraram, a ponto
de perguntarem entre si: Que vem a ser isto? uma nova doutrina! com autoridade
ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!...
À tarde, ao cair do sol,
trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados.
Toda a cidade estava reunida
à porta.
E ele curou muitos doentes de
toda a sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios, não lhes
permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era"
Demônios. São demônios. Sally acreditou. Ela nunca havia dado muito crédito a
essa tal Bíblia desde os dias em que freqüentava a escola dominical, mas
naquele exato momento, sentada naquele quarto, tendo acordado de uma lição tão
clara quanto poderia pedir, ela acreditou no que esse livro dizia acerca dessas
entidades espirituais. A coisa toda era uma impostura, um logro, uma trapaça.
Essas coisas eram tão maléficas quanto o mal podia ser.
Onde está aquele caderno?
Preciso escrever para o Tom.
Tom, você já sabe isto, e é o motivo pelo qual está em toda essa dificuldade, mas deixe que eu, que já estive no outro lado, lhe assegure de que você está certo. Amber Brandon realmente entrou em contato com um espírito guia, e agora essa coisa lhe está controlando a vida, os pensamentos, o comportamento. Eu tinha Jonas, agora Amber tem Ametista, e se eu não o disse com suficiente clareza antes, deixe-me dizer claramente agora, porque agora sei claramente: esses espíritos são maléficos; estão a fim de nos destruir. Veja só o que Jonas fez comigo. Não o culpo inteiramente; pedi-lhe que entrasse na minha vida, dei-lhe minha mente e meu corpo. Mas descobri tarde demais qual era a sua verdadeira natureza.
E o que dizer de Amber?
Suponho que para ela era tudo divertimento e brincadeiras no começo. Agora
tenho quase certeza de que ela está envolvida em algo do qual preferiria estar
livre, mas não pode escapar-lhe. Para falar a verdade, eu não estou certa de
ter-lhe escapado.
Mas se o Evangelho de Marcos
estiver certo, e esse seu Jesus tem autoridade sobre esses espíritos e pode
salvar as pessoas do seu poder, então espero que tenha fé suficiente no seu
Salvador para obter-lhe ajuda.
E, Tom, quando estiver
fazendo isso, por favor, diga uma palavrinha em meu favor.
Os espíritos de Destruidor morriam de rir ao adejarem para fora do tribunal.
A juíza levantou-se, todos na
sala do tribunal se levantaram, e então ela saiu, deixando os advogados da ACAL
sentindo-se bem arrogantes, enquanto Wayne e Tom podiam apenas ficar ali de
boca aberta.
Corrigan sentia-se tão
chateado que mal pôde manter baixa a voz enquanto resmungava para Tom:
— Vamos definitivamente
entrar com recurso. Nunca vi uma violação da justiça ou uma negação do devido
processo mais óbvios, mais absurdos na minha carreira!
Tom não sabia se ficava com
esperança, ou se se dispunha a lutar, ou se desistia, ou se ia para a casa e
morria, ou o quê.
— Está bem. Se você acha que
funcionará.
— Não sei se funcionará ou
não, do jeito que esses tribunais estão ficando tão parciais, mas poderíamos
ter mais sorte com outro juiz. Em última instância, isso não tem influência
sobre a decisão de apelar. Eu seria tão negligente quanto a juíza se não
entrasse com recurso contra a decisão dela. Venha, vamos dar o fora daqui.
Logo do lado de fora da sala
do tribunal, Wendell Ames se deliciava à luz dos holofotes e obsequiava os
microfones enquanto proferia uma declaração para a imprensa.
— Sentimo-nos certamente
satisfeitos por uma pessoa da estatura da Juíza Fletcher reconhecer que
crianças de tenra idade ainda precisam de proteção contra os que delas abusam,
mesmo num tribunal de justiça...
— Já basta — disse Corrigan.
Com uma raiva súbita, pouco característica, ele forçou passagem até o meio do
círculo de repórteres. — Senhores e senhoras, terei uma declaração assim que o
Sr. Ames tenha completado a sua.
Isso atraiu a atenção deles
imediatamente. Estavam famintos. Inundaram-no de perguntas, muitas delas bem
tendenciosas.
Ele se livrou de todas as
perguntas e disse o que desejava dizer.
— Em primeiro lugar,
corrigindo o Sr. Ames, este caso centraliza-se na liberdade religiosa garantida
pela constituição e não em abuso de crianças. Nenhuma admissão de tipo algum
foi feita, e tentem contar isso certo quando publicarem suas histórias. Se dar
palmadas numa criança constitui abuso, então vamos colocar metade do país na
cadeia agorinha mesmo!
— Em segundo lugar, visto que
os advogados da acusadora insistem continuamente em levar este caso a
julgamento pela imprensa, deixem-me submeter isto à sua consideração: a) Tudo o
que ouvi neste caso foi filtrado através da mãe de Amber e do Dr. Mandanhi, o
psicólogo infantil nomeado pelos advogados, e insistimos em que temos o direito
de confrontar aquela que nos acusa, que é Amber, e apenas chegar à verdade, b)
Não pretendemos ser duros para com Amber ou maltratá-la de jeito nenhum.
Aceitaremos restrições razoáveis, e para esse fim trabalharemos com o
juiz e com os advogados da acusadora.
— Agora quanto a essa decisão
da Juíza Fletcher: ela é claramente errônea e absolutamente contrária à lei, e
não temos outra escolha que não seja apelar no Tribunal de Recursos sem demora.
Agora tentem não modificar muito o que eu disse.
Tendo dito isso, e com outras
perguntas ainda sendo berradas na sua direção, Corrigan e Tom saíram às pressas
pelo corredor rumo aos elevadores.
Em Baskon, a pequena Amber Brandon agia de maneira estorvada e rindo muito quando desceu do ônibus escolar, e tinha provocado tanta confusão lá dentro que a motorista esteve a apenas minutos de dar-lhe um bilhete de reclamação para entregar à mãe. Mas o ponto de Amber chegou primeiro, e por isso a motorista ficou satisfeita em apenas fazer Amber e seus coleguinhas saírem do ônibus.
Os coleguinhas estavam
acostumados a ver Amber fazendo o papel de pônei, e alguns tinham até aderido à
brincadeira. Mas naquele dia Ametista não era um pônei divertido para se
brincar. Ela empurrava os amigos, provocava-os, roubava os seus livros e os
jogava por ali, pulava, empinava, dava cambalhotas e caçoava deles.
Todos os amigos de Amber
foram para a casa muito zangados com ela, jurando nunca mais brincar com ela.
Mas Ametista apenas continuou
rindo e empinando, e não ligou nem um pouco.Era definitivamente a hora de
reunir a equipe toda. Aquela noite, Mark e Cathy abriram a igreja e o grupo que
formava o núcleo reuniu-se — os Howards, Ben e Bev Cole, Marshall e Kate Hogan,
Tom Harris e Wayne Corrigan — juntamente com os presbíteros Don Heely, Vic
Savan, Jack e Doug Parmenter, e respectivas esposas. A coisa estava preta. Deus
se movia no coração deles e todos podiam sentir a ameaça que vinha de fora. Era
hora de levar a obra do Senhor a sério.
Eles se sentaram num circulo
fechado nos bancos e alguns trouxeram cadeiras da frente do templo, prontos
para comparar notas, falar a respeito, orar por aquilo.
— Achei que deveríamos nos
reunir aqui esta noite — disse Mark. — Este parece ser o centro da atenção de
Satanás no momento, o centro dos seus ataques. Precisamos orar pedindo uma
barreira em volta deste lugar.
— Vamos ao encontro do
inimigo! — disse Ben.
— Já está mais do que na hora
de fazermos isso! — disse Jack. Mark sorriu, encorajado.
— Quero dizer-lhes que a batalha
está ficando pesada lá fora!
— E então, como foi o seu
depoimento na semana passada? — perguntou Doug Parmenter.
Mark suspirou; Corrigan
revirou os olhos um tantinho. Mark respondeu: — Ames e Jefferson estão armando
algum tipo de cilada, isso é óbvio. Foram tão bondosos e contudo...
Corrigan completou o
pensamento.
— Tentavam tirar qualquer
coisa de Mark que pudessem achar para usar contra ele, jogando verde para
colher maduro e fazê-lo cair. — Ele olhou para Mark. — Acho, entretanto, que o
senhor se saiu bem, pastor. Saiu tinindo de limpo, e eles não gostaram disso.
— Bem, o Senhor seja louvado
por isso. "Aquele que anda em integridade não será abalado."
— É isso ai — disse Bev.
Mark voltou-se para Corrigan
de novo.
— Wayne, desde que estamos
falando no assunto, por que não nos diz o que vem a seguir no processo legal?
Corrigan parecia um tanto
cansado e deprimido.
— Bem, naturalmente Tom e a
Sra. Fields estão com hora marcada para depor nas próximas semanas. Mas,
enquanto isso, vamos apelar a decisão de hoje no Tribunal de Recursos, e depois
teremos de esperar e ver o que acontece. Podemos não ganhar ali também, mas
pelo menos isso nos dará um pouco mais de tempo. Vejam bem, este é apenas um
pequeno detalhe no total da ação, apenas uma pequena escaramuça numa guerra
longa e custosa. — Ele olhou para Marshall. — Temos de esperar que alguma outra
coisa surja neste caso. Parece que estamos tão perto!
— Que tal aquele currículo? —
perguntou Kate. — Estou convencida agora de que o sistema escolar não nos vai
permitir vê-lo sem um pouco de pressão legal de verdade. Eles estão tentando ganhar
tempo.
Corrigan assentiu com a
cabeça.
— Eu não ficaria surpreso se
eles estivessem com a esperança de poder sobreviver ao sistema judiciário e
esconder aquele currículo até já estarmos no tribunal. Bem, com a decisão de
hoje e o processo de apelo começando, vai ser difícil eles fazerem isso. Vou
definitivamente emitir uma ultimação para a apresentação daquele currículo
amanhã.
— Quanto a alguma outra coisa
surgir — disse Marshall — pode apenas ser que a tenhamos, ou tenhamos uma parte
dela, ou um vislumbre de como poderíamos descobrir um canto de uma parte dela.
Estou falando da maldição que foi colocada na igreja hoje de manhã.
Bob Heely perguntou:
— Vocês deram parte disso na
polícia? Ben replicou:
— Você está brincando? Tenho
quase 90 por cento de certeza de que Mulligan está metido nisso! Aquelas pernas
de cabra vieram da cabra de Sally Roe, e vocês sabem como o Mulligan tem
tentado encobrir aquela tentativa de assassiná-la. Ele tem de fazer parte dessa
maldição também, ou pelo menos ajudar seja lá quem for que tiver feito isso.
Jack Parmenter precisou
perguntar
— Você tem mesmo certeza
disso? Marshall interveio.
— Ainda não. Mas o que estou
querendo dizer é que agora temos prova concreta de que existe alguma feitiçaria
ou satanismo por aqui, alguma forma de ocultismo organizada, mas pesada, como
um bando de bruxos, uma sociedade secreta, seja lá o que for. E isso significa
que existem pessoas — e estou falando em pessoas de aparência normal, gente do
dia-a-dia de quem jamais se suspeitaria — que pertencem a esse grupo. E numa
cidade deste tamanho, eles podem exercer muita influência e intimidar uma
porção de pessoas. Mulligan e Parnell, o legista, podem estar sob o controle
dessa gente, ou podem pertencer eles mesmos ao grupo.
— Mas não deixem de notar
isto: Seja lá quem forem essas pessoas, indicaram claramente que esta igreja e
Sally Roe têm algo em comum: somos seus inimigos, e elas querem nos causar
danos. Mataram a cabra de Sally e drenaram o sangue, provavelmente para usar
nas suas cerimônias. Agora isso é um ponto de contato para elas, algo que
pertenceu à pessoa que desejam amaldiçoar. Tiraram as pernas e deixaram as
dianteiras aqui na igreja. Isso nos inclui na maldição que foi lançada contra
Sally Roe. Estou adivinhando que as pernas traseiras ainda estão com os bruxos
em algum lugar como ponto de contato do seu lado.
— Por que as pernas? —
perguntou Corrigan. Marshall adivinhou:
— Bem, não se pode correr
muito longe sem elas, e neste momento Sally está correndo, disso tenho certeza.
— Então, ai estão as suas
toupeiras novamente, Marshall! Eles tentaram colocar Sally Roe e nós debaixo da
mesma maldição; portanto, mesmo que não possamos enxergá-la ainda, tem de haver
uma conexão: Sally Roe tem algo a ver com a nossa situação, com este caso, e eles
sabem disso.
— Você acertou.
Corrigan fechou os punhos e
ergueu os olhos para os Céus em pretenso drama.
— Oh, se ao menos eu pudesse
provar tudo isso! Se ao menos soubesse quem são essas pessoas esquisitas!
— Não sei quanto a você, mas
eu tenho alguns suspeitos — disse Marshall. — Faríamos bem em dar uma segunda
olhada cuidadosa no sargento Mulligan e em Joey Parnell. Eles têm estado perto
de toda essa coisa da Sally Roe, e sabemos que Parnell está mais do que
apavorado no momento.
Ben foi mais direto.
— Parnell está envolvido, sem
dúvida.
— E até colocarei no embrulho
Irene Bledsoe, a mulher do DPC, como suspeita. Ela está trabalhando com todo o
campo Brandon/ACAL, e está sendo tudo menos objetiva.
— Oh, puxa vida, espero que
não! — exclamou Tom.
— Como estão os meninos?
— Vi-os na sexta-feira. Estão
se agüentando. O lar temporário parece bem duro, mas pelo menos não estão sob
os cuidados diários da Bledsoe. Uma bruxa cuidando dos meus filhos, era só o
que faltava!
— E poderia haver ainda mais
outro suspeito — disse Mark. Eles voltaram-se para ouvir quem era, mas ele ficou
quieto e pensativo, trocando um olhar com Cathy. — Como sabemos que um desses
bruxos, ou satanistas, ou seja lá o que forem, não veio parar bem dentro desta
igreja? Temos tido dificuldades a mais não poder, e jamais vi tanta divisão em
todo o tempo que pastoreei aqui.
Cathy acrescentou: — Sinto
que temos de fato algum tipo de veneno operando diretamente entre nós, sem
dúvida.
— Isso acontece — disse
Marshall. — Eles realmente se infiltram nas igrejas; conhecem todo o linguajar
cristão, conhecem a Bíblia, fazem um sério esforço de se fazer passar por
cristãos e perturbar as coisas no lado de dentro.
Isso fê-los estacar
abruptamente. De súbito, encontraram-se olhando uns para os outros como todos
os suspeitos num filme de mistério. Foi uma sensação simplesmente arrepiante.
Jack perguntou a Mark e Cathy:
— Alguma idéia de quem seja?
Mark sacudiu a cabeça. Cathy
respondeu:
— Não... mas ouçam: temos
uma. Temos uma toupeira demoníaca nesta igreja. Sinto que o Senhor me está
fazendo ver isso.
Marshall assentiu com a
cabeça.
— É uma nítida possibilidade.
Eles ponderaram aquilo apenas
por um momento, e depois, sem dizer mais nada, Mark escorregou da cadeira e
afundou sobre os joelhos ali mesmo. Os outros fizeram o mesmo. Foi espontâneo.
Eles sabiam o que tinham de fazer.
— Ó Senhor Deus, tem
misericórdia — orou Mark. — Naquilo em que pecamos, perdoa-nos. Dá-nos sabedoria
para saber o que estamos fazendo de errado, e arrependimento desse erro. Tem misericórdia
de nós, Senhor Deus, e restaura-nos.
Sua oração continuou, e os
outros o acompanharam na oração. Lágrimas começaram a cair, choro incontido
diante do Senhor.
Ben orou: — Senhor, ajuda-nos
a distinguir essa coisa toda. Protege-nos dos nossos inimigos, e dá-nos a
vitória por aquilo que é certo.
— Pedimos por todas as
crianças — disse Cathy. — Esta batalha é delas também, talvez mais ainda do que
nossa. Satanás quer as nossas crianças, e simplesmente não podemos permitir-lhe
tê-las.
Mark declarou: — Apenas
oramos agora para que uma barreira de guerreiros angelicais cerquem este lugar
e o guardem. Cerca o teu povo, Senhor, e protege-nos de quaisquer maldições que
nos tenham sido atiradas. Imploramos o sangue derramado de Jesus sobre nós,
nosso ministério, nossos filhos, a escola...
— Protege Rute e Josias —
orou Tom. — Ó Senhor, por favor, protege os meus filhos.
— Dá-nos uma resposta, Senhor
— disse Marshall. — Temos palpites e teorias o suficiente para encher um
depósito, mas precisamos de uma resposta, algo sólido, algo positivo, e
precisamos depressa. Por favor, atravessa as muralhas que o inimigo ergueu;
atravessa, Senhor Deus, e traz-nos uma resposta.
— E, Senhor — disse Jack — se
existir um invasor em nossa igreja, uma toupeira demoníaca, acorrentamos essa
pessoa neste instante, atamos os demônios associados a ele ou a ela, e pedimos,
Senhor, que essa pessoa seja exposta.
Do lado de fora da igreja, Natã e Armoth colocaram uma barreira, um regimento dos melhores guerreiros que havia para a tarefa, todos de pé ombro a ombro em torno da propriedade da igreja, espadas prontas, alertas, prontos para uma briga.
Tal estava contente com
aquele tantinho de progresso.
— Isso deverá manter as
coisas em um só pedaço por algum tempo. Agora é tratar de expor aquela
toupeira!
— Parece que estaremos
prontos — disse Natã, considerando as orações das pessoas no templo.
— Naturalmente — disse Tal. —
E quanta bondade da parte de Destruidor ter-se tornado tão afoito. Ele expôs a
brecha de que precisávamos!