terça-feira, 8 de junho de 2021

Este mundo tenebroso - parte 2 - capítulo 32


 Os espíritos voavam exuberantes, instigados pelo sangue da cabra e pelas blasfêmias, pela fúria e pela conjuração,

pela indignação afoita de Destruidor e pela sede de vitória imediata sobre o sutil Capitão do Exército e seu prêmio, a elusiva Sally Beth Roe.

Infestados por demônios mentirosos, os Warings (Ed e Judy) e os Jessups (Andréa e Wes) se reuniam para o almoço na casa dos Warings para orar e discutir as últimas novidades que haviam acabado de ser transmitidas pela corrente de oração: June Walroth havia acabado de ficar sabendo que Tom surrava regularmente a filha Rute, e que sempre a vestia com mangas compridas a fim de que ninguém descobrisse; outra pessoa — eles não sabiam quem, mas a pessoa tinha de ser confiável — estava preocupada porque o pastor Mark e Cathy tinham alguns problemas conjugais, muito provavelmente porque Mark havia sido infiel anos antes; a escola cristã estava de fato afundada em terrível dívida porque Tom e a Sra. Fields vinham surrupiando parte do dinheiro. Andréa ficou estupefata.

— Você tem certeza disso? Não posso acreditar que a Sra. Fields fizesse uma coisa dessas.

— Bem — disse Judy — você sabe a miséria que ela ganha para dar aula naquela escola? Convenhamos que seria uma verdadeira tentação.

— Mas quem foi que lhes contou sobre isso? Ed mostrou-se relutante em revelar a fonte.

— É .. Bem, deixe-me apenas dizer que é alguém próximo ao conselho da igreja, alguém a quem realmente vim a respeitar, está bem? Mas tudo isto é estritamente confidencial!

Wes ficou zangado imediatamente.

— E por que o conselho não contou ao resto da igreja?

— A pessoa com quem falei está preocupada com a mesma coisa. Ela está num verdadeiro apuro: não deseja violar a confiança do conselho, mas ao mesmo tempo está magoada porque tanta coisa está sendo mantida em segredo.

Judy se manifestou: — Acho que precisamos de uma assembléia da congregação, isso é o que eu acho! Andréa concordou.

— E tirar tudo isso a limpo de uma vez por todas! Ed assentiu com a cabeça.

— Bem, já falei com Ted e June Walroth, e eles estão prontos para uma assembléia.

Wes apenas sacudiu a cabeça e chegou a rir para dar vazão ao nervoso.

— Isso tudo vai ser exposto no julgamento, sabem? De alguma forma, esses sujeitos da ACAL vão desenterrar isso, e vão mover uma ação que deixará a nossa igreja de tanga!

Mexerico, Calúnia e Despeito acharam graça naquilo, e guincharam de tanto rir. No que essa gente não acreditaria?

Na escola, a Sra. Fields e Mark haviam terminado de apartar a terceira briga, e agora oito guris — seis que brigavam e dois que os incitavam —haviam ficado retidos no recreio do meio-dia, limpando os quadros-negros, tirando o pó da mobília e varrendo o chão. Havia sido um dia exasperante.

A Sra. Fields deixou-se cair em sua cadeira e soltou um suspiro profun­do.

— Pastor, o que está acontecendo por aqui?

Mark queria dizer que estavam sob ataque espiritual, mas esquivou-se a essa resposta por preocupação com a Sra. Fields. Ela era uma mulher sensível, e ficaria aflita ao saber a respeito do que ele havia encontrado nos degraus da frente aquela manhã.

Por fim, apenas pediu-lhe que orasse com ele, e foi assim que passaram sua hora de almoço — entre missões de manutenção da paz no pátio.

Sonhando, sonhando... nenezinho... Raquel... rosada e gorducha, rindo...

— Vamos lá, doçura, hora do banho.

A água correndo na banheira, à temperatura exatamente certa. Deixe-a brincar na água corrente.

— Está vendo isso? Não é divertido? Hora de ficar limpinha. Jonas. Ele está chamando.

Agora não. Estou dando banho na Raquel!

Puxando, puxando, arrancando-me do meu corpo... Não, agora não...

Escuridão repentina, flutuando, nenhum sentimento, nenhum som, nenhuma dor, nada além de doce amor, ventura, união... Um longo, longo túnel, uma luz brilhante no fim, chegando mais perto, mais perto, quase ali, tenho de voltar! O que está acontecendo com Raquel?

PAFT! Uma mão acertou-lhe o rosto!

— Vamos, moça, volte a si! Levante-se!

Água por toda a parte, por todo o chão. Estou sentada nela, estou ensopada. Quem é este sujeito?

— Pode ouvir-me? Levante-se! É um tira! O que está errado?

— Ah, ela está fora, cara, prá lá de Bagdá!

— Onde está Raquel? Onde está o meu nenê?

A banheira, cheia até a borda, transbordando, água por toda a parte, tiras, paramédicos, a senhoria, tudo um borrão.

Um horror agudo, penetrante subindo devagar. O impensável invadiu-lhe a mente.

— Oh, não! Matei o meu nenê!

— Senhora, preciso informá-la dos seus direitos. Tem o direito de nada dizer...

Erguida do chão, segura por braços fortes, as mãos presas atrás de si.

— Onde está o meu nenê?— Tire-a daqui.

— Onde está o meu nenê?

— O seu nenê está morto, Sally. Venha.

A imagem mais rápida, aparecendo apenas por um segundo: um pacotinho sobre a mesa da cozinha, completamente arrodeado por para­médicos, coberto com um pano branco... uma mãozinha cor-de-rosa aparecendo.

— Oh, não! Raquel! Matei o meu nenê! Jonas!

Dor das algemas, os braços retorcendo, ensopada, empurrada para fora da porta.

— Raquel!

— Venha, Sally, vamos embora!

AAUU! Sally acordou com um pulo no quarto escuro, quase caindo da cama. Seus quatro companheiros atormentadores a cobriam totalmente.

Para sempre, para sempre, dizia Desespero, será condenada para sempre. Você é o que é, jamais pode mudar isso.

Loucura manifestou-se com vigor renovado: Sabe, tudo está em sua própria mente retorcida. Você é uma mulher muito doente!

A Morte sempre a segue, disse Morte. Tudo o que você toca, tudo o que você ama, simplesmente morrerá.

E vão apanhá-la por isso! disse Medo. Todos os espíritos que você já traiu estão esperando para apanhá-la!

Sally virou de lado e enterrou o rosto no travesseiro.

— Ó Deus, ajude-me!

Ele não pode ajudá-la... você o ofendeu, ele nunca a ouvirá... você é nossa agora...

Sally olhou na direção da janela. A luz do dia ainda era visível em torno das beiradas da cortina fechada. Olhou o relógio ao lado da cama. Quatro da tarde. Deixou-se cair de costas e tentou acalmar-se, fazer o coração estabilizar-se, respirar mais devagar.

Disse a si mesma: Calma, garota, foi tudo um sonho, um pesadelo. Acalme-se.

Seu coração ainda batia com força e o rosto brilhava de suor. Que beleza de soneca esta acabou sendo; sinto-me pior.

Ela tentou analisar tudo. Sim, o sonho foi como uma fita de vídeo; foi assim que aconteceu. Não tinha tido uma lembrança tão nítida assim em anos. Oh, Deus, o que foi que fiz, o que foi que fiz? Como pude permitir que isso acontecesse comigo, com a minha filha?

Jonas, o meu conselheiro e amigo maravilhoso, meu espírito guia infinitamente sábio!

Pensar naquele espírito deixou-a nauseada.Confiei nele! Dei-lhe a minha vida, meus pensamentos, meu espírito, minha mente, e agora... agora descubro quanto era maléfico. Ou é.

O mal. Bem, aí está outro absoluto. Jonas é um espírito incrivelmente maléfico, e ninguém vai-me convencer do contrário.

O que tinha acabado de ler? Ela rolou devagar da cama, plantou os pés no chão, e foi até a janela. Abriu a cortina e teve de entrefechar os olhos à luz do dia que inundou o quarto. Ali, na mesa debaixo da janela, estava a Bíblia de Sara, ainda aberta no Evangelho de Marcos. Ela havia apenas começado a ler antes de sentir-se sonolenta e deitar-se. Havia lido algo que lhe falara ao coração e na hora ela mal havia prestado atenção.

Sentou-se à mesa e examinou a passagem novamente. Ali estava, no primeiro capítulo: "Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de espírito imundo, o qual bradou:

Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para prender-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!

Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e sai desse homem.

Então o espírito imundo, agitando-o violentamente, e bradando em alta voz, saiu dele.

Todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: Que vem a ser isto? uma nova doutrina! com autoridade ele ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!...

À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemo­ninhados.

Toda a cidade estava reunida à porta.

E ele curou muitos doentes de toda a sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era"

Demônios. São demônios. Sally acreditou. Ela nunca havia dado muito crédito a essa tal Bíblia desde os dias em que freqüentava a escola dominical, mas naquele exato momento, sentada naquele quarto, tendo acordado de uma lição tão clara quanto poderia pedir, ela acreditou no que esse livro dizia acerca dessas entidades espirituais. A coisa toda era uma impostura, um logro, uma trapaça. Essas coisas eram tão maléficas quanto o mal podia ser.

Onde está aquele caderno? Preciso escrever para o Tom.

Tom, você já sabe isto, e é o motivo pelo qual está em toda essa dificuldade, mas deixe que eu, que já estive no outro lado, lhe assegure de que você está certo. Amber Brandon realmente entrou em contato com um espírito guia, e agora essa coisa lhe está controlando a vida, os pensamentos, o comportamento. Eu tinha Jonas, agora Amber tem Ametista, e se eu não o disse com suficiente clareza antes, deixe-me dizer claramente agora, porque agora sei claramente: esses espíritos são maléficos; estão a fim de nos destruir. Veja só o que Jonas fez comigo. Não o culpo inteiramente; pedi-lhe que entrasse na minha vida, dei-lhe minha mente e meu corpo. Mas descobri tarde demais qual era a sua verdadeira natureza.

E o que dizer de Amber? Suponho que para ela era tudo divertimento e brincadeiras no começo. Agora tenho quase certeza de que ela está envolvida em algo do qual preferiria estar livre, mas não pode escapar-lhe. Para falar a verdade, eu não estou certa de ter-lhe escapado.

Mas se o Evangelho de Marcos estiver certo, e esse seu Jesus tem autoridade sobre esses espíritos e pode salvar as pessoas do seu poder, então espero que tenha fé suficiente no seu Salvador para obter-lhe ajuda.

E, Tom, quando estiver fazendo isso, por favor, diga uma palavrinha em meu favor.

Os espíritos de Destruidor morriam de rir ao adejarem para fora do tribunal.

A juíza levantou-se, todos na sala do tribunal se levantaram, e então ela saiu, deixando os advogados da ACAL sentindo-se bem arrogantes, enquan­to Wayne e Tom podiam apenas ficar ali de boca aberta.

Corrigan sentia-se tão chateado que mal pôde manter baixa a voz enquanto resmungava para Tom:

— Vamos definitivamente entrar com recurso. Nunca vi uma violação da justiça ou uma negação do devido processo mais óbvios, mais absurdos na minha carreira!

Tom não sabia se ficava com esperança, ou se se dispunha a lutar, ou se desistia, ou se ia para a casa e morria, ou o quê.

— Está bem. Se você acha que funcionará.

— Não sei se funcionará ou não, do jeito que esses tribunais estão ficando tão parciais, mas poderíamos ter mais sorte com outro juiz. Em última instância, isso não tem influência sobre a decisão de apelar. Eu seria tão negligente quanto a juíza se não entrasse com recurso contra a decisão dela. Venha, vamos dar o fora daqui.

Logo do lado de fora da sala do tribunal, Wendell Ames se deliciava à luz dos holofotes e obsequiava os microfones enquanto proferia uma declaração para a imprensa.

— Sentimo-nos certamente satisfeitos por uma pessoa da estatura da Juíza Fletcher reconhecer que crianças de tenra idade ainda precisam de proteção contra os que delas abusam, mesmo num tribunal de justiça...

— Já basta — disse Corrigan. Com uma raiva súbita, pouco característica, ele forçou passagem até o meio do círculo de repórteres. — Senhores e senhoras, terei uma declaração assim que o Sr. Ames tenha completado a sua.

Isso atraiu a atenção deles imediatamente. Estavam famintos. Inunda­ram-no de perguntas, muitas delas bem tendenciosas.

Ele se livrou de todas as perguntas e disse o que desejava dizer.

— Em primeiro lugar, corrigindo o Sr. Ames, este caso centraliza-se na liberdade religiosa garantida pela constituição e não em abuso de crianças. Nenhuma admissão de tipo algum foi feita, e tentem contar isso certo quando publicarem suas histórias. Se dar palmadas numa criança constitui abuso, então vamos colocar metade do país na cadeia agorinha mesmo!

— Em segundo lugar, visto que os advogados da acusadora insistem continuamente em levar este caso a julgamento pela imprensa, deixem-me submeter isto à sua consideração: a) Tudo o que ouvi neste caso foi filtrado através da mãe de Amber e do Dr. Mandanhi, o psicólogo infantil nomeado pelos advogados, e insistimos em que temos o direito de confrontar aquela que nos acusa, que é Amber, e apenas chegar à verdade, b) Não pretende­mos ser duros para com Amber ou maltratá-la de jeito nenhum. Aceitare­mos restrições razoáveis, e para esse fim trabalharemos com o juiz e com os advogados da acusadora.

— Agora quanto a essa decisão da Juíza Fletcher: ela é claramente errônea e absolutamente contrária à lei, e não temos outra escolha que não seja apelar no Tribunal de Recursos sem demora. Agora tentem não modificar muito o que eu disse.

Tendo dito isso, e com outras perguntas ainda sendo berradas na sua direção, Corrigan e Tom saíram às pressas pelo corredor rumo aos eleva­dores.

Em Baskon, a pequena Amber Brandon agia de maneira estorvada e rindo muito quando desceu do ônibus escolar, e tinha provocado tanta confusão lá dentro que a motorista esteve a apenas minutos de dar-lhe um bilhete de reclamação para entregar à mãe. Mas o ponto de Amber chegou primeiro, e por isso a motorista ficou satisfeita em apenas fazer Amber e seus coleguinhas saírem do ônibus.

Os coleguinhas estavam acostumados a ver Amber fazendo o papel de pônei, e alguns tinham até aderido à brincadeira. Mas naquele dia Ametista não era um pônei divertido para se brincar. Ela empurrava os amigos, provocava-os, roubava os seus livros e os jogava por ali, pulava, empinava, dava cambalhotas e caçoava deles.

Todos os amigos de Amber foram para a casa muito zangados com ela, jurando nunca mais brincar com ela.

Mas Ametista apenas continuou rindo e empinando, e não ligou nem um pouco.Era definitivamente a hora de reunir a equipe toda. Aquela noite, Mark e Cathy abriram a igreja e o grupo que formava o núcleo reuniu-se — os Howards, Ben e Bev Cole, Marshall e Kate Hogan, Tom Harris e Wayne Corrigan — juntamente com os presbíteros Don Heely, Vic Savan, Jack e Doug Parmenter, e respectivas esposas. A coisa estava preta. Deus se movia no coração deles e todos podiam sentir a ameaça que vinha de fora. Era hora de levar a obra do Senhor a sério.

Eles se sentaram num circulo fechado nos bancos e alguns trouxeram cadeiras da frente do templo, prontos para comparar notas, falar a respeito, orar por aquilo.

— Achei que deveríamos nos reunir aqui esta noite — disse Mark. — Este parece ser o centro da atenção de Satanás no momento, o centro dos seus ataques. Precisamos orar pedindo uma barreira em volta deste lugar.

— Vamos ao encontro do inimigo! — disse Ben.

— Já está mais do que na hora de fazermos isso! — disse Jack. Mark sorriu, encorajado.

— Quero dizer-lhes que a batalha está ficando pesada lá fora!

— E então, como foi o seu depoimento na semana passada? — perguntou Doug Parmenter.

Mark suspirou; Corrigan revirou os olhos um tantinho. Mark respon­deu: — Ames e Jefferson estão armando algum tipo de cilada, isso é óbvio. Foram tão bondosos e contudo...

Corrigan completou o pensamento.

— Tentavam tirar qualquer coisa de Mark que pudessem achar para usar contra ele, jogando verde para colher maduro e fazê-lo cair. — Ele olhou para Mark. — Acho, entretanto, que o senhor se saiu bem, pastor. Saiu tinindo de limpo, e eles não gostaram disso.

— Bem, o Senhor seja louvado por isso. "Aquele que anda em integri­dade não será abalado."

— É isso ai — disse Bev.

Mark voltou-se para Corrigan de novo.

— Wayne, desde que estamos falando no assunto, por que não nos diz o que vem a seguir no processo legal?

Corrigan parecia um tanto cansado e deprimido.

— Bem, naturalmente Tom e a Sra. Fields estão com hora marcada para depor nas próximas semanas. Mas, enquanto isso, vamos apelar a decisão de hoje no Tribunal de Recursos, e depois teremos de esperar e ver o que acontece. Podemos não ganhar ali também, mas pelo menos isso nos dará um pouco mais de tempo. Vejam bem, este é apenas um pequeno detalhe no total da ação, apenas uma pequena escaramuça numa guerra longa e custosa. — Ele olhou para Marshall. — Temos de esperar que alguma outra coisa surja neste caso. Parece que estamos tão perto!

— Que tal aquele currículo? — perguntou Kate. — Estou convencida agora de que o sistema escolar não nos vai permitir vê-lo sem um pouco de pressão legal de verdade. Eles estão tentando ganhar tempo.

Corrigan assentiu com a cabeça.

— Eu não ficaria surpreso se eles estivessem com a esperança de poder sobreviver ao sistema judiciário e esconder aquele currículo até já estar­mos no tribunal. Bem, com a decisão de hoje e o processo de apelo começando, vai ser difícil eles fazerem isso. Vou definitivamente emitir uma ultimação para a apresentação daquele currículo amanhã.

— Quanto a alguma outra coisa surgir — disse Marshall — pode apenas ser que a tenhamos, ou tenhamos uma parte dela, ou um vislumbre de como poderíamos descobrir um canto de uma parte dela. Estou falando da maldição que foi colocada na igreja hoje de manhã.

Bob Heely perguntou:

— Vocês deram parte disso na polícia? Ben replicou:

— Você está brincando? Tenho quase 90 por cento de certeza de que Mulligan está metido nisso! Aquelas pernas de cabra vieram da cabra de Sally Roe, e vocês sabem como o Mulligan tem tentado encobrir aquela tentativa de assassiná-la. Ele tem de fazer parte dessa maldição também, ou pelo menos ajudar seja lá quem for que tiver feito isso.

Jack Parmenter precisou perguntar

— Você tem mesmo certeza disso? Marshall interveio.

— Ainda não. Mas o que estou querendo dizer é que agora temos prova concreta de que existe alguma feitiçaria ou satanismo por aqui, alguma forma de ocultismo organizada, mas pesada, como um bando de bruxos, uma sociedade secreta, seja lá o que for. E isso significa que existem pessoas — e estou falando em pessoas de aparência normal, gente do dia-a-dia de quem jamais se suspeitaria — que pertencem a esse grupo. E numa cidade deste tamanho, eles podem exercer muita influência e intimidar uma porção de pessoas. Mulligan e Parnell, o legista, podem estar sob o controle dessa gente, ou podem pertencer eles mesmos ao grupo.

— Mas não deixem de notar isto: Seja lá quem forem essas pessoas, indicaram claramente que esta igreja e Sally Roe têm algo em comum: somos seus inimigos, e elas querem nos causar danos. Mataram a cabra de Sally e drenaram o sangue, provavelmente para usar nas suas cerimônias. Agora isso é um ponto de contato para elas, algo que pertenceu à pessoa que desejam amaldiçoar. Tiraram as pernas e deixaram as dianteiras aqui na igreja. Isso nos inclui na maldição que foi lançada contra Sally Roe. Estou adivinhando que as pernas traseiras ainda estão com os bruxos em algum lugar como ponto de contato do seu lado.

— Por que as pernas? — perguntou Corrigan. Marshall adivinhou:

— Bem, não se pode correr muito longe sem elas, e neste momento Sally está correndo, disso tenho certeza.

— Então, ai estão as suas toupeiras novamente, Marshall! Eles tentaram colocar Sally Roe e nós debaixo da mesma maldição; portanto, mesmo que não possamos enxergá-la ainda, tem de haver uma conexão: Sally Roe tem algo a ver com a nossa situação, com este caso, e eles sabem disso.

— Você acertou.

Corrigan fechou os punhos e ergueu os olhos para os Céus em pretenso drama.

— Oh, se ao menos eu pudesse provar tudo isso! Se ao menos soubesse quem são essas pessoas esquisitas!

— Não sei quanto a você, mas eu tenho alguns suspeitos — disse Marshall. — Faríamos bem em dar uma segunda olhada cuidadosa no sargento Mulligan e em Joey Parnell. Eles têm estado perto de toda essa coisa da Sally Roe, e sabemos que Parnell está mais do que apavorado no momento.

Ben foi mais direto.

— Parnell está envolvido, sem dúvida.

— E até colocarei no embrulho Irene Bledsoe, a mulher do DPC, como suspeita. Ela está trabalhando com todo o campo Brandon/ACAL, e está sendo tudo menos objetiva.

— Oh, puxa vida, espero que não! — exclamou Tom.

— Como estão os meninos?

— Vi-os na sexta-feira. Estão se agüentando. O lar temporário parece bem duro, mas pelo menos não estão sob os cuidados diários da Bledsoe. Uma bruxa cuidando dos meus filhos, era só o que faltava!

— E poderia haver ainda mais outro suspeito — disse Mark. Eles volta­ram-se para ouvir quem era, mas ele ficou quieto e pensativo, trocando um olhar com Cathy. — Como sabemos que um desses bruxos, ou satanistas, ou seja lá o que forem, não veio parar bem dentro desta igreja? Temos tido dificuldades a mais não poder, e jamais vi tanta divisão em todo o tempo que pastoreei aqui.

Cathy acrescentou: — Sinto que temos de fato algum tipo de veneno operando diretamente entre nós, sem dúvida.

— Isso acontece — disse Marshall. — Eles realmente se infiltram nas igrejas; conhecem todo o linguajar cristão, conhecem a Bíblia, fazem um sério esforço de se fazer passar por cristãos e perturbar as coisas no lado de dentro.

Isso fê-los estacar abruptamente. De súbito, encontraram-se olhando uns para os outros como todos os suspeitos num filme de mistério. Foi uma sensação simplesmente arrepiante. Jack perguntou a Mark e Cathy:

— Alguma idéia de quem seja?

Mark sacudiu a cabeça. Cathy respondeu:

— Não... mas ouçam: temos uma. Temos uma toupeira demoníaca nesta igreja. Sinto que o Senhor me está fazendo ver isso.

Marshall assentiu com a cabeça.

— É uma nítida possibilidade.

Eles ponderaram aquilo apenas por um momento, e depois, sem dizer mais nada, Mark escorregou da cadeira e afundou sobre os joelhos ali mesmo. Os outros fizeram o mesmo. Foi espontâneo. Eles sabiam o que tinham de fazer.

— Ó Senhor Deus, tem misericórdia — orou Mark. — Naquilo em que pecamos, perdoa-nos. Dá-nos sabedoria para saber o que estamos fazendo de errado, e arrependimento desse erro. Tem misericórdia de nós, Senhor Deus, e restaura-nos.

Sua oração continuou, e os outros o acompanharam na oração. Lágri­mas começaram a cair, choro incontido diante do Senhor.

Ben orou: — Senhor, ajuda-nos a distinguir essa coisa toda. Protege-nos dos nossos inimigos, e dá-nos a vitória por aquilo que é certo.

— Pedimos por todas as crianças — disse Cathy. — Esta batalha é delas também, talvez mais ainda do que nossa. Satanás quer as nossas crianças, e simplesmente não podemos permitir-lhe tê-las.

Mark declarou: — Apenas oramos agora para que uma barreira de guerreiros angelicais cerquem este lugar e o guardem. Cerca o teu povo, Senhor, e protege-nos de quaisquer maldições que nos tenham sido atiradas. Imploramos o sangue derramado de Jesus sobre nós, nosso ministério, nossos filhos, a escola...

— Protege Rute e Josias — orou Tom. — Ó Senhor, por favor, protege os meus filhos.

— Dá-nos uma resposta, Senhor — disse Marshall. — Temos palpites e teorias o suficiente para encher um depósito, mas precisamos de uma resposta, algo sólido, algo positivo, e precisamos depressa. Por favor, atravessa as muralhas que o inimigo ergueu; atravessa, Senhor Deus, e traz-nos uma resposta.

— E, Senhor — disse Jack — se existir um invasor em nossa igreja, uma toupeira demoníaca, acorrentamos essa pessoa neste instante, atamos os demônios associados a ele ou a ela, e pedimos, Senhor, que essa pessoa seja exposta.

Do lado de fora da igreja, Natã e Armoth colocaram uma barreira, um regimento dos melhores guerreiros que havia para a tarefa, todos de pé ombro a ombro em torno da propriedade da igreja, espadas prontas, alertas, prontos para uma briga.

Tal estava contente com aquele tantinho de progresso.

— Isso deverá manter as coisas em um só pedaço por algum tempo. Agora é tratar de expor aquela toupeira!

— Parece que estaremos prontos — disse Natã, considerando as orações das pessoas no templo.

— Naturalmente — disse Tal. — E quanta bondade da parte de Destruidor ter-se tornado tão afoito. Ele expôs a brecha de que precisávamos!