Após o estudo sobre os dons de Deus, podemos constatar que
sua sabedoria transcende a tudo o que se pode entender com a limitada percepção
do homem. Enquanto a sabedoria humana é compartimentada ou segmentada em áreas
do conhecimento, a sabedoria de Deus é multiforme. Ele a manifestou desde a
criação, quando sua mente divina imaginou trazer à realidade as coisas criadas,
incluindo o universo imenso, formado de planetas e estrelas, bem como o homem e
os seres vivos da natureza, numa demonstração de planejamento perfeito, jamais
alcançado pela mente humana.
O salmista teve a visão da sabedoria e do poder criador de
Deus, ao exclamar: “O Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas
fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas” (SI 104.24). Só o
homem incrédulo, em sua arrogância e presunção, não percebe que a grandeza do
universo, ou do macrocosmo, bem como a imensa complexidade do microcosmo,
observado nos microuniversos das células ou das moléculas dos elementos da
natureza, não podem ter sido fruto do acaso cego, mas de uma mente
sobrenatural, dotada de sabedoria e inteligência além da imaginação limitada do
homem. O sábio Salomão, em suas reflexões sobre o universo, declarou:
“O Senhor, com sabedoria, fundou a terra; preparou os céus
com inteligência” (Pv 3.19). A sabedoria de Deus e sua inteligência divina
sempre agiram juntas para que o Eterno alcançasse seus objetivos e propósitos,
ao criar todas as coisas.
Mas foi no plano espiritual, que transcende às coisas
materiais do universo, que Deus demonstrou sua multiforme sabedoria de forma
tão elevada, que é considerada um verdadeiro mistério que só a revelação divina
pôde trazer à luz, ao conhecimento do homem, por meio do Espírito Santo. Paulo
diz que esse mistério foi revelado de maneira muito especial, por misericórdia
e bondade de Deus, pelo Espírito Santo, “aos seus santos apóstolos e profetas”,
bem como à Igreja do Senhor:
Essa multiforme sabedoria de Deus, que tudo criou pelo poder
sobrenatural de sua palavra, a ponto de trazer à existência todas as coisas, a
partir do nada absoluto, transformou-se em uma relação de amor para com o
homem. Mesmo sabendo de antemão que o homem iria cair em desobediência, em seu
plano divino, por sua graça e misericórdia, Deus enviou Jesus, para salvar o
homem da tragédia do pecado. E Cristo manifestou-se como a encarnação da
sabedoria de Deus: “Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos,
lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.24 — grifo
nosso).
A Igreja — o Corpo de Cristo, reúne os “chamados, tanto
judeus como gregos” ou gentios, para proclamar a salvação de Deus à humanidade.
Por ser a representante de Deus na Terra, ela é alvo dos mais terríveis ataques
do Inimigo de Deus, que, mesmo condenado em última instância, no Tribunal
Divino, e sabendo que seu fim é o inferno, procura destruir a comunidade dos
salvos e remidos por Cristo. Diante dessa realidade, Deus tem concedido à
igreja recursos especiais, que são os dons espirituais e os dons ministeriais,
já estudados nos capítulos anteriores, para edificação e força para cumprir a
sua missão. O dom de sabedoria, ao lado dos outros dons, concede parte da
multiforme sabedoria de Deus a seus servos para que saibam como agir, como
viver, como proceder e atuar, diante da missão que lhes foi confiada de
proclamar o evangelho por todo o mundo a toda a criatura. Os dons ministeriais
fazem parte da capacitação de Deus a homens chamados e preparados para exercer
a liderança nas igrejas que reúnem os salvos em Cristo Jesus, até à sua vinda
em glória para reinar para sempre.
I - Quantos são os dons Espirituais
Os dons espirituais são variados, como recursos usados pelo
Espírito Santo para manifestar o poder de Deus e sua multiforme sabedoria,
através de instrumentos humanos, usados para a edificação e o fortalecimento
espiritual da igreja. Os dons devem ser buscados com humildade e discernimento.
“Assim, também vós, como desejais dons espirituais, procurai sobejar neles,
para a edificação da igreja” (1 Co 14.12). A lista de dons espirituais pode ser
vista em dois sentidos: restrito e amplo, como resumimos a seguir.
1. NO SENTIDO ESTRITO
Normalmente, quando se tratam dos dons espirituais,
entende-se que eles são em número de nove. Essa conclusão baseia-se na contagem
dos dons, com base em 1 Coríntios 12: “Porque a um, pelo Espírito, é dada a
palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a
outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de
curar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o
dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas” (1 Co 12.8-10).
De fato, a relação acima indica que há nove tipos de dons
espirituais. Entretanto, quando se tratam dos dons de curar, no plural, não se
pode precisar quantas manifestações desse dom podem existir. Não há um só dom
de curar, nem uma única maneira de se fazer uso desses dons. Sua pluralidade
certamente denota a vontade de Deus para que seu povo tenha saúde e qualidade
de vida, tanto espiritual, quanto emocional ou física. A experiência cristã nos
mostra que há homens de Deus que parecem ter capacitação para orar por
determinados tipos de enfermidades, enquanto outros oram por outras doenças.
Não podemos ser dogmáticos a respeito dos dons, mas não se veem operadores de
milagres com plena capacitação para orar eficazmente por todos os tipos de
males ou doenças. Dessa forma, os tipos de dons espirituais são nove. E podem
ser ampliados por causa da pluralidade dos dons de curar. A Bíblia não nos
autoriza especificar os dons de curar.
2. NO SENTIDO AMPLO
Considerando-se que a sabedoria de Deus é “multiforme”, e
que seu poder é ilimitado, e que, de igual forma ele concede à Igreja a sua
“multiforme” graça, podemos inferir que Deus não está limitado a um número fixo
ou fechado de dons. Após ensinar sobre os dons espirituais, no capítulo 12 de 1
Coríntios, o apóstolo Paulo dirige sua doutrina para a “excelência do amor
fraternal”, no capítulo seguinte. Certamente, podem ser considerados dons
espirituais tantas outras dádivas de Deus à sua igreja. Dessa forma, o leque
dos dons de natureza espiritual pode ser ampliado.
1) O dom do amor. A maior manifestação do amor de Deus foi o
ter enviado a Jesus Cristo para salvar o perdido. Ele próprio declarou de modo
solene e incisivo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3.16 — grifo nosso). Esse amor, traduzido como o amor “ágape”, é a
mais profunda demonstração de Deus, que se doou, em Cristo, para redimir o
homem da sua constrangedora situação como caído e longe do criador. Cristo é o
amor encarnado, que se “fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14).
2) O dom da filiação divina. Através da fé em Cristo, Deus
torna o pecador seu filho, integrando-o na família de Deus. João registrou esse
fato: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus-, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12 — grifo nosso). Ninguém pode
conquistar esse poder (ou direito). E resultado da graça e do amor de Deus.
“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos
Santos e da família de Deus” (Ef 2.19).
3) O dom do batismo com o Espírito Santo. Na casa de Cornélio,
enquanto Pedro ministrava a palavra, o Espírito Santo caiu sobre os que ali
estavam, conforme Pedro afirmou: “como nós no princípio”; sem dúvidas com o
sinal exterior de línguas estranhas (cf. At 2.4). “Portanto, se Deus lhes deu o
mesmo dom que a nós, quando cremos no Senhor Jesus Cristo, quem era, então, eu,
para que pudesse resistir a Deus?” (At 11.17; At 1.5; 1 Ts 4.8).
4) O dom do crescimento. Doutrinando a igreja em Corinto,
Paulo reprovou a atitude de certos grupos que se levantaram na congregação,
causando dissensão, divisões internas e partidarismo em torno dos apóstolos.
Havia, certamente, quem atribuía a Pedro, a Apoio e a Paulo a preeminência pelo
sucesso da evangelização. Mas Paulo, como bom servo de Deus, lhes afirmou: “Eu
plantei, Apoio regou; mas Deus deu o crescimento. Pelo que nem o que planta é
alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1 Co 3.6,7).
Esse crescimento é acima de tudo espiritual.
5) O ministério da reconciliação. Em sua segunda carta aos
coríntios, Paulo, escrevendo sobre a nova vida do salvo em Cristo, explica que
o milagre da salvação, que inclui a regeneração, a justificação e a
santificação, “provém de Deus”, que nos concedeu o “ministério da
reconciliação”. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isso provém de
Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério
da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,
não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2
Co 5.17-19 — grifo nosso).
6) O espírito de fortaleza, de amor e de moderação. Podemos
dizer que Deus nos dá o equilíbrio espiritual, quando nos submetemos à sua
vontade. De um lado, concede o “espírito de temor”, para que o sirvamos com
profundo respeito e reverência (SI 128.1); de outro, dá-nos o “espírito de
fortaleza”, ou de poder; mas, para que esse poder não fique sem controle,
concede o “espírito de amor e de moderação” (cf. 2 Tm 1.7). Nenhum dom
espiritual, no sentido estrito ou amplo, tem seu exercício aprovado por Deus,
se não for por amor e com a devida e sábia moderação. Quando isso não acontece,
o detentor do dom tende a aproveitar-se dele para sua promoção pessoal. O Espírito
Santo não autoriza a glória para ninguém, exceto para Cristo, o que é a sua
missão (Jo 16.14).
II - SEJAMOS BONS DESPENSEIROS DOS MISTÉRIOS DIVINOS
Despenseiros são as pessoas que tomam conta da despensa de
uma casa, ou do lugar onde são guardados os alimentos e outros itens
necessários à manutenção da família. O apóstolo Pedro exorta os destinatários
da sua primeira carta, quanto à iminente vinda de Jesus, fazendo solene
advertência sobre como os cristãos devem comportar-se, “como bons despenseiros
da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10).
1. O DESPENSEIRO DEVE SER SÓBRIO E VIGILANTE
Deve guardar a sobriedade e vigilância, em oração (1 Pe
4.7); essa advertência refere-se à simplicidade que deve caracterizar um servo
de Deus, sobretudo aquele que tem a liderança, na casa do Senhor. Fala da
constante vigilância sobre a vida cristã, ante os ataques diuturnos do
Adversário. Ele anda como leão, buscando destruir vidas preciosas. O que
administra o rebanho de Deus deve saber retirar da “despensa” de Deus o melhor
alimento. E vigiar por suas vidas. E Pedro quem dá idêntica advertência em sua
primeira carta: “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda
em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8; Mt
26.41).
2. O DESPENSEIRO DEVE SER AMOROSO
Em segundo lugar, o despenseiro de Cristo deve ter “ardente
caridade uns para com os outros, porque a caridade cobrirá a multidáo de
pecados” (1 Pe 4.8); todo crente fiel deve ser despenseiro de Deus; mas, como
já refletimos, o obreiro, pastor, dirigente, ou líder de uma igreja, pastoreia
ovelhas que não são suas. E cada ovelha é diferente da outra, em temperamento,
formação, visão das coisas, e nem sempre é dócil e obediente. Há crentes que
dão muito trabalho aos líderes. Como despenseiro da graça de Deus, o obreiro
deve demonstrar amor em todas as ocasiões, no trato com todo o tipo de ovelha.
Com as mais fracas, deve ser mais compreensivo; com as mais fortes, deve ser
incentivador de sua fé e testemunho; com as feridas, deve ter sempre o bálsamo
do amor e da compreensão; e com as que pecam, fazer uso da disciplina com amor,
sem abuso de autoridade. Enfim, em qualquer situação o despenseiro deve ter
amor. É característica do verdadeiro discípulo de Jesus (Jo 13.34,35).
3. O DESPENSEIRO DEVE SER HOSPITALEIRO
Deve ter hospitalidade para com “os outros, sem murmurações”
(1 Pe 4.9); já foi visto que hospitalidade é acolhimento, bom trato com todas
as pessoas, na administração da igreja local; ou do crente com seus irmãos,
familiares, amigos e pessoas em geral. “Não vos esqueçais da hospitalidade,
porque, por ela, alguns, não o sabendo, hospedaram anjos” (Hb 13.2). Há quem
faça acepção de pessoas, discriminando os mais humildes ou menos favorecidos na
vida humana. Essa não é atitude do despenseiro da casa de Deus. Esse deve ser
sempre atencioso com todos, ajudando-os em suas necessidades espirituais
emocionais e físicas, dentro de suas possibilidades. Não agir assim, é pecado
(Dt 16.19; Tg 2.9).
4. O DESPENSEIRO DEVE ADMINISTRAR BEM A GRAÇA DE DEUS
Aqui, entendemos que cada crente é um despenseiro de Deus.
Pedro adverte quanto a sua mordomia, dizendo: “Cada um administre aos outros o
dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se
alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar,
administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado
por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre. Amém”
(1 Pe 4.10, 11).
5. O DESPENSEIRO DEVE SER FIEL
Escrevendo aos coríntios, Paulo ensina que devemos ser
vistos pelos homens, todos os crentes, como “ministros de Cristo e despenseiros
dos mistérios de Deus” (1 Co 4.1). A palavra ministro vem de diáconos, ou
servo. Diante de Deus, cada um deve ser servo a serviço da igreja e de sua
missão na Terra. Tendo em vista sua grande missão, diante de Deus, da Igreja e
dos homens, os despenseiros devem ser fiéis em tudo. Os “mistérios de Deus” não
têm nada a ver com coisas ocultistas, esoteristas ou místicas. A Bíblia nos
declara que significa esse mistério. Paulo, aos colossenses, diz: “o mistério
que esteve oculto desde todos os séculos e em todas as gerações e que, agora,
foi manifesto aos seus santos-, aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as
riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós,
esperança da glória (Cl 1.26,27). Aí, temos “o mistério” revelado: “Cristo em
vós, esperança da glória”! Esse mistério foi revelado “para que, agora, pela
igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e
potestades nos céus” (Ef 3.10).
III - A NECESSIDADE DOS DONS E DO FRUTO DO ESPÍRITO (1 CO
12.31; 13;1-13; GL 5.22).
1. A NECESSIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
No capítulo 2, vimos o Propósito dos Dons Espirituais. Neste
item, podemos identificar a necessidade dos dons para as igrejas em todos os
tempos e lugares. Hoje, mais do que nunca, com o esfriamento do amor e a
multiplicação da iniquidade (cf. Mt 24.12), a Igreja do Senhor Jesus necessita
de mais poder, de mais unção, de “mais demonstração do Espírito e de poder” (1
Co 2.4). Os teólogos cessacionistas, que ensinam que os dons espirituais
cessaram com o fechamento do Cânon do Novo Testamento, e não há mais
necessidade deles. Cometem equívoco elementar em sua exegese sobre a atualidade
dos dons. O fechamento do Cânon nada tem a ver com doutrina. Quer dizer que não
se pode acrescentar mais nenhum livro ao Novo Testamento.
No que concerne aos dons espirituais, os ensinos
cessacionistas não se firmam na boa interpretação da Bíblia, porque carecem de
fundamento escriturístico. Eles se baseiam em premissas equivocadas, que
aprenderam com seus mentores, nos seminários, ou em seus tratados teológicos.
Para esses teólogos, suas conclusões cessacionistas tornaram- se dogmas, a
exemplo do que ocorreu na teologia católica. São postulados intocáveis,
sagrados, infalíveis. Eles defendem, corretamente, o postulado da “Sola
Scriptura”, fundamento da Reforma, mas, em seus estudos, valorizam mais a
opinião dos teólogos do que a própria Palavra de Deus. Em nenhum lugar, na
Bíblia, está escrito que os dons espirituais deixaram de operar na igreja. Os
dons espirituais, hoje, são mais necessários do que no tempo dos apóstolos. Há
uma “frente fria”, passando pelos seminários, por faculdades teológicas, e por
muitas igrejas, em que não se vê a presença de Deus, através dos dons
espirituais, ou dos sinais do poder de Deus, na vida das pessoas.
2. OS DONS ESPIRITUAIS E O AMOR CRISTÁO
No capítulo 12, de sua primeira Carta aos Coríntios, o
apóstolo Paulo discorre de maneira inigualável sobre os dons espirituais. Ele
termina o capítulo sobre os dons, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os
melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co
12.31). Na sequência do tema dos dons espirituais, ele continua seu ensino,
demonstrando o valor do amor em ação, ou da caridade, no uso dos dons
espirituais. E prova, de modo cabal, que os dons sem o amor de Deus não
significam nada. O amor, no exercício dos dons espirituais, é o “caminho mais
excelente”.
No capítulo 13 de Coríntios, sobre a “excelência do amor”,
Paulo refere-se a vários dons espirituais, afirmando que sem amor de nada
adianta ter tais dons (1 Co 13.1-3).
3. A NECESSIDADE DO FRUTO DO ESPÍRITO
Este estudo não estaria consistente, se não fosse abordado,
ainda que resumidamente, o tema do fruto do Espírito Santo na vida dos salvos.
Acima, vimos que os dons espirituais sem amor nada significam para Deus. E o
fruto do Espirito — O amor (G1 5.22) — é o que faz a diferença entre um crente
salvo e um crente perdido. O que tem dons de Deus, ou dons do Espírito Santo,
necessita ser coberto pelo amor de Deus em seu coração, e em suas ações. Por
isso, Paulo diz que “A caridade [o amor, em outras versões] é sofredora, é
benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se
ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se
irrita, não suspeita mal” (1 Co 13.4,5 — colchete inserido).
A prática da caridade, ou do amor em ação, age no caráter do
crente. Não admite inveja, irresponsabilidade, orgulho, indecência, e “não
busca seus interesses”, ou seja, não é egoísta (1 Co 13.5), “não se irrita”, ou
seja, não permite que o crente viva irritado com os outros, o tempo todo, e não
dá lugar a suspeitas infundadas, como o texto citado bem evidencia. O dom do
Espírito deve ser exercido com amor e humildade, sem presunção ou orgulho (1 Co
13.4).
O uso dos dons deve dar lugar a um exercício constante em
busca da maturidade cristã. A falta de maturidade leva os detentores de dons a
serem carnais e infantis na fé. A igreja de Corinto possuía em seu seio todos
os dons, mas os crentes não estavam maduros na fé. Diz Paulo: “E eu, irmãos,
não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em
Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem
tampouco ainda agora podeis; porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós
inveja, contendas e dissensões, nâo sois, porventura, carnais e não andais
segundo os homensT (1 Co 3.1-3 — grifo nosso).
Exortando a igreja, Paulo diz da necessidade de deixarem de
ser meninos na fé. “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino,
discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas
de menino” (1 Co 13.11). A prática do fruto do Espírito, aliada ao exercício
dos dons, é o que evita a meninice espiritual, e leva o crente a alcançar a
maturidade espiritual, como diz Paulo: “logo que cheguei a ser homem, acabei
com as coisas de menino”. É a falta do fruto do Espírito da temperança, da
bondade, da benignidade e acima de tudo do amor, que tem sido causa de
escândalos e decepções nas igrejas.
Conclusão
A multiforme sabedoria de Deus manifesta-se, no meio da
igreja, através da intervenção sobrenatural do Espírito Santo, através dos dons
espirituais, dos dons ministeriais, e de outros dons, necessários ao
crescimento espiritual dos crentes. Sejam quais forem os dons, os que os
possuem devem fazer uso deles com humildade e fidelidade, não buscando seus
interesses. Todos os dons são necessários à edificação e segurança dos salvos
em Cristo Jesus.