Neste capítulo, discorremos sobre o dom ministerial de
profeta, na igreja cristá. É um assunto que envolve dificuldades de
interpretação, tendo em vista alguns aspectos que parecem não estar bem claros,
no texto neotestamentário. Quando se estuda a missão dos profetas, no Antigo
Testamento, normalmente, não há grandes questionamentos. Mas, no âmbito do Novo
Testamento, persistem algumas indagações. Há dúvidas acerca da correlação entre
o dom de “profeta” e o dom espiritual de “profecia”. O profeta, na igreja atual
é um dom ou é um ofício? E um cargo ministerial, como alguém utiliza, acima dos
demais? Já existem igrejas em que seu titular já foi pastor, bispo, apóstolo e,
atualmente, é chamado de “o profeta”!
A Igreja Primitiva é o modelo ideal a ser seguido pelas
igrejas cristãs ao longo da História. Mesmo considerando algumas
especificidades ministeriais, face ao contexto histórico e cultural de sua
época, o que foi ensinado por Jesus e por seus apóstolos, ao longo do
desenvolvimento das igrejas locais, tem valor essencial para quaisquer igrejas,
em todos os tempos e lugares, no mundo em que vivemos. Desse modo, constatamos
que tanto o dom de profecia como o ofício ou o dom ministerial de profeta eram
naturalmente reconhecidos pelos cristãos primitivos.
Em momentos cruciais, quando as adversidades ameaçavam a
comunidade cristã, homens de Deus eram levantados para transmitir a mensagem de
orientação, necessária para sua estabilidade. Os profetas do Novo Testamento
não eram pessoas procuradas por irmãos ou grupos de irmãos, com a finalidade de
buscarem orientações pessoais. Eles eram usados, em momentos especiais, quando
havia uma necessidade de uma palavra especial da parte de Deus. E o faziam de
modo espontâneo, sem qualquer ideia de premeditação ou direcionamento da parte
do profeta, como ocorre, infelizmente, em alguns lugares, nos dias presentes.
Também não tinham o ofício de profeta, idêntico ao dos profetas do Antigo
Testamento.
O profeta do Antigo Testamento era um homem que, além de
transmitir a mensagem de Deus, tinha outras atribuições de ordem nacional. Na
unção dos reis, eram os profetas que tinham a incumbência de derramar o azeite
santo da unção sobre a cabeça dos governantes (1 Sm 16.1; 1 Rs 19.16).
No Novo Testamento, o profeta tem função essencialmente voltada
para o âmbito da igreja local. Mas, de modo geral, o profeta da igreja cristã
atende à necessidade de edificação, exortação e consolação dos crentes (1 Co
14.3). Uma pessoa pode ter o dom espiritual de profecia sem ter o dom
ministerial de profeta. Não se pode dizer que a igreja do século XXI não
precisa mais de profetas. Considerando que, antes da Vinda de Jesus, está
prevista terrível manifestação da apostasia (2 Ts 2.3), é indispensável que a
igreja local tenha a presença da manifestação do Espírito Santo, tanto através
do dom de profecia, como a palavra sábia e edificante dos profetas de Deus.
O profeta de hoje não tem a missão de ungir reis ou profetas
em seu lugar, mas tem a grave responsabilidade de transmitir a mensagem de
Deus, nos momentos necessários, no tempo certo, para pessoas ou para a
comunidade cristã. Essas mensagens são de grande valia, para denunciar as
ameaças ou existência de pecados que comprometem a integridade espiritual do
Corpo de Cristo.
Nas igrejas, é comum surgirem irmãos que têm o dom de
profecia ou o dom ministerial de profeta, e, com o passar do tempo, tornarem-
se soberbos, achando que são superiores aos demais, e até aos líderes. Ê o
começo da queda. A Bíblia diz que depois do orgulho vem a queda (Pv 16.18).
Quem tem um dom de Deus deve ter consciência de que é apenas um servo e não um
senhor dos outros.
I - O Profeta do Antigo Testamento
No Antigo Testamento, o ofício do profeta era de âmbito
nacional. Quando Deus levantava um profeta, conferia-lhe a missão de falar em seu
Nome para toda a nação e até para povos estranhos.
1. A IMPORTÂNCIA DOS PROFETAS
O Antigo Testamento foi marcado pela atividade e testemunho
dos profetas. Quando Jesus se despedia dos seus discípulos, lhes disse: “São
estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se
cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e
nos Salmos” (Lc 24.44). Os escritos dos profetas faziam parte da tríplice
divisão da Bíblia hebraica.
1) Profetas no Pentateuco. Nos cinco primeiros livros do
Antigo Testamento, vemos a presença de Abraão, o pai da nação Israelita, que
foi considerado um profeta (Gn 20.7); quando Moisés, o líder do Êxodo, estava
em aperto, na sua chamada para tirar o povo do Egito, Deus lhe disse que Arão,
seu irmão, seria seu profeta (Êx 7.1); os 70 homens, levantados por Deus para
ajudar Moisés profetizaram só uma vez; dois israelitas, Eldade e Medade, que
ficaram na tenda, também profetizaram, provocando ciúmes em Josué (Nm
11.24-29). Em Números, Deus diz como usaria um profeta, em visão ou sonhos (Nm
12.6). Em Deuteronômio, vemos Deus ensinando ao povo como distinguir os
verdadeiros e os falsos profetas (Dt 13.1-5). Aqueles homens não tinham um
ministério profético. Foram usados por Deus em mensagens ou missões de caráter
profético. Seus nomes não fazem parte dos “Profetas”, na divisão da Bíblia
hebraica, porque a profecia não era a sua missão principal.
2) Profetas em diversos livros do Antigo Testamento. Nos
livros históricos, o papel dos profetas foi muito relevante. Os livros de 1 e 2
Samuel foram escritos pelo último dos juizes e o primeiro dos profetas,
realmente dedicados à missão de falar ao povo mensagens da parte de Deus de
modo marcante e consequente (1 Sm 8.10-17); ele também era vidente (1 Sm 9.15,
19,20; 10.1-5). Foi usado para ungir Saul, o primeiro rei de Israel e Davi, seu
sucessor (1 Sm 10.24; 16.13). Nos livros de 1 e 2 Reis, houve profetas de
destaque, como Natã, que ungiu Salomão (1 Rs 1.39); o profeta Aias, que
profetizou a divisão do Reino de Israel (1 Rs 11.31, 32); houve um profeta
desconhecido, que vaticinou o nascimento de Josias, e foi enganado por um
“profeta velho”, que mentiu, e, mesmo assim, foi usado por Deus (1 Rs 13.1-3;
11-26). Quando Deus quer, usa a quem Ele quer.
Dentre os profetas de 1 Reis, destacou-se o profeta Elias,
que denunciou os pecados do rei Acabe e sua mulher ímpia, Jezabel (1 Rs 17.1;
18.1) e confrontou os profetas de Baal e Asera, cultuados pelo casal real (1 Rs
18.18-46). Seu sucessor foi o profeta Eliseu, que foi usado com grande poder (2
Rs 2.9-11), com grandes sinais e maravilhas (2 Rs 2.19-25). Isaías foi profeta
de grande valor em 2 Reis (2 Rs 19.2, 6,7, 20-37). Naquele tempo, a profetiza
Hulda foi usada por Deus para exortar o povo em sua desobediência (2 Rs
22.14-20).
Esdras, líder da reconstrução do Templo em Jerusalém, após o
cativeiro babilónico, foi ajudado por profetas (Ed 5.2). Na reconstrução dos
muros, por Neemias, levantou-se a falsa profetisa Noadias, que, juntamente com
outros profetas conluiaram-se contra Neemias, o líder da reconstrução dos muros
de Jerusalém (Ne 6.4).
2. OS PROFETAS MAIORES
Integram uma lista de 5 livros, de Isaías a Daniel. São
chamados de “maiores” não por importância pessoal dos profetas, mas pelo volume
ou tamanho de seus livros bem como a abrangência das profecias. Aqueles
mensageiros de Deus foram usados para transmitir mensagens do Senhor ao povo de
Israel, no seu tempo, e também foram usados de maneira profética para vaticinar
acontecimentos futuros, escatológicos.
3. OS PROFETAS MENORES
São 12 livros, de Oseias a Malaquias. De igual modo, seus
autores são chamados de “menores”, não por serem inferiores aos outros, mas
pelo menor volume de seus livros e menor extensão de suas profecias. Os
profetas do Novo Testamento apenas foram citados, no texto bíblico, em
referência a sua participação na história da Igreja, mas não tiveram a condição
de serem incluídos no cânon bíblico. Os profetas do Antigo Testamento tinham um
ministério voltado para toda a nação.
II - O profeta no Novo testamento
Em o Novo Testamento, só há um livro profético — O
Apocalipse. Nenhum personagem neotestamentário, além de João, o Evangelista,
escreveu outro livro com esse caráter. Mas, ao longo de seus livros,
encontramos referências a profetas, que tiveram papel relevante. Vamos refletir
um pouco sobre eles.
1. UM DOM MINISTERIAL
Em sua carta aos coríntios, o apóstolo Paulo fala da
importância do corpo de Cristo, enfatizando que os crentes são “seus membros em
particular” (1 Co 12.27). E o faz, depois de demonstrar a necessidade da
unidade do corpo de Cristo, fazendo uma analogia com o corpo humano, mostrando
que nenhum membro do corpo pode dispensar a função do outro. “Mas, agora, Deus
colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só
membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo” (1
Co 12.18-20). Daí, porque nenhum dom ministerial é maior que o outro. A ordem
dos dons, no texto, é questão de prioridade.
Com essa visão, da unidade do corpo de Cristo, que é a
Igreja, o apóstolo apresenta uma lista de dupla referência. Primeiro, fala de
homens a quem Ele põe na igreja, ao que tudo indica, numa ordem de prioridade.
São “homens-dons”, por assim dizer. Nessa lista, os “profetas” aparecem em
segundo lugar. Sem dúvida, não é por acaso, mas segundo o entendimento do
Espírito Santo. Os profetas eram os homens usados por Deus para transmitir
mensagens divinas para a comunidade dos que eram ganhos para Cristo. Eram
mensagens sobrenaturais. Os doutores eram os que cuidavam do ensino ou do
discipulado, estudando, interpretando e ensinando os fundamentos da fé cristã
com profundidade.
Na segunda parte do texto, vemos Paulo apresentar uma lista
de ministérios, indispensáveis à unidade, a edificação, ao fortalecimento e à
própria administração da igreja local: “depois, milagres, depois, dons de
curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28 b), e faz
indagações que enfatizam o valor do uso dos dons de modo integrado e não
fragmentado (1 Co 12.29-31). Se um dom fosse maior que o outro, não promoveria
a unidade indispensável do corpo de Cristo.
Escrevendo aos efésios, Paulo é mais didático ou explícito,
em relação aos dons ministeriais. “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros
para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao
conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo ” (Ef 4.11-13 — grifos nossos). Observe que, à semelhança do texto de
1 Coríntios 12.28, os profetas vêm em segundo lugar.
III - O Dom de Profeta, e o Dom de Profecia
No capítulo 5, quando discorremos sobre os Dons de Elocução,
tecemos comentário sobre o dom espiritual de profecia (1 Co 12.10). Neste
capítulo, o foco do estudo é o dom ministerial de profeta (Ef 4.11). De início,
parece não haver diferença entre um e outro, mas há alguns aspectos a
considerar.
1. O DOM DE PROFETA NÁO É PARA TODOS
Examinando o contexto do capítulo 12 de 1 Coríntios, podemos
verificar e concluir que os dons ministeriais não são para todos os crentes, na
igreja local. Diz o texto: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos,
em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois,
dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.18). Note-se
que o texto diz que “a uns pôs Deus na igreja”. Isso mostra que Deus não pôs
todos, mas “uns”.
Na lista de Paulo aos efésios, vemos escrito: “E ele mesmo
deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e
outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a
obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Quando o
escritor diz “uns” e “outros” fica bem claro que tais dons não estão à
disposição de todos os crentes. Diz a Bíblia de Estudo Pentecostal: “Como dom
de ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem
na igreja como ministros profetas’ (grifo nosso).
1) O aperfeiçoamento dos santos. A finalidade dos dons
ministeriais é “o aperfeiçoamento dos santos” (1 Pe 1.15), ou seja, dos crentes
fiéis, santificados e comprometidos com o Reino de Deus, “para a obra do
ministério”. Há o ministério ordenado, regular, integrado pelos pastores,
evangelistas, presbíteros, diáconos ou cooperadores, ordenados, consagrados ou
separados para atender às necessidades da comunidade cristã. E há ministérios
diversos, que não são realizados pelos ministros ou obreiros do corpo
ministerial. Na música, no louvor, no ensino, nos serviços gerais, na
segurança, na operação de equipamentos e outros, que, quando executados por
pessoas que são chamadas por Deus, e assumem tais atividades, conscientes de
que estão prestando um serviço à igreja, são verdadeiros ministérios.
2) Para a “obra do ministério”. O ministério se constitui
dos diversos cargos e funções, necessárias ao desenvolvimento da vida
eclesiástica; são os diversos serviços e atividades eclesiásticas e
administrativas que norteiam a administração espiritual, humana e
organizacional da igreja local. Essa obra requer orientação segura da parte de
Deus.
3) A edificação do Corpo de Cristo. Os dons ministeriais
também atendem à necessidade da “edificação do Corpo de Cristo”, que é a Igreja
(invisível), que se torna visível, no conjunto de salvos, na igreja local. Os
crentes salvos são considerados “edifício de Deus” (1 Co 3.9). A metáfora é bem
adequada. Os salvos são considerados “pedras vivas”, na construção desse
edifício espiritual. Diz o apóstolo Pedro: “vós também, como pedras vivas, sois
edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios
espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1 Pe 2.5). Nessa edificação,
o papel dos que têm o dom ministerial de profeta é de grande valia.
2. O DOM DE PROFECIA E SUAS ESPECIFICIDADES
Enquanto o “dom de profeta” só é concedido a “uns”, o dom de
profecia, está à disposição dos que o buscarem. “Como manifestação do Espírito,
a profecia está potencialmente disponível a todo cristão cheio dEle (At
2.16-18)”.2 A Palavra de Deus faculta aos crentes buscarem os dons espirituais,
“mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1).
O que transmite mensagem, através do dom de profecia pode
ser avaliado, ou julgado pelos demais (1 Co 14.29, 32; 1 Ts 5.20,21). O
detentor do dom de profecia não deve ser um oráculo, a ser procurado pelos
crentes para guiar suas vidas.
Tanto na igreja do Novo Testamento, como em todos os tempos,
o “dom de profecia” ou “dom de profetizar” tem finalidade tríplice: “Mas o que
profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação\ O que fala
língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja. (1
Co 14.3,4).
É necessário que haja um cuidado especial, em relação ao dom
de profecia. O profeta do Novo Testamento, na igreja local, não deve arrogar-se
o direito de querer dirigir o pastor, ou o líder da igreja.
IV - Como Conhecer o Profeta
1. CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO PROFETA
Deus vale-se de homens ou mulheres, para usá-los em
mensagens proféticas. No Antigo ou em o Novo Testamento, através de profetas
ministros, ou do dom de profecia, a mensagem de Deus é transmitida para sua
igreja, com fins proveitosos.
1) Ele só diz o que ouve da parte de Deus. O verdadeiro
profeta fala a verdade de Deus, na mensagem que transmite. O profeta verdadeiro
não transmite mensagem de sua mente, para agradar ou desagradar,
propositadamente. Ele fala a Palavra de Deus “com verdade”.
O rei de Israel, mais prudente, procurou saber se não
haveria ali um profeta do Senhor. “Disse, porém, Josafá: Não há aqui ainda
algum profeta do SENHOR, ao qual possamos consultar?” (1 Rs 22.7). Certamente,
o rei de Israel percebeu que aqueles profetas não mereciam confiança. O rei de
Judá respondeu que havia um profeta, Micaías, mas o aborrecia, pois suas
profecias sempre o desagradavam. Por sugestão do rei de Israel, o rei de Judá
mandou chamar o profeta Micaías. Os mensageiros lhe advertiram que todos os profetas
já haviam dado uma mensagem unânime em favor do rei, e que ele deveria fazer o
mesmo. A resposta de Micaías define a postura de um verdadeiro profeta de Deus:
“Porém Micaías disse: Vive o Senhor, que o que o Senhor me
disser isso falarei” (1 Rs 22.14 — grifo nosso). E, contrariando todos os
profetas do rei de Judá, Micaías predisse que Israel seria derrotado. Foi
malvisto, preso, mas Deus cumpriu a palavra do profeta. O rei de Judá foi
morto, e o exército sofreu pesada derrota.
2) Há evidências da confirmação de Deus. O verdadeiro
profeta é confirmado por Deus. Sua mensagem é autenticada pelo Espírito Santo,
e merece credibilidade. “E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que
Samuel estava confirmado por profeta do Senhor” (1 Sm 3.20). Samuel era um
jovem profeta, no tempo de Eli. E foi confirmado por Deus perante toda a nação
de Israel.
3) Tem revelação e discernimento de Deus. O rei Jeroboão
estava em pecado, e mandou sua mulher disfarçar-se e consultar o profeta Aias,
diante da grave doença de um filho seu. A mulher disfarçou-se e foi ao profeta.
Antes que chegasse à sua casa, Deus falou ao profeta, alertando-o pela chegada
da mulher do rei. Quando ela pôs os pés na porta da casa, o homem de Deus a
surpreendeu: “E sucedeu que, ouvindo Aias o ruído de seus pés, entrando ela
pela porta, disse ele: Entra, mulher de Jeroboão! Por que te disfarças assim?
Pois eu sou enviado a ti com duras novas” (1 Rs 14.6). E falou do mal que viria
sobre o reinado do seu esposo, e da morte da criança, o que de fato aconteceu
(1 Rs 14.17). O verdadeiro profeta de Deus não se deixa levar pelas aparências
e muito menos pela bajulação de quem quer que seja.
4) O profeta não é insubstituível. O profeta Elias, fugindo
de Jezabel, a ímpia mulher do rei Acabe, refugiou-se no deserto de Berseba.
Recebeu ordem de Deus para levantar-se, pois ainda tinha muito a fazer. Quando
pensava que só havia ele para ser usado, Deus lhe disse: “Também eu fiz ficar
em Israel sete mil: todos os joelhos que se não dobraram a Baal, e toda boca
que o não beijou” (1 Rs 19.18; Rm 11.4). Sete mil é a “média” que Deus tem de
homens para substituir quem quer que seja. No tempo de Deus, Elias passou o
cajado para Eliseu, após cumprir sua missão (2 Rs 2.9-14).
2. CARACTERÍSTICA DO FALSO PROFETA
1) Ele não tem mensagem de Deus. No Antigo Testamento, o
falso profeta era aquele que entregava mensagem do seu coração, para agradar a
alguém, ou para fazer oposição. No primeiro caso, temos os profetas do rei
Acabe. Todos profetizaram o que o rei gostaria de ouvir, que iria à guerra e
seria vitorioso. Contrariando um profeta de Deus, o rei foi à guerra, foi
derrotado e morreu (2 Cr 18.4,5; 27-34); no segundo caso, há o exemplo da falsa
profetisa Noadias e outros profetas, que foram subornados para atemorizar
Neemias, na reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 6.13,14).
2) Ele desvia o povo dos caminhos do Senhor. O falso profeta
desenvolve capacidade carnal ou diabólica para enganar os servos de Deus.
Consegue até fazer sinais e prodígios, para impressionar a mente dos incautos.
Deus condenou tais mensageiros do Diabo e disse para seu povo não os ouvir,
pois seriam condenados à morte (Dt 13.1-5). O falso profeta procura reunir
simpatizantes e partidários, que lhe seguem as orientações muitas vezes carnais
e interesseiras. Julga-se na condição de manipular a vida das pessoas e até da
igreja local.
3) O falso profeta é soberbo. Sua palavra, “em nome do
Senhor”, não se cumpre. (Dt 18.21, 22). A experiência mostra, ao longo do
tempo, quantos profetas e profetisas orgulhosos se levantam, no meio da igreja
local. Eles desprezam o pastor ou o dirigente, e costumam ter seus discípulos,
que formam “grupinhos” de oração em torno dele (ou dela). Isso é pernicioso e
não tem aprovação na Palavra de Deus. Deus não dá respaldo para isso. Pelo
contrário, manda que os crentes honrem e respeitem seus pastores (1 Ts 5.13; Hb
13.17).
4) Os falsos profetas são como “lobos devoradores Jesus
Cristo, no Sermão do Monte, fez um alerta de grande significado para sua
Igreja. Ele advertiu seus seguidores contra os falsos profetas. “Acautelai-
vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas
interiormente são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis.
Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda
árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus” (Ver Mt
7.15-19).
5) Os falsos profetas vivem na iniquidade. Em seu Sermão,
Jesus disse que “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21). É
preciso ter cuidado com pregadores, que dizem eu “sou profeta de Deus”.
Por isso, Jesus disse: “Muitos me dirão naquele Dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome?” (Mt 7.22). E alegarão que expulsaram
demônios e fizeram “muitas maravilhas”. Mas ouvirão de Jesus: “E, então, lhes
direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade” (Mt 7.23).
3. O CASTIGO DOS FALSOS PROFETAS
A responsabilidade do profeta, no Antigo Testamento, era
primordial e de grande valor para o direcionamento da vida espiritual, social e
moral do povo. Assim, um profeta era um homem de grande responsabilidade diante
de Deus e do povo. Quando, aproveitando-se de sua condição de profeta,
manipulava o povo, induzindo-o ao desvio dos caminhos do Senhor, recebia a
condenação veemente da parte de Deus. Na Igreja cristã, a responsabilidade do
profeta não é menor, seja ele pastor, evangelista, ou obreiro de outra ordem.
Deus não muda em relação ao pecado e aos desvios de conduta de quem quer que
seja.
1) Advertência contra o falso profeta. Diz o livro sagrado:
“Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um
sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado,
dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não
ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos, porquanto o Senhor,
vosso Deus, vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, com todo o
vosso coração e com toda a vossa alma. Após o Senhor, vosso Deus, andareis, e a
ele temereis, e os seus mandamentos guardareis, e a sua voz ouvireis, e a ele
servireis, e a ele vos achegareis (Dt 13.1-4).
2) Pena capital ao falso profeta. Era assim, no Antigo
Testamento: “E aquele profeta ou sonhador de sonhos morrerá, pois falou
rebeldia contra o Senhor, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos
resgatou da casa da servidão, para vos apartar do caminho que vos ordenou o
Senhor, vosso Deus, para andardes nele; assim, tirarás o mal do meio de ti (Dt
13.5)”. A responsabilidade e o prestígio de um profeta, no Antigo Testamento,
era muito grande. O povo o respeitava como sendo um verdadeiro arauto, que
falava em nome de Deus. Sua palavra profética era considerada Palavra de Deus.
No Novo Testamento, não é diferente. Daí, porque o castigo era severo contra os
falsos profetas.
Conclusão
Na Igreja cristã, no âmbito local, há espaço para o dom
ministerial de profeta. Esse dom não é disponível para quem o busque, mas para
quem é chamado por Deus, com a missão de desenvolver um ministério ou serviço,
na casa do Senhor. Seu ministério não tem o mesmo caráter do profeta do Antigo
Testamento. Este falava à nação. O profeta do Novo Testamento fala para a
igreja local, com vistas ao aperfeiçoamento dos crentes para a obra do
ministério, e para edificação da igreja. Deve haver discernimento de espírito,
por parte da liderança, e no meio da igreja local, para que “lobos
devoradores”, travestidos de “profeta” não causem estragos no meio do rebanho
do Senhor Jesus Cristo.