A partir deste capítulo, estudaremos acerca dos dons ministeriais,
que identificam uma diversidade enorme de funções, ofícios e atividades, de
homens, chamados por Deus, e designados pela igreja local, para exercerem a
operacionalidade de serviços ou ministérios.
Os dons ministeriais são indispensáveis ao “o aperfeiçoamento
dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef
4.12). Neste estudo, o texto básico para referência é o capítulo 4, da epístola
de Paulo aos efésios. Os dons espirituais são voltados para a igreja em seu
ambiente interno, congregacional, com manifestações sobrenaturais, no falar
línguas estranhas, profecia, interpretação, dons de curar e outros carismas, os
dons ministeriais ampliam a ação do Espírito Santo, com sua ação poderosa e
sobrenatural, tanto no âmbito interno como externo, da missão da Igreja, na
Terra.
Os dons ministeriais confundem-se com aqueles a quem Deus
lhes concede. Se alguém é chamado para ser evangelista, ele mesmo é um “dom”,
assim como sua função de evangelizar. E Deus que concede os que podem ser
chamados de “homens-dons” à igreja. Por isso, o apóstolo Paulo diz “E ele mesmo
deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros evangelistas, e outros
para pastores e doutores” (Ef 4.11). A expressão “ele mesmo deu” indica que o
dom precede o ofício. Diz Donald Gee: “Se ‘Ele concedeu, está fora de dúvida
náo poder haver ministério divinamente ordenado sem o Seu dom”.1
O primeiro dom ministerial que estudaremos é o de apóstolo.
Há uma controvérsia que atravessa séculos acerca da atualidade do ministério de
apóstolo. Há uma corrente de estudiosos da Bíblia, que podemos chamar de
“cessacionista”, a exemplo do que ocorre com a atualidade dos espirituais, que
também entende que o ministério apostólico “cessou” com os primeiros discípulos
de Cristo. Outros entendem que ainda existem apóstolos, hoje, ainda que numa
conotação um tanto diferente dos primeiros doze apóstolos de Cristo. A Igreja
Católica tem como patrimônio de fé a chamada “sucessão apostólica”, concedendo
aos papas o título de “sucessores de Pedro”, considerado o primeiro papa.
Além dos 12 apóstolos de Cristo, que integraram o chamado
“Colégio Apostólico”, vemos, no Novo Testamento, que outros apóstolos foram
levantados por Deus, sem que nenhum se considerasse sucessor de outro. Paulo e
Barnabé não pertenciam ao “grupo dos 12”; mas eram apóstolos, credenciados por
Deus para realizar a missão que lhes foi confiada (1 Co 1.1; Cl 1.1; At 13.46);
Tiago, “irmão do Senhor”, também recebia a qualificação de apóstolo (Gl 1.19).
Um apóstolo de Cristo, como Pedro, Tiago ou João, reunia em
si diversas funções ministeriais, além da missão de evangelizar, ou de
proclamar as Boas-Novas de salvação. Ele tinha que ser, além de evangelista,
profeta e mestre. Podemos dizer que um apóstolo, nos primórdios da Igreja, era
um homem polivalente. Nos dias atuais, após a expansão da Igreja, percebemos
que o Espírito Santo quis distribuir, não só os “dons espirituais”, “repartindo
particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11), mas, também, concedendo
diversas operações e ministérios à igreja, através de homens, chamados por Deus
com variadas missões, concedidas a cada um.
Um dos maiores equívocos, cometidos por muitos líderes de
igrejas, nos dias presentes, é o de entender que o título de “Apóstolo” lhes
confere posição hierárquica superior ao de pastor, evangelista, bispo ou
presbítero. Já são conhecidos exemplos diversos de obreiros, que eram
detentores do título de “pastor”, devidamente ordenados por seus ministérios ou
convenções, os quais arrogaram para si o título de “apóstolo”, com o objetivo
de se colocarem em posição ministerial “superior”. Procedimento totalmente fora
de propósito ou de fundamento escriturístico. Esquecem-se tais “apóstolos”, que
a maior função, no ministério de Cristo, é o de “servo fiel” (Nm 12.7; Hb 3.5;
Mt 25.21-23).
I - O Colégio Apostólico
1. O TERMO APÓSTOLO
Na língua grega, em que foi escrito o Novo Testamento, a
palavra apóstolo tem o significado de um enviado, um mensageiro ou um delegado.
“Apóstolos. Um delegado; especialmente um embaixador do evangelho;
oficialmente, uma pessoa comissionada por Cristo [um apóstolo’] (com poderes
miraculosos): — apóstolo, mensageiro, aquele que é enviado”.2 Essa é a
conceituação de apóstolo, em seu sentido original. Apóstolo não é qualquer
pessoa que “vai” ou que é mandada por alguém, numa visão humana. “O apóstolo é
enviado por Cristo do mesmo modo pelo qual foi Ele enviado pelo Pai; e pelo
menos com algo quanto de tudo implica autoridade e poder, e graça e amor”.3
2. O COLÉGIO APOSTÓLICO
Entende-se por “Colégio apostólico” o grupo dos 12 primeiros
discípulos de Jesus, que foram convidados por Ele para dar início ao seu
ministério terreno. Primeiramente, Ele os fez discípulos ou seguidores. Jesus
foi o Apóstolo Líder do Grupo dos Doze. Ele foi enviado pelo Pai (Jo 20.21).
Foram três anos aproximadamente, em que eles aprenderam as verdades de Deus com
o maior Mestre da História. Após o seu disci- pulado, aos pés de Cristo, e o
recebimento do batismo com o Espírito Santo (Lc 24.49; At 1.8), aqueles 12 foram
enviados para proclamar o evangelho, ou as Boas-Novas de salvação (Lc 6.13).
Eles constituíram a base ministerial para o crescimento, o desenvolvimento e a
expansão do Reino de Deus e da Igreja de Cristo, por todo o mundo.
3. CARACTERÍSTICA DOS APÓSTOLOS DE CRISTO
A característica fundamental do apóstolo é ser alguém que
tem uma missão a cumprir, enviado por quem tem autoridade espiritual para
fazê-lo. Em seu discipulado, os doze apóstolos foram preparados para o
cumprimento da missão mais importante que um mortal poderia receber. Serem
embaixadores do Reino de Deus. Não poderiam ser pessoas desprovidas de
qualificações especiais. Eram homens comuns, humanamente detentores de virtudes
e defeitos, mas tiveram um treinamento aos pés do Mestre dos mestres. E
demonstraram possuir algumas qualidades especiais.
1) Foram chamados por Jesus
Em seu ministério, Jesus teve muitos discípulos (Mt 8.21;
9.57-62). Mas, para cumprir a grande missão, Jesus selecionou apenas 12, e lhes
deu credenciais e poder para se tornarem apóstolos. “E, chamando a si os seus
doze discípulos...” (Mt 10.1a). Lucas anotou a eleição dos 12 dentre muitos
outros. Após passar uma noite inteira em oração a Deus, “chamou a si os seus discípulos,
e escolheu doze deles a quem deu nome de apóstolos” (Lc 6.12 — grifo nosso).
2) Receberam autoridade espiritual
Jesus “deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos, para
expulsarem, e para curarem toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 10.1; Mc
3.15). Inicialmente, essa autoridade foi concedida aos doze. E, na Grande
Comissão, além de mandar que seus discípulos pregassem o evangelho por todo o
mundo, a toda a criatura, disse que os sinais e maravilhas haveriam de seguir a
todos os que nEle cressem. Não apenas aos doze, mas “aos que crerem”, ou seja,
a todos os seus discípulos (Mc 16.17, 18). E importante destacar que os doze
receberam dons sobrenaturais, antes que o Espírito Santo os colocasse à
disposição da Igreja.
3) Tinham delegação de Cristo
Os 12 apóstolos não foram apenas “enviados”, mas tiveram um
mandato especial. Jesus lhes disse; “Disse-lhes, pois, Jesus outravez: Paz seja
convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. E, havendo
dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
A autoridade delegada aos apóstolos foi tão grande, que eles
tinham poder para perdoar pecados ou retê-los. Jesus os enviou, do mesmo modo
como Ele fora enviado pelo Pai (Jo 20.21-23).
Podemos imaginar o que os doze sentiram, ao ouvir aquelas
palavras! Serem enviados por Cristo, e como Cristo o fora por seu Pai! Os que
entenderam bem a missão devem ter sentido o grande peso de sua
responsabilidade. Os que haviam sido pescadores, antes, podiam guardar as redes
e suspender a pescaria. Mas, uma vez feitos “pescadores de homens” (Mt 4.19; Mc
1.17), não poderiam suspender a missão. Os que outrora tinham outras atividades
não tinham como voltar atrás. O mundo nunca mais foi o mesmo depois de Cristo,
e depois que seus apóstolos começaram a cumprir a Grande Comissão (Mc 16.15).
II - APÓSTOLO PAULO
1. O MENOR DOS APÓSTOLOS
O apóstolo Paulo não pertenceu ao Colégio Apostólico. Ele
próprio, humildemente, tendo sido perseguidor dos cristãos, reconheceu que não
merecia ser chamado de apóstolo (1 Co 15.8,9). Sua conversão dramática, no
caminho de Damasco, revela quão é imensurável e incompreensível, à lógica
humana, a misericórdia e o amor de Deus.
2. MAIOR DOS TEÓLOGOS
Mesmo considerando-se “o menor dos apóstolos”, Paulo
revelou-se um grande servo de Deus. Algumas qualidades e atividades podem ser
destacadas na vida do apóstolo, podendo ser chamado de o maior dos teólogos do
cristianismo.
1) Chamado por Deus
“Paulo (chamado apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de
Deus), e o irmão Sóstenes (1 Co 1.1; 2 Co 1.1; G1 1.1). Os Doze foram chamados
por Jesus de maneira bem natural e espontânea. Ao passar pelas margens do Mar
da Galileia, Jesus simplesmente olhou para os irmãos Pedro e André, e os chamou
para serem pescadores de homens (Mt 4.18,19); aos irmãos Tiago e João, os
chamou da mesma forma (Mt 4.21,22). E eles o seguiram também de maneira
espontânea. O chamado de Paulo foi bem diferente. A caminho de Damasco, com
ordens dos sacerdotes para prender os cristãos, foi interrompido por Jesus, de
maneira sobrenatural e impactante.
Derrubado ao chão, Paulo teve o chamado de Deus de forma tão
dramática, que caiu, ouvindo a potente voz do Senhor, que o abatera em seu
orgulho e presunção, quando julgava estar fazendo a vontade de Deus no zelo do
judaísmo (At 9.4; 22.7; At 9.10-19). Deus tem seus caminhos e suas maneiras de
agir, às vezes muito estranhas (cf. Is 28.21). Diante de um chamado tão
singular e diferente dos demais apóstolos, Paulo tinha razão em dizer que era
chamado pela vontade de Deus e não dos homens. Até seu nome foi mudado, de
Saulo (hb. Sha 'ul, o que foi pedido) para Paulo (gr. Paulus, baixo, pequeno,
humilde), após ser convocado pelo Espírito Santo para ser enviado para a missão
(At 13.8).
2) Paulo teve experiências com Deus
Um verdadeiro apóstolo é homem que deve ter comunhão e
experiência com Deus. Paulo, não obstante não ter convivido com Jesus como os
demais apóstolos, teve experiências espirituais que os outros não tiveram. E
essas experiências fortaleceram sua vida espiritual e solidificaram o seu
relacionamento com Cristo. Ele diz que teve “visões e revelações do Senhor” (1
Co 12.1); com bastante modéstia, falando na terceira pessoa, diz que “foi
arrebatado ao terceiro céu”... “e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é
lícito falar” (1 Co 12.2,4). Que palavras foram essas, só Deus e Paulo sabem.
3) Paulo era um homem de grande cultura
Desmistificando a crença ou “doutrina” de que Deus só usa
pessoas de pouca instrução, o exemplo de Paulo é bem marcante. Era homem de
alto conhecimento bíblico e teológico, discípulo de Gamaliel, um dos mestres do
judaísmo (At 22.3).
Paulo era um intelectual poliglota. Falava hebraico, por ser
judeu e fariseu (At 22.2); por ser cidadão romano (At 22.25), falava latim;
suas epístolas foram escritas em grego, o que dá a entender que, sendo um homem
culto de sua época, falava a língua helénica; e, como judeu zeloso, certamente,
falava o aramaico, que era língua usual, nos meios intelectuais de sua época.
Em sua soberania, e segundo seus propósitos divinos, Jesus resolveu contrariar
a lógica humana, e chamar um perseguidor do evangelho para ser salvo e fazer
dele um apóstolo dos mais destacados entre os que quis escolher.
Enquanto alguns de seus primeiros discípulos, do grupo dos
Doze, eram humildes pescadores, de menor grau de instrução, Paulo era um homem
intelectual, que haveria de levar o evangelho aos gentios, ou gentes de todas
as nações, fora de Israel, inclusive aos “reis” ou governantes de povos
estrangeiros. Além dessa característica marcante, em seu ministério, Paulo foi
o grande teólogo e intérprete dos evangelhos de Cristo. Dos 27 livros do Novo
Testamento, 13 foram escritos por ele. E ainda resta dúvida se a epístola aos
hebreus também foi de sua autoria.
Não foi por acaso que Paulo foi o primeiro apóstolo a levar
o evangelho de Cristo à Europa. Ele foi o grande evangelizador do Império
Romano (Rm 15.24,28). Em suas viagens missionárias, levou o evangelho de Cristo
a cidades de Israel, passou pela Turquia, pela Ásia Menor; pregou na Macedônia,
na Acaia, na Grécia, centro cultural da Europa, à época; e, em sua última
viagem missionária, reviu discípulos nas igrejas que fundara, e terminou em
Roma, para onde foi levado preso, e pregou na capital do Império mundial da
época. Concluiu sua extraordinária missão, declarando solenemente: “Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).
III - APOSTOCIDADE ATUAL (EF 4.11)
Esse tópico pode partir de perguntas que são feitas por
muitos: Ainda há apóstolos nos dias atuais? O ministério apostólico, nos moldes
dos Doze, continua hoje? Existe uma “sucessão apostólica”? Há interpretações
diversas. Preferimos analisar o tema com humildade e respeito ao que nos revela
a Palavra de Deus. E, para efeito de compreensão do assunto, categorizamos o
ministério apostólico em dois aspectos:
1. NO SENTIDO ESPECIAL
Aplicamos este termo ao que já vimos no item 1.1, ao
“Colégio Apostólico”, ou aos Doze discípulos que foram selecionados por Jesus,
e enviados como apóstolos para dar início à Grande Comissão (Mc 16.15).
Apóstolos como eles não existem mais. Eles eram apóstolos no sentido estrito da
palavra, e nas circunstâncias em que foram chamados e enviados por Jesus.
1) Estiveram com Cristo, durante todo o seu ministério
terreno
Enquanto Paulo aprendeu “aos pés de Gamaliel”, os Doze
aprenderam aos pés de Jesus, o Mestre dos mestres, no mais perfeito curso de
evangelização e discipulado que alguém poderia realizar. Próximo à sua morte,
Jesus lhes disse: “E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas
tentações” (Lc 22.28). O fato de ter visto a Cristo não é condição exclusiva,
pois Paulo também o viu (1 Co 9.1,2). Mas o terem aceito seu chamado
diretamente de sua parte; de terem caminhado durante cerca de três anos, ao seu
lado, ouvindo sua palavra, e vendo seus milagres; de terem comido e dormido ao
seu lado, muitas vezes sem ter “onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20); só os Doze
compartilharam momentos tão expressivos da humanidade, bem como da divindade de
Cristo.
2) Eles estiveram com Jesus, após a sua ressurreição
Outros discípulos também estiveram com Jesus, como os do
Caminho de Emaús (Lc 24.13-31). Mas os que compartilharam da companhia do
Senhor, de modo privado e especial, foram os 11, visto que Judas traiu o Mestre
e foi para o seu destino trágico. “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o
primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos
judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz
seja convosco! E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. De sorte que os
discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz
seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo
20.19-21).
3) Receberam a Grande Comissão
O mandato para evangelizar o mundo é destinado a todos os
crentes em Jesus, a toda a Igreja do Senhor. Mas os Doze receberam a ordem
missionária, diretamente da boca de Jesus (Mc 16.15). Jesus não disse aos Doze
que eles fizessem apóstolos, mas sim, discípulos em todas as nações (Mt
28.18-20).
4) Os Doze terão seus nomes nos fundamentos da Nova
Jerusalém
Esse importante detalhe, registrado no Apocalipse,
certamente, constitui argumento mais que suficiente para se entender, que o
apostolado especial dos Doze, que constituíam o Colégio Apostólico, não é
repetido em nenhuma fase da História da Igreja. João viu esse singular
privilégio, concedido unicamente aos que seguiram Jesus, durante o seu
ministério terreno (Ap 21.12-14).
2. NO SENTIDO GERAL
Já ressaltamos o envio dos “setenta” discípulos, que, sendo enviados, de dois em dois, cumpriram o papel de apóstolos. Mas, além deles, o Novo Testamento também cita outros exemplos de apóstolos, como Paulo, que se considerou a si mesmo “o menor dos apóstolos” por ter perseguido “a igreja de Deus” (1 Co.15.9; Rm 1.1; 2 Co 1.1); ele viu a Jesus Cristo (1 Co 9.1). Barnabé também foi reconhecido como apóstolo (At 14.14). Havia “outros apóstolos”, a que Paulo se referia em sua carta aos romanos (Rm 16.7) e em outras epístolas (G1 1.19;1 Ts 2.6,7).
1) A liderança dos apóstolos
Segundo o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal, os
apóstolos “Eram homens de reconhecida e destacada liderança espiritual, ungidos
com poder para defrontar-se com os poderes das trevas e confirmar o Evangelho
com milagres. Cuidavam do estabelecimento de igrejas, segundo a verdade e
pureza apostólicas”. Eles tinham a mensagem “original” de Cristo, e náo eram
apóstolos, com alguns, hoje, que apresentam um “evangelho genérico”,
antropocêntrico e deturpado, com ensinos que não têm fundamento bíblico, como a
falsa “teologia da prosperidade”, a absurda “confissão positiva”, o “teísmo
aberto” e outros da mesma natureza.
2) A itinerância dos apóstolos
Diz, ainda, a Bíblia de Estudo Pentecostal que os apóstolos
“Eram servos itinerantes que arriscavam suas vidas em favor do nome de nosso
Senhor Jesus Cristo e da propagação do evangelho (At 11.21-26; 13.50; 14.19-22;
15;25,26). No presente, vemos “apóstolos”, que nunca foram além dos limites da
cidade onde vivem e assumiram a direção de uma igreja. São “presidentes” de
igrejas, radicados e estabelecidos em domínios eclesiásticos bem
característicos. Os que se consideram “apóstolos”, hoje, em geral, adquiriram
tal “posição”, após terem sido ordenados a evangelista ou pastor, ou bispo, o
que lhes confere a ideia de que estão em posição hierárquica superior. Nada
mais inadequado para um verdadeiro apóstolo de Cristo, que deve ser, antes de
tudo, um servo ou um servidor e não alguém em grau de superioridade.
3) A ordem de fazer discípulos
A expressão “ensinai todas as nações”, no texto bíblico
original (Mt 28.19), escrito em grego, tem o sentido de fazer discípulos. A
tradução mais aproximada seria “ide, fazei discípulos em todas as nações”. “O
propósito da Grande Comissão é fazer discípulos que observarão os mandamentos
de Cristo. Este é o único imperativo direto no texto original deste
versículo”.4 De modo mais didático e direto, lemos, na Bíblia de Estudo
Palavras-Chave sobre o versículo de Mt 28.19: “3.100 (mathêteuo), intransitivo,
tornar-se um aluno-, transitivo, ser discípulo, i.e., inscrever-se como
estudante: — ser discípulo, instruir, ensinar. O termo correlato, mathetês
(3101), “discípulo. Ser discípulo de alguém (Mt 27.57); treinar como discípulo,
ensinar, instruir; por exemplo, a Grande Comissão (Mt 28.19). Também Mateus
13.52; Atos 14.21”.5 (grifos nossos).
3. O MINISTÉRIO DE CARÁTER APOSTÓLICO ATUAL
Como demonstrado, o ministério dos Doze, ou do colégio
apostólico, náo se repete. Nenhum dos Setenta, nem qualquer dos apóstolos da
Igreja Primitiva; ou dos tempos antigos, modernos, atuais, ou futuros, jamais
terá seu nome nos fundamentos da Nova Jerusalém. Aqueles Doze foram únicos. Não
há sucessão apostólica, como entende a Igreja Católica. Referindo-se aos
apóstolos de Jesus, no sentido especial, a Bíblia de Estudo Pentecostal diz: “O
ministério de apóstolo nesse sentido restrito é exclusivo, e dele não há
repetição. Os apóstolos originais do Novo Testamento não têm sucessores”.6
Atualmente, o que podemos ver como ministério de caráter
apostólico, é o trabalho dos missionários, quando são enviados para desbravar
campos, em países de povos não alcançados pelo evangelho de Cristo. Se um
missionário vai assumir um trabalho que já está estabelecido, cujas bases e
desenvolvimento deveram-se ao esforço de outros companheiros, não pode dizer
que faz um trabalho de apóstolo, e sim, de pastor ou evangelista.
Paulo ensina que Jesus, depois de subir ao alto e levar “cativo o cativeiro”, “deu dons aos homens”. Observando o texto bíblico, de Efésios 4.11, lemos: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11,12). Esses “homens-dons”, concedidos por Deus e seus ofícios ou ministérios, têm por finalidade alcançar a “unidade do Espírito” (Ef 4.3), visando “o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério” e a “edificação do corpo de Cristo”. Dessa forma, se existe atualidade para os ofícios de “profetas”, “evangelistas” e “doutores” ou “mestres”, por que não deveria haver atualidade do ofício do apóstolo?
Sem dúvida alguma, o ministério de caráter apostólico deve
ser desenvolvido, na atualidade, ao lado dos demais ministérios, indispensáveis
à unidade e à edificação do corpo de Cristo. Homens como John Wesley, William
Carey, cognominado “pai das missões modernas”; Adoniran Judson, Hudson Taylor,
D. L. Moody, Jorge Müller, Smith Wigglesworth, Gunnar Vingren, Daniel Berg,
Richard Wurmbrand, e tantos outros, em tempos mais recentes, podem ser
considerados verdadeiros apóstolos de Jesus. São homens que expuseram suas
vidas para levar a mensagem do evangelho aos mais longínquos lugares do mundo.
Patzia afirma: “Visto que a Igreja de hoje não tem lugar
para o cargo de apóstolo, por exemplo, a tentação é encontrar-se uma
contrapartida contemporânea nos líderes eclesiásticos, como superintendentes ou
supervisores”.7 Há realmente, essa “tentação”, de se buscar aplicação para o
termo “apóstolo”, a funções que pouco ou nada têm de apostólicas.
Conclusão
Concluindo, podemos afirmar com bastante fundamento
escriturístico, que o ministério apostólico, nos moldes do Colégio Apostólico,
não existe mais. Porém, o ministério de caráter apostólico, desenvolvido por
missionários e evangelizadores, com a finalidade de estabelecer igrejas, em
diversos lugares, é perfeitamente atual. Velhos pastores, que, nos primórdios
da evangelização do País, andaram a pé, no lombo de jumentos ou de cavalos, de
canoa, de jangadas ou barcos, muitas vezes não tendo lugar certo para pousar,
também podem ser considerados apóstolos modernos, ainda que seus cargos fossem
de pastores ou de evangelistas. Nos dias atuais, também há homens e mulheres de
Deus, arriscando suas vidas, em países inimigos do evangelho. São verdadeiros
apóstolos da Igreja de Jesus Cristo.