quinta-feira, 10 de junho de 2021

A isca de satanás 06 - Escondendo-se da realidade


 [Eles] que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade (2 Tm 3:7).

 Freqüentemente me perguntam: "Quando devo sair de uma igreja ou equipe de ministério? Até quanto devo agüentar?" Respondo: "Quem o enviou a igreja que você freqüenta atualmente?" Em algumas das vezes eles respondem: "Foi Deus".

“Se Deus o enviou”, replico "não saia até que Ele libere você. Se o Senhor está em silêncio, geralmente Ele está dizendo: `Não mude nada. Não saia. Fique onde o coloquei!`”.

Quando Deus instrui você a sair, você sairá em paz, independentemente da condição do ministério. "Saireis com alegria e em paz sereis guiados” (Is.55:12).

Dessa forma, a sua saída não será baseada nas ações ou comportamentos de outros, mas, sim, na liderança do Espírito. Assim, não se sai por causa de situações difíceis.

Sair com o espírito crítico ou ofendido não é o plano de Deus. Isso seria reação ao contrário de uma ação sob a liderança do Senhor. Em Romanos 8:14 está escrito: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus". Note que não se diz: "Todos aqueles que reagem a situações difíceis são filhos de Deus".

Na maioria das vezes, a palavra filho usada no Novo Testamento vem de duas palavras gregas: teknon e huios. Uma boa definição para a palavra teknon é "aquele que é filho meramente por nascimento".

Quando meu primeiro filho, Addison, nasceu, ele era filho de John Bevere simplesmente pelo fato de ter vindo de mim e de minha esposa. Quando ele estava no berçário junto com todos os outros recém-nascidos, não poderíamos reconhecê-lo como meu filho por traços de personalidade. Quando meus amigos e família vinham visitá-lo, não podiam identificá-lo, exceto por causa do nome escrito na placa do bercinho. Ele não possuía nada que o diferenciasse dos outros. Addison seria considerado um teknon de John e Lisa Bevere.

Encontramos teknon em Romanos 8:15, 16. A passagem diz que, por causa do espírito de adoção que recebemos, "o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos [teknon] de Deus". Quando a pessoa recebe Jesus Cristo como Senhor, ela é filha de Deus por intermédio da experiência do novo nascimento (veja Jo 1:12).

A outra palavra para tradução de filhos no Novo Testamento huios. Muitas vezes, ela é usada no Novo Testamento para descrever "aquele que pode ser identificado como filho porque apresenta caráter ou características de seus pais".

Quando meu filho Addsion crescia, ele começou a se parecer comigo. Quando tinha seis anos, Lisa e eu viajamos e o deixamos com os meus pais. Minha mãe disse a minha esposa que Addsion era quase uma cópia carbono de seu papai. Sua personalidade era como a minha quando eu tinha a idade dele. Agora, mais crescido, tornou-se mais parecido. Ele pode ser reconhecido como filho de John Bevere não apenas pelo nascimento, mas pelas características que lembram as de seu pai.

Dessa forma, a palavra grega teknon significa, de forma simplificada, "bebês ou filhos imaturos", e a palavra grega huios é freqüentemente usada para descrever "filhos maduros".

Se olharmos Romanos 8:14 novamente, leremos: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos [huios] de Deus”. Podemos ver, claramente, que os filhos maduros são aqueles guiados pelo Espírito de Deus. Os crentes imaturos têm menos probabilidade de seguir a liderança do Espírito de Deus. Muito freqüentei reagem emocional ou intelectualmente às circunstâncias com que se deparam. Ainda não aprenderam a agir apenas sob a liderança do Espírito de Deus.

À medida que Addison crescer, desenvolverá o seu caráter. Quanto mais maduro ficar, mais responsabilidade lhe confiarei. É errado se ele permanecer imaturo. Não é a vontade de Deus que permaneçamos bebês.

Uma maneira de provocar o desenvolvimento do caráter de meu filho é através das situações difíceis. Quando ele começou a freqüentar a escola deparou com alguns "valentões". Ouvi alguma das coisas que esses garotos difíceis faziam e diziam ao meu filho, e ficava com vontade de ir lá e resolver o problema. Mas sabia que isso seria errado. A minha intervenção impediria o crescimento de Addison.

Dessa forma, minha esposa e eu continuamos a aconselhá-lo em casa, preparando-o para enfrentar as perseguições na escola. Seu caráter se desenvolveu através da obediência aos nossos conselhos no meio de seu sofrimento.

Deus faz algo semelhante conosco. A Bíblia diz: "Embora sendo Filho [Huios] aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hb 5:8, grifos acrescidos).

O crescimento físico é uma função do tempo. Nenhuma criança de dois anos já teve um metro e oitenta. O crescimento intelectual é
uma função do aprendizado. O crescimento espiritual não é uma função do tempo nem do aprendizado, mas é da obediência. Agora, vejamos o que Pedro diz:

 Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado

( I Pe 4:1- Destaque acrescido).

 Aquele que deixou o pecado é um filho de Deus perfeitamente obediente. Ele é maduro e decide seguir os caminhos de Deus e não os seus. Assim como Jesus aprendeu obediência por intermédio do seu sofrimento, aprendemos obediência por meio das dificuldades pelas quais, passamos. Quando obedecemos à Palavra de Deus, que é falada pelo crescemos e adquirimos maturidade nos momentos de conflito e sofrimento. Nosso conhecimento das Escrituras não é a chave para isso. A obediência, sim.

Agora, compreendemos por que algumas pessoas da igreja, crentes há vinte anos, sabem de cor versículos e capítulos da Bíblia, ouviram milhares de sermões e leram muitos livros, mas ainda estão usando fraldas espirituais. Toda vez que se defrontam com situações difíceis, em vez de reagirem através do Espírito de Deus, procuram proteger-se do seu próprio modo. Estão sempre aprendendo e "jamais chegam ao conhecimento da verdade" (2 Tm 3:7). Nunca chegam ao conhecimento verdade porque nunca a aplicam.

Precisamos permitir que a verdade penetre em nossa vida se quisermos crescer e amadurecer. Não é suficiente aceitá-la mentalmente sem obedecer-lhe. Embora continuemos a aprender, nunca amadurecemos por causa da desobediência.

 Autopreservação

Uma desculpa comum para a autopreservação por meio da desobediência é a ofensa. Há uma sensação de falsa autoproteção quando guardamos uma ofensa. Ela o impede de ver suas próprias falhas caráter porque a culpa é transferida a outra pessoa. Nunca precisamos enfrentar o nosso papel, nossa imaturidade ou nossos pecados porque enxergamos só as falhas do ofensor. Desse modo, a tentativa de Deus para desenvolver o nosso caráter por meio desse problema é então, abandonada. A pessoa ofendida evitará o ofensor e, eventualmente, fugirá, tornando-se um errante espiritual.

Recentemente, uma senhora me contou sobre uma amiga que abandonou a igreja e começou a freqüentar outra. Ela convidou o no pastor para jantar em sua casa. Durante a conversa, o pastor perguntou-lhe por que tinha saído da outra igreja. A senhora contou-lhe sobre todos os problemas da liderança daquela igreja.

O pastor ouviu e tentou confortá-la. Acho que seria mais sábio se encorajasse a senhora, por meio da Palavra de Deus, a lidar com sua dor e atitude crítica. Se necessário, deveria ter sugerido que ela voltasse a sua antiga igreja até que Deus lhe liberasse paz.

Quando Deus nos libera paz, não nos sentimos pressionados a justificar nossa saída aos outros. Não seremos pressionados a julgar ou expor criticamente os problemas que a igreja anterior tinha. Sabia que era apenas uma questão de tempo antes que ela reagisse ao novo pastor do mesmo modo que fez com os anteriores. Quando retemos uma ofensa no nosso coração, filtramos tudo através dela.

Há uma antiga parábola que se encaixa nessa situação. No passado, colonizadores estavam indo para o Oeste, um homem sábio subiu numa colina próxima a uma nova cidade do Oeste. Quando os o colonizadores vinham do Leste, o homem sábio era a primeira pessoa a quem eles encontravam antes de dar início à colonização. Eles perguntavam ansiosamente como eram as pessoas daquela cidade. Ele respondia com uma pergunta: "Como eram as pessoas na cidade de onde vêm?" Alguns diziam: "A cidade de onde viemos é má. As pessoas são fofoqueiras, grossas e tiram vantagem de todas as pessoas inocentes. Ela está cheia de ladrões e mentirosos". O homem sábio respondia: “Esta cidade é igual à outra que deixaram". Eles agradeciam ao homem por salvá-los de tantos problemas que estavam prestes a enfrentar. E, continuavam sua viagem mais a Oeste.

Então, um outro grupo de colonizadores chegava e fazia a mesma pergunta: "Como é esta cidade?". O homem sábio respondia novamente: "Como era a cidade de de onde vocês vêm?”. Eles respondiam: "Era maravilhosa! Tínhamos grandes amigos. Todos se importavam com os interesses dos outros. Nunca havia carência de nada, porque todos cuidavam uns dos outros. Se alguém tinha um grande projeto, toda a comunidade se juntava para ajudar. Foi uma muito difícil sair de lá, mas sentimos que era hora de abrirmos novos caminhos para as gerações futuras. Estamos indo para o oeste como pioneiros".

O homem sábio dizia exatamente a mesma coisa que ao grupo anterior. "Esta cidade é igual à que vocês deixaram". As pessoas, então, respondiam com alegria: "Vamos ficar aqui!" A forma como viam suas relações passadas era o parâmetro para futuras relações.

O modo como você sai de uma igreja ou de um relacionamento é o mesmo como entrará na próxima igreja ou relacionamento. Jesus disse em João 20:23: "Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos".

Nós preservamos os pecados de outros quando guardamos ofensa ou ressentimento. Se saímos de uma igreja ou relacionamento com ressentimento e amargura, entraremos na próxima igreja ou no próximo relacionamento com a mesma atitude. Será mais fácil, então, sair do próximo relacionamento assim que os problemas aparecerem. Não só teremos de lidar com as mágoas que acontecem no novo relacionamento, mas também com as do relacionamento anterior.

Estatísticas dizem que 60 a 65 por cento das pessoas divorciadas acabam separando-se novamente após o novo casamento. A maneira pela qual a pessoa deixa seu primeiro casamento determina o caminho para o segundo. A falta de perdão em relação ao primeiro parceiro atrapalha o futuro do novo relacionamento. Quando culpam o outro, ficam cegos ao seu próprio papel e características. Para piorar a situação depois, eles adicionaram o medo de serem magoados.

Esse princípio não se limita ao casamento e ao divórcio. Pode ser, aplicado a todos os relacionamentos. Um homem que já havia trabalhado com outro pastor veio para trabalhar na nossa equipe de ministério. Ele tinha sido magoado por seu líder anterior, mas o tempo passou e eu senti que o Senhor me estava direcionando a convidá-lo a trabalhar conosco. Eu acreditava que ele estava no processo de vencer essa mágoa.

Telefonei para seu ex-empregador e compartilhei meus planos de trazê-lo para minha equipe. Ele me encorajou e achou que seria uma boa mudança, porque sabia que eu me importava com ambos. Ele acreditava que a cura poderia ser completa enquanto ele trabalhasse conosco. Disse a ambos que minha oração era para restauração e cura no relacionamento entre eles.

Quando esse homem entrou para nossa equipe de ministério, os problemas apareceram quase que imediatamente. Eu conversava sobre o problema, mas só via alívio temporário. Parecia que ele não conseguia ir além do seu relacionamento anterior. O problema continuava a assombrá-lo. Ele até mesmo me acusou de estar fazendo as mesmas coisas que seu líder anterior havia feito.

Foi uma situação problemática, porque o bem-estar desse homem era mais importante para mim do que o que ele podia fazer por mim como empregado. Fiz-lhe algumas concessões que jamais faria a outros empregados, porque eu desejava vê-lo curado.

Depois de apenas dois meses, ele se demitiu. Ele se viu preso na mesma situação que a anterior. Saiu dizendo: "John, nunca mais trabalharei em outro ministério novamente".

Eu o abençoei e o vi partir. Nós o amamos e a sua esposa. O fato triste é que ele tem um forte chamado em sua vida para exatamente aquilo que abandonou, embora não signifique que não terá sucesso em outras áreas.

Fiquei perturbado após sua saída e, então, busquei o Senhor: "Por que ele foi embora tão depressa quando ambos achávamos que poderia dar certo?” Poucas semanas depois, o Senhor usou um sábio pastor amigo para responder a essa pergunta: "Muitas vezes, Deus permitirá que as pessoas fujam das situações que Ele deseja que elas enfrentem se elas já se propuseram no coração delas a fugir".

O pastor, então, colocou a história de Elias, que fugiu de Jezabel (1ªRs.18.19). Elias tinha acabado de executar os profetas de Baal e Aserá. Eles eram os homens que lideravam a nação à idolatria e assentavam-se à mesa de Jezabel. Quando Jezabel soube disso, ameaçou matar Elias em vinte e quatro horas.

Deus queria que Elias a confrontasse, mas, ao contrário, ele fugiu. Ele estava tão desencorajado que orou pedindo para morrer. Ele não tinha a mínima condição de cumprir a tarefa. Deus enviou um anjo para alimentá-lo com dois pães e permitiu que ele fugisse por quarenta dias e quarenta noites para o monte Horebe.

Quando Elias chegou, a primeira coisa que Deus lhe perguntou foi: “Que fazes aqui, Elias?" Parecia uma pergunta estranha. O Senhor o alimentou para a longa viagem, permitindo-lhe que fosse apenas para lhe fazer esta pergunta quando chegasse: "Que fazes aqui Elias?" Deus sabia que Elias havia decidido fugir da situação difícil. Então permitiu, embora seja óbvio, pela sua pergunta, que esse não era seu plano original.

Deus, então, disse a Elias: "Vai, volta ao teu caminho para o deserto de Damasco e, em chegando lá, unge [...] a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei sobre Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá ungirás profeta em teu lugar" (1 Rs 19:15, 16). Sob os ministérios de Eliseu e Jeú, essa terrível rainha e seu sistema perverso serão destruídos (2 Reis 9 - 10). Esta tarefa não foi completada por Elias, mas pelos sucessores que Deus lhe ordenou que ungisse em seu lugar.

O pastor me disse: "Se tomamos uma decisão irrevogável em nosso coração em não enfrentar, situações difíceis, Deus vai de fato nos liberar, muito embora não seja sua perfeita vontade".

Posteriormente, lembrei-me de um incidente em Números 22, que ilustra essa mesma questão. Balaão queria amaldiçoar Israel pois havia grandes recompensas nisso para ele. Inicialmente, ele perguntou ao Senhor se podia ir, e Deus lhe mostrou que sua vontade era a de que Balaão ficasse. Quando os príncipes de Moabe retornaram com mais dinheiro e honra, Balaão foi outra vez a Deus. É ridículo imaginar que Deus mudaria de idéia agora que havia mais dinheiro e honra em jogo para Balaão. Mas dessa vez Deus disse para ir com eles.

Então, por que Deus mudou de idéia? A resposta é que Deus não mudou de idéia. Balaão estava tão decidido a ir que Deus deixou fosse. Por isso, acendeu-se a ira de Deus contra Balaão quando ele se foi.

Podemos aborrecer o Senhor quanto a algo que Ele já nos mostrou ser sua vontade. Ele, então, nos permitirá fazer o que queremos mesmo que contra seu plano original - mesmo não sendo, a nosso ver, o mais conveniente.

Geralmente, os planos de Deus fazem com de tenhamos que enfrentar mágoas e atitudes que não gostaríamos de enfrentar. Mesmo assim, fugimos justamente daquilo que trará força a nossa vida. A recusa em lidar com uma ofensa não nos livrará do problema. Apenas nos trará alívio temporário. A raiz do problema permanece intocada.

Minha experiência com esse jovem que contratei também me ensinou uma lição em relação às ofensas e relacionamentos. É impossível estabelecer um relacionamento saudável com uma pessoa que abandonou outro relacionamento de forma amargurada e ofendida. A cura precisava acontecer. Mesmo quando continuava dizendo que havia perdoado seu líder anterior, o problema não havia sido esquecido.

O amor esquece os erros para que haja esperança no futuro. Se verdadeiramente superamos uma ofensa, buscamos fervorosamente a paz. Talvez não seja imediatamente, mas no nosso coração buscaremos uma oportunidade de restauração.

Um amigo sábio comentou mais tarde: "Há um antigo provérbio que diz: 'Gato escaldado tem medo de água fria`”. Quantas pessoas temem a água fria que traz frescor porque foram queimadas no passado e não conseguiram perdoar?

Jesus deseja curar nossas feridas, mas, freqüentemente, não lhe permitimos fazê-lo porque esta não é a forma mais fácil.        O caminho da humilhação e da autonegação é que leva à cura e à maturidade espiritual. É a decisão em dar mais importância ao bem-estar do outro do que ao próprio, mesmo que a pessoa nos tenha trazido grande tristeza.

O orgulho não pode tomar esse caminho, mas só aqueles que desejam a paz com risco de rejeição. É a trilha que leva à humilhação. É a estrada que nos leva à vida.