“Se Deus o enviou”, replico "não saia até que Ele libere
você. Se o Senhor está em silêncio, geralmente Ele está dizendo: `Não mude
nada. Não saia. Fique onde o coloquei!`”.
Quando Deus instrui você a sair, você sairá em paz, independentemente
da condição do ministério. "Saireis com alegria e em paz sereis guiados”
(Is.55:12).
Dessa forma, a sua saída não será baseada nas ações ou
comportamentos de outros, mas, sim, na liderança do Espírito. Assim, não se sai
por causa de situações difíceis.
Sair com o espírito crítico ou ofendido não é o plano de
Deus. Isso seria reação ao contrário de uma ação sob a liderança do Senhor. Em
Romanos 8:14 está escrito: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de
Deus são filhos de Deus". Note que não se diz: "Todos aqueles que
reagem a situações difíceis são filhos de Deus".
Na maioria das vezes, a palavra filho usada no Novo
Testamento vem de duas palavras gregas: teknon e huios. Uma boa
definição para a palavra teknon é "aquele que é filho meramente por
nascimento".
Quando meu primeiro filho, Addison, nasceu, ele era filho de
John Bevere simplesmente pelo fato de ter vindo de mim e de minha esposa.
Quando ele estava no berçário junto com todos os outros recém-nascidos, não
poderíamos reconhecê-lo como meu filho por traços de personalidade. Quando meus
amigos e família vinham visitá-lo, não podiam identificá-lo, exceto por causa
do nome escrito na placa do bercinho. Ele não possuía nada que o diferenciasse
dos outros. Addison seria considerado um teknon de John e Lisa Bevere.
Encontramos teknon em Romanos 8:15, 16. A passagem diz
que, por causa do espírito de adoção que recebemos, "o próprio Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos [teknon] de Deus".
Quando a pessoa recebe Jesus Cristo como Senhor, ela é filha de Deus por
intermédio da experiência do novo nascimento (veja Jo 1:12).
A outra palavra para tradução de filhos no Novo Testamento huios.
Muitas vezes, ela é usada no Novo Testamento para descrever "aquele que
pode ser identificado como filho porque apresenta caráter ou características de
seus pais".
Quando meu filho Addsion crescia, ele começou a se parecer
comigo. Quando tinha seis anos, Lisa e eu viajamos e o deixamos com os meus
pais. Minha mãe disse a minha esposa que Addsion era quase uma cópia carbono de
seu papai. Sua personalidade era como a minha quando eu tinha a idade dele.
Agora, mais crescido, tornou-se mais parecido. Ele pode ser reconhecido como
filho de John Bevere não apenas pelo nascimento, mas pelas características que
lembram as de seu pai.
Dessa forma, a palavra grega teknon significa, de
forma simplificada, "bebês ou filhos imaturos", e a palavra grega huios
é freqüentemente usada para descrever "filhos maduros".
Se olharmos Romanos 8:14 novamente, leremos: "Pois todos
os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos [huios] de Deus”.
Podemos ver, claramente, que os filhos maduros são aqueles guiados pelo
Espírito de Deus. Os crentes imaturos têm menos probabilidade de seguir a
liderança do Espírito de Deus. Muito freqüentei reagem emocional ou
intelectualmente às circunstâncias com que se deparam. Ainda não aprenderam a
agir apenas sob a liderança do Espírito de Deus.
À medida que Addison crescer, desenvolverá o seu caráter.
Quanto mais maduro ficar, mais responsabilidade lhe confiarei. É errado se ele
permanecer imaturo. Não é a vontade de Deus que permaneçamos bebês.
Uma maneira de provocar o desenvolvimento do caráter de meu
filho é através das situações difíceis. Quando ele começou a freqüentar a escola
deparou com alguns "valentões". Ouvi alguma das coisas que esses
garotos difíceis faziam e diziam ao meu filho, e ficava com vontade de ir lá e
resolver o problema. Mas sabia que isso seria errado. A minha intervenção
impediria o crescimento de Addison.
Dessa forma, minha esposa e eu continuamos a aconselhá-lo em
casa, preparando-o para enfrentar as perseguições na escola. Seu caráter se
desenvolveu através da obediência aos nossos conselhos no meio de seu
sofrimento.
Deus faz algo semelhante conosco. A Bíblia diz: "Embora
sendo Filho [Huios] aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu"
(Hb 5:8, grifos acrescidos).
( I Pe 4:1- Destaque
acrescido).
Agora, compreendemos por que algumas pessoas da igreja,
crentes há vinte anos, sabem de cor versículos e capítulos da Bíblia, ouviram
milhares de sermões e leram muitos livros, mas ainda estão usando fraldas
espirituais. Toda vez que se defrontam com situações difíceis, em vez de
reagirem através do Espírito de Deus, procuram proteger-se do seu próprio modo.
Estão sempre aprendendo e "jamais chegam ao conhecimento da verdade"
(2 Tm 3:7). Nunca chegam ao conhecimento verdade porque nunca a aplicam.
Precisamos permitir que a verdade penetre em nossa vida se
quisermos crescer e amadurecer. Não é suficiente aceitá-la mentalmente sem
obedecer-lhe. Embora continuemos a aprender, nunca amadurecemos por causa da
desobediência.
Uma desculpa comum para a autopreservação por meio da
desobediência é a ofensa. Há uma sensação de falsa autoproteção quando
guardamos uma ofensa. Ela o impede de ver suas próprias falhas caráter porque a
culpa é transferida a outra pessoa. Nunca precisamos enfrentar o nosso papel,
nossa imaturidade ou nossos pecados porque enxergamos só as falhas do ofensor.
Desse modo, a tentativa de Deus para desenvolver o nosso caráter por meio desse
problema é então, abandonada. A pessoa ofendida evitará o ofensor e, eventualmente,
fugirá, tornando-se um errante espiritual.
Recentemente, uma senhora me contou sobre uma amiga que
abandonou a igreja e começou a freqüentar outra. Ela convidou o no pastor para
jantar em sua casa. Durante a conversa, o pastor perguntou-lhe por que tinha
saído da outra igreja. A senhora contou-lhe sobre todos os problemas da
liderança daquela igreja.
O pastor ouviu e tentou confortá-la. Acho que seria mais
sábio se encorajasse a senhora, por meio da Palavra de Deus, a lidar com sua
dor e atitude crítica. Se necessário, deveria ter sugerido que ela voltasse a
sua antiga igreja até que Deus lhe liberasse paz.
Quando Deus nos libera paz, não nos sentimos pressionados a
justificar nossa saída aos outros. Não seremos pressionados a julgar ou expor
criticamente os problemas que a igreja anterior tinha. Sabia que era apenas uma
questão de tempo antes que ela reagisse ao novo pastor do mesmo modo que fez
com os anteriores. Quando retemos uma ofensa no nosso coração, filtramos tudo
através dela.
Há uma antiga parábola que se encaixa nessa situação. No
passado, colonizadores estavam indo para o Oeste, um homem sábio subiu numa
colina próxima a uma nova cidade do Oeste. Quando os o colonizadores vinham do
Leste, o homem sábio era a primeira pessoa a quem eles encontravam antes de dar
início à colonização. Eles perguntavam ansiosamente como eram as pessoas
daquela cidade. Ele respondia com uma pergunta: "Como eram as pessoas na
cidade de onde vêm?" Alguns diziam: "A cidade de onde viemos é má. As
pessoas são fofoqueiras, grossas e tiram vantagem de todas as pessoas
inocentes. Ela está cheia de ladrões e mentirosos". O homem sábio
respondia: “Esta cidade é igual à outra que deixaram". Eles agradeciam ao
homem por salvá-los de tantos problemas que estavam prestes a enfrentar. E,
continuavam sua viagem mais a Oeste.
Então, um outro grupo de colonizadores chegava e fazia a
mesma pergunta: "Como é esta cidade?". O homem sábio respondia
novamente: "Como era a cidade de de onde vocês vêm?”. Eles respondiam:
"Era maravilhosa! Tínhamos grandes amigos. Todos se importavam com os
interesses dos outros. Nunca havia carência de nada, porque todos cuidavam uns
dos outros. Se alguém tinha um grande projeto, toda a comunidade se juntava
para ajudar. Foi uma muito difícil sair de lá, mas sentimos que era hora de
abrirmos novos caminhos para as gerações futuras. Estamos indo para o oeste
como pioneiros".
O homem sábio dizia exatamente a mesma coisa que ao grupo
anterior. "Esta cidade é igual à que vocês deixaram". As pessoas,
então, respondiam com alegria: "Vamos ficar aqui!" A forma como viam
suas relações passadas era o parâmetro para futuras relações.
O modo como você sai de uma igreja ou de um relacionamento é
o mesmo como entrará na próxima igreja ou relacionamento. Jesus disse em João
20:23: "Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos
retiverdes, são retidos".
Nós preservamos os pecados de outros quando guardamos ofensa
ou ressentimento. Se saímos de uma igreja ou relacionamento com ressentimento e
amargura, entraremos na próxima igreja ou no próximo relacionamento com a mesma
atitude. Será mais fácil, então, sair do próximo relacionamento assim que os
problemas aparecerem. Não só teremos de lidar com as mágoas que acontecem no
novo relacionamento, mas também com as do relacionamento anterior.
Estatísticas dizem que 60 a 65 por cento das pessoas
divorciadas acabam separando-se novamente após o novo casamento. A maneira pela
qual a pessoa deixa seu primeiro casamento determina o caminho para o segundo.
A falta de perdão em relação ao primeiro parceiro atrapalha o futuro do novo
relacionamento. Quando culpam o outro, ficam cegos ao seu próprio papel e
características. Para piorar a situação depois, eles adicionaram o medo de
serem magoados.
Esse princípio não se limita ao casamento e ao divórcio. Pode
ser, aplicado a todos os relacionamentos. Um homem que já havia
trabalhado com outro pastor veio para trabalhar na nossa equipe de ministério.
Ele tinha sido magoado por seu líder anterior, mas o tempo passou e eu senti
que o Senhor me estava direcionando a convidá-lo a trabalhar conosco. Eu
acreditava que ele estava no processo de vencer essa mágoa.
Telefonei para seu ex-empregador e compartilhei meus planos
de trazê-lo para minha equipe. Ele me encorajou e achou que seria uma boa
mudança, porque sabia que eu me importava com ambos. Ele acreditava que a cura
poderia ser completa enquanto ele trabalhasse conosco. Disse a ambos que minha
oração era para restauração e cura no relacionamento entre eles.
Quando esse homem entrou para nossa equipe de ministério, os
problemas apareceram quase que imediatamente. Eu conversava sobre o problema,
mas só via alívio temporário. Parecia que ele não conseguia ir além do seu
relacionamento anterior. O problema continuava a assombrá-lo. Ele até mesmo me
acusou de estar fazendo as mesmas coisas que seu líder anterior havia feito.
Foi uma situação problemática, porque o bem-estar desse homem
era mais importante para mim do que o que ele podia fazer por mim como
empregado. Fiz-lhe algumas concessões que jamais faria a outros empregados,
porque eu desejava vê-lo curado.
Depois de apenas dois meses, ele se demitiu. Ele se viu preso
na mesma situação que a anterior. Saiu dizendo: "John, nunca mais
trabalharei em outro ministério novamente".
Eu o abençoei e o vi partir. Nós o amamos e a sua esposa. O
fato triste é que ele tem um forte chamado em sua vida para exatamente aquilo
que abandonou, embora não signifique que não terá sucesso em outras áreas.
Fiquei perturbado após sua saída e, então, busquei o Senhor:
"Por que ele foi embora tão depressa quando ambos achávamos que poderia
dar certo?” Poucas semanas depois, o Senhor usou um sábio pastor amigo para
responder a essa pergunta: "Muitas vezes, Deus permitirá que as pessoas
fujam das situações que Ele deseja que elas enfrentem se elas já se propuseram
no coração delas a fugir".
O pastor, então, colocou a história de Elias, que fugiu de
Jezabel (1ªRs.18.19). Elias tinha acabado de executar os profetas de Baal e
Aserá. Eles eram os homens que lideravam a nação à idolatria e assentavam-se à
mesa de Jezabel. Quando Jezabel soube disso, ameaçou matar Elias em vinte e
quatro horas.
Deus queria que Elias a confrontasse, mas, ao contrário, ele
fugiu. Ele estava tão desencorajado que orou pedindo para morrer. Ele não tinha
a mínima condição de cumprir a tarefa. Deus enviou um anjo para alimentá-lo com
dois pães e permitiu que ele fugisse por quarenta dias e quarenta noites para o
monte Horebe.
Quando Elias chegou, a primeira coisa que Deus lhe perguntou
foi: “Que fazes aqui, Elias?" Parecia uma pergunta estranha. O Senhor o
alimentou para a longa viagem, permitindo-lhe que fosse apenas para lhe fazer
esta pergunta quando chegasse: "Que fazes aqui Elias?" Deus sabia que
Elias havia decidido fugir da situação difícil. Então permitiu, embora seja
óbvio, pela sua pergunta, que esse não era seu plano original.
Deus, então, disse a Elias: "Vai, volta ao teu caminho
para o deserto de Damasco e, em chegando lá, unge [...] a Jeú, filho de Ninsi,
ungirás rei sobre Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá
ungirás profeta em teu lugar" (1 Rs 19:15, 16). Sob os ministérios de
Eliseu e Jeú, essa terrível rainha e seu sistema perverso serão destruídos (2
Reis 9 - 10). Esta tarefa não foi completada por Elias, mas pelos sucessores
que Deus lhe ordenou que ungisse em seu lugar.
O pastor me disse: "Se tomamos uma decisão irrevogável
em nosso coração em não enfrentar, situações difíceis, Deus vai de fato nos liberar,
muito embora não seja sua perfeita vontade".
Posteriormente, lembrei-me de um incidente em Números 22, que
ilustra essa mesma questão. Balaão queria amaldiçoar Israel pois havia grandes
recompensas nisso para ele. Inicialmente, ele perguntou ao Senhor se podia ir,
e Deus lhe mostrou que sua vontade era a de que Balaão ficasse. Quando os
príncipes de Moabe retornaram com mais dinheiro e honra, Balaão foi outra vez a
Deus. É ridículo imaginar que Deus mudaria de idéia agora que havia mais
dinheiro e honra em jogo para Balaão. Mas dessa vez Deus disse para ir com
eles.
Então, por que Deus mudou de idéia? A resposta é que Deus não
mudou de idéia. Balaão estava tão decidido a ir que Deus deixou fosse. Por
isso, acendeu-se a ira de Deus contra Balaão quando ele se foi.
Podemos aborrecer o Senhor quanto a algo que Ele já nos
mostrou ser sua vontade. Ele, então, nos permitirá fazer o que queremos mesmo
que contra seu plano original - mesmo não sendo, a nosso ver, o mais
conveniente.
Geralmente, os planos de Deus fazem com de tenhamos que enfrentar
mágoas e atitudes que não gostaríamos de enfrentar. Mesmo assim, fugimos
justamente daquilo que trará força a nossa vida. A recusa em lidar com uma
ofensa não nos livrará do problema. Apenas nos trará alívio temporário. A raiz
do problema permanece intocada.
Minha experiência com esse jovem que contratei também me
ensinou uma lição em relação às ofensas e relacionamentos. É impossível
estabelecer um relacionamento saudável com uma pessoa que abandonou outro
relacionamento de forma amargurada e ofendida. A cura precisava acontecer.
Mesmo quando continuava dizendo que havia perdoado seu líder anterior, o
problema não havia sido esquecido.
O amor esquece os erros para que haja esperança no futuro. Se
verdadeiramente superamos uma ofensa, buscamos fervorosamente a paz. Talvez não
seja imediatamente, mas no nosso coração buscaremos uma oportunidade de
restauração.
Um amigo sábio comentou mais tarde: "Há um antigo
provérbio que diz: 'Gato escaldado tem medo de água fria`”. Quantas pessoas
temem a água fria que traz frescor porque foram queimadas no passado e não
conseguiram perdoar?
Jesus deseja curar nossas feridas, mas, freqüentemente, não
lhe permitimos fazê-lo porque esta não é a forma mais fácil. O caminho da humilhação e da autonegação
é que leva à cura e à maturidade espiritual. É a decisão em dar mais
importância ao bem-estar do outro do que ao próprio, mesmo que a pessoa nos
tenha trazido grande tristeza.
O orgulho não pode tomar esse caminho, mas só aqueles que desejam
a paz com risco de rejeição. É a trilha que leva à humilhação. É a estrada que
nos leva à vida.