Davi gritou, inclinando-se e colocando o rosto na terra:
"Vê e reconhece que em mim não há nem mal, nem rebeldia, que não pequei
contra ti".
Davi sabia que havia demonstrado sua fidelidade a seu líder,
então ficou tranqüilo. Depois, soube de uma notícia que o deixou arrasado: Saul
ainda pretendia matá-lo. Mas Davi se recusou a levantar suas mãos contra aquele
que tramava tirar-lhe a vida, embora Deus houvesse colocado o exército
inteiro para dormir e lhe dado um companheiro que implorava para matar Saul.
Davi percebeu que o sono do exército tinha outro propósito: testar seu coração.
Deus queria ver se Davi mataria para estabelecer seu reino ou
permitira que Ele estabelecesse seu trono na justiça, para sempre.
Quando Davi estava ao lado de Saul, que dormia, enfrentou uma
difícil prova. Ela diria se Davi ainda possuía um coração nobre de pastor ou se
era inseguro como Saul. Será que permaneceria segundo o coração de Deus? Em
princípio, é muito mais fácil resolver os problemas com nossas próprias mãos,
em vez de descansarmos no Deus justo.
Deus testa a obediência de seus servos. Deliberadamente,
colocando-nos em situações em que os padrões religiosos e sociais aparentemente
justificariam nossos atos. Permite que outros, principalmente os que estão mais
próximos de nós, incentivem-nos a reagir. Podemos, até, achar que estamos sendo
nobres e protetores se nos vingarmos. Mas Deus não é assim. A sabedoria do
mundo é carnal.
Quando penso na oportunidade que tive de expor meu líder,
lembro-me de que lutei contra o pensamento de que ele poderia magoar alguém se
não fosse desmascarado. Eu pensava: "Estarei apenas relatando a verdade.
Se não fizer isso, nunca terá fim". Fui incentivado por outras pessoas a
desmascará-lo.
Hoje, porém, sei que Deus me deu essas informações por uma
razão: para me testar. Tornaria-me como o homem que tentava destruir-me? Ou
permitiria que o juízo e a misericórdia de Deus alcançassem este homem caso se
arrependesse?
Muitos perguntam: "Por que Deus coloca pessoas sob a
liderança de outros que cometem erros graves e que, até mesmo, são
insensatas?"
Veja a infância de Samuel (1 Sm 2 - 5). Deus, não o diabo,
foi quem colocou esse homem sob a autoridade de um sacerdote corrupto chamado
Eli e de seus dois indignos filhos, Hofni e Finéias, que também eram
sacerdotes. Esses homens eram terríveis. Tomavam as ofertas através de manipulação
e força, e fornicavam com as mulheres que ficavam na porta do tabernáculo.
Imagine servir a um ministro que leva esse tipo de vida! Um
ministro que era tão insensível ao Espírito, que acusava mulheres que
estavam em oração de estarem bêbadas! Tão conivente com os erros dos filhos,
que chegou até a chamá-los para serem líderes, e eles fornicavam dentro da
igreja.
Muitos crentes dos nossos dias ficariam ofendidos e buscariam
outras igrejas contando a todos como se livraram do modo de vida corrupto de
seus ex-pastores e líderes. No meio de tanta corrupção, acho fantástico o que o
jovem Samuel fez: "O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli" (1
Sm 3:1). Deus parecia muito distante de toda a comunidade hebraica. A lâmpada
de Deus estava prestes a se apagar no templo do Senhor. Será que Samuel foi a
outro lugar de adoração? Foi aos lideres desmascarar Eli e seus filhos? Formou
um comitê para destituí-los do pastorado? Não, ele servia ao Senhor! Deus
colocou Samuel ali, e ele não era o responsável pelo comportamento de deles.
Foi posto sob a autoridade daqueles homens não para julgá-los, mas para
servir-lhes. Sabia que Eli era servo de Deus, e não seu. Estava ciente que Deus
era capaz de lidar com seu próprio servo.
Filhos não corrigem pais. Mas é obrigação dos pais treinar e
corrigir seus filhos. Devemos confrontar e lidar com aqueles a quem Deus nos
deu para treinar. Esta é a nossa responsabilidade. Os que estão no mesmo nível
que nós devem ser encorajados e exortados como irmãos. Mas neste capítulo,
assim como no último, discutirei como devemos reagir à autoridade.
Samuel serviu ao ministro escolhido de Deus da melhor maneira
possível, sem ser pressionado a corrigi-lo ou a julgá-lo. A única vez que
Samuel proferiu palavras de correção foi quando Eli veio a Samuel e
perguntou-lhe que profecia Deus havia lhe dado na noite anterior. Mesmo assim,
a palavra de correção não veio de Samuel, mas de Deus. Se mais pessoas
entendessem essa verdade, nossas igrejas seriam bem diferentes.
Atualmente, homens e mulheres deixam suas igrejas assim que
acham algo de errado na liderança. Talvez seja a forma que o pastor usa para
recolher as ofertas. Talvez seja como o dinheiro é empregado. Se não gostam da
pregação do pastor, vão embora da igreja. Ou ele não é muito
acessível ou é muito íntimo de todos. A lista de reclamações não termina. Em
vez de enfrentarem as dificuldade e ter esperança, essas pessoas correm para
onde parece não haver conflito.
Vamos encarar a realidade: Jesus é o único pastor perfeito.
Então, por que nós não enfrentamos as dificuldades em vez de correr delas?
Quando não enfrentamos esses conflitos diretamente, há uma grande oportunidade
de sairmos de lá ofendidos. Algumas vezes dizemos que nosso ministério
profético não foi bem recebido. Então, vamos de igreja em igreja, procurando
uma liderança impecável.
Enquanto escrevo este livro, posso dizer que só fiz parte de
duas igrejas em dois diferentes Estados nos últimos quatorze anos. Já tive
inúmeras oportunidades de me sentir ofendido com minha liderança (a maior parte
delas, devo acrescentar, por minha própria imaturidade). Tinha chance de
me tornar crítico em relação à liderança; mas sair da igreja não era a saída.
Em meio a uma circunstância bem difícil, o Senhor falou comigo através de um
versículo: "Esta é a forma que se deve sair da igreja":
Lembre-se de que se você está onde Deus quer que esteja o
diabo vai tentar escandalizá-lo para que saia de lá. Ele quer tirar as
raízes de onde Deus nos plantou. Se puder tirá-lo de lá, isso será uma vitória
para você resistir, mesmo em meio a um grande conflito, acabará com os planos
do diabo.
Freqüentei uma igreja vários anos. O pastor era um dos
maiores pregadores dos Estados Unidos. Quando fui àquela igreja pela primeira
fiquei de boca aberta, maravilhado com os ensinamentos bíblicos vindos daquele
homem.
O tempo foi passando e, porque eu servia diretamente àquele
pastor, pude ver bem de perto suas falhas. Questionei algumas de suas decisões
pastorais. Comecei a criticá-lo e a julgá-lo, e dei lugar à ofensa. Quando ele
pregava, não sentia inspiração ou unção. Seus ensinamentos não eram mais uma
bênção para mim.
Um casal de amigos que também trabalhava na igreja parecia
estar sentindo o mesmo. Deus os tirou do ministério naquela igreja e começaram
seu próprio ministério em outro lugar. Nos pediram para os acompanhássemos.
Sabiam das nossas lutas e nos incentivaram a seguir o nosso próprio chamado. O
casal nos contava tudo o que o pastor, sua esposa e a liderança faziam de
errado. Sofríamos juntos; sentíamos que não tínhamos mais esperança, que
estávamos encurralados.
Eles pareciam sinceramente preocupados com nosso bem-estar.
Mas nossas conversas serviam somente de mais combustível para o fogo do
descontentamento e ofensa. Como está muito claro em Provérbios 26:20 "...
sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda".
Pode ser que o que nos disseram era um erro aos olhos de Deus, porque a
situação adicionava lenha na fogueira da ofensa que havia neles e em nós.
"Sabemos que você é um homem de Deus”, disseram-me. Por
isso é que está tendo esses problemas naquele lugar”. Parecia um bom argumento.
Minha esposa e eu concordamos: "É isso aí. Estamos numa
situação complicada. Precisamos sair da igreja. Este pastor e sua esposa nos
amam e vão nos pastorear. Os membros da igreja deles nos receberão e permitirão
que continuemos o ministério que Deus nos deu".
Saímos de nossa igreja e começamos a freqüentar a desse
casal, por pouco tempo. Embora tivéssemos fugido de nossos problemas,
percebemos que ainda estávamos em luta. Nosso espírito não tinha alegria.
Estávamos presos ao medo de nos tornarmos exatamente aquilo de que fugimos.
Parecia que tudo o que fazíamos era forçado e artificial. Não conseguíamos
sentir o Espírito fluir. Até mesmo nosso relacionamento com o novo pastor e sua
esposa estava abalado.
Finalmente, decidimos que deveríamos voltara nossa igreja.
Quando o fizemos, soubemos, no mesmo instante, que estávamos cumprindo a
vontade de Deus, mesmo que parecesse que seríamos mais amados e aceitos em
outro lugar.
Então, Deus me sacudiu: "John, nunca lhe disse que era
para sair desta igreja. Você saiu porque se sentiu ofendido!"
Não era culpa do pastor e da sua esposa, mas nossa própria. Eles
compreenderam nossa frustração e tentavam resolver os mesmos problemas no
coração deles. Quando estamos fora da vontade de Deus, nunca seremos bênção ou
ajuda em outra igreja. Quando estamos fora da vontade de Deus, até mesmo os
bons relacionamentos são abalados. Eu e minha esposa estávamos fora da vontade
dele.
As pessoas ofendidas reagem a uma situação e fazem coisas que
parecem ser corretas, mesmo que não sejam inspiradas por Deus. Não somos
chamados para reagir, mas, sim, para agir.
Se somos obedientes a Deus e Ele não fala conosco, é porque a
resposta provavelmente é: "Fique exatamente onde está. Não faça nenhuma
mudança".
Geralmente, quando nos sentimos pressionados, buscamos uma
resposta de Deus. Mas se Deus nos coloca numa situação difícil é para nos
refinar e fortalecer, e não para nos destruir!
Passado um mês, tive a oportunidade de encontrar-me com o
pastor da minha igreja. Pedi perdão por ter sido rebelde e crítico. Ele
graciosamente me perdoou. Nossa relação foi fortalecida, e a alegria voltou ao
meu coração. Comecei a receber a ministração do pastor quando pregava e
permaneci naquela igreja por muitos anos.
A Bíblia diz no Salmo 92:13: "Plantados na Casa
do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus" (Grifos acrescidos).
Note bem que aqueles que florescem são "plantados"
na casa do Senhor. Que acontece com uma planta se a transplantarmos a cada três
semanas? Muitos de vocês sabem que as raízes atrofiarão e a planta não crescerá
ou prosperará. Se continuarmos transplantando-a, ela morrerá.
Miolos vão de igreja em igreja, de ministério em ministério,
na tentativa de se aperfeiçoarem. Se Deus os coloca em um lugar onde não
recebem reconhecimento ou encorajamento, sentem-se facilmente ofendidos. Se não
concordam com o modo como as coisas são feitas, sentem-se ofendidos e vão
embora. Quando saem, culpam a liderança. Não enxergam suas próprias falhas de
caráter e não percebem que Deus os quer refinar e fazê-los amadurecer diante
das pressões que enfrentam.
Vamos fazer uma comparação com o exemplo que Deus nos dá
plantas e árvores. Quando um árvore frutífera é plantada, ela enfrentará o sol
quente, as tempestades e o vento. Se uma jovem árvore pudesse falar,
provavelmente diria: "Por favor, tire-me daqui! Ponha-me num lugar onde
não haja calor insuportável ou tempestades!"
Se o jardineiro acatasse o pedido da árvore, ele a
prejudicaria. As árvores resistem às tempestades e ao sol forte, espalhando
suas raízes mais profundamente. A adversidade que sofrem são a fonte de sua
grande estabilidade. A severidade dos elementos da natureza faz com que elas
procurem por outra fonte de vida. Chegará o dia em que a árvore poderá
enfrentar as maiores tormentas sem que sua habilidade de produzir frutos seja
afetada.
Moro na Flórida, a capital cítrica. A maioria dos moradores
da Flórida sabe que, quanto mais frio o inverno mais doces as laranjas se
tornam. Se não fugíssemos tão prontamente das barreiras espirituais, nossas
raízes teriam a chance de ficar mais profundas e fortes, e nossos frutos
seriam muitos e dulcíssimos aos olhos de Deus e ao paladar de seu povo!
Seríamos árvores maduras que alegrariam ao Senhor, em vez de árvores arrancadas
por falta de frutos (Lc 13:6-9) Não devemos evitar aquilo que Deus envia para
que amadureçamos.
O salmista Davi, inspirado pelo Espírito Santo, faz uma
tremenda relação entre a ofensa, a lei de Deus e nosso crescimento espiritual.
Ele escreveu no Salmo 1:1,2:
Agora, podemos compreender melhor a interpretação de Jesus
sobre a parábola do semeador.
Você se torna, então, um errante espiritual, perambulando de
um lugar para outro, desconfiado e temeroso de que outros irão maltratá-lo.
Impedido de produzir verdadeiros frutos espirituais, você vive uma vida
egocêntrica, comendo os restos dos frutos dos outros.
Veja Caim e Abel, os primeiros filhos de Adão. Caim trouxe
uma oferta ao Senhor do trabalho de suas mãos, o fruto de sua videira. Esse
fruto foi conseguido com seu suor. Ele teve de limpar os pedregulhos, arar e
cultivar o solo. Teve de plantar, irrigar, fertilizar e proteger sua plantação.
Empenhou-se bastante no seu trabalho para Deus. Foi, porém, seu próprio
sacrifício, em vez da obediência aos caminhos de Deus. Isso simbolizava
adoração a Deus por intermédio de sua própria habilidade e força, e não através
da graça de Deus.
Por outro lado, Abel trouxe uma oferta de obediência, a
primícia de seu rebanho. Não trabalhou como Caim para realizar isso, mas seu
trabalho era prazeroso. Os dois irmãos devem ter ouvido como seus pais tentaram
esconder sua nudez com folhas de figueira, que representavam o esforço para
encobrir o pecado. Mas Deus demonstrou que o sacrifício era aceitável, cobrindo
Adão e Eva com a pele de um animal inocente. Adão e Eva ignoravam que aquela
era uma forma inaceitável de encobrir o seu pecado. Mas, quando Deus lhes
mostrou a maneira correta, eles já não eram mais ignorantes e nem seus filhos.
Caim tentou conquistar a aprovação de Deus sem seguir seus
conselhos. Deus reagiu mostrando que aceitaria todos os que vivessem sob o
parâmetro da graça (o sacrifício de Abel) e rejeitaria o que estivesse
sob o "conhecimento do bem e do mal" (a religiosidade de Caim). Ele
instruiu a Caim que, se procedesse bem, seria aceito; mas, se não optasse pela
vida, então o pecado o dominaria.
Caim se sentiu ofendido pelo Senhor. Em vez de se arrepender
e fazer o que era correto, permitindo que a situação fortalecesse seu caráter,
irou-se contra Abel por causa da ofensa de Deus. Ele assassinou Abel.
Deus disse a Caim:
Os crentes que se sentem ofendidos também interrompem a
habilidade de produzir frutos. Jesus compara o coração deles com o solo, na
parábola do semeador. Assim como os campos de Caim eram infrutíferos, o solo do
coração ofendido também é infrutífero, porque foi envenenado pela amargura. Os
ofendidos ainda podem experimentar milagres, pregações sólidas e cura na vida
deles. Mas esses são dons do Espírito, e não frutos. Seremos julgados pelos
nossos frutos, e não pelo dons. O dom é dado, mas o fruto é cultivado.
Perceba que Deus disse que Caim seria um fugitivo e errante
como resultado de suas ações. Há inúmeros fugitivos e errantes espirituais em
nossas igrejas. Quando seus dons de música, pregação, profecia, e assim por
diante não são bem recebidos pela liderança, eles se mudam para outras igrejas.
Eles andam errantes, carregando a ofensa, procurando uma igreja perfeita que
receba seus dons e cure suas feridas.
Eles se sentem perseguidos e massacrados. Sentem-se como se
fossem os Jeremias atuais. Só eles e Deus; e todos lá fora tentando pegá-los.
Tornam-se não ensináveis. Sofrem do que eu chamo de complexo de perseguição:
"Todos querem pegar-me". Tentam confortar-se dizendo que são santos
ou profetas de Deus perseguidos. Desconfiam de todos. Isso é exatamente o que
aconteceu com Caim. Veja o que ele diz:
Serei fugitivo e errante
pela terra; quem comigo se encontrar, me matará (Gn 4:14 - Destaques
acrescidos).
O solitário busca seu próprio interesse e insurge-se contra a
verdadeira sabedoria (Pv 18:1).
Deus não nos criou para vivermos de forma isolada e
independente. Ele gosta quando seus filhos cuidam e nutrem uns aos outros.
Sentem-se frustrado quando sentimos pena de nós mesmos, achando que a nossa
alegria é responsabilidade dos outros. Quer que sejamos membros ativos da
família e que busquemos nele a vida. Uma pessoa isolada busca seus próprios
desejos, e não os de Deus. Não aceita conselhos, e está pronta para ser
enganada.
Não estou falando de períodos em que Deus capacita e treina
pessoas individualmente. Estou descrevendo aqueles que se aprisionaram.
Perambulam de igreja em igreja, de relacionamento em relacionamento, e se
isolam em seu próprio mundo. Pensam que todos que não concordam com eles estão
errados e contra eles. Protegem-se em seu isolamento e sentem-se seguros no
ambiente controlado que prepararam para si. Não precisam mais confrontar suas
falhas de caráter. Em vez de enfrentar as dificuldades, tentam escapar da
provação. O desenvolvimento de caráter vem só através de conflitos com outros é
perdido, ao mesmo tempo recomeça o ciclo da ofensa.