Neste capítulo, quero lidar com uma situação ainda mais
dolorosa do que a traição de um irmão. Uma coisa é ser rejeitado e prejudicado
por um irmão, outra, bem diferente, é ser rejeitado e prejudicado pelo pai.
Quando falo de pais, não estou me referindo a apenas pais biológicos, mas a
qualquer líder que Deus nos deu. As pessoas que achamos que iam amar-nos,
treinar-nos, alimentar-nos e cuidar de nós.
Vamos examinar este exemplo de traição através do
relacionamento entre o rei Saul e Davi (veja 1 Sm 16 - 31). Suas vidas se
encontraram mesmo antes de se Conhecerem, uma vez que Samuel, o profeta de
Deus, tingiu Davi para ser o próximo rei de Israel. Davi deve ter ficado
maravilhado pensando: "Este é o mesmo homem que ungiu Saul. Vou mesmo ser
rei"
De volta ao palácio, Saul estava sendo atormentado por
espíritos imundos, porque havia desobedecido a Deus. Seu único alívio era
quando alguém tocava harpa. Os servos de Saul procuraram por um jovem que
pudesse sentar-se na presença de Saul e ministrar-lhe. Um dos servo sugeriu Davi,
o filho de Jessé. O rei Saul mandou buscar Davi e pediu-lhe para vir ao palácio
ministrar a ele.
Davi deve ter pensado: "Deus já está cumprindo sua
promessa que veio através do profeta. Certamente ganharei o favor do rei. Esta
deve ser a posição de entrada".
O tempo foi passando, e o pai de Davi lhe pediu que levasse
alimento aos seus irmãos mais velhos que estavam em guerra com os filisteus.
Quando chegou ao campo de batalha, Davi viu o campeão dos filisteus, Golias,
zombando do exército de Deus e soube que isso estava acontecendo há quarenta
dias. Ele soube, também, que o rei havia oferecido a mão de sua filha em
casamento àquele que derrotasse o gigante.
Davi foi até ao rei e pediu permissão para lutar. Ele matou
Golias e ganhou a filha de Saul. Dessa forma, ganhou o favor de Saul e foi
levado ao palácio para viver com o rei. Jônatas, o filho mais velho de Saul,
fez um pacto de amizade eterna com Davi. Em tudo o que Saul dava a Davi para
fazer, a mão de Deus podia ser vista, e, assim, ele prosperava. O rei pediu que
ele se sentasse à mesa para comer com os seus próprios filhos.
Davi estava animado. Ele morava no palácio, comia à mesa com
o rei, casou-se com a filha dele, ficou amigo de Jônatas; enfim, era
bem-sucedido nas campanhas. Estava até ganhando o favor do povo. Ele podia ver
a profecia se desenrolar diante dos seus olhos.
Saul preferia Davi a todos os outros servos. Ele se tornou um
pai para ele. Davi tinha certeza de que Saul ia orientá-lo, treiná-lo e um dia,
com grande honra, colocá-lo no trono. Davi regozijava-se na fidelidade de Deus.
Mas um dia, tudo mudou. Quando Saul e Davi voltavam de uma
batalha, lado a lado, as mulheres de todas as cidades de Israel vieram dançando
e cantando: "Saul matou seus milhares e Davi seus dez milhares". Isso
deixou Saul enfurecido, e daquele dia em diante ele começou a desprezar Davi.
Por duas vezes, enquanto Davi tocava harpa, Saul tentou matá-lo.
A Bíblia diz que Saul odiava Davi porque sabia que Deus
estava com Davi e não com ele. Davi foi forçado a fugir para salvar sua vida.
Sem ter para onde ir, correu para o deserto.
“Que está acontecendo?" Davi se perguntava.
"A promessa estava se cumprindo, e agora tudo desmoronava. O homem que é
meu mentor está tramando matar-me. Que farei? Saul é o servo ungido de Deus.
Com ele contra mim, que chance tenho? Ele é o rei, o homem de Deus sobre
a nação de Deus. Por que o Senhor está permitindo que isso aconteça?”
Saul perseguiu Davi de deserto em deserto, de caverna em
caverna, acompanhado de três mil dos maiores guerreiros de Israel. Eles tinham
um propósito: destruir Davi.
A essa altura, a promessa era apenas uma sombra. Davi não
mais vivia no palácio ou comia à mesa do rei. Ele habitava cavernas úmidas e
comia restos de animais selvagens. Não andava mais ao lado do rei, mas era
caçado pelos homens com quem um dia lutou lado a lado. Não havia cama macia ou
servos para servir-lhe. Sua noiva foi dada a outro. Ele conheceu a solidão de
um homem sem nação.
Note que Deus - não o diabo - colocou Davi sob os cuidados de
Saul. Por que Deus não só permitiu, mas planejou tudo? Por que Davi teve o
favor do rei e abruptamente o perdeu? Esta era a oportunidade para Davi ficar
ofendido - não só com Saul, mas com Deus também. Todas as perguntas que ficavam
sem respostas aumentavam a tentação de questionar a sabedoria e o plano de
Deus.
Saul estava determinado a matar o jovem Davi a qualquer
custo, tanto que sua loucura aumentava. Ele se tornou um homem desesperado. Os
sacerdotes da cidade de Nobe providenciaram um abrigo, comida e a espada de
Golias para Davi. Não sabiam que Davi estava fugindo de Saul e achavam que ele
estava numa missão para o rei. Eles perguntaram a Davi sobre o Senhor que
estava em favor dele, e o mandaram seguir seu caminho.
Quando Saul descobriu, ficou furioso. Matou oitenta e cinco
inocentes sacerdotes do Senhor e correu o fio da espada em toda a cidade de
Nobe: homem, mulher, criança, bebê que amamentava, gado, burros e
ovelhas. Ele cumpriu julgamento contra eles - os inocentes - que deveria ter
caído sobre os amalequitas. Era um assassino. Como Deus poderia ter posto seu
Espírito sobre um homem assim?
A essa altura, Saul soube que Davi estava no deserto de Em
Gedi e saiu a sua procura com três mil guerreiros. Durante a viagem, para
descansar do lado de fora de uma caverna, sem saber que Davi estava lá dentro.
Saul tirou seu manto e o deixou de lado. Vagarosamente Davi saiu de seu
esconderijo, cortou um pedaço do manto e se retirou Sem ser notado.
Depois que Saul saiu de perto da caverna, Davi se prostrou e
chorou:
Já vi esse choro em inúmeros homens e mulheres no corpo de
Cristo. Muitos deles são jovens e têm um forte chamado de Deus. Eles clamam por
um pai, um homem que os discipline, ame, apóie e encoraje. Esta é a razão pela
qual Deus disse que "converterá o coração dos pais [líderes] aos filhos
[pessoas] e o coração dos filhos a seus pais, para que eu (Deus) não venha e
fira a terra com maldição" (M14:6).
Nossa nação perdeu seus pais (biológicos, líderes ou
ministros) nos anos 40 e 50, e agora nossa condição está cada vez pior. Assim
como Saul, muitos líderes de nosso lar, empresa e igreja estão mais preocupados
com seus alvos do que com seus filhos.
Por causa dessa atitude, esses lideres vêem o povo de Deus
recursos para servira sua visão, em vez de ver a visão como meio de servir às
pessoas. O sucesso da visão justifica o custo de vidas machucadas e pessoas
destruídas. Justiça, misericórdia, integridade e amor são deixados de lado por
causa do sucesso. As decisões se baseiam em dinheiro, números e resultados.
Isso abre as portas para o tratamento que Davi recebeu:
afinal, Saul tinha um reino para proteger. Esse tipo de tratamento é aceitável
na mente dos lideres porque estão trabalhando na pregação do Evangelho.
Quantos líderes dispensaram homens que trabalhavam sob sua
autoridade por causa de alguma suspeita? Por que esses líderes suspeitam?
Porque não estão servindo a Deus. Estão servindo a uma visão. Assim como Saul,
estão inseguros sobre o seu chamado e fomentam inveja e orgulho. Eles
reconhecem qualidades de Deus em algumas pessoas e, então, usam-nas enquanto
lhes forem úteis. Saul aproveitou o sucesso de Davi até que ele se tornou uma
ameaça. Dispensou Davi e esperou uma razão para destruí-lo.
Tive a oportunidade de conversar com inúmeros homens e
mulheres, que clamavam por alguém a quem prestar contas. Eles desejavam
submeter-se a um líder que os discipulasse. Sentiam-se isolados e solitários.
Procuravam alguém que lhes servisse de pai. Mas Deus permitiu que sofressem
rejeição, pois queria fazer neles o que fez em Davi. Ouça o que o Espírito tem
a dizer!
Davi estava preocupado que Saul acreditasse em sua rebeldia e
maldade. Deve ter sondado seu coração, dizendo: "Onde foi que eu errei?
Como foi que o coração de Saul se voltou contra mim?" Por isso ele
clamou:: "No fato de haver eu cortado a orla do teu manto sem te matar,
reconhece e vê que não há em mim nem mal nem rebeldia” (veja 1ªSm 21.11 -
Grifo acrescentado). Davi pensou que, se pudesse provar seu amor por Saul, este
restauraria o seu favor por ele e a profecia seria cumprida.
As pessoas que foram rejeitadas por seu pai ou líder tendem a
tomar toda a culpa para si. São prisioneiras de pensamentos que as tentam,
como: "Que foi que fiz?" e "Meu coração era impuro?"
Algumas vezes questionam: "Quem virou o coração do meu líder contra
mim?'" Dessa forma, tentam constantemente provar sua inocência. Acham que,
se demonstrarem lealdade e valor, serão aceitos. Infelizmente, quanto mais
tentam, mais rejeitados se sentem.
Saul reconheceu a bondade de Davi quando percebeu que ele
poderia tê-lo matado e não o fez. Ele e seus homens se retiraram. Davi deve ter
pensado: "Agora, o rei vai restaurar-me. Agora, a profecia será cumprida.
Obviamente, ele vê meu coração e vai tratar-me melhor”.
Devagar, Davi! Pouco tempo depois, os homens relataram a Saul
que Davi estava nas montanhas de Haquilá. Saul foi a sua procura com os mesmos
três mil soldados. Tenho certeza de que isso deixou Davi arrasado. Ele percebeu
que não era um mal-entendido e que Saul, intencionalmente, queria tirar-lhe a
vida. Como deve ter se sentido rejeitado! Saul conhecia seu coração e, mesmo
assim, marchou ao seu encontro.
Davi desceu com Abisai para o acampamento de Saul. Nenhum
guarda os viu, porque Deus os fez dormir profundamente. Os dois homens se
esgueiraram até onde Saul estava dormindo, passando por todo o exército sem
serem notados.
Abisai argumentou com Davi: "Deus te entregou, hoje, nas
mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora, encravá-lo com a lança, ao chão, de
um só golpe; não será preciso segundo" (1 Sm 26:8).
Abisai tinha boas razões para achar que Davi o deixaria matar
Saul: primeiro, Saul já havia assassinado, a sangue frio, oitenta e
cinco sacerdotes inocentes e suas famílias; segundo, estava com um
exército de três mil para matar Davi e seus seguidores. Se você não mata o
inimigo primeiro, Abisai pensou, ele certamente o matará. É legítima defesa.
Qualquer tribunal concordaria com isso; terceiro, Deus, através de
Samuel, ungiu Davi como o próximo rei de Israel. Davi deveria querer sua
herança se não queria ser um homem morto sem que a profecia se cumprisse; quarto,
Deus fez um exército inteiro cair em sono profundo para que Davi e Abisai
pudessem chegar até Saul. Por que Deus faria tudo isso? Parecia a Abisai que
Davi nunca mais teria uma chance como esta novamente.
Todas essas razões pareciam boas. Elas faziam sentido, e Davi
estava sendo encorajado por um irmão. Então, se Davi estava um pouquinho só,
ofendido, teria uma justificativa para permitir que Abisai encravasse a lança a
em Saul.
Veja resposta de Davi:
Davi não mataria Saul, apesar dele ter assassinado inocentes e desejado o mesmo de Davi também. Davi não se vingaria; deixou a vingança nas mãos de Deus.
Certamente, teria sido mais fácil colocar um ponto final em
tudo naquele momento - mais fácil para Davi e para o povo de Israel. Ele
sabia que a nação era como um rebanho de ovelhas sem pastor. Sabia que um lobo
os estava roubando por causa de desejos egoístas. Foi difícil para ele não se
defender, mas era provavelmente mais difícil não libertar o povo, a quem amava,
de um rei louco. Tomou essa decisão, mesmo sabendo que o único conforto
de Saul seria sua morte.
Davi provou a pureza de seu coração quando poupou Saul a
primeira vez. Até mesmo quando Davi teve uma segunda oportunidade de matar
Saul, ele nem o tocou. Saul era ungido de Deus e Davi o deixou nas mãos de Deus
para que Ele o julgasse,
Quantos possuem o coração como o de Davi? Não usamos mais
espadas reais para assassinar, mas outro tipo de espada para arruinar os
outros: a língua. "A morte e a vida estão no poder da língua” (Pv 18:21).
Igrejas se dividem, famílias se separam, casamentos se
quebram e o amor morre, esmagado pelo constante massacre de palavras usadas
para machucar e frustrar. Ofendidos pelos amigos, pela família e pelos líderes,
atingimos com palavras afiadas cheias de amargura e ódio. Mesmo que a
informação seja verdadeira, os motivos são impuros.
Em Provérbios 6:16-19 está escrito que semear discórdia e
contenda entre irmãos é abominação para o Senhor. Quando repetimos algo com
intenção de separação ou danos a relacionamentos e reputação - mesmo que seja
verdade - estamos afrontando Deus.
Durante sete anos trabalhei no ministério de assistência
social e pastoreei os jovens antes de Deus liberar-me e a minha esposa para
este ministério atual. Quando era pastor de jovens, havia um homem que não
gostava de mim ou de minhas pregações. Geralmente, isso não me afetava, mas
esse homem era autoridade sobre mim. Acreditava que Deus me havia dito para
pregar sobre pureza e ousadia aos jovens, e seu filho fazia parte do grupo. O
coração desse jovem estava começando a borbulhar. Um dia, ele veio a nós
chorando. Ele estava extremamente chateado porque sentia que o estilo de vida
que experimentava em sua casa contradizia com o que eu o desafiava a seguir.
Esse incidente e outros conflitos pessoais fizeram com que
seu pai se decidisse livrar de mim. Ele ia ao pastor titular por causa do ódio
que sentia por mim e me acusava injustamente. Depois, vinha até mim dizendo
como o pastor titular estava contra mim, mas que ele próprio me defendia. Houve
uma série de memorandos que, apesar de não terem meu nome escrito, indicavam
que se tratava de minha pessoa. Ele sorria para mim, mas sua intenção era me
destruir.
Vários membros do grupo de jovens disseram ter ouvido que eu
ia ser despedido. O filho desse homem estava espalhando a notícia não de forma maliciosa,
mas apenas repetindo o que ouvira em casa. Eu estava com muita raiva e confuso.
Fui até esse homem e ele admitiu ter dito isso, mas estava apenas repetindo os
pensamentos do pastor titular.
Muitos meses se passaram e parecia que nada aliviava a situação.
Ele impedia qualquer contato entre eu e o pastor titular. Isso não só acontecia
comigo, mas com todos os outros pastores que não estavam a seu favor.
Minha família estava sob constante pressão, sem saber se
continuaríamos na igreja ou se nos mandariam embora. Havíamos comprado uma
casa, minha esposa estava grávida e não tínhamos para onde ir. Não
queria enviar currículos procurando outra posição. Acreditava que Deus havia
mandado para aquela igreja, e não queria recorrer a nenhum plano B.
Minha esposa estava com os nervos à flor da pele.
"Querido, sei que irão despedir você. Todos dizem isso."
"Eles não me contrataram e não podem despedir-me sem a
aprovação de Deus", disse-lhe. Ela achava que eu estava negando as
circunstâncias e me implorou que saísse de lá logo.
Finalmente, recebi a notícia de que a decisão final sobre
minha saída sido tomada. O pastor titular anunciou que a igreja estava passando
por um momento de mudanças em relação aos jovens. Eu ainda não havia conversado
com ele sobre o conflito com o líder que ele tinha escolhido para mim. Tinha um
encontro com o pastor num dia, e o outro líder ia conversar com ele no dia
seguinte. Deus me impediu de me defender.
Quando o pastor e eu nos encontramos, me surpreendi ao
encontrá-lo sentado, só, em seu gabinete. Ele olhou para mim e disse:
"John, Deus o enviou para esta igreja. Eu não deixarei que se vá". Eu
estava aliviado. Deus me protegeu no último instante.
"Por que este homem o persegue?" - o pastor me
perguntou. “Por favor, acerte as coisas entre vocês dois."
Um pouco depois da reunião, recebi evidências escritas da
decisão do líder em relação às minhas áreas de responsabilidade. Seus
verdadeiros motivos estavam expostos. Estava pronto para levar o papel ao
pastor titular.
Naquele dia, andei pela sala e orei por quarenta e cinco
minutos, tentando superar o mal-estar que sentia. Eu dizia,
"Deus, esse homem tem sido muito desonesto e perverso. Ele deve ser
desmascarado. É uma pessoa destrutiva no ministério. Tenho de dizer ao pastor
quem ele realmente é".
Mais tarde, quis justificar minhas intenções de
desmascará-lo: "Tudo que vou relatar é fato e está documentado, não é nada
levado pela emoção. Se ele não for detido, sua maldade vai infiltrar-se na
igreja". Finalmente, muito
frustrado, bradei: "Deus, o Senhor não quer que eu o exponha, quer?"
Quando pronunciei essas palavras, a paz de Deus inundou meu
coração. Sacudi minha cabeça maravilhado. Sabia que Deus não queria,
que tomasse providências, e então joguei fora todas as evidências. Mais tarde,
quando pude analisar a situação com mais objetividade, percebi que queria
vingar-me mais do que proteger pessoas no ministério. Havia me convencido de
que meus motivos não eram egoístas. Minhas informações eram precisas, mas meus
motivos eram impuros.
O tempo passou e um dia, quando estava orando do lado de fora
da igreja antes do expediente, aquele homem caminhava em direção ao prédio.
Deus me impeliu a ir até ele e me humilhar. Imediatamente fiquei na defensiva.
"Não, Senhor, ele é que tem que vir até mim. Ele é o responsável por todo
este problema".
Continuei orando mas, novamente, o Senhor insistiu em que eu
de veria ir imediatamente até ele e me humilhar. Sabia que era Deus. Liguei
para seu gabinete e fui até lá. O que disse e como disse foi muito diferente do
que teria sido se Deus não tivesse tratado comigo antes.
Com toda sinceridade, pedi perdão. "Tenho criticado e
julgado você", confessei.
Ele, imediatamente, relaxou, e então caminhamos juntos
durante uma hora. Daquele dia em diante, seus ataques contra mim cessaram,
apesar de ainda haver alguns problemas entre ele e outros pastores.
Seis meses mais tarde, quando estava ministrando fora do
país, tudo o que aquele homem havia feito de errado foi exposto ao pastor
titular. Nada tinha a ver comigo, mas com outras áreas do ministério. O que ele
estava fazendo era bem pior do que eu sabia. Ele foi, imediatamente, demitido.
O juízo veio, mas não por intermédio de minhas mãos. O mesmo
que ele quis fazer comigo acabou acontecendo com ele. Quando tudo isso porém
aconteceu, não fiquei contente. Fiquei triste por ele e sua família. Compreendi
sua dor porque eu mesmo já havia passado por ela quando estava nas mãos daquele
homem.
Eu o amava, já que o havia perdoado seis meses antes. Não
queria que isso estivesse acontecendo com ele. Se ele houvesse sido despedido
quando eu ainda estava com raiva, teria ficado contente. Eu sabia que estava
livre da ofensa que guardava. Humildade e o fato de não aceitar vingança, me
livraram da prisão da ofensa.
Um ano mais tarde, encontrei com ele no aeroporto. Eu estava
atordoado com o amor de Deus. Corri até ele e o abracei. Se não me houvesse
humilhado naquele dia no gabinete, não teria sido capaz de olhá-lo nos olhos
aquele dia no aeroporto. Já se passaram sete anos desde que o vi, mas
sinto muito amor por ele, e é meu desejo que a vontade de Deus se cumpra em sua
vida.
Davi foi muito sábio quando decidiu deixar Deus ser o juiz.
Você pode perguntar: "Quem Deus usou para julgar Saul, seu servo?" Os
filisteus. Saul, juntamente com seus filhos, morreu combatendo os filisteus.
Quando a notícia chegou até Davi, ele não comemorou. Ficou de luto.
Um homem cheio de si disse a Davi que havia matado Saul. Ele
esperava que a notícia o favorecesse, mas ela teve o efeito oposto. "Como,
então, não teve medo de matar o ungido de Deus?", Davi perguntou. Ordenou
então, que o homem fosse executado (veja 2 Sm 1.14, 15).
Davi, então, compôs uma canção para o povo de Judá cantar em
honra de Saul e seus filhos. Davi pediu ao povo que não noticiasse nas cidades
dos filisteus, para que eles não se alegrassem. Ordenou que não chovesse, nem
nada crescesse no lugar onde Saul foi morto. Conclamou o povo de Israel para
chorar a morte de Saul. Este não é um coração ofendido de um homem. Um homem
ofendido teria dito “Teve o que merecia!”
Davi foi, ainda, mais longe. Não matou os que ficaram da casa
de Saul, em vez disso, providenciou comida e terra e concedeu a um descendente
um lugar à mesa do rei. Alguma semelhança com um homem ofendido?
Embora Davi tivesse sido rejeitado por aquele que deveria ter
sido como um pai para ele, permaneceu fiel até apôs a morte de Saul. É fácil
ser fiel a um líder ou pai que nos ama, mas que dizer daqueles que nos
destroem? Você quer ser um homem ou mulher que age segundo o coração de Deus,
ou pretende vingar-se?