(Gn 50:19, 20)
Comecemos com a
seguinte pergunta: Se você foi maltratado, você tem o direito de se sentir
ofendido? Em resposta, vamos considerar vida do filho preferido de Jacó, José
(veja Gn 37:48).
José era o décimo primeiro filho de Jacó. Ele era desprezado
por seus irmãos mais velhos por causa do favoritismo de seu pai que o separou,
dando-lhe uma túnica talar colorida. Deus deu a José, dois sonhos. No primeiro,
ele viu feixes num campo. O feixe de José ficava de pé, enquanto os dos irmãos
se inclinavam perante o dele. No segundo sonho, o Sol, a Lua e onze estrelas
(representando seu pai, sua mãe e irmãos) inclinando-se perante ele. Quando
José lhes contou os sonhos, os irmãos obviamente não ficaram muito entusiasmados.
Eles o odiaram mais ainda.
Pouco depois, seus dez irmãos foram levar o rebanho de seu
pai para o pasto. Jacó enviou José para ver o trabalho deles. Quando viram José
se aproximando, conspiraram contra ele, dizendo: "Lá vem o sonhador, Vamos
matá-lo! Veremos o que será feito de seu sonho! Ele diz que será o líder.
Deixemo-lo tentar nos liderar quando estiver mortos" Então, jogaram-no
numa cisterna para que morresse. Tiraram-lhe a túnica, rasgaram-na e
mancharam-na com sangue de animal para convencer o pai de que José tinha sido
devorado por um animal selvagem.
Após jogarem José na cisterna, viram uma caravana de
ismaelitas a caminho para o Egito. Então, Judá disse: "Esperem um momento.
Se deixarmos que apodreça na cisterna, não teremos proveito algum. Vamos ganhar
algum dinheiro vendendo-o como escravo. Será como se estivesse morto; não nos
importunará mais e ainda dividiremos o lucro!" Dessa forma, venderam-no
por vinte ciclos de prata. José os ofendera, por isso o traíram, privando-o de
sua herança e de sua família. Prestem atenção. Foram os irmãos que
fizeram isso: o mesmo pai, a mesma carne e o sangue.
É difícil compreender a severidade com que esses homens
praticaram esse ato. Matá-lo já teria sido horrível o suficiente. Naquele
tempo, era muito importante ter filhos. Os filhos de um homem carregavam seu
nome e herdavam tudo o que possuía. Quando alguém era vendido como escravo a
outro país, permanecia escravo até à morte. A mulher com quem se casasse seria
escrava, e todos os seus filhos também!
Deveria ser terrível nascer como escravo, mas era
indescritivelmente pior nascer herdeiro de uma grande fortuna, com um grande
futuro e ter tudo roubado. Teria sido mais fácil se José nunca soubesse como
seria sua vida. Era como se fosse um morto-vivo. Tenho certeza de que preferia
ter sido morto por seus irmãos. O que seus irmãos fizeram era mau e cruel.
Você, que leu essa paráfrase da história de José,
provavelmente já compreendeu o resultado. É uma história que nos serve de
inspiração quando conhecemos o final. Mas não foi assim que José a viveu.
Parecia que ele nunca mais veria seu pai e a realização do sonho dado por Deus.
Ele era escravo num país estrangeiro. Não poderia sair do Egito. Era
propriedade de um outro homem.
José foi vendido a um homem chamado Potifar, um oficial de
Faraó e capitão da guarda. Ele serviu àquele homem por dez anos. Nunca mais
teve notícias de sua família e também sabia que seu pai o considerava morto.
Não tinha mais esperanças de que seu pai o resgatasse.
O tempo passava e José encontrou o favor de seu dono e era
muito bem tratado. Potifar lhe confiou toda sua casa e tudo o que possuía.
Todas as condições eram favoráveis a José, mas algo muito
errado estava sendo gerado no coração da esposa de Potifar. Ela lançava olhares
a José e queria cometer adultério com ele. Diariamente, tentava seduzi-lo e ele
a recusava. Um dia, estando os dois sós na casa, ela o encurralou e insistiu em
deitar-se com ele. José recusou e correu, deixando sua túnica talar para trás,
nas mãos da mulher. Quando isso aconteceu, ela gritou: "Estupro!"
Potifar, então, jogou José na prisão de Faraó. A prisão do Faraó não era
exatamente como as nossas prisões atuais da América. Já ministrei em várias
delas e, por mais desagradáveis que sejam, seriam consideradas clubes de campo
em comparação aos calabouços do Faraó. Sem sol ou área de ginástica, era um
lugar subterrâneo, desprovido de qualquer luz ou calor. As condições variavam
de cruéis a desumanas. Os prisioneiros eram deixados lá até apodrecerem,
enquanto ainda sobreviviam com "escassez” de pão e água(1Rs.22:27).
Recebiam comida suficiente para sobreviver, a fim de que sofressem mais.
Segundo o Salmo 105:18, os pés de José doíam por causa dos grilhões que o prendiam.
Ele foi largado no calabouço para morrer.
Se ele fosse egípcio, talvez tivesse alguma chance de ser
libertado, mas como escravo estrangeiro, acusado de estupro, tinha pouca ou
nenhuma esperança. As coisas não poderiam estar piores. José foi rebaixado ao
máximo possível, sem que estivesse morto.
Você consegue imaginar seus pensamentos na escuridão úmida do
calabouço? “Eu sirvo a meu senhor com honestidade e integridade por dez anos.
Sou mais fiel que sua esposa. Fui leal a Deus e a meu senhor diariamente fugindo
da imoralidade sexual. Qual foi minha recompensa? O calabouço! Quanto mais
tento fazer o que é correto, a situação piora! Como Deus pôde permitir isso?!
Será que meus irmãos poderiam roubar também minha promessa de Deus? Por que
este Deus poderoso, o Deus da aliança, não intervém em meu favor? É assim que
um Deus amoroso e fiel cuida de seus servos? Por que eu? Que fiz para merecer
isto? Apenas cri que ouvia a voz de Deus".
Tenho certeza de que ele lutou contra esses pensamentos ou
pensamentos parecidos. José tinha uma liberdade muito limitada mas, ainda
assim, tinha o direito de escolher a reação a tudo o que estava acontecendo com
ele. Será que sentia-se ofendido e amargurado com seus irmãos e até com Deus?
Desistiu de ter esperança no cumprimento da promessa, privando-se da última
coisa que ainda lhe dava motivação para viver?
Imagino que nunca passou pela mente de José, até que tudo
terminou, que esse era o processo de Deus para prepará-lo para ser líder. Como
usaria sua autoridade futura sobre seus irmãos que o traíram? Ele estava
aprendendo com tudo que sofrera a ser obediente. Seus irmãos eram instrumentos
habilidosamente manipulados por Deus. José se agarrou à promessa, buscando o
propósito de Deus?
Talvez quando José teve seus sonhos os tenha visto como uma
confirmação do favor em sua vida. Ele ainda não havia aprendido que a
autoridade é dada para servir, e não para separar. Geralmente, nos processos de
treinamento enfocamos a impossibilidade de nossas circunstâncias em vez da
grandeza de Deus. Como resultado, sentimo-nos desencorajados e necessitamos de
alguém que sirva de culpado. Então, buscamos aquele que nos causou todo o nosso
desespero. Quando enfrentamos o fato de que Deus poderia ter evitado toda nossa
confusão - e não o fez - freqüentemente o culpamos.
Isso ficou atormentando a mente de José: "Vivi de acordo
com o que sei de Deus. Não transgredi seus estatutos ou sua natureza. Apenas
repeti o sonho que o próprio Deus me deu. E qual foi o resultado? Meus irmãos
me traíram e fui vendido como escravo! Meu pai acha que estou morto, e nunca
virá ao Egito para me encontrar".
Para José, tudo se resumia em seus irmãos. Eles eram a força
que o jogara no calabouço. Provavelmente, José pensava como as coisas seriam
diferentes quando estivesse no poder, quando Deus lhe desse a posição de
autoridade que viu em seu sonho. Como tudo teria sido diferente se seus irmãos
não tivessem abortado seu futuro!
Quantas vezes vemos nossos irmãos e irmãs caindo na mesma
armadilha de culpar os outros? Por exemplo:
"Se não fosse minha esposa, poderia estar no ministério.
Ela tem impedido e destruído muito aquilo com que sonhei".
"Se não fossem meus pais, eu teria tido uma vida normal.
Eles são culpados pela situação na qual me encontro hoje. Como é que os outros
têm pais normais e eu não? Se meus pais não tivessem divorciado, eu teria sido
mais bem-sucedido no meu próprio casamento."
"Se não fosse o meu pastor haver reprimido os dons que
tenho, eu teria tido liberdade. Ele não permitiu que eu seguisse meu destino no
ministério. Ele fez com que as outras pessoas se virassem contra mim."
"Senão fosse meu ex-marido, meus filhos e eu não
teríamos tido este problema financeiro."
"Se não fosse aquela mulher da igreja, eu ainda teria o
respeito dos líderes. Por causa de suas fofocas, ela destruiu-me e a qualquer esperança
que tinha de ser respeitada."
A lista é interminável. É muito fácil culpar os outros pelos
nossos problemas e imaginar como estaríamos bem melhor se não fosse pelos
outros ao nosso redor. Sabemos que nossa decepção e nossa mágoa são culpa
deles.
Gostaria de enfatizar o seguinte ponto: Absolutamente, nenhum
homem, mulher criança ou demônio poderá tirá-lo da vontade de Deus! Ninguém a
não ser Deus, detém seu destino.” Os irmãos de José tentaram de todos os modos,
destruir a visão que Deus lhe deu. Eles pensaram ter acabado com José. Disseram
com suas próprias palavras: "Vinde, pois, agora matemo-lo e lancemo-lo
numa destas cisternas [...] vejamos em que lhe darão os sonhos" (Gn 37:20
- Grifo acrescido). Estavam a fim de destruí-lo. Não foi um acidente. Foi
deliberado! Não queriam que existisse oportunidade para o sucesso dele.
Agora, você acha que quando os irmãos de José o venderam como
escravo Deus lá do céu olhou para o Filho e para o Espírito Santo e disse:
"Que faremos agora? Vejam o que os irmãos de José fizeram eles destruíram
nossos planos para José. Temos de pensar em algo, rápido! Temos outro plano
alternativo?"
Muitos crentes reagem às situações de crise como se fosse
exatamente assim que acontecesse no céu. Você consegue ver o Pai dizendo a
Jesus: "Jesus, Jim acabou de ser demitido por causa de uma mentira de um
colega de trabalho. Que faremos agora? Você tem alguma outra vaga aberta para
ele lá embaixo?" Ou "Jesus, Sally está com trinta e quatro anos e
ainda não se casou. Você tem algum rapaz disponível para ela lá embaixo? O
rapaz com quem queria que ela se casasse casou-se com sua melhor amiga, que fez
uma fofoca sobre ela e roubou o coração do rapaz". Parece uma coisa absurda,
e mesmo assim a forma como reagimos insinua que esse é o modo como vemos a
Deus.
Vejamos o que aconteceria com José em nossas igrejas
atualmente. Se ele fosse como a maioria de nós, você sabe o que estaria
fazendo? Planejando uma vingança. Ele se confortaria com pensamentos como:
"Quando eu colocar as mãos naquela pessoa, eu a matarei! Eu a matarei pelo
que fez comigo. Ela me paga".
Mas, se José houvesse, realmente, tido essa atitude, Deus o
deixaria apodrecer no calabouço! Isso porque, se tivesse saído da prisão com
este impulso, teria matado, cortado a cabeça de dez líderes das tribos de
Israel, até mesmo Judá, linhagem da qual descende Jesus.
Exatamente os que mais maltrataram José foram os patriarcas
de Israel E Deus prometeu a Abraão que eles começariam uma nação.
Através deles Jesus viria! José se livrou da ofensa, e o plano de Deus foi
cumprido na sua vida e na de seus irmãos.
A prisão foi um teste para José, mas foi também uma época de
oportunidade. Havia dois outros prisioneiros com José, e ambos tiveram sonhos
muito vívidos e atormentadores. José interpretou ambos os sonhos com grande
exatidão. Um dos homens seria restaurado, enquanto o outro seria executado.
José pediu àquele que seria restaurado que se lembrasse dele quando tivesse
readquirido o favor de Faraó. O homem voltou a servir ao Faraó, mas dois anos
se passaram e ele não deu notícias. Foi outra decepção para José e outra
oportunidade para ficar ofendido.
Chegou a vez de o Faraó ter um sonho perturbador. Nenhum de
seus magos ou sábios puderam dar-lhe explicação. Foi então que o servo
restaurado se lembrou de José. Ele compartilhou como José tinha interpretado o
seu próprio sonho e o sonho de seu companheiro na prisão, José foi trazido ao
Faraó, disse-lhe o significado de seu sonho - a fome i ria assolar o país - e,
sabiamente instruiu-o sobre como se preparar para a crise. O Faraó,
imediatamente, o promoveu. Ele seria o segundo homem mais importante no comando
do Egito. José, com a sabedoria que Deus lhe dera, preparou tudo para a fome
que estava por vir.
Mais tarde, quando a fome chegou a todas as nações
conhecidas, os irmãos de José foram ao Egito buscar ajuda. Se José guardava
alguma coisa em seu coração contra seus irmãos, esta seria a hora da desforra.
Ele poderia tê-los jogado na prisão, torturado e até mesmo matado. Não seria
culpado, porque era o segundo homem mais importante do Egito. Seus irmãos não
tinham nenhuma importância para Faraó.
Mas José decidiu dar-lhes os grãos sem pagamento. Depois,
receberam a melhor terra do Egito para suas famílias e do melhor que ela
oferecia. Em resumo: tudo o que havia melhor no Egito lhes foi dado.
José terminou abençoando aqueles que o amaldiçoaram e fazendo o bem àqueles que
o odiavam (veja Mt 5:44).
Deus sabia o que os irmãos de José iriam fazer antes mesmo
que o fizessem. De fato, o Senhor sabia o que eles iriam fazer antes de dar o
sonho a José e antes mesmo do nascimento deles.
Vejamos o que José disse a seus irmãos quando se reuniram:
Como já foi discutido, nenhum homem mortal ou demônio pode
antecipar-se aos planos de Deus para sua vida. Se você conhecer a verdade, ela
o libertará. Mas há somente uma pessoa que pode tirá-lo da vontade de Deus, e essa
pessoa é você!
Considere os filhos de
Israel. Deus enviou um libertador, Moisés, para tirá-los da escravidão do Egito
e levá-los à Terra Prometida. Após um ano no deserto, os líderes foram enviados
para espionar a terra. Eles voltaram reclamando. Tinham medo das outras nações
que ocupavam a terra e tinham um contingente militar maior e mais forte.
Todos os israelitas, com exceção de Josué e Calebe,
concordaram com os líderes. Eles sentiam como se Deus os houvesse trazido para
morrer. Ficaram ofendidos com Moisés e com Deus. Essa situação continuou por
mais de um ano. Porque se sentiam ofendidos, aquela geração nunca viu a terra
que Deus prometera.
Muitos servem a Deus de todo o coração e passam por situações
muito difíceis por terem sido maltratados por ímpios ou crentes carnais. A
verdade é que foram tratados injustamente. Mas ficar ofendido apenas cumpre o
propósito do inimigo de tirá-lo da vontade de Deus.
Se você ficar livre da ofensa, permanecerá na vontade de
Deus. Se você continuar ofendido, será levado ao cativeiro pelo inimigo a fim
de cumprir seu próprio propósito e sua vontade. Faça sua escolha. É muito mais
proveitoso ficar livre da ofensa.
Devemos lembrar-nos de que nada pode vir contra nós sem o
conhecimento prévio de Deus. Se o diabo pudesse destruir-nos a qualquer
momento, já nos teria aniquilado há muito tempo, porque ele, com toda a sua
força, odeia o homem. Lembre-se sempre desta exortação:
Lembre-se, então: submeta-se a Deus, não aceitando ofensa;
resista ao diabo, e ele fugirá de você (Tg 4:7). Resistimos ao diabo quando não
nos ofendemos. O sonho ou a visão, provavelmente acontecerá diferentemente do
que você imaginou, mas a Palavra e as promessas de Deus nunca falharão. Só nos
arriscamos a abortá-los quando estamos em desobediência.
Muitas pessoas nunca tiveram o tratamento que José recebeu de
seus irmãos. Não teria sido tão dolorido se seus inimigos houvessem feito isso.
Mas foram seus irmãos, sua carne e seu sangue. Eles é que deveriam ter
encorajado, apoiado, defendido José e cuidado dele. Poderia haver uma situação
pior do que essa que José viveu?