quarta-feira, 9 de junho de 2021

A isca de satanás 03 - Como isto pode acontecer comigo


 Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus?

(Gn 50:19, 20)

 No primeiro capítulo agrupamos todas as pessoas ofendidas em duas categorias principais: a) aquelas que, genuinamente foram maltratadas e b) aquelas que pensam que foram maltratadas mas, na realidade não foram Neste capítulo gostaria de me dirigir à primeira categoria.

  Comecemos com a seguinte pergunta: Se você foi maltratado, você tem o direito de se sentir ofendido? Em resposta, vamos considerar vida do filho preferido de Jacó, José (veja Gn 37:48).

 O sonho se torna um pesadelo

José era o décimo primeiro filho de Jacó. Ele era desprezado por seus irmãos mais velhos por causa do favoritismo de seu pai que o separou, dando-lhe uma túnica talar colorida. Deus deu a José, dois sonhos. No primeiro, ele viu feixes num campo. O feixe de José ficava de pé, enquanto os dos irmãos se inclinavam perante o dele. No segundo sonho, o Sol, a Lua e onze estrelas (representando seu pai, sua mãe e irmãos) inclinando-se perante ele. Quando José lhes contou os sonhos, os irmãos obviamente não ficaram muito entusiasmados. Eles o odiaram mais ainda.

Pouco depois, seus dez irmãos foram levar o rebanho de seu pai para o pasto. Jacó enviou José para ver o trabalho deles. Quando viram José se aproximando, conspiraram contra ele, dizendo: "Lá vem o sonhador, Vamos matá-lo! Veremos o que será feito de seu sonho! Ele diz que será o líder. Deixemo-lo tentar nos liderar quando estiver mortos" Então, jogaram-no numa cisterna para que morresse. Tiraram-lhe a túnica, rasgaram-na e mancharam-na com sangue de animal para convencer o pai de que José tinha sido devorado por um animal selvagem.

Após jogarem José na cisterna, viram uma caravana de ismaelitas a caminho para o Egito. Então, Judá disse: "Esperem um momento. Se deixarmos que apodreça na cisterna, não teremos proveito algum. Vamos ganhar algum dinheiro vendendo-o como escravo. Será como se estivesse morto; não nos importunará mais e ainda dividiremos o lucro!" Dessa forma, venderam-no por vinte ciclos de prata. José os ofendera, por isso o traíram, privando-o de sua herança e de sua família. Prestem atenção. Foram os irmãos que fizeram isso: o mesmo pai, a mesma carne e o sangue.

É difícil compreender a severidade com que esses homens praticaram esse ato. Matá-lo já teria sido horrível o suficiente. Naquele tempo, era muito importante ter filhos. Os filhos de um homem carregavam seu nome e herdavam tudo o que possuía. Quando alguém era vendido como escravo a outro país, permanecia escravo até à morte. A mulher com quem se casasse seria escrava, e todos os seus filhos também!

Deveria ser terrível nascer como escravo, mas era indescritivelmente pior nascer herdeiro de uma grande fortuna, com um grande futuro e ter tudo roubado. Teria sido mais fácil se José nunca soubesse como seria sua vida. Era como se fosse um morto-vivo. Tenho certeza de que preferia ter sido morto por seus irmãos. O que seus irmãos fizeram era mau e cruel.

 Compreendendo perfeitamente o que acontecera

Você, que leu essa paráfrase da história de José, provavelmente já compreendeu o resultado. É uma história que nos serve de inspiração quando conhecemos o final. Mas não foi assim que José a viveu. Parecia que ele nunca mais veria seu pai e a realização do sonho dado por Deus. Ele era escravo num país estrangeiro. Não poderia sair do Egito. Era propriedade de um outro homem.

José foi vendido a um homem chamado Potifar, um oficial de Faraó e capitão da guarda. Ele serviu àquele homem por dez anos. Nunca mais teve notícias de sua família e também sabia que seu pai o considerava morto. Não tinha mais esperanças de que seu pai o resgatasse.

O tempo passava e José encontrou o favor de seu dono e era muito bem tratado. Potifar lhe confiou toda sua casa e tudo o que possuía.

Todas as condições eram favoráveis a José, mas algo muito errado estava sendo gerado no coração da esposa de Potifar. Ela lançava olhares a José e queria cometer adultério com ele. Diariamente, tentava seduzi-lo e ele a recusava. Um dia, estando os dois sós na casa, ela o encurralou e insistiu em deitar-se com ele. José recusou e correu, deixando sua túnica talar para trás, nas mãos da mulher. Quando isso aconteceu, ela gritou: "Estupro!" Potifar, então, jogou José na prisão de Faraó. A prisão do Faraó não era exatamente como as nossas prisões atuais da América. Já ministrei em várias delas e, por mais desagradáveis que sejam, seriam consideradas clubes de campo em comparação aos calabouços do Faraó. Sem sol ou área de ginástica, era um lugar subterrâneo, desprovido de qualquer luz ou calor. As condições variavam de cruéis a desumanas. Os prisioneiros eram deixados lá até apodrecerem, enquanto ainda sobreviviam com "escassez” de pão e água(1Rs.22:27). Recebiam comida suficiente para sobreviver, a fim de que sofressem mais. Segundo o Salmo 105:18, os pés de José doíam por causa dos grilhões que o prendiam. Ele foi largado no calabouço para morrer.

Se ele fosse egípcio, talvez tivesse alguma chance de ser libertado, mas como escravo estrangeiro, acusado de estupro, tinha pouca ou nenhuma esperança. As coisas não poderiam estar piores. José foi rebaixado ao máximo possível, sem que estivesse morto.

Você consegue imaginar seus pensamentos na escuridão úmida do calabouço? “Eu sirvo a meu senhor com honestidade e integridade por dez anos. Sou mais fiel que sua esposa. Fui leal a Deus e a meu senhor diariamente fugindo da imoralidade sexual. Qual foi minha recompensa? O calabouço! Quanto mais tento fazer o que é correto, a situação piora! Como Deus pôde permitir isso?! Será que meus irmãos poderiam roubar também minha promessa de Deus? Por que este Deus poderoso, o Deus da aliança, não intervém em meu favor? É assim que um Deus amoroso e fiel cuida de seus servos? Por que eu? Que fiz para merecer isto? Apenas cri que ouvia a voz de Deus".

Tenho certeza de que ele lutou contra esses pensamentos ou pensamentos parecidos. José tinha uma liberdade muito limitada mas, ainda assim, tinha o direito de escolher a reação a tudo o que estava acontecendo com ele. Será que sentia-se ofendido e amargurado com seus irmãos e até com Deus? Desistiu de ter esperança no cumprimento da promessa, privando-se da última coisa que ainda lhe dava motivação para viver?

 Deus está no controle?

Imagino que nunca passou pela mente de José, até que tudo terminou, que esse era o processo de Deus para prepará-lo para ser líder. Como usaria sua autoridade futura sobre seus irmãos que o traíram? Ele estava aprendendo com tudo que sofrera a ser obediente. Seus irmãos eram instrumentos habilidosamente manipulados por Deus. José se agarrou à promessa, buscando o propósito de Deus?

Talvez quando José teve seus sonhos os tenha visto como uma confirmação do favor em sua vida. Ele ainda não havia aprendido que a autoridade é dada para servir, e não para separar. Geralmente, nos processos de treinamento enfocamos a impossibilidade de nossas circunstâncias em vez da grandeza de Deus. Como resultado, sentimo-nos desencorajados e necessitamos de alguém que sirva de culpado. Então, buscamos aquele que nos causou todo o nosso desespero. Quando enfrentamos o fato de que Deus poderia ter evitado toda nossa confusão - e não o fez - freqüentemente o culpamos.

Isso ficou atormentando a mente de José: "Vivi de acordo com o que sei de Deus. Não transgredi seus estatutos ou sua natureza. Apenas repeti o sonho que o próprio Deus me deu. E qual foi o resultado? Meus irmãos me traíram e fui vendido como escravo! Meu pai acha que estou morto, e nunca virá ao Egito para me encontrar".

Para José, tudo se resumia em seus irmãos. Eles eram a força que o jogara no calabouço. Provavelmente, José pensava como as coisas seriam diferentes quando estivesse no poder, quando Deus lhe desse a posição de autoridade que viu em seu sonho. Como tudo teria sido diferente se seus irmãos não tivessem abortado seu futuro!

Quantas vezes vemos nossos irmãos e irmãs caindo na mesma armadilha de culpar os outros? Por exemplo:

"Se não fosse minha esposa, poderia estar no ministério. Ela tem impedido e destruído muito aquilo com que sonhei".

"Se não fossem meus pais, eu teria tido uma vida normal. Eles são culpados pela situação na qual me encontro hoje. Como é que os outros têm pais normais e eu não? Se meus pais não tivessem divorciado, eu teria sido mais bem-sucedido no meu próprio casamento."

"Se não fosse o meu pastor haver reprimido os dons que tenho, eu teria tido liberdade. Ele não permitiu que eu seguisse meu destino no ministério. Ele fez com que as outras pessoas se virassem contra mim."

"Senão fosse meu ex-marido, meus filhos e eu não teríamos tido este problema financeiro."

"Se não fosse aquela mulher da igreja, eu ainda teria o respeito dos líderes. Por causa de suas fofocas, ela destruiu-me e a qualquer esperança que tinha de ser respeitada."

A lista é interminável. É muito fácil culpar os outros pelos nossos problemas e imaginar como estaríamos bem melhor se não fosse pelos outros ao nosso redor. Sabemos que nossa decepção e nossa mágoa são culpa deles.

Gostaria de enfatizar o seguinte ponto: Absolutamente, nenhum homem, mulher criança ou demônio poderá tirá-lo da vontade de Deus! Ninguém a não ser Deus, detém seu destino.” Os irmãos de José tentaram de todos os modos, destruir a visão que Deus lhe deu. Eles pensaram ter acabado com José. Disseram com suas próprias palavras: "Vinde, pois, agora matemo-lo e lancemo-lo numa destas cisternas [...] vejamos em que lhe darão os sonhos" (Gn 37:20 - Grifo acrescido). Estavam a fim de destruí-lo. Não foi um acidente. Foi deliberado! Não queriam que existisse oportunidade para o sucesso dele.

Agora, você acha que quando os irmãos de José o venderam como escravo Deus lá do céu olhou para o Filho e para o Espírito Santo e disse: "Que faremos agora? Vejam o que os irmãos de José fizeram eles destruíram nossos planos para José. Temos de pensar em algo, rápido! Temos outro plano alternativo?"

Muitos crentes reagem às situações de crise como se fosse exatamente assim que acontecesse no céu. Você consegue ver o Pai dizendo a Jesus: "Jesus, Jim acabou de ser demitido por causa de uma mentira de um colega de trabalho. Que faremos agora? Você tem alguma outra vaga aberta para ele lá embaixo?" Ou "Jesus, Sally está com trinta e quatro anos e ainda não se casou. Você tem algum rapaz disponível para ela lá embaixo? O rapaz com quem queria que ela se casasse casou-se com sua melhor amiga, que fez uma fofoca sobre ela e roubou o coração do rapaz". Parece uma coisa absurda, e mesmo assim a forma como reagimos insinua que esse é o modo como vemos a Deus.

Vejamos o que aconteceria com José em nossas igrejas atualmente. Se ele fosse como a maioria de nós, você sabe o que estaria fazendo? Planejando uma vingança. Ele se confortaria com pensamentos como: "Quando eu colocar as mãos naquela pessoa, eu a matarei! Eu a matarei pelo que fez comigo. Ela me paga".

Mas, se José houvesse, realmente, tido essa atitude, Deus o deixaria apodrecer no calabouço! Isso porque, se tivesse saído da prisão com este impulso, teria matado, cortado a cabeça de dez líderes das tribos de Israel, até mesmo Judá, linhagem da qual descende Jesus.

Exatamente os que mais maltrataram José foram os patriarcas de Israel E Deus prometeu a Abraão que eles começariam uma nação. Através deles Jesus viria! José se livrou da ofensa, e o plano de Deus foi cumprido na sua vida e na de seus irmãos.

 Será que isso poderia ficar pior?

A prisão foi um teste para José, mas foi também uma época de oportunidade. Havia dois outros prisioneiros com José, e ambos tiveram sonhos muito vívidos e atormentadores. José interpretou ambos os sonhos com grande exatidão. Um dos homens seria restaurado, enquanto o outro seria executado. José pediu àquele que seria restaurado que se lembrasse dele quando tivesse readquirido o favor de Faraó. O homem voltou a servir ao Faraó, mas dois anos se passaram e ele não deu notícias. Foi outra decepção para José e outra oportunidade para ficar ofendido.

 Deus sempre tem um plano

Chegou a vez de o Faraó ter um sonho perturbador. Nenhum de seus magos ou sábios puderam dar-lhe explicação. Foi então que o servo restaurado se lembrou de José. Ele compartilhou como José tinha interpretado o seu próprio sonho e o sonho de seu companheiro na prisão, José foi trazido ao Faraó, disse-lhe o significado de seu sonho - a fome i ria assolar o país - e, sabiamente instruiu-o sobre como se preparar para a crise. O Faraó, imediatamente, o promoveu. Ele seria o segundo homem mais importante no comando do Egito. José, com a sabedoria que Deus lhe dera, preparou tudo para a fome que estava por vir.

Mais tarde, quando a fome chegou a todas as nações conhecidas, os irmãos de José foram ao Egito buscar ajuda. Se José guardava alguma coisa em seu coração contra seus irmãos, esta seria a hora da desforra. Ele poderia tê-los jogado na prisão, torturado e até mesmo matado. Não seria culpado, porque era o segundo homem mais importante do Egito. Seus irmãos não tinham nenhuma importância para Faraó.

Mas José decidiu dar-lhes os grãos sem pagamento. Depois, receberam a melhor terra do Egito para suas famílias e do melhor que ela oferecia. Em resumo: tudo o que havia melhor no Egito lhes foi dado. José terminou abençoando aqueles que o amaldiçoaram e fazendo o bem àqueles que o odiavam (veja Mt 5:44).

Deus sabia o que os irmãos de José iriam fazer antes mesmo que o fizessem. De fato, o Senhor sabia o que eles iriam fazer antes de dar o sonho a José e antes mesmo do nascimento deles.

Vejamos o que José disse a seus irmãos quando se reuniram:

 Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós. Porque já houve dois anos de fome ti, r terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem colheita. Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus... (Gn 45:5-8 Destaques acrescidos)

 Quem enviou José? Seus irmãos ou Deus? Deus o enviou, por intermédio de duas testemunhas. José disse a seus irmãos: "Não fostes vós que me enviastes". Ouça o que o Espírito tem a dizer!

Como já foi discutido, nenhum homem mortal ou demônio pode antecipar-se aos planos de Deus para sua vida. Se você conhecer a verdade, ela o libertará. Mas há somente uma pessoa que pode tirá-lo da vontade de Deus, e essa pessoa é você!

  Considere os filhos de Israel. Deus enviou um libertador, Moisés, para tirá-los da escravidão do Egito e levá-los à Terra Prometida. Após um ano no deserto, os líderes foram enviados para espionar a terra. Eles voltaram reclamando. Tinham medo das outras nações que ocupavam a terra e tinham um contingente militar maior e mais forte.

Todos os israelitas, com exceção de Josué e Calebe, concordaram com os líderes. Eles sentiam como se Deus os houvesse trazido para morrer. Ficaram ofendidos com Moisés e com Deus. Essa situação continuou por mais de um ano. Porque se sentiam ofendidos, aquela geração nunca viu a terra que Deus prometera.

Muitos servem a Deus de todo o coração e passam por situações muito difíceis por terem sido maltratados por ímpios ou crentes carnais. A verdade é que foram tratados injustamente. Mas ficar ofendido apenas cumpre o propósito do inimigo de tirá-lo da vontade de Deus.

Se você ficar livre da ofensa, permanecerá na vontade de Deus. Se você continuar ofendido, será levado ao cativeiro pelo inimigo a fim de cumprir seu próprio propósito e sua vontade. Faça sua escolha. É muito mais proveitoso ficar livre da ofensa.

Devemos lembrar-nos de que nada pode vir contra nós sem o conhecimento prévio de Deus. Se o diabo pudesse destruir-nos a qualquer momento, já nos teria aniquilado há muito tempo, porque ele, com toda a sua força, odeia o homem. Lembre-se sempre desta exortação:

 Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar (1 C'o 10:13 - Grifo acrescido).

 Note que o versículo diz que Deus "proverá livramento", e não “proverá um livramento qualquer". Deus conhece todo tipo de circunstância adversa que encontraremos - não importa se grande ou pequena - e planejou o livramento para escaparmos. E, o que é mais interessante: quando parece que um plano de Deus foi abortado, na realidade esse vem a ser o caminho para se cumprir aquele plano, se estivermos em obediência e livre da ofensa.

Lembre-se, então: submeta-se a Deus, não aceitando ofensa; resista ao diabo, e ele fugirá de você (Tg 4:7). Resistimos ao diabo quando não nos ofendemos. O sonho ou a visão, provavelmente acontecerá diferentemente do que você imaginou, mas a Palavra e as promessas de Deus nunca falharão. Só nos arriscamos a abortá-los quando estamos em desobediência.

 Outro tipo de traição

Muitas pessoas nunca tiveram o tratamento que José recebeu de seus irmãos. Não teria sido tão dolorido se seus inimigos houvessem feito isso. Mas foram seus irmãos, sua carne e seu sangue. Eles é que deveriam ter encorajado, apoiado, defendido José e cuidado dele. Poderia haver uma situação pior do que essa que José viveu?