Depois que Bobby e eu nos tomamos irmãos, a sujeira ainda
estava lá, as pulgas ainda picavam, os insetos ainda transmitiam doenças, e eu
ainda sofria de diarréia. Mas essas coisas pareciam menos e menos significativas.
Eu havia sido aceito. Eu tinha uma família.
Bobby e eu começamos a visitar as diferentes casas comunitárias.
As selvas pareciam muito mais bonitas, quando através delas andávamos,
cantávamos e conversávamos. Eram momentos extraordinários!
As casas comunitárias dos motilones estão espalhadas por uma
grande área. Às vezes levávamos vários dias para ir de uma casa a outra. Bobby
era um dos mais fortes jovens guerreiros motilones, e o seu caminhar nas
picadas era demasiadamente apressado para mim. Quando ele observava que eu
estava exausto, parava sem dizer uma palavra e descansávamos.
Porém ele era orgulhoso. Não aceitava coisa alguma das
pessoas. Quando chegávamos à casa comunitária, às vezes ele esperava dias antes
de aceitar qualquer alimento. Comer era um sinal de fraqueza, e nenhuma espécie
de fraqueza era tolerada.
— Bobby, por que você não come? — eu perguntava.
— Não estou com fome — respondia.
Bobby estava tão decidido a ser mais forte do que qualquer
outra pessoa, que nem sempre era bem visto pelos outros motilones. Ele não
tinha condescendência nem consigo mesmo. Mas comigo ele era bondoso e gentil.
Quando voltávamos de uma de nossas viagens, soubemos que o
pai de Bobby havia falecido. Bobby me contou, não demonstrando nenhuma emoção.
Eu estava ferido e abismado. Ele fora um velho tão distinto. Havia-me recebido
no seio de sua própria família. Havia estimulado a minha amizade com Bobby. E
agora ele estava morto. Morrera durante a noite. O seu corpo ainda estava na
rede.
Ninguém parecia incomodar-se. Era o primeiro funeral
motilone a que eu estava assistindo, e não podia crer como todos eles eram tão
insensíveis. O seu corpo foi enrolado na sua rede e carregado para as selvas
por alguns homens. Foi pendurado bem alto lá nas árvores. Logo os abutres
desceram lá dos altos céus para devorá-lo.
Não havia lágrima alguma. A impressão era de que nada havia
acontecido. Anotei o seguinte no meu diário: "Essas pessoas são tão duras
como o ferro. Para elas a morte não tem grande significado. Elas não são
atingidas por nenhuma dimensão espiritual. O fato de que a pessoa não andará
mais na face da terra parece não produzir nenhum impacto nas suas vidas. E como
é que eu poderei alcançá-las com a mensagem de amor de Jesus, se nem sequer
tentam se amar?"
Por toda parte por onde eu andava, nos territórios motilones,
ouvia falar no nome de Abaratatura. Era sempre pronunciado com temor e
respeito. No idioma dos motilones, esse nome tem uma cadência toda especial que
lhe dá um quê quase mágico. Finalmente, perguntei a Bobby quem era ele.
Bobby franziu a testa. — Ele é um grande guerreiro e
caçador, muitíssimo respeitado por todos os motilones. Creio que poderia dizer
que é o chefe dos chefes.
— Onde é que ele mora?
— Em Corroroncayra. É um lugar muito distante daqui, lá nas
montanhas.
— Bobby, por que não o visitamos? Eu gostaria de me
encontrar com ele.
Bobby riu e sacudiu a cabeça. — Você quer morrer? Ele odeia
os brancos.
Esse pensamento foi um tanto amedrontador. Eu praticamente
havia-me esquecido de que os motilones matavam as pessoas; e que talvez eu
pudesse ter inimigos.
Um dia Arabadoyca e eu estávamos deitados em nossas redes
conversando quando de repente me surgiu a idéia de perguntar-lhe a respeito de
Abaratatura. — Por que ele desejaria me matar? Ele já deve saber, agora, que eu
não sou perigoso. Naturalmente ele já ouviu falar que eu moro aqui.
— Ele acha que você é o canibal da flauta mágica, — disse
Arabadoyca. — Então ele o matará antes que você o mate.
— O quê? — eu disse.— O que você quer dizer com isso?
Arabadoyca se espreguiçou. Tempo virá em que aparecerá entre
os motilones um homem branco com uma flauta mágica e ele a tocará. Através de
sua música conduzirá os motilones a uma armadilha, onde todos serão devorados
vivos.
Eu sabia que os motilones possuíam grandes tradições, porém
eu apenas ouvira algumas delas. Essa era completamente nova para mim.
— É por isso que Abaratatura me odeia? Ele pensa que eu sou
um canibal?
— Bem, você toca flauta, não toca? — Ele riu. — De qualquer
jeito, todos nós aqui não pensamos que você seja canibal. A princípio
pensávamos que você o fosse. Na realidade, Abaratatura já estava a caminho para
matá-lo quando você desapareceu, na primeira vez que esteve aqui. No dia
seguinte à sua partida, ele chegou.
Lembrei-me daquela noite, quando, doente, fugi da casa,
pensando por que cargas d'água eu fazia aquilo. Agora eu compreendia que fora
Deus quem me coagira, a fim de salvar-me a vida.
— Visto que não sofremos mal algum por sua causa —
Arabadoyca continuou — a maior parte de nós creu que você não nos prejudicaria.
Alguns, até chegaram a crer que talvez você estivesse trazendo o talo da
bananeira dado por Deus.
— Que é isso?
— Essa é outra profecia de que um homem alto, com cabelos
amarelos, virá com um talo de bananeira, e que Deus sairá desse talo.
— E você crê que eu possa ser ele?
Ele encolheu os ombros. — Você não carrega talos de
bananeiras, carrega?
— Bem — eu disse — e quanto a Abaratatura? Eu gostaria de
vê-lo.
Arabadoyca sacudiu a sua cabeça. — Você não pode ir até lá.
Ele o matará.
No entanto, uma vez posta a idéia em minha cabeça, eu não
podia me esquecer dela. Algumas semanas mais tarde, um grupo de motilones ia à
montanha visitar Abaratatura, e pedi que me deixassem ir com eles. Eles me
recusaram, mas continuei a insistir. Com muita relutância o permitiram.
Era uma viagem muito longa. Começamos num passo violento,
não parando nem mesmo para comer. Vivemos aqueles dias comendo mandioca crua,
lagartos e besouros. Depois de oito dias eu tinha uma dor aguda no peito, e
começava a vomitar todas as vezes que tentava comer. Parecia que a minha boca
estava sempre cheia de algodão. Em cada riacho que passávamos eu bebia água até
causar a sensação de que meu estômago fosse arrebentar, mas, mesmo assim a
minha boca continuava sem saliva. O nono dia se prolongou infindavelmente. Por
fim, quando ainda restavam algumas horas para andarmos, tive que pedir aos meus
companheiros que parassem.
Tentei comer um pouco da comida que Arabadoyca me trouxera,
mas ela não parou no estômago. Eu não podia imaginar que espécie de doença me
havia atingido. Mentalmente, fui repassando os meus livros de medicina,
tentando combinar os meus sintomas.
Arabadoyca veio e me pegou pelos ombros. O seu sorriso de
esguelha parecia ser tão grande e muito longe, como uma figura num sonho.
— Bruchko — ele disse — os seus olhos estão lindos! Como é
que você conseguiu fazê-los ter essa cor tão linda?
Levara algum tempo para eu compreender o que ele estava
falando. O seu rosto parecia balançar na minha frente. — Que cor? — perguntei.
— Olha, eles estão amarelos, um amarelo muito bonito. Nós
não podemos fazer com que os nossos também fiquem assim?
Olhos amarelos! Hepatite! Mais do que descanso, eu precisava
de cuidados médicos.
Mas era uma viagem de mais de oito dias até ao rio, depois
mais uma semana para se construir uma balsa e ir rio abaixo, à civilização. Eu
não chegaria vivo.
Mas ao mesmo tempo, eu não podia continuar. Não estaria em
condições de ajudar Corroroncayra. E lá eu enfrentaria a possibilidade de ser
morto de imediato. Certamente eu não teria força física para lutar.
De qualquer jeito, não havia esperança. Os troncos das
árvores, lá na selva, pareciam estar balançando na minha frente, de um lado
para outro. Eu estou doente, pensei, e com o meu estômago afundando, eu vou
morrer.
Lembrei-me da promessa que fizera a Deus quando fora
prisioneiro dos iucos. Eu prometera viver uma vida dirigida por Deus. E agora,
então, quais eram as suas instruções?
Resolvi que eu devia prosseguir. Minha vida estava nas mãos
de Deus. Ele faria com ela o que desejasse.
Os dias seguintes foram como se eu estivesse hipnotizado.
Minha pele ficou de cor amarelo-escuro. Cada passo era uma luta. Eu sentia o
corpo cambalear e lutava para manter o equilíbrio. Desmaiei uma vez e quando
voltei a mim, estava deitado numa picada, os motilones me cercando, com seus
rostos fixos em mim. Levantei-me e continuei a andar.
Algumas horas mais tarde voltei a desmaiar. Quando acordei,
um dos homens, o médico-feiticeiro — estava gritando e cantarolando por cima de
mim. Eu estava amedrontado, porém fraco demais para me mover. O seu rosto se
aproximava cada vez mais. Parecia um rosto enorme e desumano. Ele apanhou uma
faca e fez um corte em minha testa. Eu podia sentir o sangue correndo-me pelo
rosto, mas não podia mexer-me para deter o homem.
Ele apanhou uma cabaça, retirou dela um pouco de pó muito
leve e esfregou no corte, cantando constantemente os seus sortilégios.
Ergui os braços acima da cabeça e consegui detê-lo. Eu disse
a eles que não tinha certeza de que o remédio produziria bons resultados, visto
que eu não era motilone. Pedi a eles que o fizessem parar. O médico-feiticeiro
continuava a debruçar-se sobre mim, e as minhas mãos, que estavam sobre a minha
cabeça, tremiam enquanto eu falava.
Eles discutiram sobre o assunto. O médico-feiticeiro não
estava muito contente com a minha atitude. Porém eles resolveram que seria
muito melhor que ele parasse, desde que eu não desejava ser medicado.
Dois motilones me ergueram e me carregaram. Minhas pernas
iam-se arrastando pelo chão. Às vezes eu chegava a desmaiar. O caminho parecia
sem fim. Dias após dias fomos caminhando, e os motilones se revezavam para me
carregar. Eu tinha uma leve noção do que estava acontecendo. De vez em quando eu
me sentava no chão, e o meu corpo se esparramava todo, como se tivesse vontade
própria. Então, os motilones me erguiam pelas axilas, e novamente eu era
arrastado, indo aos solavancos. Era muito dolorido. Eu abria a boca para
gritar, mas não saía som algum.
Após duas semanas chegamos a Corroroncayra. A poucos
quilômetros da casa, um pequeno grupo de homens veio ao nosso encontro. Eles
tinham ordem de matar-me. O chefe soubera que eu estava chegando, e ficara
enfurecido.
Ouvi a discussão, que parecia estar tão longe. Fiquei atento
a cada opinião emitida, ouvindo-a objetivamente. Eu não me importava se tivesse
que morrer.
— Ele está doente — Arabadoyca lhes disse. — Vocês não podem
matar um homem doente. E, além disso, ele é um homem bom. Ele não fará mal algum
a vocês.
Eles me inspecionaram. Não havia dúvida alguma de que eu não
estivesse doente. — Pois bem — disse um dos homens —, vamos levá-lo até
Abaratatura.
Mais uma vez fui arrastado pelos braços, seguindo o caminho
da colina. Chegamos ao topo da colina onde havia uma clareira. Vi a casa dos
motilones. De uma das portas saiu um homem. — Jogue-o ao chão — disse ele. —
Jogue este canibal!
Era Abaratatura. Arabadoyca se colocou entre nós dois.
— Você não pode matá-lo — disse. — Ele está morrendo. Os motilones
nunca matariam qualquer animal ou ser humano que estivesse prestes a morrer de
morte natural. Eles crêem que isso poria feitiço em suas flechas, o que faria
com que elas se quebrassem no vôo, e então eles morreriam de fome.
Esse pensamento fez com que Abaratatura parasse. — O que
você quer dizer com isso, que ele está morrendo? — perguntou ele. —
Naturalmente ele morrerá quando eu o transpassar com uma seta.
— E o seu povo morrerá de fome — respondeu Arabadoyca —.
Isso porá feitiço em todas as suas setas. Esse homem está morrendo.
Abaratatura caminhou em minha direção. Ele não podia
discordar.
Cuspiu no chão, olhou para mim com desprezo, e depois deu
ordens para me colocarem numa rede. Não falou comigo. Ele possuía um ar
majestoso, e as suas ordens foram obedecidas incontinenti.
Durante duas semanas permaneci na sua casa. Dormi horas sem
fim. Quando eu acordava, orava para que pudesse voltar a dormir. Minhas dores
pareciam atravessar-me os ossos.
Vou morrer, pensava. Eu não estava amedrontado. Parecia algo
interessante. Vou morrer. E ficava pensando como seria. Esse pensamento
revirava vezes seguidas em minha mente.
Certa tarde, acordei por causa de uma grande agitação. As
crianças estavam correndo, as mulheres estavam gritando. "A flauta está
chegando. O canibal vai nos comer." Foi o que eu ouvi alguém gritar.
As pessoas saíram aos montes pelas portas, empurrando-se e
correndo para se esconder. Abaratatura apanhou o arco e veio em minha direção.
— Precisamos matar esse canibal antes que a flauta chegue —
ele disse.
Eu podia ouvir o barulho do qual eles estavam fugindo. Levou
alguns minutos para que eu o reconhecesse. Era o "paf-paf-paf' de um
helicóptero. Que estava ele fazendo por ali?
O barulho ia-se tornando cada vez mais alto e mais próximo.
Abaratatura hesitou amedrontado, mas ao mesmo tempo ainda desejando me matar.
Depois, saiu correndo pela porta fora. Somente Arabadoyca permaneceu comigo ali
na casa. Os seus olhos estavam enormes, e ele dava a impressão de que também
estava pronto para correr. Ele pensava que eu o tivesse traído.
— Por favor, leve-me para fora — eu disse. Minha voz quase
não podia ser ouvida.
Ele hesitou, e depois — com grande dificuldade — ergueu-me
da rede, levou-me para fora e me colocou na clareira. Depois correu para a selva.
Eu via o helicóptero, mas não podia erguer os braços para
pedir auxílio. A única coisa que eu esperava era que uma cabeça loira pudesse
surpreender o piloto o suficiente para fazê-lo descer, a fim de averiguar mais
de perto.
— "Por favor, Deus, faze com que aterrize", orei.
O helicóptero sobrevoou, pairou, deu uma vira-volta, e
depois pousou na clareira, varrendo folhas e lixo por toda parte com o seu
vento. Um homem saiu e veio em minha direção.
— Olson — ele disse — você tem uma aparência terrível; você
se parece com um esqueleto —. Era o Dr. Hans Baum-gartner, que eu havia
conhecido com o Dr. Christian na nossa viagem subindo o Orinoco, anos antes.
Eu mal podia sorrir. Ele e o piloto me carregaram para o
helicóptero, e se dirigiram incontinenti para o hospital em Tibu.
Depois de quatro dias no hospital, comecei a ter hemorragias
internas. Os médicos disseram que se eu tivesse ficado nas selvas mais seis
horas, sem medicação eu teria morrido.
O Dr. Baumgartner e o piloto foram visitar-me.
— Você não pode imaginar que surpresa foi ver você, Olson. O
helicóptero pertence à companhia petrolífera, como você sabe, e Manuel é o
piloto. O aparelho não estava sendo usado no dia em que estive lá, então fomos
dar um passeio sem licença. Pensamos em sobrevoar o território dos motilones,
para ver se podíamos tirar umas fotografias.
— Que coisa — ele disse sacudindo a sua cabeça —, imagine
só, ir fotografar uma tribo feroz, da idade da pedra, e encontrar um
norte-americano de cabelos loiros defronte da casa comunitária! — Ele desandou
a rir. Todos nós rimos também. Mas eu sabia que Alguém os havia movido a ir em
meu caminho.
O meu médico lá no hospital era Alfredo Landinez.
Tornamo-nos bons amigos. Ele estava interessado nos motilones — até mesmo havia
escrito uma tese a respeito da extração da seta dos motilones, tese que fora
apresentada na Escola de Doenças Tropicais, de Harvard.
Depois de permanecer no hospital várias semanas, perguntei
ao Dr. Landinez quando eu poderia voltar às selvas.
— Você deverá ficar em tratamento por mais de seis meses —
disse. — Você praticamente quase destruiu o seu fígado. Depois você precisará
ficar em convalescença por mais um ano.
— O quê? — disse eu. — Um ano e meio antes que eu possa
voltar às selvas?
Ele sacudiu a cabeça. — Você nunca mais terá possibilida-des
de voltar às selvas. O seu fígado foi danificado para o resto da vida.
Olhei para as minhas mãos. Estavam da cor de laranja.
Estavam-me aplicando transfusões de sangue, porque eu ainda sangrava
internamente.
— O senhor está enganado — eu disse. — Vou voltar.
— É assim que eu gosto — ele disse, com um sorriso meio
esquerdo, batendo nos meus ombros. — Continue firme!
Três semanas mais tarde eles me deram alta, lá no hospital.
O Dr. Landinez não podia acreditar que eu estivesse passando bem. — Bruce —
disse ele — por favor, não volte às selvas.
Eu já estava me preparando para sair. — Por que não? —
perguntei.
— Você ainda não está suficientemente bom. Você poderá ter
uma recaída e morrer por lá, sem ter alguém que cuide de você.
Sacudi a cabeça e sorri. — Já disse ao senhor. Não vou
morrer. Deus vai curar o meu corpo muito melhor do que o senhor poderia fazer.
Ele encolheu os ombros.
— Agora tenho um pedido a fazer-lhe — eu disse. — O senhor
sabe que tenho bons conhecimentos de medicina. Preciso de alguns remédios e
drogas para levar aos índios. Não há ninguém que cuide deles. Sei que é ilegal
o senhor dar-me esses remédios, e nem sequer tenho dinheiro para pagá-los. Mas
os motilones precisam deles.
Apesar de estar pondo em jogo o seu trabalho e a sua
profissão ao fazê-lo, apanhou certa quantidade de remédios que pertenciam à
companhia petrolífera e nos entregou.
— Qual é o valor de meu trabalho — perguntou — se eu não
estiver ajudando as pessoas? Talvez esses nunca auxiliarão a ninguém. Na
medicina você não se aventura. Você dá o remédio e espera que ele não seja
perdido.
Uma semana mais tarde voltei às selvas. Tinha uma bússola, e
sabia exatamente para onde me dirigia: direto para a casa de Abaratatura.
No terceiro dia comecei a sentir tonturas. As dores no peito
haviam voltado. Minha urina estava novamente escura. Naquela noite adormeci
sentindo-me muito mal.
"Pai", eu orei, "tu me trouxeste aqui para
trabalhar com os índios motilones. Tenho remédios que poderão ajudá-los. Por
favor, Deus, cura o meu corpo."
Na manhã seguinte acordei sentindo-me perfeitamente bem. Não
sentia dor alguma, e a urina estava clara. Levantei-me e continuei a andar.
Quando cheguei à casa comunitária de Abaratatura, ele veio
ao meu encontro na estrada. Alguém já me vira e lhe comunicara que eu estava
chegando.