domingo, 2 de maio de 2021

Por esta cruz te matarei - Capítulo 05


 PRIMEIRO ENCONTRO COM OS ÍNDIOS

No avião um garoto sentou-se ao meu lado. Olhou-me com certa curiosidade.

— Alô, eu disse.

Ele abriu a boca e dela saiu uma profusão de palavras em espanhol. Eu ri estendendo as mãos — "No comprendo." Ele parou de falar e olhou surpreendido.

— "Americano", eu disse, apontando para mim mesmo. Apanhei o jornal impresso em espanhol que a comissária de bordo me havia dado, e tentei ler uma sentença em voz alta. O menino não deu sinal algum de que tivesse compreendido, mas isso não me fez parar. De repente ele disse, "Bien, bien", e eu sabia que havia pronunciado alguma coisa corretamente. Mas eu não sabia o que ela significava.

Precisei rir sozinho. E eu que havia estudado grego, hebreu, e sânscrito, no entanto nunca havia estudado espanhol. Às vezes, eu pensava, Deus não é muito prático.

À medida que as horas passavam eu ia ficando cada vez mais nervoso. Finalmente avistamos a Venezuela.

Encostei-me à janela, para ver o avião aterrissar. Enquanto baixávamos podia ver as montanhas erguendo-se ao longo da costa. Depois de circular sobre o oceano, o avião aterrissou num moderno aeroporto junto à costa.

Quando saí do avião, o calor venezuelano me envolveu todo. Era alguma coisa indescritível. E pelo tempo que levei para chegar ao aeroporto, estava suando profusamente.

Enquanto estava na fila, aguardando para passar pela alfândega, olhei ao redor ansiosamente, buscando o Sr. Saunders. A separação de vidro dava-me uma visão completa dos membros das famílias que aguardavam as pessoas e eu dei um suspiro de alívio quando vi uma pessoa conhecida. Porém, após duas horas de espera, descobri que eu estava enganado.

Ninguém estava à espera de um rapaz de dezenove anos, vindo dos Estados Unidos.

Apanhei a minha bagagem e sentei-me sobre ela, com a esperança de que o Sr. Saunders fosse surgir a qualquer minuto. Todas as vezes que eu ouvia passos, olhava para cima, pronto para saudá-lo, depois eu me afundava novamente quando via que era um zelador ou um venezuelano, homem de negócios.

Eu não podia acreditar que o Sr. Saunders se tivesse esquecido de mim. Alguma coisa o havia feito retardar.

Mas não chegou ninguém. Estava só, exceto o zelador que estava limpando o chão. Eu não sabia o que fazer. Tinha receio de que se eu saísse, o Sr. Saunders poderia chegar e nos desencontraríamos. Sentia-me como um tolo, sentado numa sala vazia, esperando por ele. Desejei estar em casa.

Finalmente apanhei a minha bagagem e levei-a até ao guichê de passagens, e perguntei se porventura alguém havia procurado um tal Sr. Olson. O funcionário ouviu atentamente e depois repetiu, provavelmente, as únicas frases que sabia em inglês: — Sinto muito. Eu não falo inglês —. E voltou ao seu trabalho.

Olhei em volta da sala. — Alguém aqui fala inglês? — perguntei em voz alta. Ninguém se virou.

Nisso um padre entrou, um senhor já mais idoso, com seu hábito preto. Corri e o agarrei pela manga até que ele fosse comigo ao guichê das passagens. E ali falei com ele em latim e ele compreendeu! Que coisa maravilhosa poder ser compreendido!

Porém, o padre estava com pressa. Ele traduziu as minhas perguntas ao funcionário lá no guichê — que nada sabia a respeito de Bruce Olson ou de Sr. Saunders. Antes que eu pudesse fazer outras perguntas, o padre já havia ido embora.

Que é que eu devia fazer? Que é que eu poderia fazer, senão esperar? Ele precisava vir.

Porém ele não veio. À uma hora da manhã, quando eu era a única pessoa ainda no aeroporto, um funcionário dirigiu-se a mim, dizendo em inglês que eu precisava retirar-me. Não haveria mais vôos até à manhã seguinte, eu não podia passar a noite ali no aeroporto.

Acabei indo para um hotel muito luxuoso nas proximidades do aeroporto, e a única coisa em que conseguia pensar era quanto aquilo me iria custar. Os meus setenta dólares se acabariam numa semana!

No dia seguinte eu me levantei cedo e andei pelo pátio do hotel, tentando resolver o que deveria fazer. O sol estava brilhando e já estava quente. Fiquei sem café e sem almoço a fim de poupar dinheiro. Mas às cinco horas eu estava com muita fome para poder resistir.

Não havia jeito algum de poder entrar em contato com o Sr. Saunders a não ser por correspondência, e quando uma carta pudesse chegar até onde ele estava, eu estaria completamente sem dinheiro. Eu não podia pedir conselho algum, porque não sabia espanhol.

E então algo muito estranho aconteceu. No dia seguinte, um jovem me deteve e perguntou se eu era norte-americano. Era um rapaz muito alegre e risonho, com olhos pretos muito vivos. Falando um inglês muito pobre, ele se apresentou como Júlio, e me disse que era estudante da Universidade de Caracas.

— O que você está fazendo aqui na Venezuela? — perguntou Júlio.

— Quero trabalhar com os índios — respondi —. Esperava ser recebido por um dos missionários que trabalham em Orinoco, mas alguma coisa saiu errado. Ele nunca apareceu.

Júlio fez uma careta. — Você não está hospedado ali, está? — e apontou para o hotel.

Encolhi os ombros. — Onde poderia estar? Eu não conheço Caracas.

— Bem, você nunca conhecerá Caracas se ficar aí nesse lugar. Pois ele é somente para ... para ...

Eu ri. — Para os norte-americanos, é isso que você iria dizer? Pois bem, eu sou norte-americano.

— Está bem — disse ele, você é norte-americano —. Ele sorriu. — Isso é mau para você. De qualquer jeito, você não deveria ficar ali. Por que você não vem comigo para a minha casa? Nós o receberemos. A minha família terá muito prazer em recebê-lo.

Meu coração deu um pulo. Num instante estávamos levando as minhas malas num ônibus, que nos conduziu pelas montanhas acima até Caracas — a qual, Júlio explicou, era a cidade mais moderna da América do Sul. Mas eu estava abismado ao ver milhares de cabanas de invasores ao lado das montanhas, feitas de caixas de papelão, ou de madeira.

Quando chegamos à casa de Júlio, ele me apresentou à sua mãe, uma senhora gorda e simpática. Ela não falava inglês, porém, pelos seus gestos, deu-me a entender que era bem-vindo. Um punhado de irmãos e irmãs de Júlio surgiram por trás dela.

Deram-me um quartinho na parte superior, com uma janela que estava permanentemente fechada, pois fora pregada, e com apenas uma lâmpada. Mas eu me sentia feliz por ter um lugar para ficar, e logo todos eles me colocaram no centro de todas as atenções. Eu perguntava a Júlio e aos seus irmãos e irmãs os nomes em espanhol das diferentes coisas, e comecei a aprender a língua. Também fui conhecendo a comida colombiana e gostei imensamente dela.

Mas dentro de poucos dias comecei a ficar inquieto. Tinha dificuldade em me comunicar com os outros, quando Júlio não estava e não tinha coisa alguma para encher o meu tempo. Eu desejava ajudar aquela família de um jeito ou outro, mas não podia imaginar como é que poderia fazê-lo. Muitas vezes eu andava sem rumo pelas ruas de Caracas, desejando poder conversar com as pessoas. Sentia certo mal-estar em compartilhar a casa e a comida da família de Júlio: Evidentemente eles não estavam preparados financeiramente para ter mais um membro na família. Também eu sentia que estava atrapalhando.

Um dia, quando Júlio voltou para casa, perguntou: — Você está falando sério quando diz que deseja viver entre os índios? — Nós já havíamos conversado antes a esse respeito. Para ele, os índios eram apenas curiosidades de quem se podia adquirir artefatos para uma decoração rústica.

— Sim, estou — disse eu.

— Bem, então há uma pessoa que você deve conhecer. É um médico que mora perto do Rio Orinoco. Ele é funcionário do governo, da Comissão dos índios. Além disso, ele é norte-americano. A sua esposa é amiga de uma amiga de nossa família.

Eu o acompanhei pela rua abaixo até chegarmos a um café muito pequeno. Ali, Júlio me apresentou ao Dr. Christian. Um homem magro, alto, de uns quarenta anos, que estava sentado numa cadeira de vime, com suas pernas longas esticadas, segurando um copo de bebida, e fumando um cigarro.

— Então você está interessado nos índios? — disse ele. — Para quê?

Hesitei um instante, tentando formular a minha resposta da melhor maneira. — Simplesmente desejo ter a oportunidade de vê-los e ver a maneira como vivem. Talvez mais tarde eu possa ser-lhes útil.

Ele sorriu, curvando-se um pouco para a frente. — "O que o faz pensar que poderá ajudá-los? Você possui alguma habilidade que eles estão precisando?"

Não respondi imediatamente; ele ergueu o copo e ficou mirando-o. — Você nem sequer gostaria dos índios — disse ele —. Eles são sujos e ignorantes. Não há nada de nobre a respeito deles, exceto que cuidam de seu próprio povo, mesmo que tenham de pedir aos outros que o façam.

— Por que, então, o senhor está trabalhando com eles? — repliquei.

Ele riu. — Essa é uma boa pergunta —. Ele encolheu os ombros. — É um emprego. Preciso fazer alguma coisa com a minha medicina. Isso é tão interessante como qualquer outra coisa — e além de tudo, implica viajar.

Houve certo silêncio entre nós. Júlio nos deixou.

— Com que índios o senhor trabalha? — perguntei.

— Oh, com diversas tribos no rio Orinoco —. E ele começou a contar a respeito deles; à medida que ia falando, a sua atitude se modificava. Pequenas rugas sorridentes surgiram ao redor dos cantos de sua boca. Ele realmente amava os índios e era fascinante ouvi-lo falar sobre eles.

E então parou de falar e me observou. — Pois bem — disse ele —, se você realmente é sincero em seu desejo, poderá ir comigo. Eu parto na próxima semana e estarei fora um mês e meio.

Exteriormente apresentei certa calma, mas o meu coração começou a dar pulos. Apertamo-nos as mãos e conversamos sobre os arranjos de viagem. E então saí. Assim que houve distância de um quarteirão entre mim e o café, soltei um grande grito, e desandei a correr pela rua abaixo, num zigue-zague, tentando não esbarrar nas pessoas que estavam nas calçadas.

Uma semana mais tarde estávamos em Puerto Ayacucho, carregando gêneros de primeira necessidade, provisões e drogas, num caminhão que levaria tudo isso e a nós também, para as canoas no Alto Orinoco — numa viagem de sessenta quilômetros, a única estrada para fora da cidade. As pessoas estavam-se amontoando no caminhão, gritando de um lado para outro. Naquela manhã, um DC-3 enorme, madeireiro, nos levara àquela cidadezinha.

Quando terminamos de atar a carga, as pessoas se dependuravam por todos os lados do caminhão. Subimos no alto do caminhão, juntamente com eles. Uma grande botija de vinho passou por nós; eu a passei para o homem que estava próximo a mim. Todo mundo estava conversando. O caminhão deu partida e moveu-se lenta e pesadamente em direção a uma faixa de estrada de terra bem estreita. Adentramos pelas árvores e imediatamente a cidadezinha estava longe de nosso alcance. À nossa frente estava a savana, entremeada com agrupamentos de selvas.

Quando chegamos a Samariapo, estávamos todos doloridos e cansados. O contínuo sacolejar do caminhão nos havia deixado exaustos. Ali terminava a estrada. De Samariapo teríamos que viajar de barco pelo Alto Orinoco.

Descarregamos a nossa carga, e a levamos junto ao rio Orinoco, amarelo e barrento, onde o Dr. Christian tinha duas enormes canoas atadas uma à outra. Nós as enchemos com as nossas mercadorias para os próximos dois meses, e depois então com dois guias para podermos navegar dia e noite, começamos a subir o rio.

Levou mais de uma semana para atingirmos o primeiro posto de colonização dos índios. Quilômetros e quilômetros do rio ficaram para trás de nós. Logo perdi a conta das inúmeras curvas — e das pontas de madeira seca, que surgiam por toda parte por cima das águas.

A vegetação rica, em ambas as margens, era imutável. De vez em quando atingíamos uma pequena clareira onde um colonizador tinha a sua choupana. Quase sempre ele — ou alguém de sua família — levantava os olhos de seu trabalho ou corria até à margem do rio para nos observar. Mas na maior parte da viagem, não víamos sinal algum de homens que já tivessem antes subido o rio.

— A maior parte dos colonizadores está mais acima no Orinoco, nos pequenos canais, onde há menos probabilidade de enchentes — explicou o Dr. Christian. Eu estava excitado, e fazia perguntas intermináveis a respeito dos índios e do trabalho missionário realizado ali. Esperava encontrar alguns dos missionários, inclusive o Sr. Saunders, pois essa era a região onde ele trabalhava. Tinha a certeza de que ele seria bastante amável e que se desculparia por ter-se esquecido de me esperar no aeroporto.

De repente, o Dr. Christian me examinou cuidadosamente. — Você nunca se adaptaria a esses missionários — disse ele —. Eles são uns atrapalhados.

— O que o senhor quer dizer com isso? Ele sacudiu a mão. — Você vai ver.

Finalmente atingimos a primeira vila dos índios lá no alto Orinoco. Das margens do rio podíamos ver um pequeno aglomerado de cabanas redondas. Não havia nenhum índio à vista. Senti-me um tanto apreensivo, mas o Dr. Christian, automaticamente amarrou as canoas a uma árvore e nós saltamos.

Ao redor de nós havia o cheiro intolerável de excremento humano, e enquanto caminhávamos para a vila, podíamos ver moscas zunindo em volta de montes de sujeiras, simplesmente a poucos passos das cabanas.

O Dr. Christian parecia não estar perturbado com tudo isso. Alguns dos nativos nos cumprimentaram, e o médico conversou com eles, pois aprendera um pouco de seu vocabulário numa visita anterior. A maior parte dos índios, todavia, amedrontara-se quando ouvira o barulho das canoas e se escondera nas selvas.

De um em um, foram surgindo de seus esconderijos, e o Dr. Christian examinou aqueles que estavam enfermos, aplicando-lhes injeções ou dando-lhes comprimidos, e fazendo sugestões a respeito de saneamento. Seus olhos brilhavam quando ele lhes falava na sua língua, e o Dr. Christian evidentemente sentia prazer em estar em sua companhia. Ele tratava cada um pacientemente, tentando explicar cada coisa tão bem quanto possível.

Ficamos ali somente aquele dia, e depois continuamos subindo o Orinoco até ao ponto onde o rio Mavaca deságua no Orinoco.

— Você precisa viver com os índios antes de poder compreender como é a vida deles — disse o Dr. Christian.

Enquanto pensava sobre isso, senti um arrepio por todo o corpo, mas resolvi que poderia ser deixado ali em Mavaca, durante três semanas, enquanto o Dr. Christian continuava rio acima e navegava em outros tributários. Ele podia apanhar-me novamente quando voltasse. Eu estava sumamente interessado em ficar ali porque o Sr. Saunders trabalhava naquelas proximidades. No entanto, o meu encontro com ele foi um grande desapontamento.

— O que o faz pensar que pode vir à América do Sul sem estar ligado a uma junta de missões? — perguntou ele em seguida, após a nossa apresentação —. Você simplesmente deseja vir e tirar vantagens de nós. Você pensa que temos a obrigação de cuidar de você. Mas está completamente errado. Você vai depender de si mesmo, Buster —. Ele virou as costas e se foi.

Fiquei no acampamento missionário apenas uns instantes. Os diversos missionários estavam totalmente prevenidos contra mim. No entanto afirmaram que estavam tendo "um certo êxito em alcançar os índios com o Evangelho de Jesus Cristo", mas agora havia "uma grande perseguição aos índios cristãos, por parte dos outros índios". Eles haviam sido excluídos do resto da tribo.

Desde que a missão não me oferecera nenhuma espécie de acomodação, o Dr. Christian me deixou na parte norte do rio Mavaca com um grupo de índios, que, segundo os missionários, não eram cristãos. Eles falavam um espanhol irregular. Naquela ocasião, eu já havia aprendido a falar um pouco e assim mantínhamos uma comunicação um tanto truncada — mas muito melhor do que o meu primeiro encontro no aeroporto internacional de Caracas.

Eu não podia crer que esses fossem os índios que os missionários haviam descrito. Esses índios eram perseguidores de alguém? Impossível. Eles eram tão inocentes. Permitiam que eu os acompanhasse quando iam caçar, e quando eu não podia acompanhar a sua trajetória, sempre deixavam alguém para trás comigo. Quando tropeçava nos ramos das trepadeiras e nas raízes, eles me ajudavam. Eles compartilhavam tudo o que possuíam. Eu comia a sua comida, dormia nas suas redes. Como é que esses índios podiam ser "perseguidores"?

Quando chegou o domingo sugeri a um deles que todos nós fôssemos à igreja, a qual não ficava muito distante do acampamento, e ouvíssemos as histórias a respeito de Deus. Ele olhou para mim, franziu o cenho. — Não, nós não fazemos isso.

— Por que não?

— Aqueles cristãos são esquisitos.

Ele não disse mais nada, porém me levou ao chefe da aldeia, um homem grande, forte, que riu quando lhe disseram o que eu desejava saber.

— Ouça. — disse ele —, aqueles cristãos não se preocupam mais conosco, por que então nós devemos nos preocupar com eles?

— Como é que você sabe que eles não se preocupam com vocês? Eles são da sua tribo.

— Ora, eles rejeitaram tudo a nosso respeito — disse ele —. Eles não cantam mais as nossas canções. Cantam aqueles cânticos estranhos, lamentosos, fora do tom e que não fazem sentido algum. Aquela construção, à qual eles chamam de igreja! Por acaso você viu a igreja deles? Ela é quadrada! Como é que Deus pode estar numa igreja quadrada? A redonda é que é a perfeição —. Ele apontou para a parede da palhoça, na qual estávamos sentados. — Ela não tem fim, como Deus. Mas os cristãos, o Deus deles tem pontas por todos os lados, que nos espetam. E a maneira como aqueles cristãos se vestem! Roupas tão gozadas.

Lembrei-me dos índios cristãos, que eu vira no acampamento missionário. Eles foram ensinados a usar roupas com botões, a usar sapatos, e a cantar hinos de outra civilização.

Foi isso o que Jesus ensinou? perguntei a mim mesmo. É isso o que o Cristianismo significa? Que é que as boas-novas de Jesus Cristo têm a ver com a cultura norte-americana? No tempo da Bíblia não havia cultura norte-americana. Porventura os missionários estavam cometendo um erro na maneira como estavam pregando? Naturalmente, isso os fazia muito felizes ao verem que os índios se vestiam como norte-americanos, e cantavam "Rocha Eterna". Mas seria esse o único jeito pelo qual Jesus poderia ser adorado? E haveria certa dose de prazer em ter os índios cristãos perseguidos pelo resto da sua tribo? Comecei a pensar nisso.

Resolvi tentar contar aos índios o que o Evangelho realmente era, mas foi dificílimo. O meu espanhol não somente era muito pobre, mas eu precisava vencer as suas suspeitas e a falta de confiança nos "missionários estrangeiros". Os índios delicadamente ouviam as minhas explicações, e depois apontavam na direção geral dos índios cristãos e sacudiam a cabeça.

— Nós não queremos nos tornar como eles — diziam com toda ênfase —. O nosso jeito é que está certo.