segunda-feira, 10 de maio de 2021

O discipulo - Capítulo 18 - fim


 A Célula 

Durante três meses Paulo freqüentou a sinagoga onde falava ousadamente, dissertando e  persuadindo, com respeito ao reino de Deus... Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos  os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. (At 19.8,10.) 

O que há de singular a respeito da célula? Em que ela difere de uma reunião de oração  num lar? Ela é constituída de cinco partes: adoração, discussão, programação, mobilização e  multiplicação. 

Naturalmente, não é necessário haver as cinco em todas as reuniões. Uma reunião pode  ser toda dedicada à devoção, enquanto que a seguinte pode ser só de discussão. Mas todos  estes elementos devêm estar integrados no funcionamento da célula. (Nós os encontramos em  Atos 19, quando Paulo fez alguns discípulos em Éfeso, e estes espalharam o evangelho por  toda a província da Ásia. Eles cultuavam ao Senhor; doutrinavam; planejavam como iriam  fazer a pregação; iam a vários lugares pregar e fundavam muitas igrejas novas — algumas das  quais são mencionadas em Apocalipse 2 e 3.) 

Creio não ser preciso explicar o termo adoração. Oração, adoração, louvor, confissão,  quebrantamento de alma perante o Senhor — todas estas coisas são parte da vida devocional  da célula. 

Discussão é o estudo da Palavra de Deus. 

Mas nós o realizamos de uma forma diferente. Não estudamos uma lição por semana.  Um estudo prolonga-se às vezes por dois ou três meses. Por quê? Porque não passamos para a  lição seguinte enquanto não estivermos praticando a primeira. Não diz a Bíblia que temos que  ser praticantes da Palavra e não somente ouvintes? 

Nossa geração é uma geração de ouvintes. A razão é óbvia: temos oradores em demasia.  Se nós apenas falamos, falamos, falamos, as pessoas não podem fazer outra coisa senão ouvir.  Estudos científicos nos dizem que as pessoas retêm apenas vinte por cento do que  ouvem, e aquilo que retêm, se não for repetido até dez dias depois, ficará perdido. Portanto,  logo que saímos da igreja, lembra-mos apenas vinte por cento do sermão — e, se não o  praticarmos, esqueceremos até estes vinte por cento. Ou se não ouvimos outro sermão sobre o  mesmo assunto, aquilo ficará esquecido. 

O que é que lembramos do que aprendemos na escola? Só sabemos ler, escrever, somar,  subtrair, multiplicar e dividir, porque continuamos a praticar estas coisas. Mas o que  lembramos sobre a geografia da China, por exemplo? 

Jesus não disse: "Ensinando-os a conhecer todas as cousas que vos tenho ordenado."  Mas o que ele disse foi: "Ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado." É  por isso que, no trabalho da célula, a discussão inclui a prática. 

Antes fazíamos o seguinte em nossa igreja: tínhamos uma reunião de oração na terça feira. Pregávamos sobre oração. "Vamos orar, meus irmãos. A oração muda as coisas. A  oração é a coisa mais importante da vida cristã." E o povo ia para casa resolvido a orar mais  que nunca. 

Na quinta-feira, tínhamos estudo bíblico. Estávamos no meio do livro de Neemias, e  falávamos sobre as muralhas ruídas de Jerusalém, e como ele as reconstruiu. “Que homem  extraordinário! Precisamos de mais pessoas como Neemias, em nossos dias.” E o povo  esquecia da oração e resolvia imitar Neemias.

Depois vinha a escola dominical. Eles estavam estudando o tabernáculo e todas as belas  tipificações de Cristo nos seus átrios, no Lugar Santo — ah! tudo aquilo também era muito  importante. 

Mas logo depois passávamos para o culto da manhã, e eu pregava sobre santidade. "Sem  santidade ninguém pode agradar a Deus", dizia-lhes. "Deus quer um povo santo." E então eles  iam para casa pensando na santidade e se esqueciam de tudo que haviam ouvido sobre oração,  Neemias e o Tabernáculo. 

Domingo à noite, eles voltavam à igreja e ouviam: "O Senhor voltará brevemente.  Temos que preparar-nos para a segunda vinda de Cristo." 

E assim continuávamos pelos anos a fora. O que eles poderiam fazer, além de escutar?  Cinco mensagens por semana — cinqüenta e duas semanas por ano — 260 mensagens. Teria  sido melhor que eles tivessem dito para si mesmos: “Vou dar atenção a esta mensagem, e  depois não voltarei mais à igreja enquanto não a puser em prática na minha vida.” 

Pois, agora, nós temos quatro ou cinco mensagens por ano. Desde que começamos este  método de discipulação em 1971, estudamos menos de vinte lições. Mas a igreja está  completamente diferente. Por quê? Porque estamos procurando pôr em prática o que  aprendemos. Este é o verdadeiro sentido da Palavra de Deus. A doutrina que precisamos em  nossa vida não é tanto os itens de fé ou credo, mas a prática. 

Vejamos o que Paulo diz a Tito. "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (e a  seguir, expõe a doutrina da santíssima Trindade: certo? Errado.) "Quanto aos homens idosos,  que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto  às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras,  não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de  casa, bondosas, sujeitas a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja  difamada. Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as cousas, sejam  criteriosos... Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senhores,  dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões... Lembra-lhes que se sujeitem aos  que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra." (Tt 2.1- 6, 9; 3.1.) 

Que sã doutrina! Ela não tem grande relação com a tribulação, nem com o milênio, mas  é simplesmente fantástica. 

O que é credo? Uma declaração das definições filosóficas de nossa fé. 

O que é sã doutrina? Um empregado de uma firma que não discute ordens.  Existem muitos diáconos bons nas nossas igrejas que assinam os artigos de fé todos os  anos — eles acreditam no nascimento virginal de Cristo, e tudo o mais — mas não estão  praticando a sã doutrina. Eles ainda dirigem a uns vinte quilômetros acima do limite de  velocidade. Não têm a mínima intenção de serem sujeitos "aos que governam", se isto não for  de seu interesse. 

Pedro disse aos homens: "Vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo  consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, por  isso que sois juntamente herdeiros da mesma graça da vida, para que não se interrompam as  vossas orações" (1 Pe 3.7). Muitos pastores e diáconos que são perfeitamente ortodoxos em  suas crenças não gostam muito desta sã doutrina. 

“Mulheres”, disse Pedro no primeiro verso do mesmo capítulo, “sede vós, igualmente  submissas a vossos próprios maridos.” Temos diaconisas que agem exatamente ao contrário  disso. 

Nós discutimos estes assuntos em nossas células. Digamos que estamos estudando uma  lição sobre os maridos. Na primeira semana, discutimos todo o material da lição. Na segunda  semana, recordamos a lição por meio de perguntas e respostas, para verificar se todos compreenderam como deve ser o marido cristão, e como deve ser seu relacionamento com  esposa e filhos. 

Na terceira semana começamos a discutir o primeiro ponto da lição: "O marido é o  cabeça da família." Discutimos a maneira de se colocar isto em prática. O dirigente vira-se  para Roberto e pergunta: "Roberto, você é realmente o cabeça de sua família?" 

"Bem", responde Pedro, "nós estamos enfrentando um sério problema na família. Acho  que não sou o cabeça da família porque não sei solucioná-lo." 

"O que aconteceu?" 

"Bem, meu sogro faleceu há pouco tempo. Ele tinha um cachorro grande de que gostava  muito. Nós tivemos que levar minha sogra para morar conosco, e naturalmente ela teve que  levar o cachorro consigo, já que ele é uma recordação do marido. 

"O problema é que nosso apartamento é muito pequeno para acomodar um cachorro. E  nós discutimos por causa disso. Eu acho que o cachorro não pode ficar lá. Minha esposa diz:  'Coitada da mamãe, ela está tão velha! O cachorro é uma recordação de papai. Por favor, seja  bonzinho com ela, deixe-o ficar.' E nós não estamos conseguindo uma solução. Eu nem sei se  quero continuar a viver lá." 

Uma pessoa do grupo diz: 

"Escute, Roberto, eu posso ajudá-lo. Moro na saída da cidade e tenho um quintal bem  grande. Deixe-me tomar conta do cachorro para vocês." Mas o dirigente intervém:  "Não, Roberto. Talvez Deus tenha mandado este cão para sua casa justamente para  ensinar a vocês uma lição. Você não está agindo como o cabeça da casa, mas não pelo motivo  que imagina. O cabeça não é somente uma pessoa que dá ordens a todo o mundo. O cabeça é  uma pessoa que sabe encontrar as soluções dos problemas e descobre o que tem de ser feito.  "Um cachorro não vale esta confusão toda. Ele está provocando divisão na família e é  apenas um animal." 

Outra pessoa diz: 

"Talvez o cachorro não deva mesmo ficar no apartamento; talvez você tenha razão. Mas  pode ser que Deus queira ensinar-lhe a amar aquele cão assim mesmo. Vamos e venhamos,  Roberto. Você está perdendo a esposa, está fazendo a velhinha infeliz. O problema não é o  cão, é você." 

"Oh, não. Eu não consigo solucionar isto." 

"Não se preocupe", diz o dirigente. "Vamos orar para que Deus lhe dê forças para  aceitar o cachorro. Venha aqui e sente-se no meio da sala."  

Nós todos nos chegamos a ele e impomos as mãos para orar. 

"Senhor, dá-lhe vitória nesta questão do cachorro. 

Fá-lo amar a esposa, e a sogra, ajuda-o a..." Roberto começa a chorar. Por fim ele diz:  "Está bem. Agora eu creio que já posso resolver a questão." 

"Está certo", dizem todos. "Agora, quando você for para casa, passe numa loja e compre  uma coleira nova para ele. Se você não tiver dinheiro, nós lhe daremos. Mas você precisa  aprender a amar o cachorro. E assim você estará solucionando o problema que há em sua  casa." 

"O que Roberto não sabe é que, naquele momento, sua esposa está numa outra célula  com minha esposa. Ela também está relatando a história do cão. 

  E minha esposa lhe diz: "Escute, ele é o cabeça da família e você tem que se submeter a  ele. Até mesmo sua mãe tem que submeter-se a ele. 

"Se ele declara que o cachorro não pode ficar lá, então ele terá que ser tirado da casa.  Por que você não tenta encontrar um lugar para ele ficar, e você e sua mãe vão visitá-lo uma  ou duas vezes por semana?"