Durante três meses Paulo freqüentou a sinagoga onde falava
ousadamente, dissertando e persuadindo,
com respeito ao reino de Deus... Durou isto por espaço de dois anos, dando
ensejo a que todos os habitantes da Ásia
ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. (At 19.8,10.)
O que há de singular a respeito da célula? Em que ela difere
de uma reunião de oração num lar? Ela é
constituída de cinco partes: adoração, discussão, programação, mobilização
e multiplicação.
Naturalmente, não é necessário haver as cinco em todas as
reuniões. Uma reunião pode ser toda
dedicada à devoção, enquanto que a seguinte pode ser só de discussão. Mas
todos estes elementos devêm estar
integrados no funcionamento da célula. (Nós os encontramos em Atos 19, quando Paulo fez alguns discípulos
em Éfeso, e estes espalharam o evangelho por
toda a província da Ásia. Eles cultuavam ao Senhor; doutrinavam;
planejavam como iriam fazer a pregação;
iam a vários lugares pregar e fundavam muitas igrejas novas — algumas das quais são mencionadas em Apocalipse 2 e
3.)
Creio não ser preciso explicar o termo adoração. Oração,
adoração, louvor, confissão,
quebrantamento de alma perante o Senhor — todas estas coisas são parte
da vida devocional da célula.
Discussão é o estudo da Palavra de Deus.
Mas nós o realizamos de uma forma diferente. Não estudamos
uma lição por semana. Um estudo
prolonga-se às vezes por dois ou três meses. Por quê? Porque não passamos para
a lição seguinte enquanto não estivermos
praticando a primeira. Não diz a Bíblia que temos que ser praticantes da Palavra e não somente
ouvintes?
Nossa geração é uma geração de ouvintes. A razão é óbvia:
temos oradores em demasia. Se nós apenas
falamos, falamos, falamos, as pessoas não podem fazer outra coisa senão
ouvir. Estudos científicos nos dizem que
as pessoas retêm apenas vinte por cento do que
ouvem, e aquilo que retêm, se não for repetido até dez dias depois,
ficará perdido. Portanto, logo que
saímos da igreja, lembra-mos apenas vinte por cento do sermão — e, se não
o praticarmos, esqueceremos até estes
vinte por cento. Ou se não ouvimos outro sermão sobre o mesmo assunto, aquilo ficará esquecido.
O que é que lembramos do que aprendemos na escola? Só
sabemos ler, escrever, somar, subtrair,
multiplicar e dividir, porque continuamos a praticar estas coisas. Mas o
que lembramos sobre a geografia da
China, por exemplo?
Jesus não disse: "Ensinando-os a conhecer todas as
cousas que vos tenho ordenado." Mas
o que ele disse foi: "Ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho
ordenado." É por isso que, no
trabalho da célula, a discussão inclui a prática.
Antes fazíamos o seguinte em nossa igreja: tínhamos uma
reunião de oração na terça feira. Pregávamos sobre oração. "Vamos orar,
meus irmãos. A oração muda as coisas. A
oração é a coisa mais importante da vida cristã." E o povo ia para
casa resolvido a orar mais que
nunca.
Na quinta-feira, tínhamos estudo bíblico. Estávamos no meio
do livro de Neemias, e falávamos sobre
as muralhas ruídas de Jerusalém, e como ele as reconstruiu. “Que homem extraordinário! Precisamos de mais pessoas
como Neemias, em nossos dias.” E o povo
esquecia da oração e resolvia imitar Neemias.
Depois vinha a escola dominical. Eles estavam estudando o
tabernáculo e todas as belas
tipificações de Cristo nos seus átrios, no Lugar Santo — ah! tudo aquilo
também era muito importante.
Mas logo depois passávamos para o culto da manhã, e eu
pregava sobre santidade. "Sem
santidade ninguém pode agradar a Deus", dizia-lhes. "Deus quer
um povo santo." E então eles iam
para casa pensando na santidade e se esqueciam de tudo que haviam ouvido sobre
oração, Neemias e o Tabernáculo.
Domingo à noite, eles voltavam à igreja e ouviam: "O
Senhor voltará brevemente. Temos que
preparar-nos para a segunda vinda de Cristo."
E assim continuávamos pelos anos a fora. O que eles poderiam
fazer, além de escutar? Cinco mensagens
por semana — cinqüenta e duas semanas por ano — 260 mensagens. Teria sido melhor que eles tivessem dito para si mesmos:
“Vou dar atenção a esta mensagem, e
depois não voltarei mais à igreja enquanto não a puser em prática na
minha vida.”
Pois, agora, nós temos quatro ou cinco mensagens por ano.
Desde que começamos este método de
discipulação em 1971, estudamos menos de vinte lições. Mas a igreja está completamente diferente. Por quê? Porque
estamos procurando pôr em prática o que
aprendemos. Este é o verdadeiro sentido da Palavra de Deus. A doutrina
que precisamos em nossa vida não é tanto
os itens de fé ou credo, mas a prática.
Vejamos o que Paulo diz a Tito. "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (e a seguir, expõe a doutrina da santíssima Trindade: certo? Errado.) "Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância. Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém casadas a amarem a seus maridos e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas a seus próprios maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada. Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as cousas, sejam criteriosos... Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senhores, dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões... Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra." (Tt 2.1- 6, 9; 3.1.)
Que sã doutrina! Ela não tem grande relação com a
tribulação, nem com o milênio, mas é
simplesmente fantástica.
O que é credo? Uma declaração das definições filosóficas de
nossa fé.
O que é sã doutrina? Um empregado de uma firma que não
discute ordens. Existem muitos diáconos
bons nas nossas igrejas que assinam os artigos de fé todos os anos — eles acreditam no nascimento virginal
de Cristo, e tudo o mais — mas não estão
praticando a sã doutrina. Eles ainda dirigem a uns vinte quilômetros acima
do limite de velocidade. Não têm a
mínima intenção de serem sujeitos "aos que governam", se isto não
for de seu interesse.
Pedro disse aos homens: "Vivei a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração
para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade,
por isso que sois juntamente herdeiros
da mesma graça da vida, para que não se interrompam as vossas orações" (1 Pe 3.7). Muitos
pastores e diáconos que são perfeitamente ortodoxos em suas crenças não gostam muito desta sã
doutrina.
“Mulheres”, disse Pedro no primeiro verso do mesmo capítulo,
“sede vós, igualmente submissas a vossos
próprios maridos.” Temos diaconisas que agem exatamente ao contrário disso.
Nós discutimos estes assuntos em nossas células. Digamos que
estamos estudando uma lição sobre os
maridos. Na primeira semana, discutimos todo o material da lição. Na
segunda semana, recordamos a lição por
meio de perguntas e respostas, para verificar se todos compreenderam como deve
ser o marido cristão, e como deve ser seu relacionamento com esposa e filhos.
Na terceira semana começamos a discutir o primeiro ponto da
lição: "O marido é o cabeça da
família." Discutimos a maneira de se colocar isto em prática. O dirigente
vira-se para Roberto e pergunta:
"Roberto, você é realmente o cabeça de sua família?"
"Bem", responde Pedro, "nós estamos
enfrentando um sério problema na família. Acho
que não sou o cabeça da família porque não sei solucioná-lo."
"O que aconteceu?"
"Bem, meu sogro faleceu há pouco tempo. Ele tinha um
cachorro grande de que gostava muito.
Nós tivemos que levar minha sogra para morar conosco, e naturalmente ela teve
que levar o cachorro consigo, já que ele
é uma recordação do marido.
"O problema é que nosso apartamento é muito pequeno
para acomodar um cachorro. E nós
discutimos por causa disso. Eu acho que o cachorro não pode ficar lá. Minha
esposa diz: 'Coitada da mamãe, ela está
tão velha! O cachorro é uma recordação de papai. Por favor, seja bonzinho com ela, deixe-o ficar.' E nós não
estamos conseguindo uma solução. Eu nem sei se
quero continuar a viver lá."
Uma pessoa do grupo diz:
"Escute, Roberto, eu posso ajudá-lo. Moro na saída da
cidade e tenho um quintal bem grande.
Deixe-me tomar conta do cachorro para vocês." Mas o dirigente
intervém: "Não, Roberto. Talvez
Deus tenha mandado este cão para sua casa justamente para ensinar a vocês uma lição. Você não está
agindo como o cabeça da casa, mas não pelo motivo que imagina. O cabeça não é somente uma
pessoa que dá ordens a todo o mundo. O cabeça é
uma pessoa que sabe encontrar as soluções dos problemas e descobre o que
tem de ser feito. "Um cachorro não
vale esta confusão toda. Ele está provocando divisão na família e é apenas um animal."
Outra pessoa diz:
"Talvez o cachorro não deva mesmo ficar no apartamento;
talvez você tenha razão. Mas pode ser
que Deus queira ensinar-lhe a amar aquele cão assim mesmo. Vamos e
venhamos, Roberto. Você está perdendo a
esposa, está fazendo a velhinha infeliz. O problema não é o cão, é você."
"Oh, não. Eu não consigo solucionar isto."
"Não se preocupe", diz o dirigente. "Vamos
orar para que Deus lhe dê forças para
aceitar o cachorro. Venha aqui e sente-se no meio da sala."
Nós todos nos chegamos a ele e impomos as mãos para
orar.
"Senhor, dá-lhe vitória nesta questão do cachorro.
Fá-lo amar a esposa, e a sogra, ajuda-o a..." Roberto começa a chorar. Por fim ele diz: "Está bem. Agora eu creio que já posso resolver a questão."
"Está certo", dizem todos. "Agora, quando
você for para casa, passe numa loja e compre
uma coleira nova para ele. Se você não tiver dinheiro, nós lhe daremos.
Mas você precisa aprender a amar o
cachorro. E assim você estará solucionando o problema que há em sua casa."
"O que Roberto não sabe é que, naquele momento, sua
esposa está numa outra célula com minha
esposa. Ela também está relatando a história do cão.
E minha esposa lhe
diz: "Escute, ele é o cabeça da família e você tem que se submeter a ele. Até mesmo sua mãe tem que submeter-se a
ele.
"Se ele declara que o cachorro não pode ficar lá, então
ele terá que ser tirado da casa. Por que
você não tenta encontrar um lugar para ele ficar, e você e sua mãe vão
visitá-lo uma ou duas vezes por
semana?"