E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas, e outros
para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e
do pleno conhecimento do Filho de Deus,
à perfeita varonilidade à medida da estatura da plenitude de Cristo. (Ef
4.11-13.)
Quando o Senhor começou a revelar-me soluções para nosso
problema de crescimento, iniciou-o por
esta passagem de Efésios.
Minha tarefa era aperfeiçoar os santos e guiá-los à
maturidade espiritual. Eu não fora
preparado para isso. Aprendera a agradar as pessoas, não aperfeiçoá-las.
Este era o objetivo das inúmeras
atividades da igreja — entreter as pessoas, rr^ntê-las interessadas,
conservá-las envolvidas na obra.
Muitos pastores cujas igrejas eu visitei, indagavam-me quase
no momento em que ali chegava:
"Irmão Ortiz, o senhor tem algumas idéias novas? Sabe de alguma novidade
para a União de Homens? para o trabalho
de jovens?" Nós estamos sempre à espreita, procurando arranjar idéias novas, atraentes, que segurem
nosso povo na igreja. Se pudermos conservá-los
debaixo da graça de Deus até morrerem, então vencemos — é o pensamento
geral.
Mas, na verdade, não é este o nosso ministério como
pastores. Não admira que o apóstolo
tenha dito aos hebreus: "Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres,
atendendo ao tempo decorrido, tendes
novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos oráculos de
Deus" (5.12). Ele devia ter estado esperando algo melhor — isto é, que os leigos eventualmente
se tornassem mestres.
O texto de Efésios 4 não declara que os apóstolos, pastores
e profetas tenham que fazer o serviço
cristão. Diz, isso sim, que eles tinham que preparar os santos para executá-lo.
O arquiteto não constrói os prédios que
projeta; ele faz os cálculos e planos, e outros os constroem. Se o arquiteto tivesse que
projetar e depois ele próprio erguer as paredes de tijolos e edificar o prédio, provavelmente, ele não
faria mais que um edifício em toda a sua carreira. Mas do modo como se faz, ele pode
"erguer" vários prédios ao mesmo tempo. O ministério apostólico é necessário em nossos dias.
Precisamos de líderes que saibam traçar as plantas dadas por Deus, sendo também aptos para treinar
os crentes para o trabalho de construção do
edifício.
E não apenas isso, mas os arquitetos podem também formar
outros arquitetos. Ou então, para
usarmos a linguagem bíblica, os pastores podem treinar novos pastores. As
ovelhas geram outras ovelhas; e por que
não poderiam elas mesmas alimentar com leite os seus cordeirinhos? Esse é o processo natural, e
também o segredo da multiplicação.
Nosso alvo, afirmou Paulo, é chegar "...à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da
plenitude de Cristo" (Ef 4.13). O Pai quer que todos cresçam até
alcançar a estatura de Cristo. Os
pastores devem começar buscando para si mesmos a maturidade; então poderão
levar suas ovelhas a experimentar
crescimento semelhante.
Como resultado disso, continua Paulo nos w. 14 e 15, não
seremos mais "como meninos,
agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de
doutrina... mas, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo".
É como acontece nas escolas. Quando passamos para o primeiro
ano primário já podemos ensinar a outros
tudo o que aprendemos no jardim da infância. Um ano depois, devemos ter passado para o segundo ano, e
estar aptos a ensinar a outros o que aprendemos no primeiro ano, e os do primeiro ano devem
estar ensinando sobre o jardim da infância. Em pouco não estaremos mais
ensinando o ABC do evangelho, mas isso não quer dizer que o tenhamos esquecido. Continua sendo ensinado
por outros, em níveis inferiores, e o processo
de crescimento continua.
De que modo Paulo poderia sentir-se desejoso de partir, se
não tivesse discipulado homens como
Timóteo, Filemom, Epafras e outros mais? Jesus voltou ao céu tranqüilo e satisfeito porque deixava aqui onze réplicas
de sua pessoa. Os apóstolos não precisaram
escrever a um bispo qualquer pedindo: "Por favor, mande-nos um novo
pastor. O nosso acaba de partir para o
céu." Eles haviam alcançado a maturidade. Estavam preparados para
assumir o ministério deixado por Jesus.
Por que razão, quando alguém deseja ser treinado para o
ministério é necessário que saia da
igreja e vá para um seminário? A igreja não está cumprindo a sua tarefa. Se
os pastores estivessem preparando os
santos para o desempenho do seu ministério, como manda a Palavra, os seminários seriam
desnecessários. Deus só tem um estabelecimento seu na terra — a Igreja. Ela é tudo que ele queria.
Acho bom dar um esclarecimento: não sou contra seminários,
institutos bíblicos e organizações dessa
natureza, que colaboram com a igreja. A igreja está fraca e precisa dessas muletas. E glória a Deus por elas. Todavia,
não devemos gastar nosso tempo montando uma
fábrica de muletas, e, sim, buscar a cura da Igreja.
No momento devemos cuidar em não tomar as muletas daqueles
que estão fracos. Não há razão por que
se opor aos seminários, organizações de jovens, etc; são úteis para manter nos
de pé. Porém, quando a cura se efetivar, as muletas serão postas de lado.
Oremos pedindo essa cura.
De que maneira ela poderá ocorrer? A igreja terá condições
de crescer espiritualmente ao ver a sua
liderança se firmar no Senhor. Em 1 Coríntios 12.28, Paulo apresenta uma progressão: "A uns estabeleceu Deus na
igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores
de milagres, depois dons de curar,
socorros, governos, variedades de línguas."
Eu nunca prestara grande atenção a estas palavras:
"uns... outros... e outros... e outros", enquanto não comecei a pensar nesta questão
de crescimento. Na verdade, eu pensava que
meu ministério fosse bem amadurecido pois girava em torno de cura,
administração e línguas. Eu não percebia
que todas estas coisas se achavam no degrau mais inferior da escala.
Mas, quando busquei o Senhor a sós, ele começou a mostrar-me
que este verso apresentava uma pirâmide.
O apóstolo era um homem que profetizava, ensinava, operava milagres e curas, auxiliava a outros,
administrava e falava em línguas.
Compreendi também que o dom de línguas não era o diploma que
se recebe no fim do curso, mas sim uma
das primeiras lições aprendidas. Entendi que minha igreja, apesar de ter seiscentas pessoas que falavam em línguas, em
vez das duzentas iniciais, não havia crescido,
havia apenas engordado.
Comecei a perceber por que a família de Deus não funcionava
bem. Na maioria das famílias, o primeiro
filho já tem dois ou três anos de idade quando nasce o segundo. E quando vem o terceiro, o segundo já está caminhando
e o primeiro quase na época de entrar para a
escola.
Mas, na igreja, quando o segundo filho nasce, o primeiro
ainda é bebê. Quanto maior o número de
crianças que nascerem na igreja, maior é o número de fraldas que temos
para trocar ao mesmo tempo.
E, se todos estão crescendo, ministros e ovelhas, então pode
haver harmonia. Vejamos o exemplo de
Paulo. Ele não foi apóstolo desde o início; era apenas um discípulo que testemunhava nas igrejas. Ao que parece, ele
falou em línguas pela primeira vez quando
Ananias impôs as mãos sobre ele (At 9). E ele continuou a crescer. Em
Atos lie 12, ele era auxiliar de Barnabé. Depois, operou milagres e curas, e em
Atos 13.1, ele é mencionado entre os
profetas e mestres de Antioquia.
Depois, então, ele foi enviado como apóstolo.
O ministério de cada crente deve seguir estas mesmas
diretrizes. Mas sabe o que se passa na
igreja moderna? Nós, os pastores, paramos a certa altura do caminho; sabemos
falar em línguas, administrar, ajudar os
outros, operar algumas curas e até ensinar — mas aí paramos de nos desenvolver. Tornamo-nos como
tampões de cortiça emperrados num
gargalo. As ovelhas crescem e crescem, e passam a se acumular atrás de
nós incapazes de seguir em frente,
enquanto nós próprios não crescermos um pouco também. Elas continuam a ouvir nossos sermões, e daí a pouco, já sabem
tudo que nós sabemos, e a partir de então,
estamos numa câmara de pressão.
O pastor não se torna nesta rolha de cortiça
intencionalmente; como disse antes, ele é
vítima da estrutura, como todos nós. Sempre foi assim.
Se a pressão se torna forte demais, o pastor fica meio
incomodado, e pede ao bispo para ser
transferido. Então o bispo retira aquela rolha e coloca outra em seu
lugar. Se se trata de uma igreja cuja
denominação não tem bispos, o problema é mais grave ainda. A pressão continua a aumentar e, por
fim, a câmara explode, e o tampão voa longe.
Naturalmente, ele fica meio abalado com a explosão, e, às vezes, a
situação é tão séria, que ele não pode
mais continuar no ministério.
Logicamente, tudo isto pode ser evitado, se o pastor
continuar a crescer até o apostolado,
pois assim as ovelhas crescem com ele.
Se um pastor é verdadeiramente um pai para sua congregação,
ele não pode ser removido (ou explodir)
de dois em dois ou três em três anos. Que família muda de pai de dois em dois anos? Talvez nossas igrejas sejam
mais como clubes que elegem seu presidente por
certo período de tempo, e depois, vencido aquele termo, elegem outro,
Mas, se somos uma família, somos uma
família, e temos que permanecer unidos. A medida que os filhos crescem, o pai vai passando as responsabilidades para
eles.
Eventualmente, o ministro está apto para ser enviado como
apóstolo — que foi o que aconteceu a
Paulo e Barnabé, descrito em Atos 13. Eles haviam se tornado os principais edificadores de igrejas; haviam completado
todos os estágios. Agora achavam-se preparados
para implantar novas igrejas.
Enquanto eu me encontrava na América do Norte, recebi várias
cartas de meus discipulandos de Buenos
Aires. "Nós choramos muito quando você partiu", diziam. "Na verdade, nós choramos todas as vezes que você
viaja. Mas depois que você já se foi, é que nós
compreendemos o quanto precisávamos ficar sozinhos."
Há quatro anos atrás, alguns deles não sabiam nem dizer
"Amém" sozinhos. Agora são os
pastores da igreja, e eu posso ficar fora durante seis, sete e até oito meses
do ano, pois eles estão em meu lugar. Se
eu permanecesse lá o tempo todo, eles nunca se desenvolveriam. Quando estou na igreja, eles não querem
pregar, nem dirigir o cântico. Sou como um tampão de cortiça. Mas, quando eu saio, eles são
obrigados a fazê-lo.
Também Jesus, um dia, deixou sua congregação, e por fim
deixou a própria terra, e assim seus
discípulos tiveram que ficar sozinhos e se desenvolver.
Em nossa igreja moderna — que funciona às avessas — quem é
enviado para fundar novas igrejas?
Rapazes, mal saídos do seminário. Eu comecei quando contava vinte anos.
Não sabia bem o que estava fazendo. O
que consegui não foi criar um pomar florescente, mas instalar uma banca de frutas numa esquina. E
a banca precisava estar constantemente sendo
suprida com mercadoria trazida de outros lugares. Por si própria ela não
produzia uma só vida. Todas as vezes que
eu tinha que sair, precisava apelar para outro pastor: "Por favor, venha pregar em minha banca de frutas pois
tenho que viajar."
Sendo os principais edificadores da igreja, Paulo e Barnabé
estavam aptos para cultivar um pomar
vivo, abundante de frutos. Permaneciam num certo lugar por algum tempo, e depois seguiam em frente. Alguns anos mais
tarde, Paulo disse: "Voltemos agora para visitar os irmãos por todas as cidades, nas quais
anunciamos a palavra do Senhor, para ver como
passam" (At 15.36). E eles voltaram. E os pomares ainda estavam
ali, e continuavam se desenvolvendo.
Depois de ter estado em Tessalônica, ele lhes escreveu para
dizer que "Não só na Macedónia e
Acaia, mas por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto
de não termos necessidade de acrescentar
cousa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso
ingresso no vosso meio" (1 Ts 1.8,9).
Creio que está bem claro — não está? — por que foi que o
Espírito Santo disse à igreja de
Antioquia: "Separai-me agora a Barnabé e a Saulo" — dois dos
principais líderes da igreja —
"para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2).
Nós agimos ao contrário. O pastor de sucesso é aquele que
permanece no mesmo lugar todos os
domingos do ano, pelo maior espaço de tempo possível. Na igreja primitiva,
o melhor pastor era o que conseguia que
seus discípulos se desenvolvessem mais rapidamente e melhor, desse modo libertando-o para seguir
adiante, e lançar-se em outra empresa. E não era que ele fosse afastado do cargo, mas o que
acontecia era que agora ele podia deixar aquela
igreja nas mãos de seus filhos, e partir para outro lugar. Mas depois
ele sempre voltava ao seu ponto de
origem, assim como Paulo voltava para Antioquia.
Hoje nossos missionários não operam nessas bases. Os
melhores pastores ficam na América,
cremos. Como conseqüência disso, os missionários não são realmente apóstolos
(as duas palavras derivam da mesma raiz
grega). Eles são apenas pastores. Primeiramente, atuam como pastores na América; depois pegam um
avião e partem para a Argentina, e vão atuar
como pastores ali. Será que o avião os transforma em missionários?
Isto deve ficar muito caro para as igrejas americanas, pois
um pastor argentino pode fazer o mesmo
trabalho, por somente duzentos dólares mensais. O que faz de uma pessoa um verdadeiro apóstolo ou missionário? Sua
experiência e o dom de Deus que nela habita e que a capacita para planejar toda a estratégia do
trabalho, para toda uma região, a fim de preparar obreiros, cultivar pomares vivos em toda
parte.
Nós temos que crescer. Temos que deixar nossa infância
permanente, e ingerir alimento sólido,
até que estejamos preparados e possamos preparar outros para disseminar o Reino
de Deus.