segunda-feira, 10 de maio de 2021

O discipulo - Capítulo 12


 Crescendo 

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros  para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a  edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de  Deus, à perfeita varonilidade à medida da estatura da plenitude de Cristo. (Ef 4.11-13.) 

Quando o Senhor começou a revelar-me soluções para nosso problema de crescimento,  iniciou-o por esta passagem de Efésios. 

Minha tarefa era aperfeiçoar os santos e guiá-los à maturidade espiritual. Eu não fora  preparado para isso. Aprendera a agradar as pessoas, não aperfeiçoá-las. Este era o objetivo  das inúmeras atividades da igreja — entreter as pessoas, rr^ntê-las interessadas, conservá-las  envolvidas na obra. 

Muitos pastores cujas igrejas eu visitei, indagavam-me quase no momento em que ali  chegava: "Irmão Ortiz, o senhor tem algumas idéias novas? Sabe de alguma novidade para a  União de Homens? para o trabalho de jovens?" Nós estamos sempre à espreita, procurando  arranjar idéias novas, atraentes, que segurem nosso povo na igreja. Se pudermos conservá-los  debaixo da graça de Deus até morrerem, então vencemos — é o pensamento geral. 

Mas, na verdade, não é este o nosso ministério como pastores. Não admira que o  apóstolo tenha dito aos hebreus: "Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao  tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são  os princípios elementares dos oráculos de Deus" (5.12). Ele devia ter estado esperando algo  melhor — isto é, que os leigos eventualmente se tornassem mestres. 

O texto de Efésios 4 não declara que os apóstolos, pastores e profetas tenham que fazer  o serviço cristão. Diz, isso sim, que eles tinham que preparar os santos para executá-lo. O  arquiteto não constrói os prédios que projeta; ele faz os cálculos e planos, e outros os  constroem. Se o arquiteto tivesse que projetar e depois ele próprio erguer as paredes de tijolos  e edificar o prédio, provavelmente, ele não faria mais que um edifício em toda a sua carreira.  Mas do modo como se faz, ele pode "erguer" vários prédios ao mesmo tempo. O ministério  apostólico é necessário em nossos dias. Precisamos de líderes que saibam traçar as plantas  dadas por Deus, sendo também aptos para treinar os crentes para o trabalho de construção do  edifício. 

E não apenas isso, mas os arquitetos podem também formar outros arquitetos. Ou então,  para usarmos a linguagem bíblica, os pastores podem treinar novos pastores. As ovelhas  geram outras ovelhas; e por que não poderiam elas mesmas alimentar com leite os seus  cordeirinhos? Esse é o processo natural, e também o segredo da multiplicação. 

Nosso alvo, afirmou Paulo, é chegar "...à perfeita varonilidade, à medida da estatura da  plenitude de Cristo" (Ef 4.13). O Pai quer que todos cresçam até alcançar a estatura de Cristo.  Os pastores devem começar buscando para si mesmos a maturidade; então poderão levar suas  ovelhas a experimentar crescimento semelhante. 

Como resultado disso, continua Paulo nos w. 14 e 15, não seremos mais "como  meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina... mas,  seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo". 

É como acontece nas escolas. Quando passamos para o primeiro ano primário já  podemos ensinar a outros tudo o que aprendemos no jardim da infância. Um ano depois,  devemos ter passado para o segundo ano, e estar aptos a ensinar a outros o que aprendemos no  primeiro ano, e os do primeiro ano devem estar ensinando sobre o jardim da infância. Em pouco não estaremos mais ensinando o ABC do evangelho, mas isso não quer dizer que o  tenhamos esquecido. Continua sendo ensinado por outros, em níveis inferiores, e o processo  de crescimento continua. 

De que modo Paulo poderia sentir-se desejoso de partir, se não tivesse discipulado  homens como Timóteo, Filemom, Epafras e outros mais? Jesus voltou ao céu tranqüilo e  satisfeito porque deixava aqui onze réplicas de sua pessoa. Os apóstolos não precisaram  escrever a um bispo qualquer pedindo: "Por favor, mande-nos um novo pastor. O nosso acaba  de partir para o céu." Eles haviam alcançado a maturidade. Estavam preparados para assumir  o ministério deixado por Jesus. 

Por que razão, quando alguém deseja ser treinado para o ministério é necessário que  saia da igreja e vá para um seminário? A igreja não está cumprindo a sua tarefa. Se os  pastores estivessem preparando os santos para o desempenho do seu ministério, como manda  a Palavra, os seminários seriam desnecessários. Deus só tem um estabelecimento seu na terra  — a Igreja. Ela é tudo que ele queria. 

Acho bom dar um esclarecimento: não sou contra seminários, institutos bíblicos e  organizações dessa natureza, que colaboram com a igreja. A igreja está fraca e precisa dessas  muletas. E glória a Deus por elas. Todavia, não devemos gastar nosso tempo montando uma  fábrica de muletas, e, sim, buscar a cura da Igreja. 

No momento devemos cuidar em não tomar as muletas daqueles que estão fracos. Não  há razão por que se opor aos seminários, organizações de jovens, etc; são úteis para manter nos de pé. Porém, quando a cura se efetivar, as muletas serão postas de lado. Oremos pedindo  essa cura. 

De que maneira ela poderá ocorrer? A igreja terá condições de crescer espiritualmente  ao ver a sua liderança se firmar no Senhor. Em 1 Coríntios 12.28, Paulo apresenta uma  progressão: "A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar  profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar,  socorros, governos, variedades de línguas." 

Eu nunca prestara grande atenção a estas palavras: "uns... outros... e outros... e outros",  enquanto não comecei a pensar nesta questão de crescimento. Na verdade, eu pensava que  meu ministério fosse bem amadurecido pois girava em torno de cura, administração e línguas.  Eu não percebia que todas estas coisas se achavam no degrau mais inferior da escala. 

Mas, quando busquei o Senhor a sós, ele começou a mostrar-me que este verso  apresentava uma pirâmide. O apóstolo era um homem que profetizava, ensinava, operava  milagres e curas, auxiliava a outros, administrava e falava em línguas. 

Compreendi também que o dom de línguas não era o diploma que se recebe no fim do  curso, mas sim uma das primeiras lições aprendidas. Entendi que minha igreja, apesar de ter  seiscentas pessoas que falavam em línguas, em vez das duzentas iniciais, não havia crescido,  havia apenas engordado. 

Comecei a perceber por que a família de Deus não funcionava bem. Na maioria das  famílias, o primeiro filho já tem dois ou três anos de idade quando nasce o segundo. E quando  vem o terceiro, o segundo já está caminhando e o primeiro quase na época de entrar para a  escola. 

Mas, na igreja, quando o segundo filho nasce, o primeiro ainda é bebê. Quanto maior o  número de crianças que nascerem na igreja, maior é o número de fraldas que temos para  trocar ao mesmo tempo. 

E, se todos estão crescendo, ministros e ovelhas, então pode haver harmonia. Vejamos o  exemplo de Paulo. Ele não foi apóstolo desde o início; era apenas um discípulo que  testemunhava nas igrejas. Ao que parece, ele falou em línguas pela primeira vez quando  Ananias impôs as mãos sobre ele (At 9). E ele continuou a crescer. Em Atos lie 12, ele era auxiliar de Barnabé. Depois, operou milagres e curas, e em Atos 13.1, ele é mencionado entre  os profetas e mestres de Antioquia. 

Depois, então, ele foi enviado como apóstolo. 

O ministério de cada crente deve seguir estas mesmas diretrizes. Mas sabe o que se  passa na igreja moderna? Nós, os pastores, paramos a certa altura do caminho; sabemos falar  em línguas, administrar, ajudar os outros, operar algumas curas e até ensinar — mas aí  paramos de nos desenvolver. Tornamo-nos como tampões de cortiça emperrados num  gargalo. As ovelhas crescem e crescem, e passam a se acumular atrás de nós incapazes de  seguir em frente, enquanto nós próprios não crescermos um pouco também. Elas continuam a  ouvir nossos sermões, e daí a pouco, já sabem tudo que nós sabemos, e a partir de então,  estamos numa câmara de pressão. 

O pastor não se torna nesta rolha de cortiça intencionalmente; como disse antes, ele é  vítima da estrutura, como todos nós. Sempre foi assim. 

Se a pressão se torna forte demais, o pastor fica meio incomodado, e pede ao bispo para  ser transferido. Então o bispo retira aquela rolha e coloca outra em seu lugar.  Se se trata de uma igreja cuja denominação não tem bispos, o problema é mais grave  ainda. A pressão continua a aumentar e, por fim, a câmara explode, e o tampão voa longe.  Naturalmente, ele fica meio abalado com a explosão, e, às vezes, a situação é tão séria, que  ele não pode mais continuar no ministério. 

Logicamente, tudo isto pode ser evitado, se o pastor continuar a crescer até o  apostolado, pois assim as ovelhas crescem com ele. 

Se um pastor é verdadeiramente um pai para sua congregação, ele não pode ser  removido (ou explodir) de dois em dois ou três em três anos. Que família muda de pai de dois  em dois anos? Talvez nossas igrejas sejam mais como clubes que elegem seu presidente por  certo período de tempo, e depois, vencido aquele termo, elegem outro, Mas, se somos uma  família, somos uma família, e temos que permanecer unidos. A medida que os filhos crescem,  o pai vai passando as responsabilidades para eles. 

Eventualmente, o ministro está apto para ser enviado como apóstolo — que foi o que  aconteceu a Paulo e Barnabé, descrito em Atos 13. Eles haviam se tornado os principais  edificadores de igrejas; haviam completado todos os estágios. Agora achavam-se preparados  para implantar novas igrejas. 

Enquanto eu me encontrava na América do Norte, recebi várias cartas de meus  discipulandos de Buenos Aires. "Nós choramos muito quando você partiu", diziam. "Na  verdade, nós choramos todas as vezes que você viaja. Mas depois que você já se foi, é que nós  compreendemos o quanto precisávamos ficar sozinhos." 

Há quatro anos atrás, alguns deles não sabiam nem dizer "Amém" sozinhos. Agora são  os pastores da igreja, e eu posso ficar fora durante seis, sete e até oito meses do ano, pois eles  estão em meu lugar. Se eu permanecesse lá o tempo todo, eles nunca se desenvolveriam.  Quando estou na igreja, eles não querem pregar, nem dirigir o cântico. Sou como um tampão  de cortiça. Mas, quando eu saio, eles são obrigados a fazê-lo. 

Também Jesus, um dia, deixou sua congregação, e por fim deixou a própria terra, e  assim seus discípulos tiveram que ficar sozinhos e se desenvolver. 

Em nossa igreja moderna — que funciona às avessas — quem é enviado para fundar  novas igrejas? Rapazes, mal saídos do seminário. Eu comecei quando contava vinte anos. Não  sabia bem o que estava fazendo. O que consegui não foi criar um pomar florescente, mas  instalar uma banca de frutas numa esquina. E a banca precisava estar constantemente sendo  suprida com mercadoria trazida de outros lugares. Por si própria ela não produzia uma só  vida. Todas as vezes que eu tinha que sair, precisava apelar para outro pastor: "Por favor,  venha pregar em minha banca de frutas pois tenho que viajar."

Sendo os principais edificadores da igreja, Paulo e Barnabé estavam aptos para cultivar  um pomar vivo, abundante de frutos. Permaneciam num certo lugar por algum tempo, e  depois seguiam em frente. Alguns anos mais tarde, Paulo disse: "Voltemos agora para visitar  os irmãos por todas as cidades, nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como  passam" (At 15.36). E eles voltaram. E os pomares ainda estavam ali, e continuavam se  desenvolvendo. 

Depois de ter estado em Tessalônica, ele lhes escreveu para dizer que "Não só na  Macedónia e Acaia, mas por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de  não termos necessidade de acrescentar cousa alguma; pois eles mesmos, no tocante a nós,  proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio" (1 Ts 1.8,9). 

Creio que está bem claro — não está? — por que foi que o Espírito Santo disse à igreja  de Antioquia: "Separai-me agora a Barnabé e a Saulo" — dois dos principais líderes da igreja  — "para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2). 

Nós agimos ao contrário. O pastor de sucesso é aquele que permanece no mesmo lugar  todos os domingos do ano, pelo maior espaço de tempo possível. Na igreja primitiva, o  melhor pastor era o que conseguia que seus discípulos se desenvolvessem mais rapidamente e  melhor, desse modo libertando-o para seguir adiante, e lançar-se em outra empresa. E não era  que ele fosse afastado do cargo, mas o que acontecia era que agora ele podia deixar aquela  igreja nas mãos de seus filhos, e partir para outro lugar. Mas depois ele sempre voltava ao seu  ponto de origem, assim como Paulo voltava para Antioquia. 

Hoje nossos missionários não operam nessas bases. Os melhores pastores ficam na  América, cremos. Como conseqüência disso, os missionários não são realmente apóstolos (as  duas palavras derivam da mesma raiz grega). Eles são apenas pastores. Primeiramente, atuam  como pastores na América; depois pegam um avião e partem para a Argentina, e vão atuar  como pastores ali. Será que o avião os transforma em missionários? 

Isto deve ficar muito caro para as igrejas americanas, pois um pastor argentino pode  fazer o mesmo trabalho, por somente duzentos dólares mensais. O que faz de uma pessoa um  verdadeiro apóstolo ou missionário? Sua experiência e o dom de Deus que nela habita e que a  capacita para planejar toda a estratégia do trabalho, para toda uma região, a fim de preparar  obreiros, cultivar pomares vivos em toda parte. 

Nós temos que crescer. Temos que deixar nossa infância permanente, e ingerir alimento  sólido, até que estejamos preparados e possamos preparar outros para disseminar o Reino de  Deus.