Louvai-o pelos seus feitos poderosos. (SI 150.2.)
De todos os personagens bíblicos, Davi é o que melhor nos
fala acerca do louvor e da adoração. Ele
discorre mais que qualquer outro e com mais autoridade sobre como expressar
o amor do reino, que temos em nosso
coração.
Algum tempo atrás, resolvi ler todos os salmos de Davi de
uma assentada. Não tencionava procurar
versos especiais nem mensagens de conforto ou encorajamento. Apenas queria aprender alguma coisa acerca de Davi,
pois desejava ser como ele.
Descobri que o livro é como uma sinfonia. Ele começa bem
suave. Dá-nos a mesma sensação de quando
ouvimos uma orquestra filarmônica pela primeira vez. Vemos todos aqueles instrumentos e calculamos que iremos
ser totalmente envolvidos por uma
avassaladora onda de sons.
Mas, então, começam a tocar apenas dois ou três violinos.
Que decepção! Depois, de pianíssimo, a
música passa para piano. A seguir, fica um pouco mais forte... meio
forte... forte. E quando todos os
instrumentos estão soando juntos, ficamos quase amedrontados. O Salmo 150 é o fortíssimo de Davi, o
"grand finale" da sinfonia.
Louvai-o ao som da trombeta.
Louvai-o com saltério e com harpa.
Louvai-o com adufes e danças;
Louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas.
Louvai-o com címbalos sonoros;
Louvai-o com címbalos retumbantes.
Todo ser que respira louve ao Senhor.
Aleluia! (Versos 3-6.)
Por que todo este barulho? Por causa de seus "feitos
poderosos''.
Eu nasci e me criei numa igreja que dava muita importância
ao louvor a Deus. Bem cedo, aprendi as
palavras de louvor. Contudo, não entendi claramente o conceito certo de louvor, embora dedicássemos uma grande parte
de nossos cultos ao louvor.
O que é louvar? Qualquer dicionário nos dirá que louvar é
reconhecer as virtudes de alguém.
Louvar não é apenas repetir a palavra louvor. Se eu estou
num culto, e ouço alguém fazer um
belíssimo solo, eu não me dirijo a esta pessoa e fico a repetir: "Eu o
louvo! Eu o louvo! Eu o louvo!"
Isto não é louvar. Tenho que louvá-lo por algo que ele fez. Eu deveria dizer:
"Olhe, quando você começou a cantar, meu coração se
abriu à mensagem do hino. Olhei para as
pessoas ao meu lado, e vi que também elas, todos nós, estávamos arrebatados
pelo seu canto."
Se eu vejo uma senhora andando pela rua com seu filho, corro
para ela, agarro seu braço e digo:
"õ minha senhora, eu a louvo! Eu a louvo! Eu a louvo!" Se eu disser
isso, ela dirá: "Você está
louco!"
Mas se eu disser: "Com licença, minha senhora. É a mãe
desta criança?", ela responderá:
"Sou".
E eu direi: "Ê uma bela criança. Seu filho tem belos
modos, e a senhora pode orgulhar se dele." Eu a louvei, embora não tenha
pronunciado a palavra louvor.
Se eu me aproximar de um pintor e disser: "Oh! Eu o
louvo, aleluia!" ele sairá correndo,
fugindo de mim.
Eu deveria ter dito: "Eu estava observando seus
quadros, e gostei muito da maneira como
você pintou aquela mão segurando a xícara — é simplesmente maravilhoso. Parece
até que ela está saindo da moldura e
convidando-nos a sentar e jantar."
Uma grande parte de nosso louvor consiste somente em repetir
a palavra louvor, e isto não significa
nada.
Nossas palavras são como caixas vazias. Para ensinar à minha
igreja esta lição, comecei a interrogá-los.
Todas as vezes que ouvia alguém dizer: "Glória a Deus!" eu diria:
"Espere um pouco, por que você está
louvando ao Senhor?"
"Bem, eu estou louvando a Deus porque, ahhh... porque,
bem ahhh..." Não sabia. Alguém
dizia: "Aleluia!"
E eu perguntava: "Por que você disse: 'Aleluia!'
?"
"Bem, eu disse Aleluia porque... ahhh..., bem,
ahh..."
"Você disse 'Aleluia!' porque é pentecostal e faz parte
de nossa liturgia dizer 'Aleluia!'."
Davi disse: "Louvai-o pelos seus poderosos feitos." Mas nós
não temos feito isto. Nós chegamos à
igreja puxando um carrinho de mão cheio de caixas belamente
embaladas e atadas com lindas fitas, ostentando cartões que
trazem os dizeres: "Glória ao
Senhor!" "Aleluia!" "Glória a Deus!" e
"Amém!"
E os pastores dizem: "Que gente maravilhosa! Eles
trazem tanto louvor à igreja!" E
todas as caixas são levadas para o altar. Mas quando Deus as abre, não encontra
nada dentro.
Certa vez eu disse para mim mesmo: Já estou na igreja há
mais de trinta anos — isto é, desde que
nasci. O que aprendi este tempo todo a respeito do louvor?
Bem, eu aprendi a repetir quatro fórmulas de louvor:
Aleluia! Glória ao Senhor! Glória a
Deus! e Amém. E isso em trinta anos.
Aprendera também a gritar estas quatro expressões.
E ultimamente eu dera um passo à frente dos mais antigos:
aprendera a cantá-las também. As
palavras eram as mesmas, mas agora eu as cantava, e achei que aquilo era sensacional.
E eu disse: "Senhor, será que isto é tudo que eu posso
oferecer-te em matéria de
louvor?"
Depois, então, li um verso que Davi escreveu: -
"Louvai-o pelos seus poderosos feitos." E compreendi que cada palavra de louvor deve
ter um motivo. Temos que saber por que
louvamos o Senhor. De outro modo, estaremos apenas nos enganando,
pensando que estamos louvando ao Senhor,
quando, na realidade, estamos apenas pronunciando algumas palavras.
Suponhamos que eu saia para fazer compras. Quando volto para
casa, minha esposa pergunta: "Onde
você esteve?"
"Fazendo compras."
"O que você comprou?"
"Nada. Fui fazer compras, mas não comprei
nada."
Eu disse a palavra compras, mas não fiz compras. Apenas
fiquei andando de um lado para
outro.
Muitos de nós empregam palavras de louvor; nós as repetimos
muitas vezes. Mas não estamos louvando
realmente. Deus não quer palavras; ele quer louvor. Ele não está interessado nas caixas; quer o conteúdo
delas.
Minha igreja aceitou bem esta primeira proposição, e então
resolvi dar mais um passo. "Para
podermos avançar nesta questão de louvor", disse-lhes, "durante este
mês estamos proibidos de pronunciar
estas quatro fórmulas de louvor em nossos cultos. Vamos continuar louvando a Deus, mas procurando outras
palavras."
Ninguém mais sabia louvar a Deus. Minha esposa
perguntou:
"Juan, se eu não posso dizer Aleluia, o que vou dizer
então? Afinal de contas, os anjos dizem:
Aleluia!"
"Certo", respondi-lhe, "mas eles dizem:
"Aleluia! Pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso." (Ap 19.6.) Eles louvam a
Deus "pelos seus poderosos feitos". Precisamos ter em mente um feito poderoso de Deus, quando o
louvamos, senão nosso louvor é vazio."
Nós nos tornamos como caminhões pesados, quando atolam na
lama. Ficam presos ali, as rodas
derrapando violentamente, fazem um enorme barulhão, queimam muito
combustível — mas não saem do lugar.
Eu estava com o mesmo problema — fazia muito barulho, mas
estava grudado no chão. Não tinha palavras.
Reconheci minha pobreza no louvor, e disse: "Senhor, acho que, para o meu coração, o Senhor não significa muita
coisa. Se não canto os salmos de Davi ou os hinos do hinário, não tenho muita coisa para
dizer-te."
Mas nós aprendemos bastante com aquela experiência. Descobri
que estivéramos avaliando nossas
reuniões pela quantidade de palavras de louvor que ouvíamos, o que, muitas vezes, não significavam nada. Comecei a procurar
em minha vida e experiência fatos e
bênçãos pelos quais eu podia louvar a Deus. E encontrei o Senhor em
lugares onde nunca pensei que
estaria.
Passei a ver Cristo no meu irmão. A princípio, a única coisa
que eu conseguia dizer era: “Glória a
Deus, porque ele tem uma fisionomia alegre.” Mas, depois, passei a me lembrar de que Jesus vivia dentro dele.
E, eventualmente, vim a compreender que o louvor não é
apenas uma explosão de palavras que
pronunciamos no domingo pela manhã. O louvor é toda uma linguagem. O louvor é a linguagem do Reino de Deus. Assim
como o espanhol é a língua da Argentina, o
inglês é a língua dos Estados Unidos e da Inglaterra, o português a do
Brasil, assim, o louvor é a linguagem do
Reino de Deus. Os cidadãos deste Reino falam seu idioma, e nós nos reconhecemos uns aos outros pelo
sotaque.
Ê como disse Davi: "O seu louvor estará sempre nos meus
lábios" (SI 34.1). Ele louvava a
Deus no leito, da mesma forma que o louvava durante o dia.
Para Deus, existem somente duas línguas neste mundo: a
língua de seu Reino e a do reino das
trevas. A primeira é a linguagem do louvor; a outra, a da queixa. O louvor
exalta virtudes. A queixa critica a
virtude. Todo ser humano fala ou uma língua ou a outra. Vamos escutar um pouquinho os cidadãos do
reino das trevas.
O despertador toca pela manhã: "Ahhhhh! Quem foi que
inventou o trabalho?" Assentam-se
para o desjejum: "O café está muito quente."
Eles reclamam do tempo, do governo, do tráfego — de tudo. É
toda uma linguagem. Foi um choque para
mim constatar que os cidadãos do Reino de Deus, na maior parte do tempo, falam o idioma errado. Eles vão à
igreja e cantam: "Aleluia! Aleluia!" Depois, quando o culto termina, eles saem: "Ih! Está
chovendo. Que dia horrível!"
Quem fez o dia? O Senhor.
Talvez eles devessem fazer uma corrigenda naquele conhecido
corinho, e cantá-lo assim: "Este é
o dia que fez o Senhor, vamos criticar e reclamar."
Como podemos cantar: "Glória a Deus!" e instantes
depois criticarmos a mesma Pessoa? Nosso
louvor não alcança nosso entendimento. Louvamos sem saber o que estamos fazendo.
Às vezes alguns americanos aproximam-se de mim e dizem:
"Como está usted?" E eu
respondo: "Muchas gracias; muy bien, y usted?"
Então eles riem e dizem: "Ah, bom, eu não sei mais nada
de espanhol." O espanhol não é a
língua deles; tudo que sabem são algumas palavras que aprenderam na escola. Seu vocabulário é muito limitado.
O mesmo acontece com alguns crentes. A sua linguagem não é o
louvor; eles sabem apenas algumas
palavras que aprenderam na escola pentecostal: "Aleluia!"
"Glória a Deus!" Mas durante o
restante do dia eles falam a linguagem da queixa.
Se está fazendo muito frio ou muito calor, e não chove, nós
reclamamos: "Que dia
horrível!"
Nada do que Deus fez pode ser considerado horrível. O clima
é uma manifestação do seu grande poder.
Também o são a neve, o calor e o gelo. Eu já aprendi a dizer: "Que belo
dia ensolarado!" "Que belo dia
chuvoso!" "Que belo dia de neve!" "Que lindo dia
quente!" — por que não? Todos eles
são belos, porque Deus os fez, e ele merece ser louvado por tê-los feito.
Paulo disse a Timóteo: "Tudo que Deus criou é bom, e,
recebido com ações de graça, nada é
recusável." (1 Tm 4.4.) Se nós possuímos um coração agradecido, tudo é
bom. Se não, tudo é sempre ruim.
Em Buenos Aires, às vezes, a temperatura sobe até 43 ° C, no
verão. Então, quando está pelos 32 ° ou
35 °, encontro com alguém que me diz:
"Olá, Pastor Ortiz, como é que o senhor vai passando
com este calor?"
"Vou bem, obrigado!" respondo eu. "E
você?"
"Ah, terrível."
"Ah, não, irmão. Foi o nosso Pai que ligou o
aquecedor."
Quando o termômetro sobe para 38 °, eles reclamam mais
ainda. Mas o crente pode sentir orgulho
de seu Pai. Que poder tem ele! Para aquecer o prédio de uma galeria de
lojas, por exemplo, são necessárias
caldeiras enormes. Mas nosso Pai aquece o país todo elevando sua temperatura até 43 °, e faz isso sem
nenhuma dificuldade.
Ou então ele congela tudo, e mata todos os germes sem
precisar de DDT. É fantástico! Todos os
anos, uma equipe russa de patinadores no gelo visita nossa cidade e dá um espetáculo ali. Eu já vi as imensas máquinas
que eles têm que transportar consigo para
produzir uma simples camada de gelo no piso do estádio.
Mas também já vi como Deus congela todo o Canadá. E sem
maquinário. Isso é o poder de Deus.
Glória a Deus pelo gelo e pela neve!
Paulo disse também: "Antes de tudo, pois, exorto que se
use a prática de súplicas, orações, intercessões,
ações de graças, em favor de todos os homens." (1 Tm 2.1.). Certa
vez, estávamos tentando louvar ao Senhor
em um de nossos cultos sem dizer aquelas quatro frases, quando, num dado momento, pareceu-me que o
Espírito tomou controle de mim, e eu disse:
"Senhor, nós vamos agradecer-te por algumas coisas ou pessoas em
particular. Vamos começar pensando no
telefone. Geralmente, não lhe damos o devido valor — mas quanta gente contribui para o seu funcionamento.
Quanto trabalho técnico! Graças te damos. Senhor, pela Companhia Telefônica."
E todo o povo disse: "Obrigado, Senhor, pela Companhia
Telefônica!"
"Senhor", continuei, e quando nós abrimos a
torneira, dali jorra água — quente e fria.
Parece tão simples, mas quantos milhares de pessoas trabalham para que
nós tenhamos água. “Obrigado, Senhor,
pelo departamento de águas."
E novamente o povo disse: "Sim. Nós te agradecemos.
Senhor, por ele." E nós continuamos
agradecendo a Deus pelos professores, pelos motoristas de ônibus, pelos médicos, enfermeiros, policiais, e até
pelo prefeito de nossa cidade. Nunca havíamos
feito tal coisa antes. Estávamos por demais atarefados com nossos
"Aleluias" e "Glória a
Deus!" Mas, proibidos de falar estas palavras, tivemos que arranjar
outras. E assim entramos numa nova
dimensão de louvor.
Eu creio que Deus está cansado de ouvir queixas. Quando nós
dizemos: "Senhor, nós te damos
graças pelas boas realizações de nosso prefeito", eu acho que Deus diz:
"Até que enfim! Alguém finalmente
reconheceu que eu realizei algum bem."
Se um dia o telefone não funciona, começamos a nos queixar e
nos esquecemos de todos os outros dias
em que ele funcionou perfeitamente. Se um dia o pastor não prega bem, nós o criticamos, esquecendo-nos das boas
mensagens que ele já entregou.
Mesmo quando alguém morre, por que temos de nos entristecer,
esquecendo-nos de todos os anos que
aquela pessoa viveu?
Certa vez tive que dirigir um culto fúnebre de uma senhora
que falecera aos setenta anos de idade.
Eu não queria usar a linguagem das trevas, e por isso disse:
"Graças a Deus pelos setenta anos em que esta senhora
conviveu conosco! Deus é tão bom! Ele permitiu
que ela vivesse entre nós todo este tempo. Vamos agradecer-lhe por
isto." Toda a atmosfera se
modificou. Até mesmo o marido disse: "Graças te dou, Senhor, por teres me dado todo este tempo ao lado de
minha esposa!" Mais tarde ele pediu que
cantássemos um corinho cuja letra diz mais ou menos o seguinte:
Eu venho dizer-te
Eu venho dizer-te, meu Salvador.
Que eu amo a ti, que eu amo a ti,
De todo coração.
Oh, estou feliz, estou tão feliz e cheio de gozo. Este hino
não seria muito apropriado para um culto
fúnebre, mas foi o que ele quis cantar. Depois nós demos as mãos e
começamos a dançar no espírito — até o
viúvo. Ele estava tão feliz com a revelação de que Deus dera todos aqueles 70 anos à sua esposa, que
desejou fazer uma comemoração. E por que não?
Temos que nos observar para ver se estamos falando a
linguagem certa. Se a que falamos é a do
Reino de Deus, então temos que louvá-lo todos os dias, o ano inteiro, e entender plenamente o que dizemos.