segunda-feira, 10 de maio de 2021

O discipulo - Capítulo 08


 Amor Unificador 

"Eu lhes fiz conhecer o teu nome, e ainda o farei conhecer, afim de que o amor com que me amaste  esteja neles e eu neles esteja. (Jo 17.26.) 

O terceiro grau de amor vai além do velho e do novo mandamentos. É o amor da  Trindade. 

Será que podemos imaginar como é o amor que liga as pessoas da Trindade? Como será  que o Pai ama o Filho? Como será que o Filho ama o Pai? Como é que o Espírito Santo ama o  Filho? E como é que o Espírito Santo ama o Pai? Como o Pai ama o Espírito? Como o Filho  ama o Espírito? Que coisa grandiosa! 

É o amor eterno. Um amor para pessoas maduras. Este grau de amor é sólido e nunca  admite um desacordo. No Velho Testamento, vemos como o Pai realizou prodígios e  milagres, ressuscitou mortos, curou enfermos. Depois, o Filho veio à terra e fez as mesmas  coisas. O Pai não sentiu inveja. Ele disse até que estava muito satisfeito. (Mt 17.5.) 

Depois, o Espírito Santo veio e começou a operar as mesmas coisas. Ainda assim, havia  uma perfeita unidade neles. O amor deles é tão maduro que nada os ofende.  O amor do tipo da Trindade é o que faz com que três sejam um. Dois mais amor eterno,  igual a um. Três mais amor eterno, igual a um. Quatro mais amor eterno, igual a um.  E cem cristãos mais amor eterno, igual a um. Com qualquer número dá o mesmo  resultado. 

Jesus orou a Deus pedindo que este mesmo grau de amor "esteja neles" — referindo-se  a nós. 

Quando eu era garoto, certo domingo na escola dominical, o professor ensinou uma  lição sobre como nós estamos em Cristo. Compreendi muito bem. 

Mas depois, no domingo seguinte, ele falou sobre Cristo em nós. Objetei. "O senhor  deve estar enganado. Se nós estamos em Cristo, como é que Cristo pode estar em nós? Se  uma coisa contém a outra, o menor não pode conter o maior, ao mesmo tempo." 

Mas agora tudo está claro. Se eu estou no coração de meu irmão e ele está no meu  coração, nós estamos um no outro. Somos um pelo amor. 

Mas é claro que, hoje em dia, nós não estamos unificados. Estamos divididos em muitos  grupos. Somos metodistas, presbiterianos, pentecostais (de vários tipos), nazarenos, Exército  de Salvação, anglicanos, irmãos unidos, batistas (de vários tipos), e ainda muitos outros. 

Contudo, Deus está-nos reagrupando. Ele já começou a unificar-nos. Todavia, ele não  nos agrupa segundo nossas categorias. Ele tem apenas dois grupos: os que amam uns aos  outros e os que não amam. 

Portanto, se me perguntarem: "Irmão Ortiz, de que grupo é o irmão"?, responderei: "Sou  do grupo dos que amam uns aos outros." E esta é a diferença entre as ovelhas e cabritos que  Jesus mencionou em Mateus 25. Na Argentina a criação de ovinos é bem grande. É  interessante observar o que acontece quando se precisa deslocar um rebanho de ovelhas.  Todas elas seguem na mesma direção. Elas se tornam como um só corpo. 

Mas se tentarmos fazer a mesma coisa com os bodes, eles começam a dar marradas uns  nos outros, e começam a brigar. 

Portanto, é muito fácil distinguir-se uma ovelha de um bode. Não é necessário o dom de  discernimento nem de interpretação, nada disso. Basta conversar com uma pessoa durante um  ou dois minutos. Se ela se mostrar agressiva é um bode. Se demonstrar amor é uma ovelha.

Como foi que Jesus fez a distinção entre as ovelhas e bodes? Ele se baseou no fato de  haverem elas dado água aos sedentos, comida aos famintos, feito visitas a enfermos e  encarcerados, e assim por diante. Ele chamou as pessoas que haviam demonstrado amor para  com seus irmãos de "benditos de meu Pai" (v. 34). Os outros foram chamados pelo adjetivo  oposto, "malditos" (v. 41). 

Mas ouçam — Deus não está apenas reagrupando seu povo. Ele está unificando-o.  Desejo ilustrar isto falando sobre as batatas. Cada pé de batata de uma horta tem três, quatro  ou cinco batatas no solo. Cada batata em si pertence a uma planta ou a outra. 

Por ocasião da colheita, todas as batatas são arrancadas e colocadas num saco. Dessa  forma elas ficam agrupadas. Mas ainda não estão perfeitamente unidas. Elas podem dizer:  "Graças a Deus! Agora estamos todas no mesmo saco." Mas ainda não são uma só massa. 

Depois, elas são lavadas e descascadas. E aí pensam que agora estão mais unidas.  "Como é belo este amor que nos une!" dizem elas. 

Mas o processo ainda não terminou. Elas têm que ser cortadas em pedaços, os quais  serão misturados. A esta altura, elas já perderam bastante de sua individualidade, e pensam  que já estão como o Mestre deseja. 

Mas a união que Deus realmente quer é a do "purê" de batatas, onde haverá não muitas  batatas, mas uma única massa de batatas. Pois nesse caso, nenhuma batata pode erguer a  cabeça e dizer: "Ei, aqui estou. Eu sou uma batata." O pronome que ela tem que usar é nós. É  por isso que o Pai Nosso se inicia com esta expressão: "Pai nosso que estás no céu..." e não:  "Mew Pai que estás no céu..." 

Com toda a reverência, quero dizer que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três batatas  que se tornaram um purê. E Jesus deseja mais destes purês. E vai conseguir. Ele está  realizando uma obra profunda em sua Igreja. 

Sabem de uma coisa? Se nós começarmos a amar uns aos outros deste modo pleno e  maduro, dentro em breve a palavra irmão poderá sumir de nosso vocabulário. Mas do modo  como somos agora, precisamos chamar uns aos outros de irmão, pois não vivemos como  irmãos. Em minha família, eu era apelidado de Magricela. Ninguém precisava chamar-me de  irmão Juan Carlos para provar que era meu irmão; todos eles sabiam que eu era irmão deles. 

Na igreja, nós dizemos: "Pastor Smith", ou "Irmão Ortiz" porque na realidade não temos  um relacionamento fraterno, mas queremos dar a impressão de que temos.  Certa vez fui a uma igreja de culto muito formal, e ouvi o pastor dizer: "Sr. Brown,  queira dirigir-nos numa palavra de oração." 

Como este povo é frio, pensei. Ele nem ao menos disse: Irmão Brown. 

Depois, vim a descobrir que aquele relacionamento entre os senhores daquela igreja era  exatamente igual ao dos "irmãos" da minha. Estamos iludindo a nós mesmos com tais  palavras. 

Em todas as nossas conversas sobre o amor, lembremos de suas duas dimensões: a  mística e a pragmática. A mística diz: "Ah, irmão, eu sinto um grande amor por você." A  pragmática fala: "De quanto é que o irmão precisa?"

Há pouco tempo atrás, assisti a uma reunião em Córdoba, na Argentina, onde ia se  realizar a Ceia do Senhor. Os dirigentes disseram: "Hoje não teremos pregação. Vamos  empregar estes momentos na celebração da Ceia do Senhor. Compramos dez quilos de pão,  pois a Bíblia não define o tamanho do pedaço de pão que deve ser utilizado na Ceia. Por isso,  dividiremos todos em grupos de quatro pessoas, e daremos a cada grupo um pão, para que o  dividam entre si como desejarem." 

Ficamos naquele salão comendo pão por mais de uma hora. Nós nos abraçamos e  choramos, e daí a pouco vimos dinheiro passando de um lado para outro, e os problemas  financeiros mais imediatos de alguns irmãos foram resolvidos pelo amor, durante a Ceia do  Senhor.

Amar é um mandamento. O amor é o oxigênio do Reino de Deus. O amor é vida.