"Eu lhes fiz conhecer o teu nome, e ainda o farei
conhecer, afim de que o amor com que me amaste
esteja neles e eu neles esteja. (Jo 17.26.)
O terceiro grau de amor vai além do velho e do novo
mandamentos. É o amor da Trindade.
Será que podemos imaginar como é o amor que liga as pessoas
da Trindade? Como será que o Pai ama o
Filho? Como será que o Filho ama o Pai? Como é que o Espírito Santo ama o Filho? E como é que o Espírito Santo ama o
Pai? Como o Pai ama o Espírito? Como o Filho
ama o Espírito? Que coisa grandiosa!
É o amor eterno. Um amor para pessoas maduras. Este grau de
amor é sólido e nunca admite um
desacordo. No Velho Testamento, vemos como o Pai realizou prodígios e milagres, ressuscitou mortos, curou enfermos.
Depois, o Filho veio à terra e fez as mesmas
coisas. O Pai não sentiu inveja. Ele disse até que estava muito
satisfeito. (Mt 17.5.)
Depois, o Espírito Santo veio e começou a operar as mesmas
coisas. Ainda assim, havia uma perfeita
unidade neles. O amor deles é tão maduro que nada os ofende. O amor do tipo da Trindade é o que faz com
que três sejam um. Dois mais amor eterno,
igual a um. Três mais amor eterno, igual a um. Quatro mais amor eterno,
igual a um. E cem cristãos mais amor
eterno, igual a um. Com qualquer número dá o mesmo resultado.
Jesus orou a Deus pedindo que este mesmo grau de amor
"esteja neles" — referindo-se
a nós.
Quando eu era garoto, certo domingo na escola dominical, o
professor ensinou uma lição sobre como
nós estamos em Cristo. Compreendi muito bem.
Mas depois, no domingo seguinte, ele falou sobre Cristo em
nós. Objetei. "O senhor deve estar
enganado. Se nós estamos em Cristo, como é que Cristo pode estar em nós?
Se uma coisa contém a outra, o menor não
pode conter o maior, ao mesmo tempo."
Mas agora tudo está claro. Se eu estou no coração de meu
irmão e ele está no meu coração, nós
estamos um no outro. Somos um pelo amor.
Mas é claro que, hoje em dia, nós não estamos unificados.
Estamos divididos em muitos grupos.
Somos metodistas, presbiterianos, pentecostais (de vários tipos), nazarenos,
Exército de Salvação, anglicanos, irmãos
unidos, batistas (de vários tipos), e ainda muitos outros.
Contudo, Deus está-nos reagrupando. Ele já começou a
unificar-nos. Todavia, ele não nos
agrupa segundo nossas categorias. Ele tem apenas dois grupos: os que amam uns
aos outros e os que não amam.
Portanto, se me perguntarem: "Irmão Ortiz, de que grupo
é o irmão"?, responderei: "Sou
do grupo dos que amam uns aos outros." E esta é a diferença entre
as ovelhas e cabritos que Jesus
mencionou em Mateus 25. Na Argentina a criação de ovinos é bem grande. É interessante observar o que acontece quando
se precisa deslocar um rebanho de ovelhas.
Todas elas seguem na mesma direção. Elas se tornam como um só
corpo.
Mas se tentarmos fazer a mesma coisa com os bodes, eles
começam a dar marradas uns nos outros, e
começam a brigar.
Portanto, é muito fácil distinguir-se uma ovelha de um bode.
Não é necessário o dom de discernimento
nem de interpretação, nada disso. Basta conversar com uma pessoa durante
um ou dois minutos. Se ela se mostrar
agressiva é um bode. Se demonstrar amor é uma ovelha.
Como foi que Jesus fez a distinção entre as ovelhas e bodes?
Ele se baseou no fato de haverem elas
dado água aos sedentos, comida aos famintos, feito visitas a enfermos e encarcerados, e assim por diante. Ele chamou
as pessoas que haviam demonstrado amor para
com seus irmãos de "benditos de meu Pai" (v. 34). Os outros
foram chamados pelo adjetivo oposto,
"malditos" (v. 41).
Mas ouçam — Deus não está apenas reagrupando seu povo. Ele
está unificando-o. Desejo ilustrar isto
falando sobre as batatas. Cada pé de batata de uma horta tem três, quatro ou cinco batatas no solo. Cada batata em si
pertence a uma planta ou a outra.
Por ocasião da colheita, todas as batatas são arrancadas e
colocadas num saco. Dessa forma elas
ficam agrupadas. Mas ainda não estão perfeitamente unidas. Elas podem
dizer: "Graças a Deus! Agora
estamos todas no mesmo saco." Mas ainda não são uma só massa.
Depois, elas são lavadas e descascadas. E aí pensam que
agora estão mais unidas. "Como é
belo este amor que nos une!" dizem elas.
Mas o processo ainda não terminou. Elas têm que ser cortadas
em pedaços, os quais serão misturados. A
esta altura, elas já perderam bastante de sua individualidade, e pensam que já estão como o Mestre deseja.
Mas a união que Deus realmente quer é a do "purê"
de batatas, onde haverá não muitas
batatas, mas uma única massa de batatas. Pois nesse caso, nenhuma batata
pode erguer a cabeça e dizer: "Ei,
aqui estou. Eu sou uma batata." O pronome que ela tem que usar é nós.
É por isso que o Pai Nosso se inicia com
esta expressão: "Pai nosso que estás no céu..." e não: "Mew Pai que estás no céu..."
Com toda a reverência, quero dizer que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são três batatas que se
tornaram um purê. E Jesus deseja mais destes purês. E vai conseguir. Ele
está realizando uma obra profunda em sua
Igreja.
Sabem de uma coisa? Se nós começarmos a amar uns aos outros
deste modo pleno e maduro, dentro em
breve a palavra irmão poderá sumir de nosso vocabulário. Mas do modo como somos agora, precisamos chamar uns aos
outros de irmão, pois não vivemos como
irmãos. Em minha família, eu era apelidado de Magricela. Ninguém
precisava chamar-me de irmão Juan Carlos
para provar que era meu irmão; todos eles sabiam que eu era irmão deles.
Na igreja, nós dizemos: "Pastor Smith", ou
"Irmão Ortiz" porque na realidade não temos um relacionamento fraterno, mas queremos dar
a impressão de que temos. Certa vez fui
a uma igreja de culto muito formal, e ouvi o pastor dizer: "Sr.
Brown, queira dirigir-nos numa palavra
de oração."
Como este povo é frio, pensei. Ele nem ao menos disse: Irmão
Brown.
Depois, vim a descobrir que aquele relacionamento entre os
senhores daquela igreja era exatamente
igual ao dos "irmãos" da minha. Estamos iludindo a nós mesmos com
tais palavras.
Em todas as nossas conversas sobre o amor, lembremos de suas
duas dimensões: a mística e a
pragmática. A mística diz: "Ah, irmão, eu sinto um grande amor por
você." A pragmática fala: "De
quanto é que o irmão precisa?"
Há pouco tempo atrás, assisti a uma reunião em Córdoba, na
Argentina, onde ia se realizar a Ceia do
Senhor. Os dirigentes disseram: "Hoje não teremos pregação. Vamos empregar estes momentos na celebração da Ceia
do Senhor. Compramos dez quilos de pão,
pois a Bíblia não define o tamanho do pedaço de pão que deve ser
utilizado na Ceia. Por isso, dividiremos
todos em grupos de quatro pessoas, e daremos a cada grupo um pão, para que
o dividam entre si como
desejarem."
Ficamos naquele salão comendo pão por mais de uma hora. Nós
nos abraçamos e choramos, e daí a pouco
vimos dinheiro passando de um lado para outro, e os problemas financeiros mais imediatos de alguns irmãos
foram resolvidos pelo amor, durante a Ceia do
Senhor.
Amar é um mandamento. O amor é o oxigênio do Reino de Deus.
O amor é vida.