Amor ao Próximo
Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. (Lv 19.18.)
O primeiro degrau na escala do amor é o mínimo requerido, é
o tipo de amor apresentado no Velho
Testamento. Este mandamento não é apenas para a Igreja, naturalmente. Ele tem âmbito universal. Ele é
parte da Lei moral de Deus; se todos os homens
do mundo amassem alguém, então todos seriam amados e todos estariam
amando.
Qual é o significado deste mandamento? Ele significa que
devo desejar para o meu próximo aquilo
que desejo para mim mesmo. E devo empregar, em favor do meu próximo o mesmo esforço que emprego para a obtenção de
bens para mim.
Se eu tenho um prato de comida e meu próximo não tem, amá-lo
implica em empregar em seu favor o mesmo
esforço que empreguei em obter alimento para mim. Se isso não for possível, então devo dar a ele metade do que
eu possuo. Se eu tenho duas mudas de roupa e
ele não tem nenhuma, devo fazer um esforço para conseguir-lhe duas mudas
de roupa, do mesmo modo como me empenhei
para mim mesmo. Se meus filhos estão bem alimentados e freqüentando uma boa escola, e os dele não
estão, tenho que fazer por seus filhos o mesmo
que faço pelos meus.
Ê isto que significa amar o próximo como a si mesmo. Sabe de
uma coisa? A maioria dos crentes não
está cumprindo nem mesmo este mandamento do Velho Testamento. Não estamos amando uns aos outros como a
próximos.
E, naturalmente, Jesus disse que deveríamos amar uns aos
outros não como próximos, mas como
irmãos. Mas se os amássemos pelo menos na igreja, como próximos, isto
daria início a uma revolução. Em toda
congregação cristã, existem pessoas que têm demais e pessoas que não têm nada. Um crente tem um
belo carro e mora numa casa grande e bonita, e
se assenta à mesa para comer peru e carne assada. E eles, todos juntos,
cantam hinos que falam sobre o amor e
como se amam mutuamente. E quando o culto termina, dizem uns para os outros: "Deus o abençoe, irmão!"
e depois cada um vai para sua casa.
Quando perguntaram a Jesus: "Quem é o meu
próximo?" ele respondeu narrando a
parábola do Bom Samaritano (Lc 10) Já preguei muitas vezes sobre esta
parábola, espiritualizando-a. Jerusalém,
era a igreja; Jericó, o mundo; o viajante era o crente que abandonava a igreja e se dirigia para o
mundo. Os ladrões eram Satanás e os demônios e o bom samaritano, o irmão que trazia o outro de
volta para a igreja.
Que bela maneira de fugir à nossa responsabilidade! Eu
estava pregando o Quinto Evangelho, o
Evangelho Segundo os Santos Evangélicos.
Em outra ocasião, dei uma interpretação diferente. Jerusalém
era o jardim do Éden, Jericó, a queda do
homem, e Jesus era o Bom Samaritano que veio e... ah! existem tantos modos de explicá-la.
Jesus encerrou dizendo ao levita que lhe havia feito a
indagação: "Vai, e procede tu de
igual modo." (v. 37). Ele quis dizer que se virmos uma pessoa
necessitada, devemos atender àquela
necessidade. Está bem claro. Não é preciso espiritualizar nada.
Mas nós passamos por pessoas que sofrem, e a única coisa que
fazemos é ir para casa e comentar o
fato:
"Presenciei uma cena horrível hoje. Coitado do homem!
Senti tanta pena dele..." E nada
mais.
O samaritano não era nenhuma pessoa excepcional. É verdade
que nós o chamamos de "Bom
Samaritano", mas Jesus não o fez. Ele disse apenas: "Certo
samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto..." (v. 33). Ele
estava simplesmente observando o velho
mandamento. Deixou, na hospedaria, dinheiro para pagar o tratamento do
homem, e depois seguiu em frente para
cuidar de seus interesses.
Mas nós somos tão relapsos que, em comparação conosco, ele é
o bom samaritano. O mesmo acontece nas
igrejas hoje em dia. Às vezes um pastor me diz: "Irmão Ortiz, quero apresentar-lhe um bom diácono de minha
igreja."
"Ah, terei muito prazer em conhecê-lo", digo
eu.
"Então, depois que fomos apresentados, indago do
pastor:
"Por que você disse que ele é um bom
diácono?"
"Bem, porque ele assiste a todas as reuniões. Ele dá o
dízimo; e me auxilia todas as vezes que
lhe peço.
Isto não é ser um bom diácono; isto é apenas ser diácono.
Mas quando uma pessoa se aproxima da
normalidade, dizemos que ela é "uma excelente pessoa".
Como Deus ficaria satisfeito se conseguisse que todos nós
fôssemos apenas samaritanos
normais.
Jesus disse: "Assim brilhe também a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus." (Mt 5.16.) O que
é esta luz? O que é que produz boas
obras? O amor. E como já disse antes, a luz de Deus é o amor.
Agora precisamos fazer uma aplicação concreta. Quando
falamos de amor ou de qualquer outro
assunto da Bíblia, temos que fazer uma aplicação específica, senão isto
seria costurar sem dar nó na ponta da
linha. A gente costura, costura, costura, e as coisas continuam do mesmo jeito. Às vezes tentamos costurar
até sem linha mesmo, somente com a agulha.
Tudo o que fazemos é perfurar o pano deixando nele pequenos orifícios.
Mas o tecido permanece rasgado, pois não
damos os passos específicos para conservar os lucros.
Deus não ordenou: "Amem a todos os próximos!" É
impossível amar o mundo inteiro. Ele
diz: "Amarás o teu próximo!" Portanto, escolhamos uma pessoa, uma
família, e comecemos a orar por ela.
Comecemos a analisar seus problemas, suas necessidades espirituais, materiais e psicológicas — todos
os tipos de necessidades.
Não nos dirijamos a eles com um folheto na mão; iremos dar a
impressão de um vendedor de porta em
porta. Vendamos a nós mesmos. Demo-nos a nós mesmos para eles. Deixemos que eles vejam que nós os amamos, e
nos colocamos à sua disposição para
qualquer serviço.
Conhecemos uma senhora de idade, na Argentina, que, segundo
ela mesma explica, "nunca conseguiu
ganhar uma alma para Jesus". (Para falar a verdade, não nos
preocupamos muito em ganhar almas, mas
sim ganhar a alma, o corpo e o espírito — a pessoa toda.) Aquela senhora já estava na igreja havia muitos
anos. Certo dia, o Senhor deu-lhe uma visão clara deste tipo de amor, e ela veio a compreender
que não foi um folheto que Deus enviou do céu;
ele mandou seu Filho, que desceu à terra e viveu entre nós e curou as
pessoas. Ele nos auxiliou e conviveu
conosco.
Aquela irmã resolveu que iria fazer a mesma coisa.
Defronte do lugar onde morava havia uma casa para alugar.
Quando os novos moradores se mudaram para
ela, essa irmã já estava preparada. Dirigiu-se para a casa levando café e bolinhos, e disse àquela gente:
"Vim trazer-lhes alguma coisa para comer, pois sei que se mudaram agora e creio que ainda não
puderam preparar uma refeição. Voltarei depois para buscar as vasilhas; e não se preocupem em
lavar nada. Devem estar muito atarefados.
"E a propósito, se desejarem conhecer o armazém, fica
naquela esquina..." E ela nem
colocou um folheto por baixo dos bolinhos. Apenas levou aquelas coisas
para eles e ajudou-os um pouco.
Pouco depois, ela voltou para pegar os pratos e disse-lhes:
"Se precisarem de mais alguma coisa, estou às ordens.
Se quiserem alguma coisa, terei muito
prazer em ajudá-los."
Ela não falou de Cristo, mas um mês depois a família toda
foi batizada, por causa da luz que ela
fizera brilhar diante deles.
Jesus não disse: "Deixem que seus lábios falem perante
os homens de tal maneira que eles ouçam
as belas palavras e glorifiquem o Pai." O que ele disse foi: "Deixem
brilhar a sua luz!" — seu
amor.
Talvez alguns de nós tenham dificuldades com esta questão
porque fomos doutrinados num evangelho
anticatólico. Desvestimos totalmente as boas o-bras de todos os seus
méritos. Não somos salvos por boas
obras, dizemos; e isto é apenas uma parte da verdade, pois nós somos "criados em Cristo Jesus para boas
obras" (Ef 2.10).
Em Atos 10, nós lemos a respeito de Cornélio e das boas
obras que realizava — e gostamos de
acrescentar que ele ainda não era salvo. Mas notemos que Deus enviou-lhe
um anjo porque "as tuas orações e
as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus" (v. 4). Esta é a outra faceta da verdade.
As boas obras evidenciam a existência do amor. As vezes, nós
levamos tudo para o lado místico —
"Oh! Como eu o amo, meu irmão!" — mas não demonstramos nosso amor de
outra forma, a não ser com abraços e
sorrisos.
Boas obras significam boas obras. Obras significam trabalho,
e não apenas uma filosofia mística.
Precisamos abrir nossa carteira e praticar boas obras. Naturalmente,
existe uma diferença entre as boas obras
que são realizadas como resultado do amor, e as realizadas na carne.
Paulo disse que se eu der todos os meus bens para os pobres
e não tiver amor, nada sou. É por isso
que o marxismo não representa uma solução completa para os males da humanidade. O marxismo tem muitas
características apreciáveis. Ele ensina algumas coisas boas a respeito da justiça social e da
partilha de bens. Mas é exatamente o oposto do que Jesus nos ensinou. (O mesmo acontece com o
espiritismo e os dons do Espírito — existem alguns pontos análogos entre eles, mas provêm de
fontes diferentes.)
Mas notemos isto: não podemos combater os dons, a fim de lutar contra o espiritismo. Não podemos ser contrários à partilha de bens, para negarmos o comunismo. Não nos esqueçamos de que temos de amar o próximo no presente momento, no lugar onde nos encontramos.