"Qual de vós, tendo um servo, ocupado na lavoura ou em
guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar
do campo: Vem já e põe-te à mesa? E que antes não lhe diga: Prepara-me a
ceia, cinge-te. e serve-me, enquanto eu
como e bebo: depois comerás tu e beberás. Porventura terá de agradecer ao servo
por ter este feito o que lhe havia
ordenado?" (Lc 17.7-9.)
Já falamos a respeito do que significa o vocábulo Senhor.
Agora vejamos o que é um servo, Jesus
estava-se dirigindo a pessoas que conheciam perfeitamente o significado da palavra escravo. Hoje em dia não existem mais
tais condições. A melhor aplicação que
poderíamos fazer do termo, seria para servos ou empregados, mas estes
percebem um determinado salário, têm um
contrato de trabalho e são registrados num sindicato.
Mas o servo do primeiro século era um escravo mesmo — uma
pessoa que fora destituída de tudo que
possuía neste mundo. Perdera a liberdade, a autonomia pessoal, a vontade própria, e até o nome. Fora vendido
no mercado como um animal. Uma etiqueta com
o preço fora dependurada ao seu pescoço, e os interessados haviam
discutido a respeito de seu valor. Mas,
no fim, alguém o adquirira, e o levara para casa. Depois fizera uma perfuração
em sua orelha e colocara nele um brinco
de argola que trazia inscrito o nome de seu dono. E então ele perdera sua identidade. Não se chamava
mais João ou Pedro, mas sim o escravo do Sr.
Fulano de Tal.
E ele não recebia nenhuma paga pelos seus serviços. Perdera
totalmente sua liberdade de ação. Se o
seu amo lhe dissesse: "Você terá que se levantar às seis horas", ele
se levantava às seis horas. Se o dono
dissesse quatro, então se levantaria às quatro. Se o seu amo quisesse que ele lhe prestasse um serviço à
meia-noite, teria que fazê-lo. Era escravo. Não tinha liberdade, nem direito de escolha, nada!
Por isso, quando Jesus narrou esta historieta acerca de um
homem que teria convidado seu escravo
para assentar-se à mesa e jantar com ele, os discípulos riram. Ninguém faria
isto. O escravo sempre tinha que servir
primeiramente ao seu amo. Ele tinha que se lavar, trocar de roupa, preparar a refeição e servi-la, e
depois que o seu senhor houvesse jantado e tivesse ido deitar-se, então o escravo estaria livre para
comer do que sobrara.
E quando Jesus afirmou: "E ele não agradece ao servo
por ter cumprido as ordens que lhe deu,
agradece?" todos responderam: "Ê lógico que não."
Então o Senhor concluiu: "Assim também vós, depois de
haverdes feito quanto vos foi ordenado,
dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer."
(Lc 7.10.)
Nós somos escravos de Jesus Cristo. É possível que não
gostemos de ouvir isto, mas é a verdade.
Paulo entendeu tal fato perfeitamente, e explicou: "Porque nenhum de nós
vive para si mesmo, nem morre para si.
Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou
morramos, somos do Senhor. Foi precisamente
para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu; para ser Senhor, tanto de
mortos como de vivos." (Rm
14.7-9.)
Já ouvimos muitas vezes a declaração de que Jesus morreu
pelos nossos pecados. Mas isto é apenas
uma parte da história. O motivo pelo qual ele morreu e ressuscitou – diz Paulo — foi tornar-se Senhor de todos nós,
escravos. E o apóstolo explica isto com grande
felicidade em 2 Coríntios 5.15: "E ele morreu por todos, para que
os que vivem não vivam mais para si
mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou."
Portanto, nós fomos comprados por um preço. É por isso que encontramos tantas vezes no Novo Testamento a frase: "Paulo, servo de Jesus Cristo", "Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo", "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo". Até Maria denominou se "a serva do Senhor" (Lc 1.38).
Antes de sermos encontrados pelo nosso proprietário,
estávamos perdidos. Estávamos condenados
à maldição eterna.
Mas atentem para esta verdade: nós ainda estamos perdidos.
Antes estávamos perdidos no pecado, nas
mãos de Satanás. Agora estamos perdidos nas mãos de Cristo. Muitas pessoas crêem que receber a salvação é
ser liberto. "Oh! Glória a Deus! Agora
sou livre, livre, livre!" Espere! Não é bem assim. "Uma vez
libertos do pecado, fostes feitos servos
da justiça." (Rm 6.18.)
Como sabemos, existem dois reis neste mundo, e cada um deles
tem os seus domínios. Nós nascemos no
reino das trevas. Somos cidadãos naturais do reino do egoísmo. E neste reino todos seguem sua própria vontade. É
deste modo que Satanás governa seu império,
"segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne
e dos pensamentos" (Ef 2.3).
Nós vivíamos como desejávamos; fazíamos o que nos agradava.
E isso não fazia a mínima diferença para
nós. O reino das trevas é como um navio avariado que está afundando rapidamente. Quando o capitão da embarcação
percebe que o navio está perdido, ele se dirige
aos passageiros e diz o seguinte: "Os passageiros da segunda classe
podem ir para a primeira. Todos podem
fazer o que quiserem. Quem quiser beber, pode se servir à vontade em nosso bar; é tudo de graça. Se quiserem jogar
futebol no salão de refeições, podem. E se quebrarem as lâmpadas, não se preocupem com
isto."
E os passageiros exclamam, "Que capitão maravilhoso,
este nosso! Podemos fazer o que
quisermos, neste navio."
Mas acontece que dentro de alguns instantes todos eles
estarão mortos. No reino das trevas,
podemos gozar à vontade de todos os prazeres das drogas, da lascívia e do engano. Não obstante, estamos
perdidos. Pensamos que somos uns reis. Somos
dominados pelo espírito de egoísmo de nosso reino. Mas é apenas uma
questão de tempo. E o que é realmente a
salvação? É o fato de que "ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor" (Cl 1.13). Isto não significa ficar
totalmente liberto de domínio. É simplesmente mudar do domínio de
Satanás para o de Jesus Cristo.
Neste novo reino, não podemos fazer tudo que quisermos.
Nele, nós somos parte do reino de Deus.
Ele é o Rei. Ele é quem governa. Nós vivemos de acordo com seus desejos e vontade.
Algumas pessoas crêem que as características distintivas do
Reino de Deus são o fato de que nós não
fumamos, não bebemos e não freqüentamos cinema. Mas a verdade é bem mais profunda. No Reino de Deus, nós fazemos o que
Deus quer. Ele é o Senhor deste reino.
O testemunho daqueles que passaram da morte para a vida, que
se mudaram de um reino para outro é o
seguinte: "Antes de encontrar Jesus, eu dirigia minha própria vida.
Mas depois que o conheci, é ele quem
governa."
Talvez alguns preferissem que não fossemos tão incisivos.
Eles pensam que existem três caminhos, e
não dois, e vivem por esta idéia. Para eles, haveria o caminho largo, que é
para os pecadores destinados ao inferno.
O caminho estreito seria para pastores e missionários. E este terceiro caminho — que não é nem muito largo
nem muito estreito, uma estrada mediana —
seria para o restante dos crentes. Naturalmente, tal hipótese não se acha
nos livros de doutrina, mas no livro das
realidades, que é onde as pessoas vivem.
Este caminho mediano é uma invenção humana. A verdade é que
ou nós estamos no reino das trevas
fazendo o que é de nossa vontade, ou estamos no Reino de Deus fazendo a vontade dele. Não existe uma situação
intermediária.
Em realidade, não é muito fácil mudar-se de um reino para
outro. Não existem passaportes nem
vistos. Somos escravos de nossos próprios pecados. Nós não podemos simplesmente levantar e partir. Nenhum
escravo pode fazer isto.
O único modo de se libertar de um cativeiro é pela morte.
Por que é que os cânticos dos escravos
norte-americanos falavam tanto a respeito do céu? É porque esta era sua
única esperança de emancipação. Também
nós, só podemos nos libertar do pecado, morrendo.
E há ainda um outro fator: o reino de Deus não aceita
cidadãos naturalizados. O súdito tem que
nascer neste reino. Suponhamos que a constituição dos Estados Unidos fosse
assim também, e que eu me dirigisse ao
departamento de imigração e dissesse:
"Eu desejo ser americano."
"Onde foi que o senhor nasceu?"
"Em Buenos Aires, na Argentina."
"Então o senhor não pode ser americano",
explicariam eles. "pois para ser americano é necessário ter nascido em território
americano."
"Ah, senhor, eu quero tanto me tornar
americano."
"Onde foi que o senhor nasceu?"
"Em Buenos Aires, na Argentina."
"Bem, eu já lhe disse que o único modo de ser americano
é ter nascido nos Estados
Unidos."
"Como é que poderia fazer isto? Eu gostaria realmente
de ser americano." "Só se o
senhor morresse e depois nascesse de novo, mas desta vez, nos Estados Unidos. É o único meio. Nós não aceitamos
mais visitantes, nem concedemos vistos. A
pessoa tem que nascer aqui."
Então como é que uma pessoa pode mudar sua cidadania do
reino das trevas para o Reino de Deus?
Jesus- deu a solução. Sua morte na cruz e sua ressurreição
significam isto: qualquer escravo que
olhar para a cruz tem permissão para considerar a morte dele como sua
morte. Assim, o escravo morre e Satanás
perde seu controle sobre ele.
Depois vem a ressurreição. Por ela somos transportados para
o novo reino. Este fator é tão
importante quanto à cruz. Morremos para um soberano e renascemos sob o domínio
de outro.
E é exatamente isso que o batismo enfoca. Durante muito
tempo eu batizei pessoas, mas para mim
aquilo não passava de uma cerimônia. Era uma bela cerimônia. Contratávamos fotógrafos, usávamos belos mantos; o coro
cantava no fundo, em voz suave. Era quase um
"show".
Mas isto foi antes de Deus começar a renovar-nos. Agora
sabemos que o batismo tem um profundo
significado. Ele deve ser realizado imediatamente; logo que a pessoa começa
a viver neste novo Reino. Não me importo
muito se é por imersão ou de outro modo – a Bíblia não é muito específica a este respeito, pelo
menos, não tanto quanto nas vezes em que fala
sobre amarmos uns aos outros (e isso nós não fazemos). Mas a imersão
realmente é uma ilustração clara da
morte e ressurreição de Cristo. Nós mergulhamos o batizando na água, mas não o deixamos lá. Nós o erguemos novamente.
Tal cerimônia não é uma criação nossa, nem dos apóstolos. O
batismo é realizado em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo. Na verdade, a pessoa está sendo batizada por Deus, que, no ato, é representado por um
homem.
Na Argentina, alguns pastores recitam a seguinte fórmula
batismal: "Eu o mato em nome do
Pai, do Filho, e do Espírito Santo, para fazê-lo nascer de novo no Reino de
Deus para servi-lo e agradá-lo." É
bem diferente, mas funciona bem melhor.
Algumas pessoas pensam que a salvação vem através do batismo
apenas; outros dizem que é somente pela
fé. Mas os apóstolos disseram: "Arrependei-vos e sede batizados." São
as duas coisas. Eles não disseram:
"Aquele que crer e for salvo, deve ser batizado alguns meses depois." Eles afirmavam que o batismo
tinha importância para a salvação.
Qual é esta importância? É como uma nota de dinheiro. Ela
tem dois valores. Um é o seu valor
intrínseco — o valor do papel e da tinta, que não é muito grande. Com
pouco dinheiro, poderemos comprar uma folha
de papel maior do que o papel da nota, e tinta, em quantidade suficiente para fazer muitas
notas.
Mas existe um outro valor em uma nota de dinheiro: um valor
diferente e bem maior — ela é endossada
pelas reservas federais da nação. Se pegarmos aquele pedaço de papel e o levarmos ao supermercado, eles nos dão muitas
coisas em troca dela (bem, talvez não muitas).
Assim também é o batismo. A água e a cerimônia não são muita
coisa. Mas tudo é endossado pelo que
Cristo realizou na cruz e no túmulo. Portanto, o batismo tem um valor enorme. Ele diz à pessoa que está sendo
batizada, que ela passou da morte para a vida.
É por isso que ele precisa ser realizado na hora do passamento.
Esta idéia não foi criação minha. A Igreja primitiva não
batizava ninguém após o dia da sua
conversão. Eles nem esperavam o culto noturno. Se uma pessoa era salva pela
manhã, era batizada de manhã. Se ela era
salva no meio da noite — como foi o caso do carcereiro de Filipos, narrado em Atos 16 — ela era
batizada no meio da noite.
Na Argentina, nós não damos a certeza de salvação a ninguém,
enquanto não for batizado, não por causa
do batismo em si, mas por uma questão de obediência. Se uma pessoa disser: "Eu creio!" mas não quiser
ser batizada, nós duvidamos de sua submissão a este novo Reino, pois a salvação consiste exatamente
nisto: obediência.
Se não temos acesso a um rio ou a uma piscina ou batistério,
batizamos a pessoa na própria banheira
de sua casa. Batizamos o pai, a mãe, e os filhos, todos na mesma banheira.
E isto é bem mais prático do que na igreja,
pois na casa já temos à nossa disposição água
aquecida, toalhas, etc, tudo à mão. E até pode ser que depois tomemos um
cafezinho com eles.
Portanto, o batismo é uma valiosa lição objetiva. Se o
realizarmos no momento certo, as pessoas
compreenderão melhor o que estão fazendo. Estão deixando as trevas e entrando
no Reino de Deus.