terça-feira, 4 de maio de 2021

Lúcifer destronado - Capítulo 13

Os túneis de typhon

Como já disse, comecei a ter consciência de que Lúcifer não era o ser mais poderoso existente. Assim, dei início a uma busca na magia, para descobrir que seres seriam mais poderosos do que o meu “Mestre”. Imaginei, então, que teria de pagar alguma coisa para estabelecer alianças também com eles.

Mesmo diante do insucesso da maldição lançada sobre a ex-esposa de Andy, eu não me deixara abalar e continuava meus estudos de satanismo e magia. Tinha uma postura um tanto filosófica diante dos questionamentos e, muitas vezes, gostava de repetir uma frase do filme Little BigMan [Pequeno Grande Homem]: “As vezes, a magia funciona; às vezes, não.”

Convenci-me de que, quando as coisas não davam certo, era porque cometera algum erro ou, então, por causa de alguma coisa que não me fora ensinada ainda. Acreditava que a magia era uma verdadeira ciência. Deste modo, continuei procurando obter a sabedoria oculta.

Com a minha promoção, tive acesso a mais informações de iniciação, especialmente nos campos da Maçonaria e magia interespacial.

Há duas áreas de magia principais nos níveis mais elevados da Maçonaria europeia. Uma é a busca de uma suposta imortalidade, por meio da alquimia e da ioga tântrica. A outra encontra-se em duas ciências irmãs: a megapolissomancia e a arqueometria.

Antes que você corra atrás do seu dicionário, apresso-me a informar que provavelmente você não encontrará estas duas palavras em dicionário algum. Suas definições são as seguintes:

Megapolissomancia (Megapolis é a palavra grega para uma grande cidade; om ancia significa magia, como em necromancia, cristalomancia [uso da bola de cristal], quiromancia [leitura de mãos], etc.) Assim, a palavra significa “magia na construção de uma cidade”.

Arqueometria (que significa “medições ou medidas antigas”).

Esta é a ciência da magia do que também é chamado de medidas proporcionais à Terra. Há uma crença de que construir templos, túmulos, círculos de pedra, etc. em dimensões baseadas nas dimensões da própria Terra é algo extremamente poderoso.

Os maçons eram construtores de cidades, e a megapolissomancia é a suposta arte esotérica maçônica de construir cidades e edificar templos com dimensões espaciais corretas, para que melhor atraiam espíritos demoníacos. Tais construções seriam assim os mais eficientes repositórios de energias da magia. A construção de certos espaços e determinados ângulos nos aposentos criaria portas de acesso a outros universos. Esses universos poderiam, então, ser penetrados e conquistados pelo mago, de modo bastante semelhante ao de Colombo quando conquistou o Novo Mundo. Assim, sob a direção de meus guias (tanto humanos como espirituais demoníacos), dediquei-me a esses tipos de magia com que meu antigo mentor, Aquarius, tinha-se envolvido.

Outra abordagem à mesma “ciência” pode ser feita por meio da criação de ícones. Os “icones” (do grego eikon, que significa “imagem”) são bem conhecidos na Igreja Ortodoxa. São pinturas de Jesus, de Maria e dos santos, consideradas sagradas. São tidos como verdadeiras “janelas para o céu”. Os ortodoxos crêem que um ícone de Jesus pode trazer sua presença real à igreja onde se encontra.

Os fiéis ortodoxos levam muito a sério os ícones. Seus pintores dos ícones são considerados poderosos homens de Deus. Em algumas casas, o marido e a esposa cobrem o ícone ou o viram para a parede quando têm relações sexuais, porque se sentem embaraçados diante do que o ícone possa “ver”. E conta-se a história de um ladrão que, ao entrar numa casa, virou os ícones de frente para a parede, para que não pudessem vê-los roubando. A concepção que se tem é que o ícone é uma porta aberta para uma realidade celestial.

Ensinaram-me a fazer diferentes tipos de ícones. Além de ícones ortodoxos típicos que fiz, de São Pedro, São Paulo e da Virgem (lembre-se de que eu era consagrado bispo da Igreja Ortodoxa Russa), fiz também ícones que representariam portas de acesso a universos alternativos, assim como outros que retratavam seres sagrados da magia. Então eu me projetava de modo astral naquelas pinturas e procurava explorar outros universos.

Foi aqui que a magia, a ficção científica e a fantasia começaram a interligar-se. Um dos objetivos dessas visitas a outras dimensões do tempo e do espaço era o de contatar as entidades que mandavam por lá. Fora-nos explicado que o nosso universo é relativamente jovem em relação a outros. Assim, os seres supremos do nosso universo (Deus e Lúcifer) estavam ultrapassados por “seres supremos” de outros universos.

Isto, pensava eu, poderia ser a solução do dilema sobre quem seria mais poderoso do que Lúcifer. Meus mentores diziam haver seres nesses outros universos anteriores aos tempos em que o nosso Deus e Satanás estavam ainda de fraldas. Eram os assim chamados “Terríveis Senhores” dos espaços exteriores: o espaço que existiria além do espaço.

Comunicando-me com uma entidade que dizia ser Aleister Crowley falando do além — por meio de uma incorporação —, fiquei sabendo que isso era uma parte substancial dos segredos arcanos contidos em sua obra The Book o f the Laiu [O Livro da Lei]. Isso se confirmou posteriormente nos escritos de Kenneth Grant, um dos sucessores de Crowley como dirigente para assuntos externos da O.T.O.

Grant demonstrou que a religião de Crowley era um reavivamento do culto, feito na Antiguidade, à estrela Sirius (isto é, Set, o deusdemônio egípcio). Uma característica singular de Sirius é que ela é uma estrela binária, sendo Sirius A, a brilhante estrela avermelhada que se vê na constelação Canis Major (Cão Maior), e Sirius B, uma estrela escura, totalmente invisível da Terra, exceto através de modernos radiotelescópios. Assim, Sirius A representa o deus “bom” no sistema de Crowley, Heru-Paar-Kraat. Sirius B, o deus da guerra, Ra-HoorKhuit. Além disso, no entanto, Sirius B é uma espécie de buraco negro, sendo assim a melhor porta de acesso a outras dimensões — especialmente para o celebrado universo B. Os deuses de Crowley supostamente acham-se fora do nosso universo. Usando uma palavra do autor ocultista H. E Lovecraft, eles são “transyuggothianos” (ou seja, estão além de Yuggoth, um nome ocultista para o planeta Plutão).

Nosso universo não “para” na órbita de Plutão, mas os praticantes da magia solar e lunar, que operam segundo esses ritos, acreditam que além daquele planeta cessa o poder mágico de influência do Sol, e os poderes dos deuses celestiais (ou seja, Jesus, Satanás, etc.) começam a diminuir substancialmente. Um novo tipo de “espaço” e de reino da magia passa a prevalecer. Meu objetivo era ir até o espaço “transyuggothiano” e manter contato com aqueles terríveis senhores, os “Grandes Seres da Antiguidade”, como eram chamados.

Howard Phillips Lovecraft tornou-se um escritor famoso entre os aficionados de livros de terror e ficção fantástica. Ele viveu cerca de 50 anos atrás e escreveu livros marcantes, com um enfoque de décadas à frente do seu tempo. Suas histórias—  por exemplo, The Dunwich Horror [O Terror de Dunwich], The Diveller on the Threshold [O Habitante Primitivo] e The Color Out ofS pace [A Cor Fora do Espaço] — eram de horror mescladas com a ficção científica, de um modo estranhamente discreto e sóbrio, mas, mesmo assim, muito amedrontador.

Certificado [tradução na página seguinte] que mostra Sharon Schnoebelen, com o nome de Alexandria Pendragon, tornando-se Grau 33 da Maçonaria e maçom na Irmandade Paládio. Nota: Todas as honras mais elevadas são conferidas oralmente; nenhum certificado é conferido.

O que talvez não se saiba tanto de Lovecraft é que, mediante seu avô, ele teve acesso a livros de ocultismo muito raros e secretos. O avô de Lovecraft participava da Maçonaria egípcia. Assim, grande parte do que Lovecraft escreveu, como ficção, baseia-se em práticas reais do ocultismo,4 bastante avançadas e perigosas.

Kenneth Grant (líder da O.T.O.), LaVey e outros escritores dão prova disso.

Lovecraft pode ter experimentado pessoalmente essas formas de magia “transyuggothiana” e se aterrorizado. Sabe-se que ele teve uma vida de muito pavor, praticamente como um recluso. Nunca se casou; tinha medo de se aproximar do mar; temia descer a um subsolo. Foi muito semelhante a um grande número de protagonistas de suas histórias, geralmente personagens jovens e bastante sensíveis, da sua fictícia Universidade Miskatônica, que descobriram horríveis livros antigos de magia negra e sabedoria da Antigüidade, como O N ecronomicon.

Esses seus personagens jovens são quase sempre solteiros, muito eruditos, que chegam próximo da insanidade mental por causa do que descobrem no âmbito da magia “transyuggothiana”.

Seus contos e novelas podem bem ser autobiográficos, como uma maneira de Lovecraft elaborar o seu terror terapeuticamente sobre folhas de papel. Ele fala meticulosamente de “rituais indescritíveis”. Alude à manipulação genética, com mutações monstruosas, muitos anos antes de tais coisas serem compreendidas cientificamente.

Acreditávamos que esses deuses “transyuggothianos” fossem mais poderosos do que os do nosso universo e que tivessem acesso à consciência humana por meio de nossos sonhos, pesadelos e insanidade mental.

O bizarro panteão de supostos deuses fictícios de Lovecraft era, curiosamente, semelhante ao dos seres que os satanistas da vida real de Crowley procuravam alcançar com seus rituais. Havia Azathoth, um deus cego e idiota que balbuciava palavras sem nexo bem no centro da galáxia. Havia Cthulhu, mestre dos sonhos e deus das águas, sepultado na cidade de R’lyeh, submersa no Pacífico. Havia Nyarlathotep, o estranho deus egípcio parecido com Set, cuja manifestação levaria instantaneamente qualquer ser humano à total insanidade. E o pior deles, Yog Sothoth. Cheguei até mesmo a saber o nome do meu misterioso “visitante” das margens do lago ao norte de Wisconsin — aquele que me apareceu quando era adolescente e toldou as estrelas e fez com que as árvores se movessem sem que houvesse vento. Por motivos que não se sabe ao certo, as florestas setentrionais de Wisconsin são um lugar “sagrado” dessas antigas divindades, talvez por causa da influência dos índios americanos da região. Aquele que eu tive o “privilégio” de ver chamava-se Wendigo pelos indígenas, isto é, “o que anda sobre o vento”. No idioma misterioso de O Necronomicon, ele era referido como Ithaqua. O fato de que eu, então um adolescente não iniciado, tivesse sido capaz de velo de relance, fez com que me sentisse muito lisonjeado.

Cada um desses seres impossíveis era mais maligno do que o outro. Contudo, eram também fontes de um inimaginável poder.

Certamente, isso era causado pelo fato de serem de outros universos, em que as leis da Física, do tempo e do espaço eram diferentes — como também os limites entre o bem e o mal. Fomos levados a acreditar que o “mais bondoso” desses seres era tão malvado e insano que, comparado com eles, Satanás seria uma fadinha bondosa.

Todavia, era de se supor que esses seres não desejavam ser adorados. Simplesmente queriam obter nossa energia. Isso era verdade, especialmente, com respeito a Cthulhu (pronuncia-se “Tulu”).

Teríamos que ir às margens do lago Michigan (a maior concentração de água mais próxima) e realizar determinados rituais para despertá-lo de seu sono na cidade da Antiguidade que se achava enterrada no fundo do oceano. A invocação de Cthulhu é na verdade um dos poucos rituais publicados da metafísica

transyuggothiana. Evidentemente que foi LaVey quem teve a ousadia de publicá-la.


Durante muitas noites, fizemos essa invocação às margens do lago, querendo despertar o Gigante Adormecido para que abrisse a porta e assim outros Seres da Antiguidade pudessem vir reinar sobre a Terra. O fato de realizarmos esses rituais deixaram nossa mente aberta a outras esferas bastante estranhas. Nossos sonhos passaram a ser perturbados por imagens de ventosas, tentáculos e faces de seres de uma obscenidade e um terror sem limites. Portas foram abertas para suas dimensões. Ou era assim ou estávamos sofrendo de uma insanidade mental coletiva.

O que realmente cada um de nós experimentava é algo que nunca saberemos ao certo. No entanto, essas experiências criaram em nós alterações reais que, em sua maioria, não seriam dignas de serem comentadas num círculo de pessoas educadas. Eu, particularmente, passei a sentir forte desejo de praticar os mais perversos modos de relações com outros seres humanos. Explicaram que isso era porque um componente-chave na operação da magia transyuggothiana é que os orifícios do corpo humano tornam-se literalmente portas de acesso a estranhas entidades infernais. O ingresso a esses bizarros universos nos possibilitava um avanço espetacular no poder da magia: mas a que estranho preço?

São estes os chamados “Túneis de Typhon”, nome de um antigo deus egípcio da destruição (versão mais moderna de Set). Conduziam a lugares, civilizações e templos que por pouco não me levaram à loucura tão-somente pela sua manifestação. Fiquei totalmente transtornado ao passar por eles. Aquela parte estranha, de fogo líquido metálico dentro de mim, aflorava à minha pele. Sentia-me como se fosse feito de ferro ou aço vivo. Depois de alguns meses, dei um nome ao ser transcendente em que eu estava me tornando:

uma “metamáquina”. Quando sentia aquelas tenebrosas e implacáveis forças crescer dentro de mim, dizia a mim mesmo: “Lá vem de novo minha metamáquina!”

As viagens que fazia por aqueles túneis, no entanto, não eram nada divertidas. Entrei em templos onde havia pessoas que pareciam vivas, mas tremelicavam a carne adoecida, cancerosa. Estavam vivas, sim, mas não realmente. Havia templos construídos sobre metais líquidos, tipo mercúrio, que se deslocavam sob os meus pés como se fossem de gelatina. Em cada lugar, havia lições de dor e tormento a serem aprendidas. Era uma espécie de estranho sadomasoquismo espiritual.

Comecei a gostar da dor que sentia, a fim de poder ganhar os troféus necessários para acumular em mim maior poder na magia. Algumas das experiências eram ainda piores do que aquelas da “Catedral da Dor”, e comecei, então, a questionar comigo mesmo se aquela também não seria outro universo acessado por esses túneis.

Por meio de meus relacionamentos na confraria, já havia conseguido obter grande parte de O Necronomicon, a principal fonte da magia e da espiritualidade transyuggothiana. Contrariamente à crença popular, não se trata de um livro de ficção, mas de magia (um livro de trabalho) da mais tenebrosa espécie. Seu título poderia ser traduzido como “O Livro dos Tons dos Mortos”, ou “O Livro das Leis dos Mortos”.

Tal como as propostas de Aleister Crowley com respeito a Set e sua religião de Thelema, O N ecronomicon é conhecido a partir do antigo paganismo árabe. Supõe-se que haja sido escrito originalmente em Árabe, nos tempos de Maomé, por Abdul Al-Hazred, também chamado de Al Azif. Consta que o texto foi ditado ao feiticeiro árabe — mais ou menos como aconteceu com o Livro da Lei de Crowley — por algum ser interdimensional. Dizem, ainda, que, ao terminar de escrever, ele foi esmagado a ponto de tornar-se uma pasta sangrenta, sendo devorado vivo por enormes bocas invisíveis, diante de muitas testemunhas.

Há um livro de título O Necronomicon sendo presentemente publicado, mas que contém apenas as partes mais leves do original completo. Mesmo assim, é incrivelmente sinistro. Tive um exemplar de uma edição limitada desse livro menor, feita com apenas 666 cópias (naturalmente) e assim dedicada: “Ad maioram Crowley gloriam " — uma paródia às palavras que se aplicam somente a Jesus, significando "a Crowley seja toda a glória”. Não obstante, é apenas um pálido reflexo da incrível malignidade contida no verdadeiro livro.

Seja como for, era um livro difícil de se encontrar. Meu amigo proprietário da livraria de obras ocultistas da nossa cidade contoume ter tido problemas na venda de O Necronomicon, não por ser bastante caro (embora as edições limitadas custassem US$ 60), mas por motivos bem menos tangíveis. A primeira pessoa para quem ele vendeu um exemplar era um feiticeiro, que o levou para casa, um apartamento situado num prédio de muitos andares, em Milwaukee. Mal tinha passado pela porta, e colocado o livro sobre a mesa, um afável gato preto, seu “animal familiar”, ficou como louco. Começou a urrar, girando furiosamente em pequenos círculos, no chão da sala. Então, sem mais nem menos, o gato parou de repente de rodar e foi lançado, como que por um tiro de canhão, contra o vidro reforçado da janela panorâmica da sala, caindo de uns 12 andares para morrer lá embaixo.

Como a maioria dos bruxos considera seus animais como “sistema de alarme de prevenção à distância”, o feiticeiro levou o livro imediatamente de volta à livraria, pedindo a devolução do pagamento.

Relato ainda mais trágico foi feito ao dono da livraria por outra pessoa que comprou o livro. Era um homem casado, que tinha uma filha de cinco anos. Quando comprou o livro, ele o levou para casa e o colocou numa prateleira. Sua filhinha não o perturbou durante toda aquela tarde, desde que ele chegou em casa com O Necronomicon.

É que ela foi para o andar superior. Depois, a encontraram morta, no banho, com a garganta cortada por uma lâmina de barbear.

Eu mesmo cheguei a possuir um exemplar desse livro por muitos meses — mas sem nenhum efeito negativo, o que me causou certo espanto. Hoje, esse livro é vendido em livrarias de pequenos shoppings, nos Estados Unidos, a um custo de apenas quatro dólares — sendo que a maioria dos compradores são adolescentes. E é um livro incrivelmente perigoso!

0 N cronomicon baseia-se em grande parte na magia negra sumeriana, da Antiguidade, a apenas algumas gerações após a fundação de todas as falsas religiões posteriores ao dilúvio de Noé — a Babilônia de Ninrode. Não é coincidência que Crowley se referisse às suas mulheres como “Babalom, a Mulher Escarlata” .

Esse livro maligno alimentou minha “metamáquina” com tudo que ela desejava. Ensinou-me a metafísica da dor, da raiva e da ira.

Levou-me para a parte de trás, o lado escuro, da Arvore da Vida (mencionada anteriormente). Embora a Árvore Cabalística seja usada em magia ritual, geralmente ela é tida como magia branca. Todavia, como ocorre em todas as formas de magia e metafísica, há sempre uma dualidade.

No reverso da Árvore da Vida, há um tipo de Árvore do Mal, chamada Qlifoth (pronuncia-se “cli-fót”). Esta palavra pode ser traduzida por “meretrizes” ou “cascas” (esta última acepção no sentido de coisa oca, dessecada e sem vida). Todos os rabinos, mesmo os místicos, mantêm-se totalmente afastados da Qlifoth. Para mim, porém, era o que mais me agradava.

Através dos túneis de Typhon, e com os rituais de O Necronomicon, tive condições de ir até o “hiperespaço da magia” e chegar ao lado escuro da Árvore da Vida, que Kenneth Grant chamou de “O Lado Escuro do Éden” (título de seu livro), um dos primeiros a abordar essa arquitetura blasfema da magia.

O nível mais baixo da Árvore de Qlifoth (representando seu nível menor de malignidade) tem o nome de Lílite. Lembra-se dela? É a demônia amante de Lúcifer e mãe de Set; a padroeira do aborto, do assassinato de crianças e da “morte do berço”.

A segunda esfera planetária para a qual viajei chamava-se, por incrível que pareça, Gamaliel, e era apelidada de “Traseiro Obsceno”. O pináculo da Arvore do Mal era uma total, completa e perfeita Dualidade — uma zombaria à unicidade absoluta do verdadeiro Deus dos hebreus.

Viajar por esses caminhos e túneis era como passar por uma tubulação de esgoto espiritual, mas isso era necessário para que eu me preparasse para o próximo grande passo. Eu tinha que superar toda a moralidade, todos os conceitos do que é bom ou mau, para poder atingir o grau ou nível seguinte, o de Adeptus Exemptus.

Estaria preparado, então, para cruzar o Abismo e tornar-me um Mestre — e em condições de levar uma vida humana para os Terríveis Senhores dos Espaços Exteriores.