A infraestrutura do satanismo
Já vimos o que a Bíblia nos diz sobre o diabo, e discutimos
algumas das questões mais amplas relativas à existência de cultos satânicos.
Agora vamos abordar, especificamente, o que é o satanismo.
Quando há muito pouco, ou nada, à nossa disposição para ser
estudado, geralmente não se fazem investigações. E por isso que muito pouco tem
sido escrito a respeito dos expoentes do satanismo antes deste século, ou
melhor, até antes desta geração.
O satanismo tem-se alastrado, hoje em dia, por toda parte e
com muito ímpeto. Artistas populares e personalidades públicas nos Estados
Unidos lhe dão o maior apoio.1 Cantores de rock exibem abertamente seus
símbolos e pregam sua “mensagem”. Satanistas de destaque, como Zeena LaVey e
Michael Aquino, aparecem em programas de entrevistas [na televisão americana],
defendendo sua fé diante de acusações de assassinatos e abuso de crianças.
Não é uma história do satanismo que vamos abordar neste
capítulo. Um bom livro sobre o assunto, de fácil leitura, embora de alto nível,
é o do professor Carl Raschke: Painted Black [Pintado de Preto]. Seremos mais
práticos, examinando o satanismo como uma instituição que opera no mundo de
hoje e de que modo nos atinge e às nossas famílias.
Eis aqui uma definição necessariamente extensiva, pois abrange
todos os grupos do satanismo.
O satanismo envolve a adoração a um deus que representa o
lado das trevas de todo o cosmo. Esse deus é conhecido por vários nomes e,
geralmente, personifica, pelo menos, as partes animalescas e carnais do homem:
se não o próprio mal e as piores características da natureza humana. O
satanismo quase sempre envolve o uso de drogas e o transe, isto é, a possessão
demoníaca. A ética do satanismo é, na melhor das hipóteses, “uma lei da selva”,
de sobrevivência do mais capaz, e geralmente constitui uma inversão consciente
da moralidade. O satanismo tem obsessão pela morte, e seus rituais normalmente
implicam atos de amaldiçoar, derramamento de sangue e sacrifícios de animais ou
seres humanos.
Esta definição é de uma amplitude bastante grande para poder
abrigar até mesmo os assim chamados satanistas religiosos ou organizados, como
Anton LaVey, embora eles neguem categoricamente qualquer envolvimento com
drogas ou com sacrifícios de sangue. Mas têm de negar, por serem legalmente constituídos
como igrejas, não podendo, assim, admitir que violam a lei!
Partindo desta ampla definição, faremos uma decomposição em
algumas categorias básicas, para então examinarmos cada uma delas. Desde que se
começou a analisar com seriedade o fenômeno do culto ao demônio, no final do
século 20, os estudiosos de vários graus de competência têm procurado
classificar seus diferentes tipos. Seus sistemas de classificação são
provavelmente tão bons quanto qualquer outra espécie de sistema.
É importante para o cristão compreender que, embora algumas
dessas variedades de satanismo nem mesmo professem a crença num diabo real e
pessoal, e muitos até mesmo digam que não estão fazendo nada de ilegal, todos
eles estão, com certeza absoluta, totalmente perdidos e destinados a passar a
eternidade no inferno. E fazem parte do exército de Satanás, não importando se
nele crêem ou não.
A classificação dos satanistas mais comumente mencionada
baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo Dr. Dale
Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pioneiros na investigação
científica e criminológica das infrações penais no ocultismo:
1) Inteiramente envolvidos
2) Satanistas religiosos ou organizados
3) Satanistas dissimulados ou isolados
4) Espíritas culturais
5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de
várias gerações).
Eis uma breve descrição de cada um desses tipos:
1) Inteiramente envolvidos
Geralmente são adolescentes, embora haja cada vez mais
meninos e meninas de 12 anos ou menos de algum modo envolvidos com o ocultismo.
Nós e outros fazemos certa restrição ao uso do termo “envolvido”, uma vez que
dá a idéia de que a pessoa não chegou a ser prejudicada, o que não é verdade.
Assim, este termo é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter um
envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto se pode “entrar numa
turma” de consumo de heroína. Estas duas experiências levam o praticante quase
que instantaneamente a um nível irresistível de compulsão, e de ambas é
extremamente difícil escapar sem a ajuda do Senhor.
Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o
envolvimento geralmente é esorganizado, não premeditado e casual.
Geralmente ninguém é envolvido de imediato com grupos de
feitiçaria maiores.
O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender
muitos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma novidade.
Houve época em que o infame de Anton LaVey, A Bíblia
Satânica, era um dos livros mais vendidos em muitas universidades dos Estados
Unidos. E, infelizmente, sucesso total entre alunos das últimas séries do
ensino médio! Qualquer que tenha sido a intenção de LaVey ao escrever sua obra,
o fato é que ela acabou tornando-se uma proclamação do niilismo e do desespero
para muitos jovens.
Os adolescentes são difíceis de entender, mas uma coisa com
que todos concordam é que uma característica fundamental da adolescência é a
afirmação de sua individualidade. Isso significa que, neste mundo decaído, eles
tendem a ser rebeldes. Um pouco de rebeldia é normal, bem como desentendimentos
com os pais; muitos adolescentes, porém, por alguma razão, têm um gênio muito
forte, e a Bíblia nos adverte que “a rebelião é com o pecado de feitiçaria” (1
Sm 15-23).
Se um adolescente tornar-se rebelde de modo extremado,
poderá ser levado a ver em Satanás o maior modelo de rebeldia para os seus
anseios. Os roqueiros do tipo heavy metal exploram essa “qualidade” de Satanás!
Para o adolescente que luta contra tudo o que representa autoridade, Satanás
poderá tornar-se o “deus” da sua rebeldia.
A famosa exclamação de Satanás que se encontra no Paraíso Perdido,
de John Milton — “É melhor reinar no inferno do que servir no céu” — poderá
parecer boa demais para um jovem que esteja em atrito com situações que
considere restritivas e regras que
o aborreçam. O adolescente rebelde, criado no seio da
igreja, muitas vezes considera os cultos como cheios de hipocrisia e sem brilho
algum. Buscam-se exemplos na sua igreja que confirmem seus preconceitos e
acaba-se concebendo o céu como uma eternidade insípida e sem atrativos.
A mentira dos satanistas e dos “metaleiros” de cabelo
arrepiado é que o inferno vive numa orgia desenfreada em drogas “rodando” e
promiscuidade total — um lugar em que Satanás oferece tudo o que os pais
proíbem. Ou, então, os adolescentes são informados de que o inferno não existe
— não passa de história da carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para
fazê-los obedecer. E passam a considerar o inferno como não sendo um problema.
Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente se vestem ou falam de um
modo que aborreça seus pais, os mais rebeldes poderão fazer opções de natureza
espiritual, ou religiosa, somente com o propósito de atingi-los.
Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais
comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo é o “pacto”. De
modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje, bastante conhecido. Embora os
termos de tal acordo possam variar, as principais cláusulas são de que a pessoa
vende a sua alma ao diabo e, em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia,
ou sob qualquer outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas.
O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o
que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha que o diabo
coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência da vida de um adolescente:
o poder. Os adolescentes, em sua maioria, sentem-se desprovidos de poder. São
jovens demais para serem adultos, mas o seu corpo rapidamente está se tornando
maduro, de modo que são velhos demais para serem crianças. Também não ajuda
nada o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus pais. Por um
lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e esperam que procedam como
adultos; por outro lado, dizem-lhes que não são ainda suficientemente adultos
para fazerem certas coisas de adultos. Satanás conhece esta situação e explora
o desejo natural do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se
encontra e sobre o seu destino.
Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão poder
para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam perturbando. Terão como
“dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais — como quiserem. E receberão doses
ilimitadas de dinheiro, sexo, drogas e poder. Basta assinar na linha em branco
— com o próprio sangue.
É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem que
se acha totalmente perdido, vagando pelos mares da adolescência. A não ser que
haja alguém de confiança, compassivo e bem informado dessa situação para lhe
falar sobre tudo isso, de forma que o adolescente fique sabendo a verdade
quanto às promessas ardilosas de Satanás, é bem possível que venha a acreditar
nessas mentiras.
Em muitas livrarias, ele irá encontrar diversos livros
satanistas.
Nas bancas de jornais, revistas de quadrinhos satanistas
pululam. Para uma mente sugestionável, as odiosas polêmicas da Bíblia Satânica
e similares tornam-se imagens expressivas de uma espiritualidade dolorosa e em
trevas, despertando os piores componentes da fúria que há no interior do jovem.
Assim, ele logo se envolve.
Geralmente os que se envolvem não se ligam a nenhum grupo
satânico organizado, embora uma minoria não desprezível deles seja trazida, por
satanistas adultos, para um desses grupos. Os adultos se valem de vários
métodos para seduzir os jovens, entre os quais drogas, sexo e o infame jogo de
RPG Calabouços e Dragões. É triste dizer, mas às vezes até mesmo professores e
parentes satanistas fazem uso de sua influência para seduzi-los. Este autor foi
professor durante dois anos, na época em que era feiticeiro.4 Fiz de tudo o que
pude para atrair para o ocultismo os estudantes dos dois últimos anos do ensino
médio que estavam sob meus cuidados.
A maioria dos grupos satânicos usam drogas e têm o maior
prazer em fornecê-las aos adolescentes — às vezes até de graça em troca de uma
visita deles ao seu grupo. Bruxas e bruxos sexualmente refinados atraem muitas
vezes rapazes e moças solitários que se sentem lisonjeados por pensarem que uma
pessoa mais velha e poderosa os considera atraentes. O sexo é, então, usado, de
modo trágico, para o acesso do demônio à vida dos jovens (veja 1 Co
6.15-17). Também o jogo Calabouços e Dragões é usado com
freqüência por professores e lojistas feiticeiros para selecionar jovens que
tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que os disputantes assumem
no jogo são um excelente treinamento para o feiticeiro noviço.
Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se
envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses jovens e
adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, exceto para si mesmos,
muitos deles são levados, quer por poderes demoníacos ou pelos feiticeiros que
os recrutaram, a realizar atos de violência e anti-sociais, inclusive
assassinatos. Todavia, mesmo que nunca venham a causar dano a alguém, os males
que fazem a si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis.
O satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista,
segundo a qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloqueadas, e os
piores aspectos da natureza humana carnal predominam.
A violência e a magia tornam-se a única solução para
qualquer problema, e um sentimento de amor real de sua parte torna-se
praticamente impossível.
2) Satanistas religiosos ou organizados
Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e
já foram abordados nos capítulos anteriores.
3) Satanistas dissimulados ou isolados
Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a
nenhuma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática de crimes
— principalmente abuso de crianças, estupro, tortura, assassinato e tudo mais.
Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem
relacionar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam, então, por se
identificar com Satanás: o maior de todos os marginais.
Deixam-se também corromper, com freqüência, pelo rock heavy metal
e por apavorantes filmes de terror.
Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são
satanistas que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também
satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém envolver-se com
o satanismo, qualquer que tenha sido a causa, abre portas em sua vida para que
irrompa a sua natureza pecaminosa. O fato é que tais pessoas, em sua maioria, são
produtos emocionalmente deficientes de uma família desconcertada e, muitas
vezes, vítimas de abusos. Isso lhes confere um sentimento de ira em seu
interior que Satanás tem todo o prazer em fazer explodir.
São matéria-prima de primeira linha para ser trabalhada por
Satanás e acabam se tornando fantoches em suas mãos, soldados rasos que ele usa
em sua guerra de terrorismo espiritual.
Se foi o satanismo ou a loucura que entrou primeiro na vida
dessas pessoas, isso não importa. O importante é entender que livros tais como
A Bíblia Satânica e artistas de música popular como Ozzy Osbourne, AC/DC ou
Motley Crue as fazem cair totalmente nessa situação maligna e ainda lhes dão um
apoio para continuarem a praticar o mal. São pessoas de carne e osso que, quer
tenham consciência ou não, fazem parte de um plano mestre de Satanás.
São, terroristas espirituais seus, que saem por aí
espalhando horror, morte e paranóia.
4) Espíritas culturais
Estes são um pouco mais difíceis de classificar. São
integrantes de culturas geralmente latinas e africanas, cujas crenças são uma
mistura de feitiçaria africana com o catolicismo romano. Um estudo afirma o
seguinte:
As religiões espíritas culturais sincretizam, com harmonia,
rituais da magia ou sobrenaturais, específicos de determinada cultura, com
certas tradições religiosas próprias de outra cultura, diferente. (...)
Estima-se que existem, atualmente, um milhão a um milhão e meio de pessoas, nos
Estados Undos, que praticam algum tipo de espiritismo afro-antilhano.
A grande maioria desses praticantes está envolvida com as
crenças denominadas santeria e paio mayombe.
As principais formas do espiritismo cultural são:
a. Vodu
O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é
praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe, na Louisiana e
em outros estados do Sul dos Estados Unidos. Este culto desenvolveu-se como
resultado do tráfico de escravos procedentes da África Ocidental, levados para
o Caribe. Origina-se da
religião ocultista africana conhecida como Juju, que data de
milhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era adoradora de
serpentes.
A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo,
produzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades demoníacas. Essas
entidades, em sua maioria, são identificadas com santos católicos. Por exemplo,
imagens de São Patrício são usadas para personificar Danballah, o principal
deus-serpente, porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício
expulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente são executados
pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdotisa). Grande parte dos rituais é
para que os praticantes sejam incorporados pela entidade.
b. Candomblé e Umbanda
São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do
catolicismo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria e
do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os pais-de-santo
(sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas (orixás) com os santos
católicos. São quatro os principais componentes do ritual candomblista: adivinhação,
sacrifícios (geralmente de animais), incorporação de espíritos e iniciação. Há
uma linha que é mais voltada para o mal, a quimbanda.
c. Santeria (ou Lucúmi)
A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé,
sendo assim também um sincretismo de religiões africanas com o catolicismo.
Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus sacerdotes são os
santeros. Desde que em 1980 o barco de Mariel saiu de Cuba, muitos dos
praticantes da santeria foram parar em cidades americanas, tendo atualmente
chegado ao número de dois milhões de adeptos nos Estados Unidos, principalmente
entre os cubanos e demais hispânicos.
Em Trinidad, a santeria tem o nome de “xangô”.
d. Paio Mayombe
É uma prática mexicana e do Caribe. Representa uma linha
mais “pesada” da santeria. Os mayomberos (seus praticantes) geralmente se
concentram no espírito da morte e usam a sua magia para infligir desgraças,
torturas ou a morte de um adversário. Por incrível que pareça, há mayomberos
que se dedicam à prática de uma magia para o bem, ou neutra, e que são chamados
de “mayomberos cristãos”. Os que a praticam para o mal são chamados de
“mayomberos judeus”.
O paio mayombe provém também da mistura de crenças africanas
(ioruba e congalesa) com o catolicismo, mas é visivelmente uma feitiçaria mais
maligna e perigosa. Sacrifícios humanos são nele praticados. Esse culto serviu
de modelo à seita ocultista fictícia vista no filme The Believers.
Muitos dos praticantes dessas formas de espiritismo afirmam
(naturalmente) que elas não causam dano a ninguém e que apenas fazem
sacrifícios de animais. Contudo, há uma suspeita cada vez maior de que esses
grupos usam das magias para levar drogas para os Estados Unidos. E infames
assassinatos ocorridos em Matamoros [cidade do México na fronteira com os
Estados Unidos] foram cometidos por uma seita que parece ser uma mistura de
candomblé com paio mayombe.
Assim como acontece com todos os satanistas, os espíritas
culturais estão perdidos, carecendo da salvação mediante Jesus Cristo.
Eles tendem a espalhar-se com as mesmas promessas de poder,
riqueza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados satanistas.
São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os feitiços
que empregam são, surpreendentemente, muito eficazes. Mas, felizmente, podem
ser vencidos pelo sangue de Jesus.
5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)
Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás,
os tradicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”. Tal como
aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da sociedade, mas são mais
conscientes de sua posição e função. São chamados, nos círculos de feitiçaria,
de “hereditários”. Isto significa que já nasceram no satanismo, da mesma forma
como há pessoas nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas ou
judias.
Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da ideologia
do seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem a um mundo tão diferente
do nosso que bem poderiam ser considerados alienígenas. Em seus grupos, há
famílias nas quais a feitiçaria e o satanismo vêm sendo praticados por muitas
gerações, talvez até durante vários séculos.
É importante compreender que, embora todos os satanistas
sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito da
palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da Wicca, como são
muitas vezes chamados, não acreditam num diabo e adoram uma deusa mãe e um deus
chifrudo. Na verdade, eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas
divindades supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência disso.
Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais elevados realmente
conhecem a verdade, mas ela é mantida desconhecida do público em geral e dos
iniciantes dessa magia.)
As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas
origens na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém que
nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente:
ou a criança é mimada, treinada em magia e ensinada a
considerarse um deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com abusos
na infância, tornando-se basicamente um ninho ambulante de ódio e temores. Em
ambos os casos, a criança não é ensinada a aprender a confiar nem a amar. A
razão pela qual algumas dessas crianças são vitimadas e outras, não, tem a ver
com toda sorte de obscuras doutrinas ocultistas, como, por exemplo, a ordem de
nascimento, mapa astral, sexo, cor do cabelo ou constituição física.
As famílias satanistas tradicionais, com freqüência, deixam
seus costumes próprios, assumindo uma aparência normal e respeitável. Não se
vestem de preto, não raspam a cabeça nem vivem numa casa esquisita, como a
“Família Addams”. Quase sempre, se passam por crentes e chegam até a ocupar
cargos importantes em sua igreja e na comunidade. Assim, é bem possível que um
bom cristão se case com uma mulher que na verdade é uma satanista tradicional,
sem saber de sua real condição. A maioria dos cristãos costuma ser muito
inocente e geralmente acredita em todo mundo. Se alguém diz ser cristão, isso
normalmente é aceito, de imediato. (Vamos abordar o discernimento de espíritos
e outros tópicos correlatos mais à frente, neste livro.)
Por vezes, nessas famílias, um dos irmãos tem uma infância
razoavelmente normal e outro pode ser vítima de um terrível abuso. Outra
variável é que, às vezes, um dos pais é satanista, e o outro, não, mas
desconhece a verdadeira fé de seu cônjuge. Neste caso, pelo menos um dos filhos
será vitimado, ficando os demais livres para terem uma infância normal. E no
contexto dessas famílias que o abuso ritual satânico (ARS) geralmente ocorre. O
abuso ritual de crianças ou ARS é definido por uma autoridade no assunto da
seguinte forma:
O abuso ritualizado são repetidas agressões físicas,
emocionais, mentais e espirituais, combinadas com um sistemático uso de
símbolos, cerimônias e maquinações para que efeitos maléficos sejam alcançados.
Tais abusos podem ser repetidos de 100 a 1.000 vezes! Primeiro, as agressões
procuram atingir o nível físico; depois, os níveis emocional, mental e espiritual.
Constituem um programa detalhado e planejado para fazer com que a criança
volte-se contra si mesma, contra a sociedade e contra Deus.
Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de
aconselhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O Senhor
tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante, falo de nossas
estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o importante é
compreendermos que o abuso ritual satânico geramente ocorre numa família de
satanistas e, em ocasiões mais raras, no contexto de escolas, creches e
(infelizmente) igrejas.
Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas
tradicionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de lunáticos
— a mesma atitude adversa aos que protestavam, décadas atrás, nos Estados
Unidos, contra o flúor na água potável, acusados de participar de uma trama
comunista para arruinar a saúde dos americanos. Agora, as revistas publicam
reportagens sobre o efeito cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias
apontadas como “conspiração’ é que muitas vezes acabam sendo reconhecidas como
verdadeiras.
Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância
declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por muitas
gerações. Embora não seja fácil provar a veracidade dessas histórias, elas são
em número considerável para que sejam totalmente desprezadas.
Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e
satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma novidade? Há
claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israelitas em Canaã, havia
civilizações que em sua totalidade adoravam o diabo sob os nomes de Baal e
Moloque. A adoração a esses deuses envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25),
prostituição e perversão sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus
filhos e suas filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar
bebês vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos que,
praticamente, todos os elementos do satanismo estavam presentes muito tempo
antes dos dias de Jesus.
Depois dos apóstolos de Cristo, outro fator satânico surgiu,
com a “Missa Negra”, ou “Missa pelos Mortos”, feita com símbolos blasfemos,
zombando da liturgia católica. Eram rituais realizados com o propósito de
amaldiçoar pessoas! Isto não é difícil de compreender quando se sabe que a
liturgia católica da missa, ou eucaristia, é basicamente uma cerimônia
ocultista. É o que pode ser chamado de “magia branca”. Assim, foi fácil aos
satanistas adaptarem-na um pouco, transformando-a num completo ritual de magia
negra.
Tais missas foram condenadas pelo Concilio de Toledo em 681.
O satanismo alcançou popularidade nos séculos 18 e 19, quando a Missa Negra
ficou na moda, com a decadente aristocracia da Europa.
No entanto, alegações de abuso infantil em rituais satânicos
nunca foram tão freqüentes como agora. Isso não acontecia antes!As famílias de
satanistas tradicionais são grupos isolados de pessoas perigosas ou ligados
entre si de algum modo? Esta é uma questão controvertida.
Poucos são os que negam que há famílias que por gerações têm
sido satanistas. Mas será que tais famílias fazem parte de uma rede? No sentido
absoluto da palavra, a resposta é um ategórico “sim!”. Jesus falou de uma
conspiração, dirigida pelo consumado terrorista de conspirações! O Senhor
advertiu-nos de que Satanás vem para roubar, matar e destruir (Jo 10.10).
Observou, também, que o reino de Satanás não se divide contra si mesmo (Mt
12.25,26). Satanás é um brilhante tático, que distribui suas tropas, tanto
demoníacas como humanas, com muito cuidado! E como um jogador de xadrez, que
planeja com dezenas de lances de antecipação! Seria uma tolice pensar de outra
forma.
Portanto, é difícil imaginar que Satanás permitiria que
milhares de seres humanos se pusessem em movimento se não tivessem um plano
mestre por trás. Toda energia consumida ao acaso é uma energia perdida, e,
louvado seja o Senhor, a energia de Satanás é limitada. Assim, não pode
desperdiçá-la com um bando de excêntricos desorganizados, retalhando gatos e
pessoas e tropeçando uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela
Bíblia) haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do que fazem
todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais.
Carl Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente, apresenta um
mal adicional (embora mundano) que pode estar alimentando essa conspiração:
Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros
podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer feitiços do clássico
do ocultismo O Necronomicon. Mas eles não se associam entre si, nem “conspiram”
de um modo claro e regimental. O que geralmente não se percebe, porém, é que o
elo de ligação entre as diversas células na sua organização cultuai pode nada
ter a ver com religião. Pelo contrário, a ligação pode ser bastante mundana e
comercial... drogas.
Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos
secretos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que há
profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em qualquer um deles
sem o controle de Satanás. Os demônios que estão no controle dos líderes de
cada grupo acham-se em constante comunicação entre si, de modo que o conjunto
de todos eles vão sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até em
escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um bastão invisível.
Esses satanistas exultam na destruição da inocência!
Regozijam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido (geralmente não
é!), mas porque sabem que tais obras são pecados e ofensas a um Deus santo.
Sabem que, uma vez que Jesus ama as crianças, então, para atingi-lo, eles as
afligem com malignidades inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma
simples “doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infernais,
movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem mesmo imaginar. Assim
como costumamos falar de cristãos totalmente entregues ao Senhor Jesus, que
verdadeiramente são seus servos, de igual modo Satanás tem seus “santos
satânicos” — pessoas que farão de tudo para servir ao seu senhor. Será que há
pessoas assim? Infelizmente, a resposta é afirmativa. Eu fui uma delas.
Os que me treinaram eram pessoas totalmente entregues ao
mal, e essa iniqüidade passou para mim por contágio espiritual. De um modo bem
claro, solicitei que demônios me possuíssem. Felizmente, antes de Satanás ter
condições de trazer à realidade os impulsos de ódio e matar o que havia de bom
em mim, fui retirado como um tição da fogueira pelo poder de Jesus, e Satanás
perdeu um de seus peões.
Aquele a quem o Filho libertar verdadeiramente será livre
(cf. Jo 8.36). Se o conteúdo deste capítulo o incomodou, isso é compreensível.
Mas entenda que nenhum desses males é uma surpresa para Deus. Tudo foi
profetizado séculos atrás na Bíblia Sagrada. O Senhor ainda está, de fato, no
trono.
Deus está continuamente penetrando na imundície e no lamaçal
de todas as formas de satanismo e libertando os do Seu povo — e usando
experiências por eles vividas para a Sua glória, para melhor poderem ministrar
aos outros. Satanás pode ser um mestre em conspiração, mas o Senhor Deus tem o
poder de prevalecer sobre os planos dele com um estalar de dedos. Muitos pensam
que este conflito cósmico é um jogo de xadrez entre Deus e Satanás.
Mas, não haja engano a este respeito. Satanás foi derrotado
há 2.000 anos, e vem até nós tomado de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe
resta (Ap 12.12). Estamos assistindo, hoje, a milhares de anos de profecia se
cumprindo. Essas coisas terríveis que acabo de descrever não são senão os
estertores finais da velha serpente, com a cabeça esmagada pela cruz de Cristo.