terça-feira, 4 de maio de 2021

Lúcifer destronado - Capítulo 08

A infraestrutura do satanismo

Já vimos o que a Bíblia nos diz sobre o diabo, e discutimos algumas das questões mais amplas relativas à existência de cultos satânicos. Agora vamos abordar, especificamente, o que é o satanismo.

Quando há muito pouco, ou nada, à nossa disposição para ser estudado, geralmente não se fazem investigações. E por isso que muito pouco tem sido escrito a respeito dos expoentes do satanismo antes deste século, ou melhor, até antes desta geração.

O satanismo tem-se alastrado, hoje em dia, por toda parte e com muito ímpeto. Artistas populares e personalidades públicas nos Estados Unidos lhe dão o maior apoio.1 Cantores de rock exibem abertamente seus símbolos e pregam sua “mensagem”. Satanistas de destaque, como Zeena LaVey e Michael Aquino, aparecem em programas de entrevistas [na televisão americana], defendendo sua fé diante de acusações de assassinatos e abuso de crianças.

Não é uma história do satanismo que vamos abordar neste capítulo. Um bom livro sobre o assunto, de fácil leitura, embora de alto nível, é o do professor Carl Raschke: Painted Black [Pintado de Preto]. Seremos mais práticos, examinando o satanismo como uma instituição que opera no mundo de hoje e de que modo nos atinge e às nossas famílias.

Eis aqui uma definição necessariamente extensiva, pois abrange todos os grupos do satanismo.

O satanismo envolve a adoração a um deus que representa o lado das trevas de todo o cosmo. Esse deus é conhecido por vários nomes e, geralmente, personifica, pelo menos, as partes animalescas e carnais do homem: se não o próprio mal e as piores características da natureza humana. O satanismo quase sempre envolve o uso de drogas e o transe, isto é, a possessão demoníaca. A ética do satanismo é, na melhor das hipóteses, “uma lei da selva”, de sobrevivência do mais capaz, e geralmente constitui uma inversão consciente da moralidade. O satanismo tem obsessão pela morte, e seus rituais normalmente implicam atos de amaldiçoar, derramamento de sangue e sacrifícios de animais ou seres humanos.

Esta definição é de uma amplitude bastante grande para poder abrigar até mesmo os assim chamados satanistas religiosos ou organizados, como Anton LaVey, embora eles neguem categoricamente qualquer envolvimento com drogas ou com sacrifícios de sangue. Mas têm de negar, por serem legalmente constituídos como igrejas, não podendo, assim, admitir que violam a lei!

Partindo desta ampla definição, faremos uma decomposição em algumas categorias básicas, para então examinarmos cada uma delas. Desde que se começou a analisar com seriedade o fenômeno do culto ao demônio, no final do século 20, os estudiosos de vários graus de competência têm procurado classificar seus diferentes tipos. Seus sistemas de classificação são provavelmente tão bons quanto qualquer outra espécie de sistema.

É importante para o cristão compreender que, embora algumas dessas variedades de satanismo nem mesmo professem a crença num diabo real e pessoal, e muitos até mesmo digam que não estão fazendo nada de ilegal, todos eles estão, com certeza absoluta, totalmente perdidos e destinados a passar a eternidade no inferno. E fazem parte do exército de Satanás, não importando se nele crêem ou não.

A classificação dos satanistas mais comumente mencionada baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo Dr. Dale Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pioneiros na investigação científica e criminológica das infrações penais no ocultismo:

1) Inteiramente envolvidos

2) Satanistas religiosos ou organizados

3) Satanistas dissimulados ou isolados

4) Espíritas culturais

5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de várias gerações).

Eis uma breve descrição de cada um desses tipos:

1) Inteiramente envolvidos

Geralmente são adolescentes, embora haja cada vez mais meninos e meninas de 12 anos ou menos de algum modo envolvidos com o ocultismo. Nós e outros fazemos certa restrição ao uso do termo “envolvido”, uma vez que dá a idéia de que a pessoa não chegou a ser prejudicada, o que não é verdade. Assim, este termo é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter um envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto se pode “entrar numa turma” de consumo de heroína. Estas duas experiências levam o praticante quase que instantaneamente a um nível irresistível de compulsão, e de ambas é extremamente difícil escapar sem a ajuda do Senhor.

Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o envolvimento geralmente é esorganizado, não premeditado e casual.

Geralmente ninguém é envolvido de imediato com grupos de feitiçaria maiores.

O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender muitos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma novidade.

Houve época em que o infame de Anton LaVey, A Bíblia Satânica, era um dos livros mais vendidos em muitas universidades dos Estados Unidos. E, infelizmente, sucesso total entre alunos das últimas séries do ensino médio! Qualquer que tenha sido a intenção de LaVey ao escrever sua obra, o fato é que ela acabou tornando-se uma proclamação do niilismo e do desespero para muitos jovens.

Os adolescentes são difíceis de entender, mas uma coisa com que todos concordam é que uma característica fundamental da adolescência é a afirmação de sua individualidade. Isso significa que, neste mundo decaído, eles tendem a ser rebeldes. Um pouco de rebeldia é normal, bem como desentendimentos com os pais; muitos adolescentes, porém, por alguma razão, têm um gênio muito forte, e a Bíblia nos adverte que “a rebelião é com o pecado de feitiçaria” (1 Sm 15-23).

Se um adolescente tornar-se rebelde de modo extremado, poderá ser levado a ver em Satanás o maior modelo de rebeldia para os seus anseios. Os roqueiros do tipo heavy metal exploram essa “qualidade” de Satanás! Para o adolescente que luta contra tudo o que representa autoridade, Satanás poderá tornar-se o “deus” da sua rebeldia.

A famosa exclamação de Satanás que se encontra no Paraíso Perdido, de John Milton — “É melhor reinar no inferno do que servir no céu” — poderá parecer boa demais para um jovem que esteja em atrito com situações que considere restritivas e regras que

o aborreçam. O adolescente rebelde, criado no seio da igreja, muitas vezes considera os cultos como cheios de hipocrisia e sem brilho algum. Buscam-se exemplos na sua igreja que confirmem seus preconceitos e acaba-se concebendo o céu como uma eternidade insípida e sem atrativos.

A mentira dos satanistas e dos “metaleiros” de cabelo arrepiado é que o inferno vive numa orgia desenfreada em drogas “rodando” e promiscuidade total — um lugar em que Satanás oferece tudo o que os pais proíbem. Ou, então, os adolescentes são informados de que o inferno não existe — não passa de história da carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para fazê-los obedecer. E passam a considerar o inferno como não sendo um problema. Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente se vestem ou falam de um modo que aborreça seus pais, os mais rebeldes poderão fazer opções de natureza espiritual, ou religiosa, somente com o propósito de atingi-los.

Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo é o “pacto”. De modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje, bastante conhecido. Embora os termos de tal acordo possam variar, as principais cláusulas são de que a pessoa vende a sua alma ao diabo e, em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia, ou sob qualquer outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas.

O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha que o diabo coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência da vida de um adolescente: o poder. Os adolescentes, em sua maioria, sentem-se desprovidos de poder. São jovens demais para serem adultos, mas o seu corpo rapidamente está se tornando maduro, de modo que são velhos demais para serem crianças. Também não ajuda nada o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus pais. Por um lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e esperam que procedam como adultos; por outro lado, dizem-lhes que não são ainda suficientemente adultos para fazerem certas coisas de adultos. Satanás conhece esta situação e explora o desejo natural do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se encontra e sobre o seu destino.

Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão poder para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam perturbando. Terão como “dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais — como quiserem. E receberão doses ilimitadas de dinheiro, sexo, drogas e poder. Basta assinar na linha em branco — com o próprio sangue.

É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem que se acha totalmente perdido, vagando pelos mares da adolescência. A não ser que haja alguém de confiança, compassivo e bem informado dessa situação para lhe falar sobre tudo isso, de forma que o adolescente fique sabendo a verdade quanto às promessas ardilosas de Satanás, é bem possível que venha a acreditar nessas mentiras.

Em muitas livrarias, ele irá encontrar diversos livros satanistas.

Nas bancas de jornais, revistas de quadrinhos satanistas pululam. Para uma mente sugestionável, as odiosas polêmicas da Bíblia Satânica e similares tornam-se imagens expressivas de uma espiritualidade dolorosa e em trevas, despertando os piores componentes da fúria que há no interior do jovem. Assim, ele logo se envolve.

Geralmente os que se envolvem não se ligam a nenhum grupo satânico organizado, embora uma minoria não desprezível deles seja trazida, por satanistas adultos, para um desses grupos. Os adultos se valem de vários métodos para seduzir os jovens, entre os quais drogas, sexo e o infame jogo de RPG Calabouços e Dragões. É triste dizer, mas às vezes até mesmo professores e parentes satanistas fazem uso de sua influência para seduzi-los. Este autor foi professor durante dois anos, na época em que era feiticeiro.4 Fiz de tudo o que pude para atrair para o ocultismo os estudantes dos dois últimos anos do ensino médio que estavam sob meus cuidados.

A maioria dos grupos satânicos usam drogas e têm o maior prazer em fornecê-las aos adolescentes — às vezes até de graça em troca de uma visita deles ao seu grupo. Bruxas e bruxos sexualmente refinados atraem muitas vezes rapazes e moças solitários que se sentem lisonjeados por pensarem que uma pessoa mais velha e poderosa os considera atraentes. O sexo é, então, usado, de modo trágico, para o acesso do demônio à vida dos jovens (veja 1 Co

6.15-17). Também o jogo Calabouços e Dragões é usado com freqüência por professores e lojistas feiticeiros para selecionar jovens que tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que os disputantes assumem no jogo são um excelente treinamento para o feiticeiro noviço.

Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses jovens e adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, exceto para si mesmos, muitos deles são levados, quer por poderes demoníacos ou pelos feiticeiros que os recrutaram, a realizar atos de violência e anti-sociais, inclusive assassinatos. Todavia, mesmo que nunca venham a causar dano a alguém, os males que fazem a si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis.

O satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista, segundo a qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloqueadas, e os piores aspectos da natureza humana carnal predominam.

A violência e a magia tornam-se a única solução para qualquer problema, e um sentimento de amor real de sua parte torna-se praticamente impossível.

2) Satanistas religiosos ou organizados

Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e já foram abordados nos capítulos anteriores.

3) Satanistas dissimulados ou isolados

Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a nenhuma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática de crimes — principalmente abuso de crianças, estupro, tortura, assassinato e tudo mais.

Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem relacionar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam, então, por se identificar com Satanás: o maior de todos os marginais.

Deixam-se também corromper, com freqüência, pelo rock heavy metal e por apavorantes filmes de terror.

Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são satanistas que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém envolver-se com o satanismo, qualquer que tenha sido a causa, abre portas em sua vida para que irrompa a sua natureza pecaminosa. O fato é que tais pessoas, em sua maioria, são produtos emocionalmente deficientes de uma família desconcertada e, muitas vezes, vítimas de abusos. Isso lhes confere um sentimento de ira em seu interior que Satanás tem todo o prazer em fazer explodir.

São matéria-prima de primeira linha para ser trabalhada por Satanás e acabam se tornando fantoches em suas mãos, soldados rasos que ele usa em sua guerra de terrorismo espiritual.

Se foi o satanismo ou a loucura que entrou primeiro na vida dessas pessoas, isso não importa. O importante é entender que livros tais como A Bíblia Satânica e artistas de música popular como Ozzy Osbourne, AC/DC ou Motley Crue as fazem cair totalmente nessa situação maligna e ainda lhes dão um apoio para continuarem a praticar o mal. São pessoas de carne e osso que, quer tenham consciência ou não, fazem parte de um plano mestre de Satanás.

São, terroristas espirituais seus, que saem por aí espalhando horror, morte e paranóia.

4) Espíritas culturais

Estes são um pouco mais difíceis de classificar. São integrantes de culturas geralmente latinas e africanas, cujas crenças são uma mistura de feitiçaria africana com o catolicismo romano. Um estudo afirma o seguinte:

As religiões espíritas culturais sincretizam, com harmonia, rituais da magia ou sobrenaturais, específicos de determinada cultura, com certas tradições religiosas próprias de outra cultura, diferente. (...) Estima-se que existem, atualmente, um milhão a um milhão e meio de pessoas, nos Estados Undos, que praticam algum tipo de espiritismo afro-antilhano.

A grande maioria desses praticantes está envolvida com as crenças denominadas santeria e paio mayombe.

As principais formas do espiritismo cultural são:

a. Vodu

O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe, na Louisiana e em outros estados do Sul dos Estados Unidos. Este culto desenvolveu-se como resultado do tráfico de escravos procedentes da África Ocidental, levados para o Caribe. Origina-se da

religião ocultista africana conhecida como Juju, que data de milhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era adoradora de serpentes.

A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo, produzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades demoníacas. Essas entidades, em sua maioria, são identificadas com santos católicos. Por exemplo, imagens de São Patrício são usadas para personificar Danballah, o principal deus-serpente, porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício expulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente são executados pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdotisa). Grande parte dos rituais é para que os praticantes sejam incorporados pela entidade.

b. Candomblé e Umbanda

São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do catolicismo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria e do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os pais-de-santo (sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas (orixás) com os santos católicos. São quatro os principais componentes do ritual candomblista: adivinhação, sacrifícios (geralmente de animais), incorporação de espíritos e iniciação. Há uma linha que é mais voltada para o mal, a quimbanda.

c. Santeria (ou Lucúmi)

A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé, sendo assim também um sincretismo de religiões africanas com o catolicismo. Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus sacerdotes são os santeros. Desde que em 1980 o barco de Mariel saiu de Cuba, muitos dos praticantes da santeria foram parar em cidades americanas, tendo atualmente chegado ao número de dois milhões de adeptos nos Estados Unidos, principalmente entre os cubanos e demais hispânicos.

Em Trinidad, a santeria tem o nome de “xangô”.

d. Paio Mayombe

É uma prática mexicana e do Caribe. Representa uma linha mais “pesada” da santeria. Os mayomberos (seus praticantes) geralmente se concentram no espírito da morte e usam a sua magia para infligir desgraças, torturas ou a morte de um adversário. Por incrível que pareça, há mayomberos que se dedicam à prática de uma magia para o bem, ou neutra, e que são chamados de “mayomberos cristãos”. Os que a praticam para o mal são chamados de “mayomberos judeus”.

O paio mayombe provém também da mistura de crenças africanas (ioruba e congalesa) com o catolicismo, mas é visivelmente uma feitiçaria mais maligna e perigosa. Sacrifícios humanos são nele praticados. Esse culto serviu de modelo à seita ocultista fictícia vista no filme The Believers.

Muitos dos praticantes dessas formas de espiritismo afirmam (naturalmente) que elas não causam dano a ninguém e que apenas fazem sacrifícios de animais. Contudo, há uma suspeita cada vez maior de que esses grupos usam das magias para levar drogas para os Estados Unidos. E infames assassinatos ocorridos em Matamoros [cidade do México na fronteira com os Estados Unidos] foram cometidos por uma seita que parece ser uma mistura de candomblé com paio mayombe.

Assim como acontece com todos os satanistas, os espíritas culturais estão perdidos, carecendo da salvação mediante Jesus Cristo.

Eles tendem a espalhar-se com as mesmas promessas de poder, riqueza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados satanistas.

São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os feitiços que empregam são, surpreendentemente, muito eficazes. Mas, felizmente, podem ser vencidos pelo sangue de Jesus.

5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)

Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás, os tradicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”. Tal como aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da sociedade, mas são mais conscientes de sua posição e função. São chamados, nos círculos de feitiçaria, de “hereditários”. Isto significa que já nasceram no satanismo, da mesma forma como há pessoas nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas ou judias.

Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da ideologia do seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem a um mundo tão diferente do nosso que bem poderiam ser considerados alienígenas. Em seus grupos, há famílias nas quais a feitiçaria e o satanismo vêm sendo praticados por muitas gerações, talvez até durante vários séculos.

É importante compreender que, embora todos os satanistas sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito da palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da Wicca, como são muitas vezes chamados, não acreditam num diabo e adoram uma deusa mãe e um deus chifrudo. Na verdade, eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas divindades supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência disso. Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais elevados realmente conhecem a verdade, mas ela é mantida desconhecida do público em geral e dos iniciantes dessa magia.)

As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas origens na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém que nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente:

ou a criança é mimada, treinada em magia e ensinada a considerarse um deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com abusos na infância, tornando-se basicamente um ninho ambulante de ódio e temores. Em ambos os casos, a criança não é ensinada a aprender a confiar nem a amar. A razão pela qual algumas dessas crianças são vitimadas e outras, não, tem a ver com toda sorte de obscuras doutrinas ocultistas, como, por exemplo, a ordem de nascimento, mapa astral, sexo, cor do cabelo ou constituição física.

As famílias satanistas tradicionais, com freqüência, deixam seus costumes próprios, assumindo uma aparência normal e respeitável. Não se vestem de preto, não raspam a cabeça nem vivem numa casa esquisita, como a “Família Addams”. Quase sempre, se passam por crentes e chegam até a ocupar cargos importantes em sua igreja e na comunidade. Assim, é bem possível que um bom cristão se case com uma mulher que na verdade é uma satanista tradicional, sem saber de sua real condição. A maioria dos cristãos costuma ser muito inocente e geralmente acredita em todo mundo. Se alguém diz ser cristão, isso normalmente é aceito, de imediato. (Vamos abordar o discernimento de espíritos e outros tópicos correlatos mais à frente, neste livro.)

Por vezes, nessas famílias, um dos irmãos tem uma infância razoavelmente normal e outro pode ser vítima de um terrível abuso. Outra variável é que, às vezes, um dos pais é satanista, e o outro, não, mas desconhece a verdadeira fé de seu cônjuge. Neste caso, pelo menos um dos filhos será vitimado, ficando os demais livres para terem uma infância normal. E no contexto dessas famílias que o abuso ritual satânico (ARS) geralmente ocorre. O abuso ritual de crianças ou ARS é definido por uma autoridade no assunto da seguinte forma:

O abuso ritualizado são repetidas agressões físicas, emocionais, mentais e espirituais, combinadas com um sistemático uso de símbolos, cerimônias e maquinações para que efeitos maléficos sejam alcançados. Tais abusos podem ser repetidos de 100 a 1.000 vezes! Primeiro, as agressões procuram atingir o nível físico; depois, os níveis emocional, mental e espiritual. Constituem um programa detalhado e planejado para fazer com que a criança volte-se contra si mesma, contra a sociedade e contra Deus.

Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de aconselhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O Senhor tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante, falo de nossas estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o importante é compreendermos que o abuso ritual satânico geramente ocorre numa família de satanistas e, em ocasiões mais raras, no contexto de escolas, creches e (infelizmente) igrejas.

Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas tradicionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de lunáticos — a mesma atitude adversa aos que protestavam, décadas atrás, nos Estados Unidos, contra o flúor na água potável, acusados de participar de uma trama comunista para arruinar a saúde dos americanos. Agora, as revistas publicam reportagens sobre o efeito cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias apontadas como “conspiração’ é que muitas vezes acabam sendo reconhecidas como verdadeiras.

Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por muitas gerações. Embora não seja fácil provar a veracidade dessas histórias, elas são em número considerável para que sejam totalmente desprezadas.

Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma novidade? Há claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israelitas em Canaã, havia civilizações que em sua totalidade adoravam o diabo sob os nomes de Baal e Moloque. A adoração a esses deuses envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25), prostituição e perversão sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus filhos e suas filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar bebês vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos que, praticamente, todos os elementos do satanismo estavam presentes muito tempo antes dos dias de Jesus.

Depois dos apóstolos de Cristo, outro fator satânico surgiu, com a “Missa Negra”, ou “Missa pelos Mortos”, feita com símbolos blasfemos, zombando da liturgia católica. Eram rituais realizados com o propósito de amaldiçoar pessoas! Isto não é difícil de compreender quando se sabe que a liturgia católica da missa, ou eucaristia, é basicamente uma cerimônia ocultista. É o que pode ser chamado de “magia branca”. Assim, foi fácil aos satanistas adaptarem-na um pouco, transformando-a num completo ritual de magia negra.

Tais missas foram condenadas pelo Concilio de Toledo em 681. O satanismo alcançou popularidade nos séculos 18 e 19, quando a Missa Negra ficou na moda, com a decadente aristocracia da Europa.

No entanto, alegações de abuso infantil em rituais satânicos nunca foram tão freqüentes como agora. Isso não acontecia antes!As famílias de satanistas tradicionais são grupos isolados de pessoas perigosas ou ligados entre si de algum modo? Esta é uma questão controvertida.

Poucos são os que negam que há famílias que por gerações têm sido satanistas. Mas será que tais famílias fazem parte de uma rede? No sentido absoluto da palavra, a resposta é um ategórico “sim!”. Jesus falou de uma conspiração, dirigida pelo consumado terrorista de conspirações! O Senhor advertiu-nos de que Satanás vem para roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Observou, também, que o reino de Satanás não se divide contra si mesmo (Mt 12.25,26). Satanás é um brilhante tático, que distribui suas tropas, tanto demoníacas como humanas, com muito cuidado! E como um jogador de xadrez, que planeja com dezenas de lances de antecipação! Seria uma tolice pensar de outra forma.

Portanto, é difícil imaginar que Satanás permitiria que milhares de seres humanos se pusessem em movimento se não tivessem um plano mestre por trás. Toda energia consumida ao acaso é uma energia perdida, e, louvado seja o Senhor, a energia de Satanás é limitada. Assim, não pode desperdiçá-la com um bando de excêntricos desorganizados, retalhando gatos e pessoas e tropeçando uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela Bíblia) haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do que fazem

todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais. Carl Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente, apresenta um mal adicional (embora mundano) que pode estar alimentando essa conspiração:

Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer feitiços do clássico do ocultismo O Necronomicon. Mas eles não se associam entre si, nem “conspiram” de um modo claro e regimental. O que geralmente não se percebe, porém, é que o elo de ligação entre as diversas células na sua organização cultuai pode nada ter a ver com religião. Pelo contrário, a ligação pode ser bastante mundana e comercial... drogas.

Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos secretos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que há profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em qualquer um deles sem o controle de Satanás. Os demônios que estão no controle dos líderes de cada grupo acham-se em constante comunicação entre si, de modo que o conjunto de todos eles vão sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até em escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um bastão invisível.

Esses satanistas exultam na destruição da inocência! Regozijam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido (geralmente não é!), mas porque sabem que tais obras são pecados e ofensas a um Deus santo. Sabem que, uma vez que Jesus ama as crianças, então, para atingi-lo, eles as afligem com malignidades inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma simples “doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infernais, movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem mesmo imaginar. Assim como costumamos falar de cristãos totalmente entregues ao Senhor Jesus, que verdadeiramente são seus servos, de igual modo Satanás tem seus “santos satânicos” — pessoas que farão de tudo para servir ao seu senhor. Será que há pessoas assim? Infelizmente, a resposta é afirmativa. Eu fui uma delas.

Os que me treinaram eram pessoas totalmente entregues ao mal, e essa iniqüidade passou para mim por contágio espiritual. De um modo bem claro, solicitei que demônios me possuíssem. Felizmente, antes de Satanás ter condições de trazer à realidade os impulsos de ódio e matar o que havia de bom em mim, fui retirado como um tição da fogueira pelo poder de Jesus, e Satanás perdeu um de seus peões.

Aquele a quem o Filho libertar verdadeiramente será livre (cf. Jo 8.36). Se o conteúdo deste capítulo o incomodou, isso é compreensível. Mas entenda que nenhum desses males é uma surpresa para Deus. Tudo foi profetizado séculos atrás na Bíblia Sagrada. O Senhor ainda está, de fato, no trono.

Deus está continuamente penetrando na imundície e no lamaçal de todas as formas de satanismo e libertando os do Seu povo — e usando experiências por eles vividas para a Sua glória, para melhor poderem ministrar aos outros. Satanás pode ser um mestre em conspiração, mas o Senhor Deus tem o poder de prevalecer sobre os planos dele com um estalar de dedos. Muitos pensam que este conflito cósmico é um jogo de xadrez entre Deus e Satanás.

Mas, não haja engano a este respeito. Satanás foi derrotado há 2.000 anos, e vem até nós tomado de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta (Ap 12.12). Estamos assistindo, hoje, a milhares de anos de profecia se cumprindo. Essas coisas terríveis que acabo de descrever não são senão os estertores finais da velha serpente, com a cabeça esmagada pela cruz de Cristo.