Na história do satanismo moderno, é interessante observar
que a primeira e mais séria divisão que houve na Igreja de Satanás foi com
respeito à questão de haver ou não um ser real como Satanás, que de algum modo devesse
ser adorado; ou se se tratava apenas de um símbolo disponível.
Em decorrência dessa divisão, em 1975, foi fundado o Templo de
Set, do Dr. Michael Aquino, que não é menos inteligente do que o seu ex-colega
precursor LaVey. Exibindo uma mancha negra de cabelos no centro da testa que
seria invejada por personagens de horror cômico do cinema, e sobrancelhas
satânicas como as do “Dr. Spock” (características que ele jura serem naturais),
Aquino parece ser realmente um feiticeiro. Sua mulher, Lilith Sinclair, é uma
bela morena, muito magra e de rosto muito pálido, que usa vestes pretas de
cetim, parecendo-se com a “Mortícia” da “Família Addams”.
Embora o casal possa parecer divertido, eles são tudo!,
menos isso! Diferentemente de LaVey, mais excêntrico e gênio autodidata, Aquino
tem doutorado em Ciência Política e é tenente-coronel da Inteligência [serviço
secreto, ou de segurança] do exército americano, contando, assim, com elevado
grau de segurança (que pensamento confortador!). Diz-se que é perito em guerra
psicológica e em guerra psicotrônica (o que no exército americano é chamado de
“Psyop”).
Nos anos de consolidação da Igreja de Satanás, Aquino era o
braço direito de LaVey, e Lilith Sinclair era uma proeminente líder de uma das
maiores “cavernas”(como são chamados os grupos dessa Igreja) na costa leste
americana. Aquino chegou até mesmo a escrever o prefácio para o livro de LaVey
Satanic Rituais [Rituais Satânicos]. Não sabemos ao certo quanto do conteúdo
dos ensinos da Igreja de Satanás foi influenciado por Aquino, mas parece ter
sido considerável a sua influência.
Os motivos pelos quais eles romperam com a Igreja de Satanás
são controvertidos. Aparentemente, uma forte razão pode ter sido o fato de que
Aquino achou que LaVey não estava levando o satanismo tão a sério como deveria.
Aquino discordou do ateísmo pragmático de LaVey e também da sua festiva forma
de se exibir em público. Deve ter achado que LaVey estava “no negócio” apenas
para ganhar dinheiro — o que descaradamente LaVey acabou admitindo. Por incrível
que pareça, Aquino sentiu que o certo seria uma abordagem mais “altruísta”
(desculpem-nos o termo).
Em vez de criar um satanismo prêt-à-porter, para uso imediato,
ao qual qualquer um poderia filiar-se, bastando pagar uma taxa de inscrição,
Aquino vislumbrou uma elite, quase paramilitar de intelectuais que realmente
acreditassem no “lado das trevas” e que ali não estariam somente em troca de
algumas emoções baratas e fora de série ou para ganhar dinheiro fácil.
Em seus escritos, Aquino deu a entender que a tocha havia
sido passada de LaVey para ele, um homem mais sério, mais inteligente e mais
dedicado. Estava implícito que LaVey havia sujado o ninho do inferno com um
materialismo crasso e humor de baixo nível. Aquino vinha para ser o novo
messias das trevas, após o “João Batista” LaVey. Este teria que diminuir, para
que Aquino e seu “novo” deus, Set, pudessem crescer. LaVey manteve-se calado
sobre essa cisão, e cada vez mais isolado nestes últimos anos.
O Templo de Set
Desde seu início, em 1975, o Templo de Set tem refletido os
desejos do seu fundador. Tem sido mais elitista e com menor mentalidade de
publicidade do que a Igreja de Satanás. Assim, sua membresia não tem passado de
algumas centenas de pessoas, tendo talvez alcançado o máximo de mil membros, ao
passo que a Igreja de LaVey tinha milhares de membros, muitos dos quais pessoas
simples que enviaram dinheiro para se filiarem à organização e receberam seu
cartão de membro.
Aquino preferiu deixar de lado o nome de “Satanás”, que mexe
com as pessoas. Para ele, essa palavra tinha adquirido uma conotação
demasiadamente negativa. Por isso, sua divindade é chamada “Set”.
Os membros do Templo de Set chamam-se a si mesmos
“setianos”, e não “satanistas”. Aquino considera Set como sendo uma forma mais
antiga e mais pura do arquétipo ou imagem de Satanás.
Set era um deus egípcio (cerca de 3400 a.C.), considerado um
deus do mal por faraós posteriores, que chegaram a alterar seus templos e
monumentos visando a erradicar sua memória e seu culto.2 Estava ligado aos
cultos sumerianos e à estrela Sirius.
Seu símbolo é o pentagrama invertido, que os setianos usam
com muito orgulho.3
Pode-se falar muita coisa sobre uma Igreja simplesmente
analisando o seu deus, e Set não é exceção. E o equivalente egípcio de Caim,
que os ocultistas acreditam não ter sido filho de Adão com Eva, mas com uma
hipotética mulher, anterior a Eva, chamada Lílite.
Segundo alguns comentários rabínicos (não conforme o Antigo
Testamento), Adão teve uma mulher que havia sido feita, como ele, do barro. Era
Lílite. Ela, no entanto, não era a mulher mansa, submissa e humilde ajudadora
de que Adão necessitava. Ela não se submetia, diz essa história, à autoridade
dele, fosse no ato conjugal ou em qualquer outra coisa. Assim, Adão foi à
presença de Deus e queixou-se, na verdade pedindo-lhe o divórcio.
As lendas rabínicas dizem que Deus ficou do lado de Adão e
expulsou Lílite do Jardim do Éden, ocorrendo assim o primeiro divórcio. Deus
fez então Eva a partir da costela de Adão, para que desse modo ela fosse mais
dócil para com ele. Todavia, como ocorre em qualquer divórcio, restou o
problema do que fazer com os filhos. Lílite estava grávida de um filho de Adão
ao ser expulsa do Éden. Supostamente ela estava com tanto ódio que, ao nascer a
criança, despedaçou-lhe a cabeça, jogando-a num rochedo às margens do rio
Eufrates.
Dependendo de qual versão dessa lenda se queira adotar,
todos os demônios do mundo provieram da caveira que restou daquela criança
morta, e esta seria a origem de todos os demônios; ou então foi Set quem
proveio daquela caveira. De qualquer modo, Lílite é assim considerada a mãe de
todo mal e de todas as abominações.
Por causa desse terrível ato, os judeus mais supersticiosos
de
todos os tempos têm acreditado que Lílite é a causadora da chamada
“morte do berço” e do infanticídio. De fato, em alguns lares judeus, até o dia
de hoje, coloca-se um talismã sobre o berço, invocando a proteção de três anjos
sobre a criança: Sanvi, Sansanvi e Samengalef. Estes anjos são tidos como
arquiinimigos de Lílite.
Pena que não sejam citados na Bíblia!
Lembre-se de que a grande sacerdotisa do Templo de Set, a
esposa de Aquino, mudou o nome, para “Lilith” [Lílite].- Isto mostra a
reverência do casal para com essa odiosa divindade. Os egípcios da Antiguidade
acreditavam que Set era o deus responsável por todo o mal, e sua “mãe”, Lílite,
a feiticeira da noite e “padroeira” do aborto (uma prática tradicional da
bruxaria). No antigo Egito, Set originalmente era adorado com rituais obscenos
e homossexuais, antes de acabarem com o seu culto.
Aquino, não obstante, ensina que a Igreja Cristã fez de
Satanás “o responsável” para justificar o erro que foi a expulsão do Jardim do
Éden, e a separação do homem do mundo carnal e do restante do Universo. Set
(que seria a verdadeira identidade de Satanás) representaria, na verdade, esse
sentimento de alienação e solidão em relação ao resto do cosmo.
A escolha de Set como principal figura sagrada do templo de
Aquino é bastante sintomática, pois o culto a Set, como agora restaurado, gira
em torno do livro LiberAl velL egis [O Livro da Lei], anteriormente mencionado.
Este livro foi “revelado” em 1904 a Aleister Crowley, e supostamente
“psicografado” pela primeira esposa de Crowley, Rose Kelly, de um ser
supostamente super-humano, extraterrestre, de nome Aiwass, que seria o próprio
Set ou um seu precursor.
Para que uma parte do que se segue possa fazer sentido,
temos que fazer nova pausa no nosso assunto, para explicar melhor o que
dissemos até agora acerca da posição de Aleister Crowley em tudo isso.
Edward Alexander Crowley nasceu na Inglaterra em 1875.
Seu pai era um próspero fabricante de cerveja que, um dia,
teve um encontro com Cristo e tornou-se uma nova criatura, passando a fazer
parte da membresia de uma denominação austera, a dos Irmãos de Plymouth. Em
decorrência de sua conversão, vendeu o seu pecaminoso negócio de cervejas,
aplicando os proventos no sustento do seu ministério. A mãe de Edward era
também uma mulher muito piedosa e austera, mas o tanto que ela tinha em fé, infelizmente,
compensou com sua total inabilidade como mãe.
Papai Crowley viajava pelo interior do país como medíocre
pregador de rua, enquanto a mãe ficava com a responsabilidade de criar o
pequeno Edward, que cresceu e acabou tornando-se um pesadelo chamado “o filho
do pregador”.
Ele era, sem dúvida, um menino brilhante e muito precoce,
mas, como acontece com muitas crianças, cheio de demônios (Pv 22.15). Certa
vez, quando tinha seis anos, sua mãe lhe disse, num ímpeto de raiva, que ele
era tão maligno que só podia ser a “Grande Besta” do livro de Apocalipse.
Infelizmente, o pequeno Crowley tomou aquilo como um reconhecimento de mérito.
Rebelou-se violentamente contra toda forma de religião e posteriormente, quando
adulto, batizou um sapo com o nome de “Jesus Cristo” e crucificou o infeliz
batráquio de cabeça para baixo.
Ao concluir seu curso universitário, Edward ligou-se à
sociedade ocultista e maçônica chamada Antiga e Hermética Ordem do Dourado
Alvorecer. Foi nessa época que ele começou a assumir o modo de se vestir e os
maneirismos de um latifundiário escocês e mudou o seu nome para “Aleister”, que
soava melhor entre os escoceses. E achou muito bom que o seu nome Aleister
Crowley resultasse no número 666, na numerologia, fosse em língua hebraica,
inglesa ou grega.
Em pouco tempo, Crowley sobressaiu-se totalmente em relação
aos que eram da sua confraria. Acabaram expulsando-o de lá quando quis assumir
a liderança do grupo. De muitos modos, era o que se poderia chamar de um homem
da Renascença: um sofrível poeta, extraordinário alpinista e grande caçador de
feras, além de um jogador de xadrez que disputava ao mesmo tempo oito partidas
com os olhos vendados. Era ainda um disciplinado praticante de ioga e meditação
transcendental. Também tentou escalar o segundo monte mais alto do mundo, o
K-2, e por pouco não foi acusado de haver causado a morte da maior parte da
expedição.
Crowley era dotado de uma personalidade sarcástica e sagaz,
e era viciado em cocaína e heroína. Era um homem extremamente fanático e
anti-semita. Mas, acima de tudo, tornou-se um dos ocultistas que mais se
destacaram no século 19 e, certamente, o mais influente satanista de sua época.
Um proeminente ocultista descreveu Crowley como “a fina flor (...) de todo o
corpo do ocultismo no Ocidente e sua literatura” .8 Tudo indica que ele era
totalmente endemoninhado, da cabeça aos pés!
Crowley acreditava ter feito o que bem poucos ocultistas
tinham feito — ter atravessado o “Grande Abismo”, um “buraco negro” espiritual
existente entre o 7a e o 8a graus da magia. Ao
atingir esse ponto, tornou-se um Magister Templi (Mestre do
Templo), assumindo o principal título de sua carreira na magia — ToMega Therion
— que em Grego significa “A Grande Besta”.
Crowley achava que o evento mais importante da sua vida
tinha sido o contato, já encionado, que ele tivera com Aiwass, um ser dotado de
“inteligência super-humana”. Isso ocorreu em 1904, quando ele visitava o Museu
do Cairo com a primeira das muitas mulheres que teve, Rose, durante a
lua-de-mel. Ela foi tomada por uma força sobrenatural, levando Crowley a seguir
um corredor até determinado objeto em exposição. Era uma esteia egípcia, uma
laje, mais ou menos quadrada, entalhada tal como uma das tábuas dos Dez
Mandamentos, que exibia uma arte egípcia com hieróglifos.
Essa esteia pertencera a um sacerdote egípcio chamado
Ankh-af-na-Khonsu, e o número da peça, na exposição, era 666.
Para alguém tão versado em magia, como era Aleister, isso só
poderia ser um presságio de imensas proporções, uma vez que ele tinha feito
desse número o tema cabalístico de sua carreira. Dias depois, no início de
abril, sua esposa “incorporou”9 aquela entidade, Aiwass.
Por três dias, esse espírito ditou, por meio dela, todo o
texto do Livro da Lei [Liber Al vel Legis].
Crowley chegou a acreditar que era a reencarnação de
Ankh-af-na-Khonsu, e que aquele livro não muito extenso que ele havia recebido
era a “Bíblia” para um novo éon da história da humanidade. Julgava que o reino
de Jesus (a Era de Osíris, o deus morto e ressuscitado) tinha terminado e que
um novo deus, o “Filho Coroado e Vencedor”, havia assumido o trono do céu.
Esse novo deus manifestava-se de duas formas:
Heru-Par-Kraat, uma entidade benigna que curava enfermidades, e Ra-FIoor-Khuit,
um deus da guerra e da morte, com cabeça de falcão. Eram as duas divindades
gêmeas egípcias, Hórus e Set.
Essa experiência foi o que basicamente deu as linhas para o
resto da vida de Crowley. Ele quis então fundar uma religião, à qual chamou de
Thelema (segundo a palavra grega que significa “vontade”) ou crowleyanismo, e
escreveu um grande número de livros de poesia, de rituais e de ensino de magia.
A regra básica da sua religião, que consta no seu livro Liberal, é: “Fazer o
que queres deve ser toda a lei; o amor é a lei, o amor submisso à vontade.”
Achava que a era de Jesus fora governada pelo amor (agape,
em Grego), mas que na Nova Era de Hórus e Set esse amor seria subordinado à
vontade de ferro (thelema) do mestre da magia.
Diz-se que Crowley manifestou certa simpatia pelo surgimento
e ascensão de Hitler, e alguns dos seus discípulos chegaram a declarar que
Hitler era o resultado dos esforços que Crowley fizera, por meio da magia, para
que aparecesse o “senhor da guerra dos anos quarenta” (uma frase profética
contida no Liber Al). Se Hitler conhecia ou não Crowley, não existe evidência
histórica alguma a respeito, embora ambos tivessem em comum o ódio pelos judeus
e fascinação pela magia negra.
Crowley teve muitos casos com mulheres e com alguns homens
também (era um bissexual assumido), e arruinou a vida de quase todos eles. Sua
primeira esposa, Rose, acabou internada como alcoólatra.
Além de racista e anti-semita, Crowley era também
discriminatório contra as mulheres. Ensinava que as melhores mulheres eram as
prostitutas, e que a maior experiência religiosa que uma mulher poderia
ambicionar era ter sexo com “a Besta”.
Assim, costumava zombar do movimento Wicca, de seu amigo e
colega Gerald Gardner, quando no início recusava-se a tornar-se um bruxo,
dizendo que não queria submeter-se às ordens de um bando de mulheres.
Crowley quis estabelecer uma abadia dedicada à sua religião
na ilha da Sicília, na Itália, mas foi expulso daquele país pelo regime de
Mussolini por causa do incrível grau de imoralidade, suspeita de morte e
rumores de prática de sacrifício humano. Passou seus últimos anos na condição
de viciado em heroína, morando ao lado de um cemitério, na Inglaterra. Quando
morreu, em 1947, até mesmo seu enterro escandalizou a imprensa britânica. Seu
mais famoso poema, “Hino ao Deus Pa”, foi lido ao ser enterrado, e os jornais
disseram ter sido uma missa negra.
Ironicamente, Crowley, assim como Aquino uma geração depois,
não se considerava satanista. Para ele, os satanistas eram heréticos. Ele era
thelemita e luciferiano, adorador da “imaculada” luz de Lúcifer. Contudo,
alegrava-se quando os jornais o chamavam de “o homem mais maligno do mundo” e
“a Grande Besta”.
Michael Aquino parecia aspirar ser tal como Aleister
Crowley. Enquanto LaVey fez uso de alguns conceitos e ensinos de Crowley à
medida que se adequavam aos seus interesses, Aquino levou bem a sério Crowley e
sua “pregação”. Com efeito, ele via sua missão como:
(...) destruir a influência da religião convencional sobre
as atividades humanas (...) não no sentido de que queremos que todos se
convertam ao satanismo como religião institucional, mas de que queremos acabar
com todo esse emaranhado de medo e superstição que tem-se perpetuado em todas
as crenças formais. O satanismo não deve ser considerado como simplesmente mais
uma religião; deve ser considerado, sim, como uma não-religião.
Logo a questão quanto a Satanás/Set ser ou não uma entidade
real tornou-se uma discussão fervorosa entre os dois mestres da magia. Como não
entrassem num acordo, Aquino buscou orientação com o próprio Satanás, em 21 de
junho de 1975. Supõe-se que Set se manifestou para Aquino e lhe trouxe uma
revelação, que ele intitulou The Book o fth e Corning Forth by N ight [O Livro
do Que a Noite Tem para Revelar].13 Aquino afirma que um novo tempo de Set —
que teve início em 1904 com o trabalho de Aleister Crowley — estava próximo de
se consumar. Seu livro seria a continuação de Liber Al e prenunciava a “Era de
Set” . Desse modo, Aquino declara ter sido ungido por Set para ser o verdadeiro
sucessor de Aleister Crowley, ou seja, a “Segunda Besta”, tanto quanto a Grande
Besta profetizada na Bíblia.
Aquino procurou desassociar-se de algumas das afirmações
mais sórdidas que há na Bíblia Satânica. Isso foi necessário, especialmente, no
final da década de 1980, quando acusações de abuso sexual satânico começaram a
pipocar por toda parte nos Estados Unidos. Uma boa política de relações
públicas exigia que o Templo de Set fosse desvinculado dessas coisas. Apesar de
todos os protestos, no entanto, é necessário deixar bem claro que o deus e a
“forma de magia” com os quais Aquino se identifica não exercem uma influência
nada boa! Ainda neste capítulo será demonstrado que, na verdade, o Templo de
Set é uma instituição bem mais perigosa e fatal do que a igreja de LaVey.
Ao examinarmos a verdadeira ideologia do Templo de Aquino,
convém observar o que ele mesmo considera como suas mais importantes
realizações na magia. Um dos ritos a respeito do qual Aquino se orgulha é
bastante sugestivo. Tal como LaVey, ele parece ter grande fascínio pelo
ocultismo nazista. Não se sabe ao certo se ele se deixou seduzir pelas técnicas
nazistas da magia cerimonial de LaVey, ou se foi LaVey que as obteve de Aquino.
O importante é que esses dois homens demonstram ter uma grande obsessão pelas
práticas de magia da elite de Hitler.
Embora isto não seja amplamente conhecido, Hitler
(aparentemente católico devoto) concebeu a sua SS combinando os princípios,
exercícios e ensinos espirituais contemporâneos da ordem dos jesuítas com as
práticas de sociedades místicas alemãs, como a Sociedade Vril e a Thule
Gesellschaft. O próprio Hitler era um iniciado na feitiçaria e desejava
substituir o cristianismo pela adoração aos deuses do paganismo germânico.
Com esse objetivo, Hitler construiu um templo secreto no castelo
de Wewelsburg. Não se sabe o que acontecia naquele templo; contudo líderes da
confraria satânica americana nos disseram que, além de todo o anti-semitismo de
Hitler, havia uma razão mais terrível pela qual ele construiu os campos do
holocausto.
Hitler acreditava estar trabalhando para alcançar o
sacrifício humano de 7.777.777 — o povo escolhido por Deus (sete setes — uma
combinação numérica consagrada à “Mulher de Escarlata”, consorte da Nova Era).
Se ele tivesse conseguido alcançar aquele número — assim nos disseram — , o
judaísmo e o cristianismo teriam sido destruídos para sempre, e os deuses
pagãos estariam reinando soberanamente.
As “energias” captadas com aquelas mortes seriam
canalizadas, através de Wewelsburg, como uma espécie de raio laser mágico, para
abrir “a porta” e desencadear a G ôtterdamm erung, mediante a convergência
especial de linhas de poder, que supostamente se dirigiam para o lugar daquele
castelo.
Assim, o castelo de Wewelsburg era o coração espiritual da
Alemanha nazista! Ali, Himmler e seu quadro de elite da SS realizaram rituais
na “Sala da Morte” para invocar a G ôtterdamm erung — a destruição de Deus e a
reentronização dos sangrentos deuses nórdicos da morte. Felizmente, Deus tinha
outros planos, e esse castelo foi bombardeado, até a sua ruína quase total,
pelos aliados, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 1984, Aquino viajou para Wewelsburg a fim de
invocar “energias”, tendo supostamente experimentado outra “epifania” de
Satanás nas ruínas do coração espiritual do nazismo!
Na torre norte do castelo, “Walhalla”, ele fez um “trabalho”
de magia e teve uma profunda revelação mística.
Foi ali que ele concebeu a idéia da autoconsciência humana e
sua separação das demais criaturas. Aquino agora ensina que Set representa essa
alienação fundamental que separa o homem do restante do Universo. Eis uma
definição de pecado bastante adequada, embora secular! Aquino optou por fazer
da personificação do pecado o seu deus! Não é de admirar que ele ache que
invocar “energias” no baluarte metafísico da ordem nazista seja um ato
profundamente religioso. Não há como não questionarmos a moral — para não dizer
a sanidade mental — de alguém que escolhe um lugar como esse para absorver
quanto possa de suas fontes espirituais!
Para se ter uma compreensão ainda melhor do terreno sobre o
qual Aquino firmou seus pés, talvez seja interessante examinarmos com um pouco
mais de atenção o livro de seu herói, Aleister Crowley. Se Aquino acredita ser
o sucessor de Crowley, então um pouco da cosmovisão que ele tem deve
evidenciar-se com a leitura do livro que, supõe-se, foi comunicado por Set por
meio de seu porta-voz, Aiwass!
A esta altura, o leitor poderá não se surpreender com o fato
de que o livro transmitido por Set, Liber Al velL egis, é mais maligno que a
Bíblia Satânica de LaVey. Mas há uma significativa diferença entre os dois. O
livro de LaVey não reivindica nada mais do que ser um simples livro (embora
muitos satanistas o considerem como quase sendo uma “escritura não sagrada”). Liber
Al, no entanto, proclama conter oráculos de um deus, comunicados por um
espírito, que suplantam a Bíblia crista. Assim, presumivelmente, a maioria dos
adeptos de Set — e Aquino, com certeza — o considera uma revelação “divina”.
Bem, mas o que, afinal, o Liber Al ensina em sua “teologia”?
Veja alguns exemplos, selecionados: No Capítulo 1: Esses são
tolos que os homens adoram; tanto seus Deuses como seus homens são tolos (1 .1
1 ).
Agora vós sabereis que o sacerdote escolhido e apóstolo do
espaço infinito é o príncipe-sacerdote, a Besta; e na sua mulher, cujo nome é
Mulher de Escarlata, está todo o poder concedido (E14).
O vocábulo Pecado significa Restrição (1.41).
No Capítulo 2:
Observe que os rituais dos velhos tempos são negros.
Que os maus caiam fora; que os bons sejam purgados pelo
profeta (2.6).
Eu sou a Serpente que deu Conhecimento e Prazer e
esplendorosa glória, e que excito os corações humanos com a embriaguez. Para me
adorar, tomai vinho e estranhas drogas, a respeito das quais falarei a meu profeta,
e ficai embriagados (2.22).
Estou só: não há Deus onde estou (2.23).
Há um perigo maior em mim, pois quem não compreende estes
mistérios sofrerá uma grande perda. Cairá na cova chamada “Porque” e nela
perecerá junto com os cães da Razão (2.27).
Sou impar e vencedor. Não sou um dos escravos que perecem.
Que eles sejam condenados e morram! (2.49).
No Capítulo 3:
Agora compreenda-se, antes de mais nada, que eu sou um deus
de Guerra e Vingança. Vou tratar todos com severidade. Escolhei uma ilha!
Fortificai-a! Adubai a ilha, por toda parte, com maquinário de guerra. Com ele,
derrotareis as pessoas e ninguém vos resistirá (3.3-8).
Pisoteai os infiéis: ficai sobre eles, ó guerreiros, e vos
darei a carne deles para comer! Sacrificai o gado, miúdo e graúdo; depois, uma
criança (3 .1 1 ,12).
Nada de misericórdia; danem-se os que se compadecerem! Matai
e torturai; não tenhais dó; fica i em cima deles! (3.18).
Para perfumar, misturai farinha com mel e bastante sobras de
vinho tinto; depois, óleo de Abramelin e azeite de oliva; em seguida, tornai
tudo macio e suave com rico sangue fresco. O melhor sangue é o da lua mensal;
depois, o sangue fresco de uma criança, ou o que cai das hostes do céu; depois,
o dos inimigos; depois, o do sacerdote ou dos adoradores; por fim, o de algum
animal, não importa qual (3.23-24).
Eu sou o Senhor guerreiro dos Quarentões; os da idade de
Oitenta agacham -se diante de mim e são humilhados. Eu vou levar-vos à vitória
e à alegria: estarei em vossos braços na batalha, e vós tereis o maior prazer
em matar (3.46).
Amaldiçoai-os! Amaldiçoai-os! Com a minha cabeça de Falcão
eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz. Eu bato minhas
asas na face de Maomé e o torno cego. Com minhas garras, rasgo a carne dos
hindus e dos budistas (...) Que Maria Imaculada seja atropelada: no amor dela
todas as virgens sejam totalmente menosprezadas por vós! (3.50-55).
Não há outra lei além de: “Fazei o que quiserdes” (3.60).'
Estes ensinos resumem perfeitamente tudo de que os
satanistas mais assumidos têm sido acusados de praticar. Drogas, mutilação de
animais e sacrifício de crianças são neles glorificados.
Embora Aquino negue que o seu grupo pratique ou ensine tais
coisas, é este o evidente legado de Set que Aquino adotou. Assassinato, tortura,
fanatismo e ódio a Deus são emitidos aos berros, do livro Liber Al.
Ao mexer com essas “energias”, Aquino arrisca-se que isso
possa vir a explodir em sua face. Constantes acusações de possíveis abusos de
crianças o têm perseguido desde 1987 na justiça de San Francisco. Embora
nenhuma das acusações tenha prevalecido e Aquino tenha aberto um processo
contra seus acusadores oficiais, não têm cessado.18 De um ponto de vista
espiritual, seria de admirar que aquele que literalmente se banha no manancial
do mal não fosse tentado pelos seus aspectos mais desprezíveis.