quinta-feira, 6 de maio de 2021

Este mundo tenebroso - volume 01 - Capítulo 16


 Natã e Armote voavam a grande altura sobre a linda pai­sagem de verão, seguindo o veloz automóvel. As coisas estavam definitivamente mais quietas ali, longe da cidade dividida por contendas que era Ashton. Mesmo assim, nenhum dos dois se sentia perfeitamente à vontade com relação aos dois passa­geiros do carro que seguiam; embora os acompanhantes celestiais ainda não estivessem certos, tinham a impressão de que Rafar e seus guerrilheiros poderiam estar realizando uma conspiração velada. Marshall e sua atraente e jovem repórter formavam uma combinação crítica demais para aqueles demônios deixarem de lado.

O antigo deão da faculdade, Eldon Strachan, morava num sítio simples e despretensioso de pouco mais de quatro hectares a uma hora de distância de Ashton. Ele não cultivava o lugar, apenas o usava, e quando o carro atingiu a longa entrada de pedriscos, Mars­hall e Berenice viram que seus interesses não se estendiam além das imediações da casa branca. O gramado era pequeno e cuidado, as árvores frutíferas, podadas, produziam, a terra dos canteiros de flores havia sido recentemente revirada e os canteiros desmatados. Algu­mas galinhas ciscavam o chão. Um collie saudou os recém-chegados com latidos furiosos.

— Um ser humano normal para entrevistar desta vez — disse Mars­hall.

— É por isso que ele se mudou de Ashton — disse Berenice. Strachan saiu à varanda, o cão correndo e latindo ao seu lado.

— Alô! — gritou ele para Marshall e Berenice quando eles desceram do carro. — Quieta, Lady — acrescentou ele, dirigindo-se à collie. Lady jamais obedecia essas ordens.

Strachan era um sujeito saudável, de cabelos brancos, que con­seguia bastante exercício desse lugar, e o demonstrava. Trajava rou­pas de trabalho e ainda trazia na mão um par de luvas de jardinagem.

Marshall estendeu a mão para um bom e firme aperto. Berenice fez o mesmo. Trocaram apresentações, e a seguir Strachan convidou-os a darem a volta em torno de Lady, que ainda latia, e entrarem na casa.

— Doris — chamou Strachan — o Sr. Hogan e a Srta. Krueger estão aqui.

Dentro de minutos, Doris, uma doce, rechonchuda e pequena se­nhora com aparência de avó, havia enchido a mesinha de centro com chá, café, pãezinhos e doces, e eles discorriam agradavelmente sobre o sítio, a região, o tempo, a vaca do vizinho. Todos estavam cientes de que essa parte era obrigatória e, além disso, os Strachans eram pessoas muito agradáveis e de boa prosa.

Afinal Eldon Strachan introduziu a sentença de transição:

— Sim, suponho que as coisas em Ashton não estejam tão boas quanto aqui.

Berenice tirou o bloco de anotações, enquanto Marshall dizia:

— É, e detesto trazer tudo aquilo para cá conosco. Strachan sorriu e disse, filosoficamente:

— A gente pode fugir mas não pode se esconder.

Ele olhou pela janela as árvores recortadas contra o céu azul in­finito e disse:

— Sempre indaguei se fiz a coisa certa ao abandonar tudo. Mas o que mais eu podia fazer?

Marshall conferiu novamente as suas anotações.

— Vejamos. Você me disse no telefone quando partiu...

— No fim de junho, há quase um ano.

— E Ralph Kuklinski tomou o seu lugar.

— E pelo que sei, ainda está.

— Sim, ainda está. Ele participava de alguma forma desse... desse negócio do "Círculo íntimo"? Não sei que outro nome dar.

Strachan pensou por um momento.

— Não tenho certeza, mas não me surpreenderia se participasse. Era preciso que ele fizesse parte do grupo para receber o cargo de deão.

— Então realmente existe um tipo de "panelinha", por assim dizer?

— Com toda a certeza. Esse fato tornou-se óbvio depois de algum tempo. Todos os diretores estavam-se tornando muito parecidos, como clones uns dos outros. Todos agiam da mesma forma, falavam da mesma forma...

— Exceto você? Strachan riu.

— Acho que não me adaptei muito bem ao clube. Para falar a verdade, tornei-me definitivamente um intruso, inimigo mesmo, e acho que foi por isso que me demitiram.

— Suponho que esteja falando da confusão relacionada às finanças da faculdade?

— Exatamente —. Strachan precisou revirar a memória. — Jamais suspeitei de coisa alguma até começarem a surgir inexplicáveis atra­sos nos pagamentos. Nossas contas estavam demorando a ser pagas, nossas folhas de pagamentos estavam atrasadas. Não era minha obri­gação sair atrás desse tipo de coisa, mas quando comecei a receber reclamações indiretas, sabe como é, outros falando a respeito, per­guntei a Baylor qual era o problema. Ele não respondeu diretamente às minhas perguntas, ou pelo menos não gostei do tom das suas respostas. Foi nesse ponto que pedi que um contador independente, amigo meu, desse uma olhada na coisa e talvez fizesse um exame rápido da contabilidade. Não sei como ele conseguiu acesso à in­formação, mas era esperto e deu um jeito.

Berenice tinha uma pergunta na ponta da língua.

— Pode nos dar o nome dele? Strachan deu de ombros.

— Johnson. Ernie Johnson.

— Como podemos entrar em contato com ele?

— Sinto muito, mas ele morreu.

Essa notícia causou profundo desapontamento. Marshall, porém, agarrou-se a um fio de esperança.

— Ele lhe deixou algum registro, alguma coisa por escrito? Strachan apenas meneou a cabeça.

— Se deixou, esses papéis se perderam. Por que acha que fiquei sentado aqui tão quieto? Escute, conheço bem a Norm Mattily, o procurador geral do estado, e pensei em procurá-lo e contar-lhe o que estava acontecendo. Mas, temos de convir, essa gente importante lá de cima não nos dá a mínima atenção a não ser que tenhamos alguma prova realmente substancial. É difícil conseguir que as au­toridades se arrisquem. Isso é algo que não fazem.

— Está bem... mas afinal o que Ernie Johnson descobriu?

— Ele ficou horrorizado. De acordo com o seu levantamento, di­nheiro de doações e matrículas estava sendo reinvestido com alar­mante velocidade, mas aparentemente não havia dividendos ou rendimento de espécie alguma provindos de fossem lá quais fossem os investimentos, como se o dinheiro tivesse sido despejado num poço sem fundo em algum canto. Os números tinham sido mani­pulados de modo que cobrissem o rombo, as contas a pagar estavam sendo escalonadas a fim de se poder recorrer a outras contas a fim de pagar as vencidas... nada mais era do que uma bagunça colossal.

— Uma bagunça na casa dos milhões?

— No mínimo. O dinheiro da faculdade vinha sumindo em grandes quantias, sem deixar pista, havia anos. Em algum lugar lá fora havia um monstro esfomeado por dinheiro devorando todo o ativo da fa­culdade.

— Foi então que você pediu a auditoria.

— E Eugene Baylor ficou furioso. A coisa toda num instante passou de profissional a pessoal e tornamo-nos intensos inimigos. E isso me convenceu mais ainda de que a faculdade estava em grandes apuros e que grande parte da responsabilidade da situação era de Baylor. Mas é claro que não há nada que Baylor faça que todos os outros não saibam. Estou certo de que todos estão cientes do problema, e sinto que seu voto unânime pedindo a minha demissão foi uma conspi­ração geral.

— Mas com que finalidade? — perguntou Berenice. — Por que desejariam solapar a base financeira da faculdade?

Strachan pôde apenas menear a cabeça.

— Não sei o que estão tentando fazer, mas a menos que haja outra coisa escondida por aí que possa explicar aonde esses fundos estão indo e como essas perdas serão compensadas, a faculdade está, com toda a certeza, a caminho da bancarrota. Kuklinski deve estar ciente disso. Pelo que sei, ele concordou com as praxes financeiras e com a minha demissão.

Marshall virou a página à procura de outras anotações.

— E então, qual é o papel da nossa bondosa professora Langstrat nisso tudo?

Strachan foi obrigado a rir.

— Ah, a querida mestra... — Ele considerou a questão por um momento. — Ela sempre foi uma influência e mentora, não resta dúvida, mas... não creio que seja o centro último das coisas. Parece-me que ela exercia grande responsabilidade no controle do grupo, enquanto alguém acima dela tinha grande responsabilidade pelo con­trole dela. Acho... acho que ela tem de prestar contas a alguém, alguma autoridade oculta.

— Mas você não tem idéia de quem seja? Strachan meneou a cabeça.

— E o que mais você sabe a respeito dela? Strachan rebuscou a memória.

— Diplomada pela Universidade da Califórnia... lecionou em ou­tras faculdades antes de vir para Whitmore. Faz pelo menos seis anos que pertence ao corpo docente. Lembro-me bem de que ela sempre teve forte interesse pela filosofia oriental e pelo ocultismo. Esteve envolvida certa vez com algum tipo de grupo religioso neo-pagão na Califórnia. Mas, sabe, nunca percebi até talvez uns três anos atrás que ela estava ensinando abertamente as suas crenças aos alunos, e surpreendeu-me bastante descobrir que os seus ensinos haviam des­pertado muito interesse. As crenças e as práticas da professora es­tavam-se espalhando não apenas entre os alunos, mas também entre os professores.

— Quais dos professores? — perguntou Marshall. Strachan meneou a cabeça, enojado.

— Começou anos antes de eu tomar conhecimento do caso, no Departamento de Psicologia, entre os colegas de Langstrat. Margaret Islander, você pode ter ouvido falar dela...

— Creio que minha amiga Ruth Williams a conhece — disse Be­renice.

— Acho que ela foi a primeira a ser iniciada no grupo de Langstrat, mas ela sempre se interessou por médiuns como Edgar Cayce, por isso a atração era lógica.

— Alguém mais? — encorajou Marshall.

Strachan tirou uma lista rabiscada às pressas e deixou Marshall examiná-la.

— Repassei tudo o que aconteceu vez após vez desde que vim embora. Olhe. Aqui está uma lista da maioria dos membros do De­partamento de Psicologia... — Ele indicou alguns nomes. — Trevor Corcoran é novo na equipe este ano. Ele estudou na índia antes de vir lecionar aqui. Juanita Janke substituiu Kevin Ford... bem, de fato uma porção de gente foi substituída nestes últimos anos.

Marshall observou outra porção da lista.

— E quem são estas pessoas?

— O Departamento de Ciências Humanas, e depois o Departamento de Filosofia, e estas aqui estão nos programas de Biologia e de Ciên­cias Médicas. Muitas delas também são novas. Fizeram-se muitas substituições.

— É a segunda vez que você diz isso — observou Berenice. Strachan fitou-a.

— O que está pensando?

Berenice pegou a lista da mão de Marshall e colocou-a na frente de Strachan.

— Bem, diga-nos você. Quantas destas pessoas foram contratadas nos últimos seis anos, no tempo de Langstrat?

Strachan deu uma segunda e mais crítica repassada na lista.

— Jones... Conrad... Witherspoon... Epps... — Uma esmaga­dora porcentagem dos nomes pertenciam a novos membros do corpo docente, que tinham vindo substituir membros antigos que haviam pedido demissão ou cujos contratos simplesmente não tinham sido renovados. — Ora, não é estranho?

— Que é esquisito, isso é — concordou Berenice. Strachan estava visivelmente abalado.

— Todas aquelas substituições... eu estava ficando muito preo­cupado, mas não considerei... Isso explicaria uma porção de coisas. Eu sabia que havia certo interesse comum espalhando-se entre toda essa gente; todos eles pareciam ter uma afinidade única e indefinível entre si, jargão próprio, segredos íntimos próprios, idéias próprias acerca da realidade, e parecia que nenhuma dessas pessoas podia fazer nada sem comunicar às outras. Achei que era um modismo, uma fase sociológica — Ele ergueu os olhos da lista, cheios de per­cepção nova. — Então era mais do que isso. Nosso campus foi in­vadido e nossos professores deslocados por uma... uma loucura!

Por um instante, algo acudiu à mente de Marshall, uma lembrança rápida e passageira de sua filha Sandy dizendo: "As pessoas por aqui estão começando a agir de modo esquisito. Acho que estamos sendo invadidos por alienígenas." Essa lembrança foi seguida imediata­mente da voz de Kate no telefone: "Estou preocupada com Sandy... ela simplesmente não é mais a antiga Sandy... "

Marshall forçou-se a retornar ao presente e começou a folhear o seu material. Finalmente encontrou a lista que Berenice havia con­seguido com Albert Darr.

— Muito bem, e que me diz dessas aulas que Langstrat estava dando: "Introdução ao Deus e à Deusa Consciência e à Arte... A Sagrada Roda Medicinal... Feitiços e Rituais... Caminhos Que Con­duzem à Luz Íntima, Conheça seus Guias Espirituais"?

Strachan acenou com a cabeça, indicando reconhecimento.

— Tudo começou como parte de um programa alternativo de edu­cação, uma coisa puramente voluntária aos alunos interessados, que para isso pagavam taxa especial de matrícula. Achei apenas que era um estudo de folclore, mitos, tradições...

— Mas acho que eles estavam levando o negócio muito a sério.

— É, parece que sim, e agora grande porcentagem do pessoal e do corpo estudantil está... enfeitiçada.

— Inclusive os diretores? Strachan pensou em outra coisa.

— Veja o que acha disto. Penso que o mesmo tipo de reviravolta se deu na diretoria também. Existe um total de doze cargos de di­retores, e acho que cinco foram súbita e abruptamente substituídos no último ano e meio. Se não, como poderia o voto pedindo minha demissão ser unânime? Eu costumava ter amigos bem leais no con­selho.

— Quais são seus nomes e para onde foram?

Berenice começou a anotar os nomes à medida que Strachan ia-se lembrando, juntamente com qualquer outra informação que ele pu­desse dar a respeito de cada pessoa. Jake Abernathy havia morrido, Morris James havia enfrentado bancarrota e procurado outro em­prego, Fred Ainsworth, George Olson e Rita Jacobson haviam deixado Ashton sem dizer para ninguém aonde iam.

— E esses — disse Strachan — são os nomes de todos. Não sobrou ninguém além dos iniciados nesse estranho grupo místico.

— Inclusive Kuklinski, o novo deão — acrescentou Berenice.

— E Dwight Brandon, o proprietário do terreno.

— E que diz de Ted Harmel? — perguntou Marshall. Strachan comprimiu os lábios, olhou para o chão, e suspirou.

— Sim. Ele bem que tentou escapulir, mas a essa altura eles já lhe tinham confiado muita informação. Quando descobriram que não podiam controlá-lo, ele tem a mim e à nossa amizade para culpar por isso, eles deram um jeito de difamá-lo e expulsá-lo da cidade com aquele escândalo ridículo.

— Hum.— disse Berenice. — Um conflito de interesses.

— Claro. Ele insistia comigo em que era uma fascinante ciência nova da mente humana, e dizia apenas procurando uma história, mas foi-se envolvendo cada vez mais na coisa, e eles o conquistaram, disso estou certo. Ouvi-o dizer que eles lhe prometeram grande su­cesso com o jornal por ter-se colocado ao lado deles...

Outra lembrança passageira ocorreu a Marshall: viu Brummel olhando para ele com aqueles entorpecentes olhos cinzentos, di­zendo com doçura: "Marshall, gostaríamos de saber que está do nosso lado..."

Strachan ainda estava falando.

Marshall acordou e disse:

— Desculpe, o que foi que disse?

— Eu estava apenas dizendo que Ted ficou dividido entre duas obrigações: em primeiro lugar e acima de tudo, ele sentia obrigação para com a verdade e seus amigos, e isso me incluía. Sua outra obrigação era para com o grupo de Langstrat e suas filosofias e prá­ticas. Acho que ele pensou que a verdade era inviolável e que a imprensa sempre seria livre, mas, por qualquer que fosse o motivo, começou a publicar histórias acerca dos problemas financeiros. E isso era definitivamente ir longe demais no que dizia respeito aos diretores.

— Sim — lembrou-se Berenice. — Agora me recordo de ele dizer que eles o estavam tentando controlar e ditar o que ele publicava. Ficou realmente furioso.

— Bem, naturalmente — disse Strachan — quando se tratava de princípios, não importa por que suposta ciência ou filosofia metafísica ele possa ter-se interessado, Ted ainda era jornalista e não se deixava intimidar —. Strachan suspirou e olhou para o chão. — Por isso, temo que ele tenha sido apanhado no fogo cruzado da minha briga com os diretores. Conseqüentemente, ambos perdemos o em­prego, o prestígio na comunidade, tudo. Creio que se poderia dizer que achei bom deixar tudo para trás. Era impossível lutar. Marshall não gostava desse tipo de conversa.

— Eles são... essa coisa é... realmente tão forte assim? Strachan estava totalmente sério.

— Acho que não percebi como era vasta e forte, e creio que ainda estou descobrindo. Sr. Hogan, não tenho a menor idéia de qual seja o objetivo final dessa gente, mas estou começando a ver que nada que esteja no seu caminho pode escapar de ser pisoteado e eliminado. Mesmo quando estamos sentados aqui posso olhar para trás nesses anos, e mesmo sem considerar as substituições na nossa faculdade, apavora-me pensar em quantas outras pessoas em Ashton simples­mente sumiram.

Joe, o dono do supermercado, pensou Marshall. E que dizer de Edie?

Strachan parecia um tanto pálido agora, e perguntou com óbvia preocupação na voz:

— E afinal o que vocês pretendem fazer com essa informação? Marshall teve de ser honesto.

— Ainda não sei. Um número grande demais de peças está fal­tando, premissas demais. Não tenho nada que possa publicar.

— Está-se lembrando do que aconteceu com Ted?

Marshall não queria pensar no assunto. Queria descobrir outra coisa.

— Ted não quis falar comigo.

— Ele está com medo.

— Medo de quê?

Deles, do sistema que o destruiu. Ele sabe mais a respeito das suas tramas esquisitas do que eu; ele sabe o bastante para ter muito mais medo do que eu, e acredito que seu medo seja justificado. Realmente creio que exista perigo genuíno nisso.

— Bem, ele fala com você alguma vez?

— Claro, fala de tudo menos do que você está querendo saber.

— Mas vocês dois ainda se vêem?

— Sim. Pescamos, caçamos, almoçamos juntos. Ele não mora muito longe daqui.

— Poderia ligar para ele?

— Quer dizer, ligar para ele e recomendar você?

— É exatamente isso o que quero dizer. Strachan respondeu cautelosamente:

— Olhe, ele pode não querer falar, e não posso forçá-lo.

— Mas pode ligar e ver se ele fala comigo mais uma vez?

— Eu... pensarei no caso, mas isso é tudo o que lhe prometo.

— Assim mesmo eu ficaria grato.

— Mas, Sr. Hogan... — Strachan estendeu a mão e agarrou o braço de Marshall. Olhando para Marshall e para Berenice, disse baixinho:

— Vocês dois se cuidem. Não são invencíveis. Nenhum de nós o era, e acredito que seja possível perder tudo se fizer apenas um movimento errado ou der apenas um passo errado. Por favor, por favor certifiquem-se a cada momento de saberem exatamente o que estão fazendo.

 No Clarim, Tom, o colador, estava organizando os anúncios, artigos e as galés completas de sempre na edição de terça-feira quando a campainha que ficava acima da porta da frente tilintou. Ele tinha mais coisa que fazer além de atender visitas, mas com Hogan e Be­renice fora em misteriosa missão de intriga, era o único que restava para defender o forte. Como ele gostaria que Edie não os tivesse deixado. O jornal se tornava um desastre maior a cada dia e, fosse qual fosse a empreitada infrutífera na qual Hogan e Berenice estavam metidos, ela lhes tirava a atenção das muitas tarefas que se estavam amontoando no escritório.

— Alô? — chamou uma doce voz de mulher.

Tom agarrou um pedaço de pano para limpar as mãos, e gritou em resposta:

— Um momento, já vou.

Ele se apressou pela estreita passagem que levava