Shawn lhe havia dado uma
notícia extraordinariamente boa: A professora Langstrat havia achado que Sandy
era um excelente exemplar com habilidades psíquicas excepcionais, tanto que
Sandy estava agora sendo considerada como principal candidata à especial iniciação
em algum tipo de exclusiva comunidade de médiuns, uma sociedade internacional!
Sandy lembrava-se agora de ter ouvido menção passageira a algum tipo de grupo
de Percepção Universal, e sempre havia parecido algo muito elevado, muito
secreto, sagrado mesmo. Jamais havia sonhado que uma oportunidade tão extraordinária
lhe seria concedida, a de ficar conhecendo de fato outros médiuns e tornar-se
parte de seu círculo de confiança! Ela podia imaginar as novas experiências e
as percepções mais elevadas que poderiam ser obtidas na companhia de tanta
gente talentosa, todas elas combinando suas habilidades e energias psíquicas na
busca incessante de iluminação!
Madeline, você teve alguma
coisa que ver com isto? Espere só até nos encontrarmos de novo! Tenho um abraço
e mil agradecimentos para lhe dar!
Então o telefone tocou. Eles
o haviam ignorado antes e deixado que a secretária eletrônica grunhisse a
mensagem de sempre. Mas desta vez, depois do apitinho, uma voz disse:
— Alô, aqui fala Harvey Cole,
e acabei de trabalhar naquelas contas que você me deu...
— Espere! — disse Berenice. —
Aumente o volume!
Susan engatinhou rumo à
escrivaninha no escritório da frente onde se encontrava a secretária eletrônica
e aumentou o volume. A voz de Harvey Cole continuou:
— Realmente preciso falar com
você o mais rápido possível. Berenice agarrou o telefone no escritório de
Marshall.
— Alô? Harvey? Aqui é
Berenice! Susan e Kevin ficaram horrorizados.
— O que você está fazendo?
— Os tiras vão ouvir isso,
cara!
Harvey disse pelo telefone e
também através do volume aumentado da secretária eletrônica:
— Oh, você está aí! Ouvi
dizer que tinha sido presa ontem à noite. A polícia não me quer dizer nada. Eu
não sabia para onde ligar...
— Harvey, ouça apenas. Tem
caneta ou lápis?
— Sim, agora tenho.
— Chame meu tio. Seu nome é
Jerry Dallas; o número é 240-9946. Diga-lhe que me conhece, diga-lhe que é uma
emergência, e diga que tem material para mostrar a Justin Parker, o promotor
municipal.
— O quê? Não tão depressa.
Berenice passou com esforço a
informação mais uma vez, mais devagar.
— Agora, esta conversa está
provavelmente sendo ouvida por Alf Brummel ou um de seus asseclas do
Destacamento de Polícia de Ashton, por isso quero que você garanta que se
alguma coisa me acontecer, essa informação ainda irá parar nas mãos do promotor
a fim de que ele comece a indagar o que está acontecendo nesta cidade.
— Devo anotar isso também?
— Não. Apenas entre em
contato com Justin Parker. Se por acaso for possível, peça que ele nos ligue
aqui.
— Mas, Berenice, eu ia dizer,
está bem claro que os fundos têm saído, mas os registros não mostram onde...
— Temos os registros que
mostram onde. Temos tudo. Diga isso ao meu tio.
— Está bem, Berenice. Você
realmente está em apuros, então?
— A polícia está atrás de
mim. Provavelmente descobrirão que estou aqui porque estou falando com você e o
telefone foi grampeado. É melhor apressar-se!
— É, sim, está bem! Harvey
desligou depressa.
Susan e Kevin se entreolharam
e em seguida fitaram Berenice. Ela lhes devolveu o olhar e pôde dizer apenas:
— Sei que é um risco. Susan
deu de ombros.
— Bem, não tínhamos nenhuma
idéia melhor.
O telefone tocou novamente.
Berenice hesitou, esperando que a secretária eletrônica repassasse seu pequeno
recitativo. Então veio a voz.
— Marshall, aqui fala Al
Lemley. Ouça, estou com uns agentes federais alvoroçados aqui em Nova York que
querem falar com você acerca do seu homem Kaseph. Faz já algum tempo que estão
atrás dele, e se puder fornecer-lhes boa informação, eles estariam interessados...
Berenice apanhou o telefone
de novo.
— Al Lemley? Aqui é Berenice
Krueger. Trabalho para Marshall. Pode trazer esses homens a Ashton hoje?
— O quê? Alô? —
surpreendeu-se Lemley. — É você mesma ou é uma gravação?
— Sou muito eu, e precisando da
sua ajuda. Marshall está na cadeia e...
— Cadeia?
— Uma acusação forjada. É
coisa do Kaseph. Ele está assumindo controle da Faculdade Whitmore hoje às
2:00hs, botou Marshall na geladeira a fim de mantê-lo afastado, e estou fugindo
da polícia. É uma longa história, mas seus amigos a adorarão e obtivemos os documentos
que provam cada palavra que estou dizendo.
— Qual é mesmo o seu nome?
Berenice esforçou-se por dar
o nome de novo e teve de soletrá-lo duas vezes.
— Ouça, eles grampearam este
telefone, por isso provavelmente sabem onde estou agora, e assim poderia fazer
o favor de apressar-se em vir e trazer todos os mocinhos que conseguir
encontrar? Não sobrou nenhum nesta cidade.
Al Lemley ouvira o bastante.
— Está bem, Berenice, farei
toda e qualquer coisa que puder. E é melhor esses vagabundos que grampearam seu
telefone ficarem sabendo que se as coisas não estiverem um perfeito docinho de
coco quando chegarmos aí, é garantido que teremos encrenca!
— Chegue ao Prédio da
Administração no campus da Faculdade Whitmore às 2:00hs ou antes.
— Até as 2:00.
A esta altura Kevin e Susan
estavam começando a ficar um pouco mais animados.
— Era isso o que você queria?
— perguntou Susan. — Outro milagre?
O telefone tocou novamente.
Dessa vez Berenice não esperou, mas tirou o aparelho do gancho no mesmo
instante. Uma voz disse:
— Alô, aqui é o Secretário da
Justiça do Estado Norm Mattily, chamando Marshall Hogan.
Susan não conseguiu abafar um
gritinho. Kevin disse:
— Está bem, está bem!
Berenice falou com Mattily.
— Sr. Mattily, aqui fala
Berenice Krueger, repórter do Clarim. Eu trabalho para o Sr. Hogan.
— Oh... ah, sim... — Mattily
parecia estar consultando outra pessoa. — Sim, ah, Eldon Strachan está aqui
comigo, e me diz que há algum tipo de encrenca aí em Ashton...
— O pior tipo. Está tudo
vindo a furo hoje. Obtivemos umas provas substanciais para lhe mostrar. Quanto
tempo demoraria para chegar aqui?
— Bem, não tinha a intenção
de fazer isso...
— A cidade de Ashton vai ser
tomada por uma organização terrorista internacional às 14:00 horas hoje.
— O quê?
Berenice conseguia ouvir a
voz abafada de Eldon Strachan, provavelmente martelando o outro ouvido de
Mattily.
— Ah... bem, onde está o Sr.
Hogan? Strachan está preocupado com a segurança dele.
— Tenho certeza de que o Sr.
Hogan não está nada seguro. Eu e ele caímos na emboscada dos bandidos locais
ontem a noite durante uma investigação de rotina. Marshall os deteve enquanto
eu fugi Tenho-me escondido desde então e não tenho a menor idéia do que
aconteceu ao Sr. Hogan.
— Pela madrugada! Você
está... — Eldon continuava falando no outro ouvido de Mattily. — Bem,
precisarei de algum tipo de prova concreta, algo que agüente o tranco
legalmente...
— Isso nós temos, mas
precisaremos de sua intervenção direta e imediata. Pode vir e trazer policiais verdadeiros
consigo? É questão de vida e morte.
— É melhor que isto seja pra
valer!
— Por favor, chegue aqui
antes das 14:00hs. O melhor seria encontrar-se conosco no Prédio da
Administração no campus da Faculdade Whitmore.
— Muito bem — disse Mattily,
sua voz ainda soando um tanto hesitante — irei até aí e verei o que tenha para
mostrar.
Berenice desligou e o
telefone prontamente tocou de novo.
— Clarim.
— Alô, aqui fala o Promotor
Municipal Justin Parker. Com quem estou falando?
Berenice tapou depressa o
bocal com a mão e sussurrou para Susan:
— Existe um Deus, sim!
Ele entrou no veículo e voou
pela cidade rumo à delegacia.
O Remanescente ainda cantava
no estacionamento quando ele chegou, e até ele descobrir quem eram e por que
estavam ali, era tarde demais para escapulir. Teve de entrar e estacionar.
Eles convergiram sobre seu
carro como voraz enxame de pernilongos.
— Onde esteve até agora,
Delegado?
— Quando é que o Hank vai
sair?
— Mary gostaria de vê-lo.
— Barbaridade, o que pensa
estar fazendo com aquele homem? Ele não estuprou ninguém!
— É bom que esteja pronto
para dizer adeusinho ao seu emprego!
Capriche, Alf, se tencionar
salvar o que sobrou de você.
— Ah, onde está Mary?
Mary acenou-lhe dos degraus
da frente do tribunal. Ele tentou abrir caminho diretamente até ela, e uma vez
que as pessoas viram a direção na qual ele se encaminhava, mostraram-se mais do
que dispostas a deixá-lo passar.
Mary começou a fazer
perguntas assim que ele chegou ao alcance dos seus gritos.
— Sr. Brummel, gostaria de
ver o meu marido e como se atreve a permitir esta farsa?
Jamais em sua vida Brummel
vira a doce e aparentemente vulnerável Mary Busche tão agressiva. Ele tentou
pensar numa resposta.
— Tem sido um hospício por
aqui. Desculpe eu ter estado fora...
— Meu marido é inocente, e
você sabe disso! — disse ela com bastante firmeza. — Não sabemos como pretende
safar-se desta mas estamos aqui para garantir que não o fará.
A esse comentário, uma lufada
de gritos de apoio reboou da multidão. Brummel tentou usar o método de
intimidação.
— Agora escutem, todos vocês!
Ninguém está acima da lei, não importa quem seja. O Pastor Busche foi acusado
de ofensa sexual, e não tenho escolha a não ser cumprir o meu dever como agente
da lei. Não posso fazer nada se somos amigos ou membros da mesma igreja, esta é
uma questão de lei...
— Besteira! — veio um brado
gutural de perto de Brummel.
O delegado voltou-se na
direção da voz para corrigi-la, mas tornou-se pálido ao deparar-se com Lou
Stanley, seu antigo companheiro de armas.
Lou manteve-se firme, uma mão
na cinta, a outra apontando diretamente para o rosto de Brummel, enquanto
dizia:
— Você falou de fazer uma
tramóia dessas muitas vezes, Alf! Já o ouvi dizer que tudo o de que precisava
era a oportunidade certa. Ora, o que estou dizendo agora é que foi o que fez.
Estou acusando-o, Alf! Se alguém quiser o meu depoimento em qualquer tribunal,
estou pronto a dar!
Um viva e algumas vaias
soaram.
Então Brummel levou outro
susto. Gordon Mayer, o tesoureiro da igreja, colocou-se à frente da multidão, e
também apontou um dedo para o rosto de Brummel.
— Alf, simples divergência é
uma coisa, mas conspiração aberta é outra muito diferente. E bom ter certeza do
que está fazendo.
Brummel estava encurralado.
— Gordon... Gordon, temos de
fazer o melhor... nós...
— Bem, não conte comigo! —
disse Mayer. — Já fiz o bastante por você!
Brummel voltou as costas aos
dois antigos companheiros apenas para dar de cara com o repentinamente limpo
Bobby Corsi!
— Ei, delegado Brummel —
disse Bobby. — Lembra-se de mim? Adivinhe para quem estou trabalhando agora.
Brummel ficou mudo. Pôs-se a
caminhar rumo à porta do departamento policial, como se ali houvesse abrigo de
todo esse desastre.
Andy Forsythe não se colocou
em seu caminho, mas acompanhou-o perto o bastante para fazê-lo deter-se.
— Sr. Brummel — disse Andy —
há uma jovem esposa lá atrás que ainda gostaria que seus pedidos fossem
considerados.
Brummel andou mais depressa.
— Verei o que posso fazer, está bem? Deixe-me verificar a situação das coisas.
Um instantinho. Voltarei num momento.
Tão depressa quanto pôde, ele
passou pela porta e a trancou atrás de si. A multidão seguiu-o como uma onda e
encostou-se à porta, uma barricada a barrar-lhe a saída.
A nova recepcionista
encontrava-se sentada à mesa de recepção, os olhos arregalados, olhando através
da janela a todos aqueles rostos enraivecidos.
— Devo... devo chamar a
polícia? — perguntou ela.
— Não — disse Brummel. — São
apenas alguns amigos que vieram me ver.
Com isso, ele desapareceu
escritório adentro e fechou a porta.
Juleen, Juleen! Era culpa
dela! Ele estava enjoado dela, enjoado da coisa toda!
Ele viu um bilhete na sua
mesa. Sam Turner havia deixado um recado para que ligasse. Ele discou o número
e Sam atendeu.
— Como estão as coisas, Sam?
— perguntou Brummel.
— Nada bem, Alf. Ouça, estive
no telefone a manhã toda e ninguém quer convocar uma assembléia de emergência
da congregação. Eles não têm a menor intenção de botar Hank para fora, e pouca
gente acredita nesse negócio de estupro. Não há como negar, Alf, você
fracassou.
— Eu fracassei? — explodiu
Brummel. — Eu fracassei? A idéia não foi sua também?
— Não diga uma coisa dessas!
— veio muito ameaçadora a resposta de Turner. — Jamais diga uma coisa dessas!
— Então agora você também não
me vai apoiar.
— Não há nada para apoiar,
Alf. O plano furou. Busche é um escoteiro e todo o mundo sabe disso, e você não
vai conseguir fazer essa acusação de estupro colar.
— Sam, entramos nisso juntos!
Ia dar certo!
— Mas não deu, amigão. Hank
veio para ficar, é assim que vejo a coisa, e estou me retirando de tudo isso.
Faça o que tiver de fazer, mas é melhor fazer algo, ou seu nome não vai valer
um monte de esterco quando tudo tiver terminado.
— Ora, muitíssimo obrigado, amigão!
— Brummel desligou com raiva.
Ele olhou para o relógio. Era
quase meio-dia. A reunião começaria em duas horas.
Hogan. Ele ainda tinha de dar
um recado a Hogan acerca de Sandy. Puxa vida, aí estava outra das boas
encrencas de Juleen. Claro, Juleen, pode deixar! Já estou enrascado com essa
acusação forjada contra Busche, e agora você quer-me ver declarado cúmplice de
seja lá o que for que esteja planejando para Sandy Hogan.
E que dizer de Krueger? A
quem teria ela conseguido dedar a coisa toda? Ele saiu correndo do escritório e
foi pelo corredor à sala de rádio-comunicação.
— Alguma coisa sobre a
fugitiva? — perguntou ele ao único funcionário que ali se encontrava.
O operador empurrou um pedaço
de sanduíche de manteiga de amendoim contra a bochecha e disse:
— Não, tudo está muito
quieto.
— Nada mesmo no Clarim?
— Há um carro de fora
estacionado nos fundos, mas é de outro estado e eles ainda não conseguiram
descobrir o registro da placa.
— Não conseguiram...!
Descubram o registro dessa placa! Examinem o prédio! Pode haver alguém lá
dentro!
— Eles não viram ninguém...
— Examinem o prédio! —
explodiu Brummel.
A recepcionista chamou do
outro lado do corredor:
— Capitão Brummel, Berenice
Krueger está no telefone. Quer que deixe recado?
— Nããão! — berrou ele,
correndo pelo corredor ao seu gabinete. — Atenderei aqui!
Ele bateu a porta atrás de si
e agarrou o telefone.
— Alô? — Ele acertou o
segundo botão do seu telefone. — Alô?
— Sr. Alf Brummel! — veio uma
voz muito condescendente.
— Berenice!
— Está na hora de termos uma
conversa.
— Muito bem. Onde está você?
— Não seja um refinado
idiota. Escute, estou chamando para lhe dar um ultimato. Estive falando com o
secretário da justiça do estado, o promotor municipal, e a polícia federal.
Tenho prova, e estou falando de coisa muito concreta, que desvendará totalmente
sua tramoiazinha, e estão todos a caminho para vê-lo.
— Está blefando!
— Você tem as conversas em
fita, sem dúvida. É só tocá-las. Brummel sorriu. Ela acabara de revelar onde
estava.
— E afinal qual é o seu
ultimato?
— Solte Hogan. Agora. E
recolha a sua matilha que está atrás de mim. Dentro de duas horas tenho a
intenção de mostrar a cara nesta cidade, e não quero saber de ser perturbada,
especialmente porque estarei acompanhada de visitantes muito especiais!
— Você está no Clarim agora,
não está?
— Sim, claro que estou. E
posso ver... qual é mesmo o nome dele? Kelsey, sentado lá fora naquele caco
velho, ele e o companheiro, Michaelson. Quero que recolha esses caras. Se não,
todos os grandões do mundo saberão o que aconteceu comigo. Se o fizer, poderá
contar a seu favor.
— Você está... ainda digo que
está blefando!
— Toque a sua maquininha de
grampeamento, Alf. Veja se estou falando a verdade. Esperarei para ver o carro
ir embora.
Clique. Ela desligou.
Brummel voou ao armário e
abriu as portas. Tirou o gravador. Ele hesitou, pensou furiosamente, ficou
imóvel por um momento. Empurrando o gravador de volta ao armário, bateu com
força as portas, e disparou pelo corredor à sala de rádio-comunicação.
O operador ainda estava
mastigando seu sanduíche. Brummel estendeu o braço sobre o colo dele e agarrou
o microfone, ligando o transmissor.
— Unidades dois e três,
Kelsey, Michaelson, recolher. Repito: recolher imediatamente.
O operador ergueu os olhos,
feliz.
— Ei! O que aconteceu?
Krueger se entregou?
Alf Brummel nunca foi bom em
retrucar quando as perguntas eram idiotas ou fora de hora. Ele disparou pelo
corredor à recepção e discou o número do tribunal.
— Quero falar com Dunlop.
Dunlop atendeu.
— Jimmy, Hogan e Busche vão
sair sob minha responsabilidade pessoal. Solte-os.
Jimmy fez-lhe mais algumas
perguntas idiotas.
— Apenas faça o que mandei e
deixe a papelada por minha conta! Agora, vá!
Ele bateu o telefone e
desapareceu escritório adentro. A recepcionista continuava a olhar pela janela
a todas aquelas pessoas. Estavam recomeçando a cantar. O som era bonito.
— Ei! — disse Kevin.
Susan ainda retorcia as mãos.
Berenice apenas observava, sem poder acreditar numa coisa boa muito
prontamente. O velho carro se foi, carregando Kelsey e Michaelson.
Berenice não quis esperar.
— Vamos arrumar toda esta
coisa na mala e chegar ao tribunal. Marshall vai precisar pôr as novidades em
dia.
— Não precisa dizer isso duas
vezes! — disse Kevin. Tudo o que Susan conseguiu dizer foi:
— Obrigada, Deus. Obrigada,
Deus!
Brummel praguejou alto.
Informação de confiança! Tudo o que Mattily precisava fazer era encontrar essa
lindeza de gravador ali, ligado ilegalmente a todos aqueles telefones!
Um zumbido indicou um chamado
da recepcionista. Esticando o braço à escrivaninha, ele apertou o botão do
interfone.
— Sim? — disse, muito
irritado.
— Juleen Langstrat na linha
dois — disse ela.
— Pegue o recado! — disse
ele, e desligou o seu botão.
Ele sabia por que ela estava
chamando. Ia amolar-lhe a paciência, lembrá-lo de estar na reunião daquela
tarde que envolvia Sandy Hogan.
Ele abriu a outra porta do
armário e tirou os livros e as fitas gravadas. Mas afinal onde poderia
esconder todo aquele negócio? Como poderia destruí-lo?
O sinal da recepcionista
zumbiu novamente.
— O quê?
— Ela insiste em que o senhor
fale com ela.
Ele apanhou o aparelho, e a
voz oleosa de Langstrat veio pela linha.
— Alf, está pronto para hoje?
— Sim — respondeu ele
impaciente.
— Então faça o favor de vir
assim que puder. Precisamos preparar as energias das salas antes que a reunião
comece, e quero ter todas as coisa em uníssono antes que Shawn chegue com
Sandy.
— Então você realmente vai
envolvê-la nisto?
— Apenas como garantia,
naturalmente. Marshall Hogan foi afastado, mas precisamos estar certos de que
continuará assim, pelo menos até que todos os nossos esforços e visões
tenham-se cumprido e a cidade de Ashton tenha empreendido o salto vitorioso
para dentro da Percepção Universal —. Ela fez uma pausa para saborear o pensamento
por um instante, e então perguntou sem grande interesse:
— E teve alguma notícia de
nossa ladra fugitiva? Antes mesmo de saber por que o fazia, ele mentiu:
— Não, nada ainda. Ela está
afastada.
— Certamente. Garanto que
será encontrada logo, e depois de hoje ela não terá nenhuma esperança.
Ele nada respondeu. Estava
subitamente distraído por um pensamento que o inundou como uma onda de três
metros: Alf, ela acreditou em você. Ela realmente não sabe!
— Você vem imediatamente,
Alf? — ela perguntou e ordenou ao mesmo tempo.
Ela não sabe o que aconteceu,
era tudo o que Brummel conseguia pensar. É vulnerável! Eu sei algo que ela não
sabe!
— Irei já, já — disse ele,
mecanicamente.
— Até já — disse ela com
finalidade autoritária, e desligou.
Ela não sabe! Acha que
está indo tudo bem e que não haverá encrenca! Acha que conseguirá fazer tudo
isso sem ser apanhada!
Brummel permitiu que seus
pensamentos voassem enquanto considerava suas opções, a informação exclusiva
que acabara de receber, e o estranho senso de poder que ela lhe dava. Sim,
estava tudo praticamente acabado, e era provável que ele afundasse... mas tinha
o poder de levar aquela mulher, aquela aranha, aquela bruxa, para baixo
consigo!
De repente, já não sentia
desejo de destruir as fitas e os livros. As autoridades que os encontrassem.
Que encontrassem tudo. Talvez ele até lhes mostrasse.
Quanto ao Plano, se Kaseph e
sua Sociedade são tão oniscientes e tão invencíveis, por que deveria você
contar-lhes coisa alguma? Eles que descubram por si mesmos!
"Não seria bom ver a sua
cara Juleen suando uma vez na vida?" perguntou Lucius.
— Seria bom ver Juleen suando uma vez na vida — murmurou Brummel.