— Olá! Vocês conseguiram!
Os olhos de Norm Mattily se
arregalaram.
— O que aconteceu? Você está
bem? Berenice pagara caro esses ferimentos; ia usá-los.
— Não, não, fui atacada! Por
favor, corram lá dentro! Algo terrível está acontecendo!
Todos aqueles sujeitos
importantes entraram correndo no prédio com sério propósito nos olhos e
revólveres nas mãos.
Tal vira o suficiente.
Gritando uma ordem a Guilo:
— Entre! — ele arremeteu para
fora do prédio a fim de trazer reforços.
Fumaça e piche vermelho
jorravam do lado de Rafar, mas sua fúria significava ruína certa para o rebelde
Lucius. A luz de mil anjos brilhou através das janelas. Eles estariam na sala
num instante, mas esse era todo o tempo de que Rafar precisava. Ele agitou a
espada do tamanho de uma tábua em círculos furiosos acima da cabeça. Abaixou-a
em golpe após golpe sobre Lucius enquanto a pequena espada do demônio
desafiador aparava cada golpe com grande alarido e uma chuva de faíscas.
O estrondear das asas dos
anjos no lado de fora tornou-se mais e mais alto. O chão e as paredes
reverberavam com o barulho.
Rafar soltou um rugido e
baixou a lâmina perpendicularmente. Lucius bloqueou o golpe, mas caiu debaixo
da força dele. A lâmina cortou o ar num círculo plano e apanhou Lucius debaixo
do braço. O braço saiu rodopiando pelo espaço, e Lucius gritou. A lâmina baixou
de novo, passando em linha reta pela cabeça, ombros e torso de Lucius. O ar
encheu-se de fervilhante fumaça vermelha.
Lucius desapareceu.
— Mate a menina! — gritou
Rafar a Madeline.
Madeline tirou uma faca
horrorosa, torta. Colocou-a com delicadeza na mão de Sandy.
— Essas correntes são as
correntes da vida; são uma prisão de maldade, da mente mentirosa, da ilusão!
Liberte seu verdadeiro eu! Junte-se a mim!
Muitos demônios tentaram
fugir, mas foram desintegrados no mesmo instante pelo golpe cortante das
espadas. O aposento todo era um borrão enorme, bombástico, brilhante. O rugir
das asas encobria qualquer outro som exceto o dos gritos dos espíritos que
caíam.
Hank, Susan e Kevin
observavam a uma distância segura. Sabiam o que estava acontecendo.
O rosto de Kaseph parecia
insensibilizado pela morte e a boca abriu-se quando o mais horrendo berro saiu
de dentro dele.
O Valente estava face a face
com o General. Seus demônios haviam sumido, levados por avassaladora maré de
anjos que ainda rugiam pela sala qual avalanche. A espada do General se movia
mais depressa do que o pesado Valente podia mesmo antecipar. O Valente rebateu
os golpes, berrando, retalhando, girando. O General simplesmente continuava a
atacá-lo.
Guilo viu as correntes muito
apertadas em torno de Sandy, o horrível cativeiro demoníaco que eles haviam
usado para escravizá-la.
— Basta! — gritou ele.
Erguendo a espada acima da
cabeça, ele a baixou, deixando um rasto largo de luz brilhante. A ponta passou
através das muitas voltas daquelas correntes como uma série de pequenas
explosões. As correntes se arrebentaram para fora e para longe, contorcendo-se
como cobras cortadas ao meio.
O grande punho de Guilo
fechou-se no pescoço medonho de Madeline. Ele a sacudiu para trás, girou-a e
cortou-a em pedacinhos evanescentes.
Sandy sentiu-se rodopiando,
depois impelida para cima como se fosse um foguete num elevador. Seus ouvidos
começaram a registrar sons. Ela conseguia sentir novamente seu corpo físico.
Luz registrou-se em sua retina. Ela abriu os olhos. Uma faca caiu-lhe das mãos.
Caos reinava na sala. Havia
gente gritando, correndo de um lado para o outro, tentando acalmar os outros,
brigando, discutindo, tentando escapar da sala; diversos homens estavam
forçando Alf Brummel ao chão. Havia uma névoa de fumaça azulada e um cheiro
forte como o de fogos de artifício.
A professora Langstrat estava
deitada no chão e diversas pessoas se amontoavam em cima dela. Havia sangue!
Alguém a agarrou. Não de
novo! Ela olhou e viu Shawn segurando-lhe o braço. Ele estava tentando
confortá-la, tentando mantê-la na cadeira.
O monstro! O enganador! O
mentiroso!
— Solte-me! — berrou ela, mas
ele não soltou.
Ela socou-lhe o rosto, e em
seguida escapou dele. Pondo-se de pé em um salto, ela correu rumo à porta,
dando encontrões com diversas pessoas e pisando em outras. Ele a seguiu,
chamando-lhe pelo nome.
Ela explodiu pela porta e
tropeçou no corredor. De algum lugar lá adiante, ouviu uma voz conhecida
gritando seu nome. Ela berrou e correu na direção da voz.
Shawn foi atrás de Sandy. Ele
tinha de segurar aquela mulher antes que todo o controle fosse pelos ares.
O quê! Diante dele, enchendo
todo o corredor com suas asas faiscantes estava o mais apavorante ser que ele
jamais vira, apontando uma terrível espada chamejante ao seu coração. Shawn
deteve-se bruscamente, os sapatos escorregando no chão.
Marshall Hogan apareceu
subitamente, atravessando a correr aquele ser. Um enorme punho atingiu o queixo
de Shawn, e a questão foi resolvida.
— Venha, Sandy — disse
Marshall — desceremos pela escada!
Caindo sobre um dos joelhos,
as mãos segurando o lado que se esvaía, ele deixou sua fúria crescer no íntimo.
Tal! Era tudo culpa de Tal! Não, esperto capitão, não ganhará sua vitória desta
forma!
Os olhos amarelos queimaram
com novo fogo. Ele tentou novamente. Dessa vez, as asas se moveram e se
agitaram num torvelinho indistinto. Rafar segurou com força a espada e voltou
os olhos ao céu. As asas se enfunaram com poder e começaram a erguê-lo através
do prédio, cada vez mais depressa, até ele ser arrojado pelo teto a céu
aberto... e encontrar-se face a face com o mesmo capitão que tantas vezes havia
insultado e desafiado.
Em volta a batalha ardia em
fúria; demônios, e a grande vitória de Rafar, caiam como chuva fumacenta e
ardente do céu. Mas por um momento breve de espanto e horror mútuo, Tal e Rafar
permaneceram paralisados.
Haviam-se encontrado afinal!
E nem um dos dois podia evitar o amortecimento trazido pelas lembranças que
tinha do outro. Nenhum se lembrava de que o outro tinha aparência tão feroz.
E nenhum podia estar
absolutamente certo de que venceria.
Rafar arremeteu de um lado, e
Tal preparou-se para o golpe, mas... Rafar estava fugindo! Ele se lançou pelo
céu como um pássaro sangrando, deixando um rasto de emanação e vapor.
Tal seguiu-o, as asas
céleres, arrojando-se através de demônios caindo e anjos atacando, olhando bem
adiante através da furiosa agitação da batalha cujo fragor e trovejar o
cercava. Lá! Ele divisou o demônio comandante mergulhando na direção da cidade.
Seria difícil encontrá-lo naquele labirinto de prédios, ruas e vielas. Tal
aumentou a velocidade e diminuiu a distância. Rafar devia tê-lo visto surgindo
por trás; o príncipe maligno arremeteu adiante com surpreendente velocidade e
depois deixou-se cair súbita e perpendicularmente na direção de um prédio de
escritórios.
Tal viu-o desaparecer através
do teto do prédio e mergulhou atrás dele. O negro teto coberto de piche veio em
sua direção, crescendo num instante do tamanho de um selo a mais do que o olho
podia ver. Tal se lançou através dele.
Teto, cômodo, piso, cômodo,
então erguer-se, passar por um corredor, atravessar uma parede, subir novamente,
voltar, seguir a fumaça, atravessar um escritório, seguir parede acima,
mergulhar por um piso, arrojar-se adiante, as paredes passando esbofeteando,
esbofeteando, esbofeteando os olhos e ficando para trás como vagões disparados
de um trem de carga.
Um fumacento míssil preto
seguido por chamejante cometa vermelho rugiram corredor abaixo, através de
diversos andares, subiram novamente, passando através do escritório e por cima
de todas as mesas, elevando-se através dos painéis do teto, através do teto e
saindo a céu aberto de novo.
Rafar arremetia, arrojava-se,
descrevia círculos, ziguezagueava através de demônios cadentes, voltando atrás,
desviando-se por ruas secundárias, mas Tal o seguia de perto e acompanhava cada
volta com perfeição.
Por quanto tempo mais poderia
aquele demônio que sangrava manter essa corrida?
O General brandia a espada
contra o Valente vez após vez, enfraquecendo-o, cortando-o cada vez mais
freqüentemente enquanto o Valente continuava a perder as forças.
— Não me derrotará! — ainda
gabava-se ele, e o mesmo fazia Kaseph, mas a gabolice era vazia e fútil. Do
Valente jorravam vapor vermelho e piche como de uma peneira miserável e
quebrada. Seus olhos estavam cheios de maldade e ódio e ele retalhava com a
grande espada, mas as orações...! As orações estavam-se fazendo sentir por toda
a parte, e o General não podia ser derrotado.
— Subam depressa! — gritou
Marshall, segurando a filha chorosa. — Alguém foi baleado!
Os agentes da polícia
federal, com Lemley, entraram imediatamente em ação.
— Chamem a polícia!
Isolaremos o prédio! Berenice comentou:
— Estou vendo alguns tiras lá
fora...
A polícia tinha vindo apenas
em resposta a um chamado acerca dos fanáticos religiosos reunidos no campus.
Estavam tentado debandar o pessoal quando Norm Mattily e um agente da polícia
federal correram até eles, identificaram-se e ordenaram-lhes que isolassem o
prédio.
Os homens de Brummel não eram
tolos. Obedeceram.
Ele se arrojou pela parede de
fora mais ou menos na altura do terceiro andar, e Tal mergulhou no prédio atrás
dele. Esse andar era aberto, sem lugar para esconder; Rafar mergulhou
imediatamente a um andar inferior, e Tal seguiu o rasto de fumaça. Os pisos de concreto
cinzento subiam ao encontro deles.
Tal saiu no primeiro andar e
pôde ver o rasto de fumaça desviando-se para um lado e retorcendo-se através de
uma parede distante. Ele se arrojou atrás da fumaça. A parede bateu em torno
dele quando a atravessou.
Cravado!
Um gume ardente cortou seu
lado. Ele rodopiou e rodopiou com o impacto e a espada lhe voou da mão. O anjo
caiu ao chão, dobrado de dor.
Lá estava Rafar, curvado e
ferido, as costas contra a parede que Tal acabara de atravessar. Havia esperado
de tocaia. A ponta de sua horrível espada ainda estava envolta em parte da
túnica de Tal.
Não dava tempo de pensar! Não
dava tempo de sentir dor! Tal mergulhou atrás da espada caída.
Craque! A espada de Rafar
caiu com uma chuva de faíscas. Tal rolou e adejou, desviando-se. A grande
espada vermelha cortou o ar novamente, e o gume afiado assobiou logo acima da
cabeça de Tal. Tal bateu as asas e com um movimento brusco lateral desviou-se
alguns metros.
Tchuiiiimm! A horrível espada
retalhou o ar com brilhantes traços vermelhos. Os olhos de Rafar passaram de
amarelos a vermelhos, sua boca borbulhava com espuma pútrida.
As enormes asas rugiram e
Rafar atacou Tal com o bote de um gato. Seu poderoso braço ergueu a lâmina para
golpear de novo.
Tal arremeteu para a frente e
mergulhou abaixo do braço erguido de Rafar, metendo a cabeça no peito do
adversário. O enxofre explodiu dos enormes pulmões enquanto Tal rodopiava em
torno do corpo de Rafar e além da ponta da lâmina vermelha enquanto ela
retalhava o ar.
Era disso que Tal precisava:
estava agora entre Rafar e sua espada caída. Ele mergulhou atrás dela,
agarrou-a e voltou-se.
Clangor! A lâmina infernal
desceu sobre a espada de Tal com um relâmpago chamejante. Eles se defrontaram,
espadas erguidas em prontidão. Rafar sorria.
— Então, Capitão do Exército,
estamos juntos, só os dois, e em pé de igualdade. Eu estou ferido, você está
ferido. Trocaremos golpes por outros vinte e três dias? Terminaremos muito
antes disso, hein?
Tal nada disse. Era assim que
Rafar agia; palavras cortantes faziam parte de sua estratégia.
As espadas entrechocaram-se
vez após vez. Uma coberta de escuridão principiou a encher o aposento: o mal
rastejante, crescente de Rafar.
— A luz está-se apagando? —
zombou Rafar. — Talvez seja a sua força que vemos sumindo agora!
Santos de Deus, onde estão as
suas orações?
Outro golpe! O ombro de Tal.
Ele o devolveu com uma repassada que apanhou Rafar abaixo das costelas. O ar se
estava enchendo de trevas, com vapor e fumaça vermelhos.
Diversos outros choques das
lâminas chamejantes... abrindo pele, rasgando vestes, mais escuridão.
Santos! Orem! OREM!
— Não podem derrotar-me! —
berrou.
— Não pode derrotar-me!
Hank gritou:
— Não, cuidado! Não é ele!
Eles não entenderam patavina
do que ele disse. Hank adiantou-se e tentou mais uma vez:
— Valente, sei que pode
ouvir-me. Está derrotado, sim. O sangue derramado por Jesus o derrotou. Cale-se
e saia dele e suma desta região!
Agora a polícia estava
apontando as armas para Hank!
Mas o Valente já não
agüentava as repreensões do homem de oração. Ele murchou. Sua espada caiu. O
General deu uma repassada com sua lâmina refulgente, e o Valente desapareceu.
— Não atirem! — e saíram com
as mãos ao alto quer tivessem recebido ordem para fazê-lo, quer não. A polícia
ainda não sabia a quem prender.
— Aqui dentro! — gritou alguém da sala dos professores. A polícia correu lá e encontrou o deplorável desastre que Alf Brummel havia feito, e Juleen Langstrat morrendo.