Kaseph. Berenice rolou o porta-filmes até chegar aos ks. Colocando
a celulóide no monitor, ela pôs-se a procurar para cima e para baixo, de lado a
lado, em ziguezague, as miríades de letras e números microscópicos passando
num borrão pela tela enquanto ela buscava a coluna certa. Lá estava. Kw...
Kh... Ke... Ka... atravessando para a próxima coluna. Depressa, Berenice!
Ela não encontrou nada registrado sob Kaseph.
—
Como está indo? — perguntou Carla da recepção.
—
Muito bem — respondeu Berenice. — Não estou encontrando muita coisa ainda, mas
sei onde procurar.
Bem, ainda havia a mercearia do Joe. Ela voltou ao
arquivo normal e retirou o microfilme da seção, cidade e divisão para aquele endereço. Lá foi a
celulóide monitor adentro, e mais uma vez Berenice correu as miríades de listas
para cima e para baixo, procurando o registro. Lá estava! A descrição legal do
que antes era a mercearia do Joe, agora Mercantil de Ashton. Havia sido
avaliada em 105.900 dólares para fins de imposto, e o proprietário era a Omni
S.A. Era tudo o que dizia.
Berenice voltou às fichas cruzadas. Monitor adentro foi a celulóide
Ok-Om. Para cima, para baixo, de lado. Olson... Omer... Omni. Omni. Omni. Omni.
Omni. Omni. Os registros sob Omni Companhia Ltda. desceram, desceram, desceram
pela coluna; poderia ter havido mais de cem. Berenice tirou a caneta e bloco de
anotações e pôs-se a escrever furiosamente. Os muitos endereços e descrições
legais pouco significavam para ela; muitos deles nem eram decifráveis, mas ela
continuou rabiscando tão depressa quanto conseguia, na esperança de poder ler
a própria letra mais tarde. Ela abreviou, enchendo página após página do bloco.
O telefone tocou, como vinha fazendo; mas desta vez a
conversa de Carla não pareceu muito feliz. A voz da moça estava baixa e séria, e ela parecia
estar-se desculpando bastante. A festa pode estar acabando, mocinha, trate de
escrever!
Num instante Carla apareceu.
—
Você é Berenice Krueger, do Clarim? — perguntou ela diretamente.
—
Quem quer saber? — disse Berenice. Era bobagem, mas ela não queria ter de dizer
logo a verdade.
Carla pareceu muito perturbada.
—
Escute, vai ter de ir embora imediatamente — disse ela.
—
Foi o seu chefe quem telefonou, certo?
—
Sim, e eu ficaria grata se você não dissesse que a deixei entrar. Não sei o que
está acontecendo, e não sei por que mentiu para mim, mas poderia fazer o favor
de sair? Ele está vindo para cá a fim de trancar o local, e eu disse que você
não tinha aparecido...
—
Você é um amor!
—
Bem, menti por você, agora faça o favor de mentir por mim. Berenice apressou-se
em reunir as suas anotações e colocar de volta as celulóides.
—
Nunca estive aqui.
—
Agradeço — disse Carla enquanto Berenice saía correndo. — Você quase me fez
perder o emprego.
Após o jantar, o povo se reuniu e acomodou-se em torno da
grande lareira de pedra na sala de estar, enquanto Hank tomou seu lugar à
frente, com Mary ao lado. Cada pessoa principiou a falar sobre sua formação.
Bill e Betty Jones haviam freqüentado a igreja a vida
toda, mas tinham assumido um compromisso sério com Jesus fazia apenas um ano. O
Senhor lhes havia falado ao coração e eles o haviam buscado.
John e Patty Coleman haviam freqüentado outra igreja na
cidade, mas nunca aprenderam muito acerca da Bíblia ou de Cristo até virem para
aquela igreja.
Cecil e Míriam Cooper haviam sempre conhecido ao Senhor, e estavam
felizes ao ver um novo rebanho reunindo-se para substituir o antigo.
—
Parece bastante com trocar um pneu vazio — brincou Cecil. Enquanto os outros
falavam, seus variados antecedentes foram ex-
postos; havia tradições diferentes e antecedentes doutrinários diferentes,
mas nenhuma diferença era muito importante naquele momento. Todos tinham uma
grande preocupação comum: a cidade de Ashton.
—
Oh, é guerra, sem dúvida — disse Andy Forsythe. — Não se pode sair às ruas e
não sentir isso. Às vezes tenho a sensação de estar correndo dentro de uma
chuva de lanças, sabem?
Um novo casal, amigos dos Coopers, Dan e Jean Corsi,
falaram. Jean disse:
—
Acho que Satanás está realmente solto por aí, conforme diz a Bíblia, como um
leão que ruge tentando devorar a todos.
Dan comentou:
—
O problema é que nós apenas nos assentamos nas laterais e deixamos as coisas
acontecerem. Está na hora de nos preocuparmos e ficarmos com medo e nos ajoelharmos
a fim de ver se o Senhor toma alguma providência.
Jean acrescentou:
—
Alguns de vocês sabem que nosso filho está passando por problemas bem sérios
no momento. Realmente gostaríamos que orassem por ele.
—
Qual é o nome dele? — perguntou alguém.
— Bobby
— respondeu Jean. Ela engoliu em seco e disse a seguir:
—
Ele se matriculou na faculdade este ano e algo realmente lhe aconteceu... — Ela
precisou parar, sufocada de emoção.
Dan continuou de onde ela havia parado, em tom amargo.
—
Parece que algo acontece com qualquer garoto que vai para aquela faculdade. Eu
não sabia o tipo de coisa esquisita que eles estavam realmente ensinando lá. O
resto de vocês deveria descobrir o que está ocorrendo e não deixarem seus
filhos se envolverem.
Ron Forsythe, quieto até aquele momento, disse:
—
Sei do que está falando. Está acontecendo no ginásio também. A garotada está
participando de negócios satânicos como você não acreditaria. Nós costumávamos
tomar drogas; agora é demônios.
Jean aventurou-se, através das lágrimas:
—
Sei que parece terrível, mas realmente me pergunto se Bobby não está possesso.
—
Eu estava — disse Ron. — Sei que estava. Cara, eu ouvia vozes dizendo-me que
conseguisse umas drogas, ou roubasse algo, todo o tipo de coisa terrível. Eu
não dizia aos meus pais onde estava, não ia para casa, acabava dormindo nos
lugares mais esquisitos... e com as pessoas mais esquisitas.
Dan murmurou:
—
É, é assim que o Bobby está. Faz quase uma semana que não o vemos.
Jean quis saber:
—
Mas como foi que você começou com essas coisas? Ron deu de ombros.
—
Eu já estava andando pelo caminho errado. Não estou seguro de estar
endireitado. Mas digo-lhes quando acho que me envolvi com o satanismo: foi
quando alguém previu o meu futuro. Foi então que peguei a doença, disso estou certo.
Alguém perguntou se a cartomante era uma certa mulher.
—
Não, era outra pessoa. Foi no festival, há três anos.
—
Ah, eles estão por todos os cantos — gemeu outra pessoa.
—
Bem, isso apenas vem mostrar como esta cidade está fora de base! — protestou Cecil
Cooper. — Há mais feiticeiras e cartomantes do que professores de escola
dominical!
—
Bem, teremos de ver o que podemos fazer a esse respeito! — disse John Coleman.
Ron interveio novamente.
—
É trabalho pesado. Isto é, vi umas coisas bem esquisitas: já vi coisas
flutuarem sozinhas, já li as mentes das pessoas, cheguei até a sair do corpo
certa vez e flutuar pela cidade. Vocês têm mais é que orar mesmo!
Jean Corsi pôs-se a chorar:
—
Bobby está possesso... eu sei que está!
Hank percebeu que estava na hora de assumir o controle.
—
Muito bem, minha gente, sinto uma responsabilidade muito grande de orar por
esta cidade, e sei que vocês também sentem, por isso acho que é aqui que se
encontra a nossa resposta. É a primeira coisa que precisamos fazer.
Todos estavam prontos. Muitos se sentiam sem graça ao orar em voz alta pela
primeira vez; alguns sabiam orar alto e confiantemente; alguns oravam em frases
que haviam aprendido em certas liturgias; todos eram sinceros em cada palavra
que diziam, não importava como se expressassem. O fervor começou a crescer
devagar; as orações tornaram-se mais e mais fervorosas. Alguém começou a
entoar uma canção simples de adoração e os que a conheciam, cantavam, enquanto
os que não a conheciam, aprendiam.
Nas vigas os anjos cantavam, as vozes suaves fluindo
como violoncelos e baixos numa sinfonia. Triskal olhou para Krioni, sorriu um
largo sorriso, e flexionou os braços. Krioni sorriu e repetiu o gesto. Chimon tomou da espada
e a fez dançar em torno do pulso, traçando fitas e cachos de luz trêmula no ar
enquanto a lâmina cantava com linda ressonância. Mota apenas fitou os céus, as
asas sedosas abrindo-se, os braços erguidos, arrebatado no êxtase da música.
Sandy. Onde estaria ela? Não haviam feito essa
mudança por causa dela? Agora ela se encontrava mais distante deles do que
nunca, embora ainda morasse na mesma casa. Shawn havia invadido a vida da
mocinha como um câncer, não um amigo, e Kate e Marshall nunca chegaram a falar
a respeito segundo ele prometera. Marshall havia estado completamente
distraído. Estava casado com o jornal, talvez enamorado da jovem e atraente
repórter.
Kate empurrou o prato e tentou não chorar. Ela não podia
começar a criar confusão e a derramar lágrimas agora, não quando tinha de
pensar claramente. Indubitavelmente haveria decisões a tomar, e ela teria de
tomá-las sozinha.
Natã andava de um lado para outro, a voz ecoando nas paredes do
enorme tanque.
—
Eu pressenti o que ia acontecer, Capitão! O inimigo está atraindo Hogan para
uma armadilha. A afeição que ele tem por Krueger tem sofrido uma perigosa
mudança. Sua família está em grave perigo.
Tal assentiu com a cabeça e permaneceu mergulhado em pensamentos.
—
Exatamente o que se poderia esperar. Rafar sabe que nenhum ataque frontal
funcionará; está tentando um golpe maligno através da sutileza e do
comprometimento moral.
—
E está conseguindo, eu diria!
—
Sim, concordo.
—
Mas o que podemos fazer? Se Hogan perder a família, será destruído!
—
Não. Destruído, não. Derrubado, talvez. Dizimado, talvez. Mas tudo por causa da
escória em sua própria alma, acerca da qual o Espírito de Deus ainda não o
convenceu. Nada podemos fazer a não ser esperar e deixar que
as coisas sigam o seu curso.
Natã podia apenas sacudir a cabeça em frustração. Guilo
ponderava as palavras de Tal. É claro que o que Tal dizia era verdade. Os
homens pecarão se quiserem.
—
Capitão — perguntou Guilo — e se Hogan cair?
Tal recostou-se contra a úmida parede de metal e respondeu:
—
Não podemos nos preocupar com a questão do "se". O problema que
precisamos enfrentar é o "quando". Hogan e Busche estão no momento
construindo o alicerce de que precisamos para esta batalha. Uma vez que ele
esteja pronto, tanto Hogan quanto Busche precisam cair. Somente sua
clara derrota forçará o Valente a sair do esconderijo.
Guilo e Natã, consternados, fitaram Tal.
—
O senhor... o senhor sacrificaria esses homens? — perguntou Natã.
—
Apenas por algum tempo — respondeu Tal.
Marshall trouxe o grande pacote de lançamentos que Ernie Johnson
pirateara do escritório de contabilidade da faculdade Whitmore e o passou por
cima do balcão de recepção do Clarim a Harvey Cole. Cole era um contador
a quem Marshall conhecia bem e em quem podia confiar.
—
Não sei se você conseguirá entender tudo isso — disse Marshall — mas veja se
encontra seja lá o que for que Johnson encontrou, e se parece trapaça.
—
Puxa vida! — disse Harvey. — Isto vai lhe custar uma nota! -— Darei em troca
propaganda de graça. Que tal?
Harvey sorriu.
—
Boa idéia. Está bem, verei o que posso fazer e depois ligarei para você.
—
O mais depressa que puder.
Harvey saiu porta afora e Marshall voltou ao escritório, reunindo-se a
Berenice a fim de darem continuidade ao projeto noturno, depois do expediente.
Eles trabalhavam no meio de um amontoado de anotações, papéis, listas
telefônicas e quaisquer documentos públicos nos quais tinham conseguido colocar
as mãos. No meio daquilo tudo, uma lista combinada de nomes, endereços, cargos
e registros de impostos estava sendo formada peça por peça.
Marshall correu os olhos sobre suas anotações da entrevista com
Harmel.
—
Muito bem, e que me diz do juiz, como é mesmo o nome dele, Jefferson?
—
Anthony C. — Berenice respondeu, folheando a lista telefônica do ano anterior. — Sim, Anthony C. Jefferson, Rua Alder, 221 —.
Imediatamente ela procurou nas notas que rabiscara na
Primeira Imobiliária da Cidade. — Rua Alder, 221... — Seus olhos varreram uma página do
caderno, depois outra, até que finalmente:
—
Na mosca!
—
Outro!
—
Então, veja se estou certa: Jefferson foi chutado pela Rede e Omni apareceu e
comprou-lhe a casa?
Marshall rabiscou num bloco de papel amarelo alguns
lembretes.
—
Gostaria de saber por que Jefferson se mudou e por quanto ele vendeu aquela casa.
Também gostaria de saber quem está morando nela.
Berenice deu de ombros.
—
Precisaremos somente correr a lista e verificar os endereços da gente da Rede.
Aposto que é um deles.
—
Que me diz de Baker, o juiz que substituiu Jefferson? Berenice examinou outra
lista.
—
Não, Baker ocupa a casa que foi do diretor do ginásio, ah, Waller, George
Waller.
—
Isso mesmo, foi ele que perdeu a casa na venda judicial.
—
Oh, há uma porção delas, e aposto que encontraríamos outras se soubéssemos onde
procurar.
— Teremos
de espionar no Departamento Municipal de Finanças. Seja como for, de alguma
maneira, o imposto predial dessa gente nunca foi parar onde deveria ter ido.
Não consigo acreditar que tanta gente assim deixasse de pagar os impostos.
—
Alguém desviou o dinheiro de forma que os impostos nunca chegaram a ser pagos.
Isso é sujeira, Hogan, sujeira da grossa.
—
Não foi Lew Gregory, o antigo tesoureiro. Veja isto. Ele teve de pedir demissão
por causa de uma acusação de conflito de interesses. Agora Irving Pierce ocupa
o lugar dele, e Irving está nas mãos da Omni, certo?
—
É isso aí.
—
E o que foi mesmo que você descobriu acerca do prefeito Steen? Berenice
consultou suas anotações, mas sacudiu a cabeça.
—
Ele comprou a casa recentemente; a transação parece em ordem exceto pelo fato
de o dono anterior ter sido o antigo Delegado de polícia que deixou a cidade
sem um motivo aparente. É o que aconteceu a todas as outras pessoas que me faz
indagar.
—
É, e por que nenhuma delas jamais piou ou criou caso. Ei, eu não permitiria que
o município simplesmente chegasse e leiloasse a minha casa bem debaixo do meu
nariz sem fazer no mínimo algumas perguntas. Existe mais alguma coisa nisto
tudo que não sabemos.
—
Bem, pense nos Carluccis. Você sabia que a casa deles foi vendida para a Omni por 5.000 dólares. Isso é ridículo!
—
E os Carluccis tomaram chá de sumiço! Desapareceram sem mais esta nem aquela.
—
E quem está morando na casa deles agora?
—
Talvez o novo diretor do ginásio, ou o novo chefe dos bombeiros, ou um novo vereador,
ou um novo isto ou novo aquilo!
—
Ou um dos novos diretores da faculdade. Marshall tateou à procura de outros
papéis.
—
Que bagunça! — Finalmente ele encontrou a lista que procurava. — Vamos repassar
esses diretores e ver o que encontramos.
Berenice folheou algumas páginas do seu bloco.
—
Sei com certeza que a casa de Pinckston é propriedade da Omni. Algum tipo de
arranjo de guarda judiciária.
—
E Eugene Baylor?
—
Não está com você aí em algum lugar?
—
Está com um de nós, mas agora não consigo me lembrar qual de nós.
Os dois remexeram suas anotações, papéis, listas. Por
fim Marshall encontrou a informação entre as folhas espalhadas.
—
Aqui está, Eugene Baylor, Rua 147 Sudoeste, 1024.
—
Acho que já o vi aqui em alguma parte —. Berenice examinou suas anotações. —
Sim, é propriedade da Omni também.
—
Doar tudo à Omni S.A. deve ser um requisito para tornar-se membro.
—
Bem, então Young e Brummel são membros fundadores. Mas isso faz sentido. Se
todos desejam fundir em uma Mente Universal, têm de eliminar a individualidade,
e isso significa não ter propriedade privada.
Um a um, Marshall leu os nomes dos membros do conselho
diretor da faculdade, e Berenice pesquisou-lhes os endereços. Dos doze diretores,
oito moravam em casas da Omni S.A. Os outros alugavam apartamentos; um dos
prédios de apartamentos era da Omni. Berenice não tinha informação referente
aos outros prédios de apartamentos.
—
Acho que eliminamos a possibilidade de coincidência — disse Marshall.
—
E agora não posso esperar para ouvir o que o seu amigo Lemley tem a dizer.
—
Claro, que Kaseph e a Omni estão ligados. Isso é óbvio —. Marshall tirou um
momento para ponderar. — Mas sabe o que realmente me apavora? Até agora, tudo o
que vimos aqui é legal. Estou certo de que trapacearam em algum lugar para
chegarem onde estão, mas dá para ver que estão operando dentro do sistema, ou
pelo menos se saindo muito bem ao fingir que estão.
—
Ora, vamos, Marshall! Pela madrugada, ele está tomando a cidade toda!
— E
fazendo-o legalmente. Não se esqueça disso.
—
Mas ele tem de deixar rasto em algum lugar. Conseguimos descobrir a trilha
dele pelo menos até aqui.
Marshall inspirou profundamente e então soltou respiração com um
suspiro.
—
Bem, podemos tentar ir atrás de todas as pessoas que venderam as propriedades e
deixaram a cidade, tentar descobrir por que o fizeram. Podemos averiguar os
cargos que elas tinham antes de ir embora e quem está ocupando o cargo agora.
Podemos perguntar a quem ocupe o cargo agora que ligação tem com a Omni ou com
esse grupo de viagens mentais da Percepção Universal. Podemos perguntar a cada
um deles o que talvez saibam acerca do esquivo Sr. Kaseph. Podemos pesquisar
mais um pouco a própria Omni S.A., descobrir onde é sediada, em que negocia, e
do que mais é dona. E depois acho que será hora de levarmos o que sabemos
diretamente aos nossos amigos e ver a sua reação.
Berenice podia sentir algo palpável na maneira de
Marshall.
—
O que o está preocupando?
Marshall arremessou as notas sobre a mesa e reclinou-se
na cadeira para ponderar.
—
Bernie, seríamos bobos em pensar que estamos imunes a tudo isto.
Berenice assentiu com a cabeça, resignada.
—
Sim, tenho pensado nisso, sobre o que eles podem tentar fazer.
—
Acho que eles já têm a minha filha —. Uma declaração abrupta. O próprio
Marshall ficou chocado ao ouvi-la.
—
Você não sabe disso com certeza.
—
Se não sei disso, não sei de nada.
—
Mas que tipo de poder real eles poderiam exercer exceto econômico e político?
Eu não engulo essa história cósmica, espiritual; nada mais é do que uma viagem
da mente.
—
Isso é fácil para você dizer, você não é religiosa.
—
Verá que é muito mais fácil assim.
—
E se nós acabarmos como... como o Harmel, sem família, simplesmente se
escondendo no mato e falando de... fantasmas?
—
Eu não me importaria de acabar como o Strachan. Ele parece bastante cômodo
ficando longe de toda essa coisa.
—
Bem, Bernie, mesmo assim é melhor nos prepararmos antes que a coisa chegue —.
Muito grave, ele agarrou a mão dela e disse:
—
Espero que nós dois saibamos no que estamos nos metendo. Podemos já estar
atolados demais. Poderíamos desistir, suponho...
—
Você sabe que não podemos fazer isso.
—
Sei que eu não posso. Não estou esperando nada de você. Pode sair agora,
mudar-se, ir trabalhar para alguma revista feminina ou coisa parecida. Não me
importarei.
Ela sorriu e apertou com força a mão dele.
—
Morrendo todos, morrem felizes.
Marshall apenas meneou a cabeça e devolveu o sorriso.