quinta-feira, 6 de maio de 2021

Este mundo tenebroso - volume 01 - Capítulo 23


 Quando as coisas no escritório estavam na costumeira calma de quarta-feira, Marshall mandou Carmem procurar uma caixa de papelão bem grande e algumas pastas de arquivo e começou a organizar as pilhas de papéis, registros, documentos, anotações e outras informações que ele e Berenice haviam reunido em sua investigação. Enquanto repassava tudo, ele também compilou uma lista de perguntas, perguntas que ele tencionava usar na entre­vista com o primeiro dos reais protagonistas do enredo: Alf Brummel. Nessa tarde, depois que Carmem foi ao dentista, Marshall ligou para o escritório de Alf Brummel.

— Departamento de Polícia — disse a voz de Sara.

— Oi, Sara, aqui é Marshall Hogan. Posso dar uma palavrinha com o Alf?

— Ele não está no escritório no momento... — Sara soltou pro­longado suspiro e acrescentou em tom de voz muito estranho, muito baixo:

— Marshall... Alf Brummel não quer falar com você. Marshall teve de pensar por um instante antes de dizer:

— Sara, você está envolvida com a coisa? O tom de Sara foi de ofensa.

— Talvez esteja, não sei, mas Alf me disse que eu não devo com­pletar nenhuma ligação sua e que eu devo contar a ele quais são as suas intenções.

— Ah...

— Olhe, não sei onde termina a amizade e onde começa a ética profissional, mas eu bem que gostaria de saber o que está acontecendo aqui.

— O que está acontecendo aí?

— O que você me dá em troca? Marshall sabia que se estava arriscando.

— Acho que posso encontrar algo de valor igual. Sara teve um instante de hesitação.

— Pelo que tudo indica, você se tornou o pior inimigo dele. De vez em quando ouço o seu nome através da porta do escritório, e nunca proferido de maneira agradável.

— Com quem ele está falando quando profere o meu nome?

— Ah-ah. É a sua vez.

— Está bem. Olhe, nós falamos sobre ele também. Falamos bastante sobre ele, e se tudo o que descobrimos for verdade, sim, eu poderia mesmo ser o seu pior inimigo. Agora, com quem ele fala?

— Alguns eu já vi antes, alguns nunca vi. Ele fez diversas ligações para Juleen Langstrat.

— Quem mais?

— O juiz Baker foi um deles, e diversos membros da câmara dos vereadores...

— Malone?

— Sim.

— Everett?

— Sim.

— Preston?

— Não.

— Goldtree?

— Sim, e mais outras pessoas importantes, e depois Spence Nelson do Departamento de Polícia de Windsor, o mesmo departamento que forneceu homens para ajudar no Festival. Quero dizer que ele tem falado com uma porção de gente, muito mais do que o normal. Al­guma coisa está acontecendo. O que é?

Marshall precisava ter cuidado.

— Pode estar relacionado com o Clarim e comigo, e pode não estar.

— Não sei se aceitarei isso.

— Não sei se posso confiar em você. De que lado você está?

— Depende de quem for o bandido. Sei que a reputação de Alf é duvidosa. E a sua?

Marshall sorriu diante da coragem dela.

— Você terá de julgar por si mesma. Tento realmente publicar um jornal honesto, e temos feito uma investigação muito extensa não apenas do seu chefe mas também de praticamente todos os man­dachuvas da cidade...

— Ele sabe disso. Todos eles sabem.

— Bem, já falei com quase todos eles. Alf é o próximo na minha lista.

— Acho que ele sabe disso também. Ele me disse hoje pela manhã que não queria falar com você. Mas está falando pelos cotovelos com todos os outros, e acabou de sair com uma pilha de papéis debaixo do braço, rumo a outra reunião sigilosa com alguém.

— Alguma idéia a respeito do que eles vão fazer comigo?

— Oh, pode estar certo de que farão alguma coisa, e tenho a im­pressão de que estão carregando a arma com carga de chumbo pesado. Considere-se avisado.

— E eu a aconselharia a ser um anjo doce e ignorante que não sabe nada e não diz nada. As coisas podem ficar pretas.

— Se ficarem, posso procurar as respostas com você, ou pelo menos conseguir uma passagem para outra cidade?

— Acertaremos alguma coisa.

— Eu lhe darei qualquer coisa que descobrir se você me mantiver a salvo.

Marshall percebeu pela voz dela que a moça estava apavorada.

— Ei, calma, lembre-se de que não lhe pedi que se envolvesse.

— Eu não pedi para me envolver. Aconteceu. Conheço Alf Brum­mel. Acho melhor ter você como meu amigo.

— Manterei você informada. Agora desligue e aja com naturali­dade.

Foi o que ela fez.

 Alf Brummel estava no escritório de Juleen Langstrat, e ambos examinavam uma pasta grossa de informações que Brummel havia trazido.

— Hogan já tem o bastante para preencher a primeira página! — disse Brummel com ar infeliz. — Você me censurou por demorar em dar um jeito em Busche, mas pelo que estou vendo, você deixou Hogan com o caminho livre desde o princípio.

— Acalme-se, Alf — disse Langstrat de modo tranqüilizador. — Acalme-se.

— Ele virá atrás de mim para me entrevistar a qualquer hora, da mesma forma que procurou todos os outros. O que sugere que eu lhe diga?

Langstrat mostrou-se um pouco chocada com a burrice dele.

— Não diga nada, é claro!

Brummel andou pelo aposento, exasperado.

— Não preciso, Juleen! A esta altura nada do que eu diga ou deixe de dizer não fará nenhuma diferença mesmo. Ele já tem tudo o de que precisa: sabe da venda das propriedades, tem boas pistas em todas as vendas judiciais das casas com impostos atrasados, sabe tudo a respeito da companhia e da Sociedade, e tem boas informações acerca do desvio de fundos da faculdade... tem até prova mais do que suficiente para acusar-me de prisão indevida!

Langstrat sorriu satisfeita.

— Sua espiã saiu-se muito bem.

— Ela me trouxe uma porção deste material hoje. Ele está orga­nizando tudo num arquivo no momento. Está prestes a dar o seu golpe, eu diria.

Langstrat reuniu todo o material em ordem, colocou-o de volta na pasta, e reclinou-se na cadeira.

— Adorei.

Brummel fitou-a embasbacado e sacudiu a cabeça.

— Você pode sair perdendo neste jogo algum dia, você sabe. Todos nós podemos sair perdendo!

— Adoro um desafio — exultou ela. — Adoro enfrentar um ad­versário forte. Quanto mais forte o adversário, mais estimulante a vitória! Mais do que tudo, adoro ganhar —. Ela sorriu, realmente satisfeita. — Alf, já tive minhas dúvidas a seu respeito, mas acho que você se saiu muito bem. Acho que deve estar presente para ver o Sr. Hogan cair na armadilha.

— Só acreditarei quando o vir com meus próprios olhos.

— Oh, você verá. Verá.

 Houve uma breve calmaria, e a cidade de Ashton ficou estranha­mente quieta. As pessoas não se comunicavam. Ninguém dizia quase nada.

Durante o dia, Marshall e Berenice organizavam seu material e permaneciam no escritório. Marshall levou Kate para jantar fora uma noite. Berenice ficou em casa e tentou ler um romance.

Alf Brummel trabalhava em horário regular, mas não tinha muito o que dizer a Sara ou a qualquer outra pessoa acerca de nada. Os Colemans visitaram parentes de outra cidade. Os Forsythes apro­veitaram a oportunidade para fazer um balanço na serraria. O restante do Remanescente continuou na vida de sempre.

Era estranha a calma que pairava sobre tudo. O céu estava enevoado, o sol era um borrão luminoso redondo, o ar estava quente e pegajoso. Tudo quieto.

Mas ninguém conseguia se «descontrair.

Bem acima da cidade, no topo da protuberância acinzentada de uma velha árvore morta havia muito tempo, qual enorme urubu ne­gro, sentava-se Rafar, Príncipe da Babilônia. Outros demônios o cer­cavam, esperando sua próxima ordem, mas Rafar se calava. Hora após hora, a cara franzida, sentado, ele olhava a cidade em baixo com lentos movimentos dos olhos amarelos.

Em outra colina, no outro lado da cidade e na direção exatamente oposta à da grande árvore morta onde se encontrava Rafar, Tal e seus guerreiros se ocultavam no bosque. Eles também corriam o olhar pela cidade, e sentiam a calmaria, o silêncio, a sinistra apatia do ar.

Guilo estava ao lado do seu capitão, e conhecia essa sensação. Havia sempre sido a mesma através dos séculos.

— Pode acontecer a qualquer minuto agora. Estamos prontos? — perguntou ele a Tal.

— Não — disse Tal terminantemente, correndo o olhar intenso pela cidade. — Nem todo o Remanescente está reunido. Os que se reuniram não estão orando, não o suficiente. Não temos o número nem a força.

— E a nuvem negra de espíritos acima do Valente se multiplica por cem a cada dia.

Tal ergueu os olhos ao céu de Ashton.

— Eles encherão o céu de horizonte a horizonte.

Do seu esconderijo, eles podiam enxergar o outro lado do vale, a uma distância de diversos quilômetros, e viam seu hediondo adver­sário sentado na grande árvore morta.

— Sua força não diminuiu — disse Guilo.

— Ele está mais do que pronto para a batalha — disse Tal — e pode escolher o tempo e o lugar que quiser, e seus melhores guer­reiros. Poderia atacar em cem frentes ao mesmo tempo.

Guilo apenas meneou a cabeça.

— O senhor sabe que não podemos defender tantas frentes assim. Nesse exato momento, um mensageiro veio voando apressado em sua direção.

— Capitão — disse ele, pousando perto de Tal — trago notícias do covil do Valente. Algo se está movendo lá. Os demônios estão ficando impacientes.

— Está começando — disse Tal, e essa palavra foi passada a todos os guerreiros. — Guilo!

Guilo apresentou-se.

— Capitão!

Tal levou Guilo a um lado.

— Tenho um plano. Quero que você leve um pequeno contingente e monte guarda ao vale...

Guilo não costumava discutir com o capitão, mas:

— Um pequeno contingente? Para vigiar o Valente?

Os dois continuaram a conferenciar, Tal explicando suas instru­ções, Guilo meneando a cabeça com ar de dúvida. Depois de bom tempo, Guilo voltou para o grupo, escolheu seus guerreiros e disse:

— Vamos!

Com grande movimentação das asas, as duas dúzias de guerreiros serpearam e ziguezaguearam pela floresta até ter-se distanciado o suficiente para voar a céu aberto.

Tal convocou um forte guerreiro.

— Tome o lugar de Signa na guarda da igreja e diga-lhe que venha aqui.

A seguir, ele chamou outro mensageiro.

— Diga a Krioni e Triskal que despertem a Hank e o façam orar, e também todo o Remanescente.

Em um instante Signa chegou.

— Venha comigo — disse Tal. — Vamos conversar.

A tarde tinha transcorrido calma para Hank e Mary. Mary havia passado a maior parte na pequena horta atrás da casa, enquanto Hank consertava um canto da cerca do quintal. Enquanto Mary procurava ervas daninhas entre os seus legumes, notou que as marteladas de Hank foram ficando cada vez mais esporádicas até cessarem total­mente. Ela olhou para o lado dele e o viu sentado, o martelo ainda na mão, orando.

Ele parecia muito perturbado, de modo que ela perguntou:

— Você está bem?

Hank abriu os olhos, e sem olhar para cima sacudiu a cabeça.

— Não me estou sentindo nada bem. Ela foi até onde ele estava.

— O que é?

Hank sabia de onde vinha a sensação.

— O Senhor, eu acho. Sinto que algo está muito errado. Algo ter­rível está prestes a acontecer. Vou ligar para os Forsythes.

Nesse exato momento o telefone tocou. Hank entrou na casa para atender. Era Andy Forsythe.

— Desculpe incomodar, Pastor, mas queria saber se você está sen­tindo uma irresistível necessidade de orar agora. Eu sei que estou.

— Venha aqui — disse Hank. A cerca teria de esperar.

Noite adentro, o exército celestial esperou, enquanto Hank, os Forsythes, e diversos outros oravam. Rafar continuava sentado na árvore morta, os olhos principiando a fulgurar na escuridão cada vez mais espessa. Os dedos em garras continuavam a tamborilar nos joelhos; a fronte permanecia enrugada em intensa carranca. Atrás dele, um exército de demônios começou a reunir-se, aquecido em antecipação e muito atento, esperando a ordem.

O sol se pôs no oeste por trás das colinas; o céu estava banhado em rubras chamas.

Rafar, sentado, esperava. O exército demoníaco esperava.

 Em seu quarto, Juleen Langstrat estava sentada na cama, as pernas cruzadas na posição de loto de meditação oriental, os olhos cerrados, a cabeça ereta, o corpo perfeitamente imóvel. A não ser pela luz de uma única vela, o quarto estava escuro. Ali, sob o manto da escuridão, ela convocou uma reunião com os Mestres Elevados, os Guias Es­pirituais dos planos mais altos. Nas profundezas do seu estado cons­ciente, bem no fundo do seu ser íntimo, ela conversava com uma mensageira.

Aos olhos da mente em transe de Langstrat, a mensageira apareceu como uma jovem, toda vestida de branco, com esvoaçantes cabelos loiros que quase chegavam ao chão e se mantinham em constante movimento, soprados pela brisa.

— Onde está o meu senhor? — perguntou Langstrat à mensageira.

— Ele aguarda acima da cidade, vigiando-a — veio a resposta da moça. — Seus exércitos esperam prontos a sua palavra.

— Está tudo pronto. Ele pode aguardar o meu sinal.

— Sim, senhora.

A mensageira partiu qual linda gazela, saltitando graciosamente.

A mensageira partiu, um imundo pesadelo negro de criatura, le­vado por asas membranosas; partiu a fim de levar o aviso a Rafar que ainda aguardava.

A escuridão aumentou sobre Ashton; a vela no quarto de Langstrat derreteu até tornar-se redonda chama evanescente em uma poça de cera, a tinta negra da noite dominando sua luz fraca, alaranjada. Langstrat despertou, abriu os olhos embaçados, e ergueu-se da cama. Com um sopro muito leve ela apagou a vela e, ainda meio estonteada, dirigiu-se à sala de estar onde outra vela queimava na mesinha de centro, a cera escorrendo e endurecendo em dedos macabros por cima da foto de Ted Harmel sobre a qual a vela fora colocada.

Langstrat caiu de joelhos ao lado da mesinha, a cabeça erguida, os olhos semicerrados, os movimentos lentos e lânguidos. Como que flutuando no espaço, seus braços se ergueram por sobre a vela, abrindo um dossel invisível sobre a chama, e depois, muito baixinho, o nome de um deus antigo começou a se formar em seus lábios vez após vez. O nome, um som gutural, áspero, jorrava como se ela estivesse cuspindo centenas de pedregulhos invisíveis, e a cada men­ção do nome, o seu transe se aprofundava. O nome brotava, mais alto e mais depressa, e os olhos de Langstrat se arregalaram e per­maneceram sem piscar, olhando fixamente. Seu corpo pôs-se a es­tremecer e a tremer; a voz tornou-se um lúgubre gemido.

Rafar a tudo ouvia do lugar onde estava sentado esperando. Sua própria respiração começou a se aprofundar e explodir das narinas como pútrido vapor amarele. Seus olhos se entrefecharam, suas gar­ras se flexionaram.

Langstrat oscilava e estremecia, chamando o nome, chamando o nome, os olhos fixos na chama da vela, chamando o nome.

E então ela ficou imóvel.

Rafar olhou para cima, muito quieto, muito atento, escutando.

O tempo se deteve. Langstrat permaneceu imóvel, os braços es­tendidos sobre a vela.

Rafar escutava.

O ar começou a fluir lentamente para dentro da boca e das narinas de Langstrat, seus pulmões se encheram, e então, com um brado súbito que veio das profundezas do seu ser, ela baixou as mãos como uma armadilha, batendo com elas sobre o pavio da vela, apagando a chama.

— Partam! — gritou Rafar, e centenas de demônios arremeteram ao céu como um bando trovejante de morcegos, voando ao longo de uma trajetória reta e nivelada rumo ao norte.

— Olhe — disse um guerreiro angélico, e Tal e seu exército viram o que parecia um negro enxame recortado contra o céu noturno, um alongado tufo de fumaça.

— Dirigem-se ao norte — observou Tal. — Para longe de Ashton. Rafar observou o esquadrão desaparecer a grande velocidade e permitiu que um riso zombeteiro lhe descobrisse as presas.

— Mantê-lo-ei na incerteza, Capitão do Exército! Tal gritou as ordens.

— Cubram Hogan e Busche! Acordem o Remanescente! Uma centena de anjos desceram planando à cidade.

Tal ainda conseguia ver Rafar sentado na grande árvore morta.

— Afinal, quais são os seus planos, Príncipe da Babilônia? — mur­murou ele.

 O telefone despertou Marshall de um sono inquieto. O relógio mostrava 3:48 da madrugada. Kate gemeu por ter sido acordada. Ele agarrou o aparelho e resmungou alô.

Por um instante, não teve a menor idéia quanto a quem estava do outro lado ou do que a pessoa estava falando. A voz era descontro­lada, histérica, esganiçada.

— Ei, acalme-se e fale mais devagar senão desligo! — disse Mars­hall bruscamente, a voz rouca. De repente, ele reconheceu a voz. — Ted? É Ted?

— Hogan — veio a voz de Ted Harmel — eles vieram me pegar. Estão por toda a parte!

Marshall estava acordado agora. Pressionou o aparelho contra a orelha, tentando entender o que Ted dizia.

— Não estou ouvindo! O que disse?

— Eles descobriram que eu falei! Estão por toda a parte!

— Quem?

Ted começou a chorar e a berrar ininteligivelmente, e aquele som foi suficiente para fazer com que as entranhas de Marshall se crispassem. Ele tateou por cima do criado-mudo à procura da caneta e bloco.

— Ted! — gritou no telefone, e Kate, assustada, voltou-se brus­camente para olhá-lo. — Onde está você? Na sua casa?

Kate podia ouvir os gritos e gemidos saindo do aparelho, e eles a deixaram nervosa.

— Marshall, quem é? — exigiu ela.

Marshall não podia responder; estava ocupado demais tentando obter uma resposta clara de Ted Harmel.

— Ted, escute, diga-me onde está —. Pausa. Outros gritos. — Como chego aí? Eu disse, como chego aí? — Marshall pôs-se a rabiscar apressadamente. — Tente sair se puder...

Kate ouvia, mas não conseguia entender o que a pessoa do outro lado da linha dizia. Marshall disse:

— Escute, vou levar pelo menos meia hora para chegar aí, e isso se eu conseguir encontrar um posto de gasolina aberto. Não, eu irei, apenas agüente firme. Está bem? Ted? Está bem?

— Quem é Ted?

— Está bem — disse Marshall no telefone. — Dê-me um tempinho e chegarei aí. Acalme-se. Até já.

Ele desligou o telefone e saltou da cama.

— Mas, afinal, quem era? — Kate precisava saber.

Marshall agarrou as roupas e começou a vestir-se apressadamente.

— Ted Harmel, lembra-se, eu lhe falei a respeito dele...

— Você não está indo lá esta noite, está?

— O cara está ficando maluco, ou algo assim. Não sei.

— Volte para a cama!

— Kate, tenho de ir! Não posso perder esse contato.

— Não! Não acredito! Você não pode estar falando sério! Marshall estava falando sério. Despediu-se de Kate com um beijo antes mesmo que ela chegasse a acreditar que ele estava indo de fato, e então ele já não estava ali. Ela permaneceu sentada na cama por uns momentos, atordoada, depois caiu de costas enraivecida, fitando o teto enquanto ouvia o carro dando ré e arremetendo-se noite a adentro.