quinta-feira, 6 de maio de 2021

Este mundo tenebroso - volume 01 - Capítulo 25


 Logo após ter falado com Marshall, Berenice ligou para Kevin Weed, mas ninguém atendeu o telefone. Provavel­mente ele estivesse trabalhando com o pessoal da madeireira aquele dia. Ela rebuscou o arquivo e encontrou o número do telefone da Madeireira Irmãos Gorst.

Disseram-lhe que Kevin não havia aparecido, e que se ela o visse era bom dizer-lhe que aparecesse depressa ou estaria despedido.

Ela discou o número do Bar Sempre-Verde em Baker. Dan, o pro­prietário, atendeu.

— Claro — disse ele — Weed esteve aqui de manhã, como sempre. Só que estava mais azedo que limão. Puxou briga com um dos com­panheiros e tive de botar os dois para fora.

Berenice deixou com Dan o número do Clarim, caso visse Weed novamente. Então desligou e pensou por um momento. Não seria muito difícil pegar o carro e ir a Baker; além disso, ordens eram ordens. Ela examinou o horário daquele dia e tentou dispor suas tarefas de modo que acomodasse a viagem.

— Carmem — disse, agarrando o casaco e a bolsa — acho que estarei fora o resto do dia. Se Marshall ligar diga-lhe que fui averiguar certa fonte. Ele saberá o que quero dizer.

— Certo — disse Carmem.

Baker ficava cerca de vinte e cinco quilômetros ao norte pela Ro­dovia 27; os apartamentos onde Weed morava localizavam-se a pouco mais de três quilômetros antes da chegada à cidadezinha. Berenice encontrou-os sem grande dificuldade, um triste conjunto de cubí­culos apodrecidos enfileirados num velho depósito desbotado pelo sol. O nariz de Berenice lhe disse que o sistema de esgoto estava com problema.

Ela subiu pela escada de tábuas até a plataforma de carregamento que agora servia de pátio e entrada. Entrando, ela se espantou com a escuridão do prédio. Olhando pelo longo corredor, ela notou muitas portas bem próximas umas das outras. Aquilo não eram apartamen­tos, eram cubículos.

A moça ouviu passos nas velhas tábuas do andar de cima, passos que agora desceram a escadaria às suas costas. Ela voltou a cabeça apenas o suficiente para ver um tipo de aparência desagradável, uma aparição magricela, o rosto cheio de espinhas, as roupas de couro preto. Prontamente, ela resolveu que tinha um compromisso urgente na outra ponta do corredor e pôs-se a caminhar nessa direção.

— Olá — chamou o homem. — Procurando alguém? Rápido, Berenice.

— Apenas visitando um amigo, obrigada.

— Boa visita — disse ele, e continuou medindo-a de alto a baixo como se ela fosse um filé.

Ela caminhou depressa pelo corredor, na esperança de que não desse num beco sem saída, e embora não olhasse para trás, sabia que ele ainda estava de olho nela. Hogan, você me paga por isto.

Como ela ficou contente ao encontrar outro lance de escadas que levavam ao andar de cima. O número do apartamento de Weed estava na casa dos duzentos, e ela subiu as escadas. Os degraus eram velhas tábuas gastas, e a iluminação provinha de uma simples lâmpada pendurada de uma viga muito alta. Uns trinta anos antes, alguém havia tentado pintar as paredes. Ela foi subindo em círculos, igno­rando os dizeres repulsivos pichados por toda a parte, os sapatos produzindo ruídos ocos nas escadas.

Chegando ao corredor de cima, ela voltou, seguindo os números decrescentes nas portas. De trás de algumas vinham sons de novelas, estações FM de música rock, brigas conjugais.

Ela encontrou a porta de Weed e bateu; ninguém atendeu. Mas as batidas fizeram a porta ceder e ir-se abrindo devagar. A moça deu-lhe uma ajudazinha silenciosa.

A confusão era total. Berenice já tinha visto casa de gente bagunceira, mas como conseguia Weed viver numa condição de desastre como essa?

— Kevin? — chamou ela.

Não houve resposta. Ela entrou e fechou a porta.

Tinha de ser vandalismo; Weed não possuía muita coisa, mas o pouco que tinha estava jogado, quebrado, derramado, e espatifado. Havia papéis e bugigangas por todos os lados, o pequeno leito no canto estava de pernas para cima, o violão estava furado e emborcado no chão, as lâmpadas que pendiam do teto estavam quebradas, os poucos pratos de segunda mão em cacos por todo o chão da pequena cozinha. Então ela viu palavras pintadas de ponta a ponta numa das paredes, uma ameaça incrivelmente obscena.

Por longo tempo, ela não se moveu. Estava atemorizada. A inferência era bastante clara — quanto tempo ainda antes que ela ou Marshall também fossem atacados? Tentou adivinhar o que Marshall encontraria na casa de Strachan, tentou adivinhar em que estado estaria a sua própria casa, e percebeu que não podia chamar a polícia; a polícia estava do lado deles.

Afinal, ela deslizou silenciosamente pela porta, escreveu um bi­lhete rápido, caso Weed voltasse, e enfiou-o na rachadura logo acima da maçaneta. Ela olhou para todos os lados, seguiu pelo corredor e desceu as escadas novamente.

Apenas um lance abaixo do segundo andar, uma parede formava um canto cego entre dois lances no patamar do meio. Berenice estava acabando de pensar em como não gostava de cantos cegos num lugar desses, e como a iluminação era fraca...

Uma figura negra, dos degraus de baixo, saltou em cima dela. Seu corpo foi atirado com força contra a velha parede de tábuas enquanto os dentes se chocavam uns contra os outros.

O homem vestido de couro! Uma mão áspera, suja, agarrou a blusa. Um violento puxão para o lado. Tecido rasgando, seu corpo revi­rando. Um impacto e uma explosão no seu ouvido esquerdo. Um rosto indistinto, cheio de ódio.

Ela estava caindo. Os braços se estenderam procurando a parede, estavam moles, dobraram-se, ela escorregou e caiu ao chão. Uma bota preta eclipsou sua visão, os óculos foram calcados em seu rosto, sua cabeça bateu contra a parede. Ela ficou dormente. Seu corpo conti­nuou sendo sacudido — ele ainda a estava espancando.

Passo a passo a passo a passo a passo a passo a passo — ele se foi.

Ela estava sonhando, a cabeça rodopiava, havia sangue no chão e os óculos, feitos em pedaços. Ela se afundou contra a parede, sen­tindo ainda o punho do homem no ouvido, e a bota em seu rosto, e ouvindo o sangue pingar da boca e do nariz. O chão a atraiu como um ímã até sua cabeça finalmente bater nas tábuas.

Ela choramingou, um som gorgolejante à medida que sangue e saliva borbulhava sobre a sua língua. Ela cuspiu tudo, ergueu a cabeça e clamou numa voz meio grito, meio gemido.

De algum lugar acima dela, as tábuas começaram a martelar e estrondear com súbito fluxo de tráfego. Ela ouviu gente gritando, praguejando, descendo estrepitosamente os degraus. Não conseguia se mexer; continuava a sonhar enquanto luz e som apareciam e su­miam, estavam ali, não estavam ali. Mãos puseram-se a segurá-la, movê-la, ampará-la. Um pano limpou-lhe a boca. Ela sentiu o calor de um cobertor. Uma toalha continuava a limpar-lhe o rosto. Ela gorgolejou de novo, cuspiu de novo. Ouviu alguém praguejar de novo.

 Embora o investigador da Delegacia de Windsor continuasse ten­tando, Marshall não respondia às suas perguntas.

— O caso é de homicídio, moço! — disse o detetive. — Ora, fomos informados por fontes de confiança de que você esteve na casa de Harmel hoje cedo, bem próximo à hora da morte. Tem alguma coisa a dizer a esse respeito?

Esse cretino nasceu ontem, pensou Marshall. Claro, seu bandido, vou-lhe contar tudo a fim de me ferrar! Qual homicídio, qual o quê!

Mas o que realmente incomodava Marshall era essa "fonte de con­fiança", e como ela não apenas sabia que ele estivera na casa de Harmel, como também sabia que os tiras poderiam encontrá-lo na casa de Strachan. Ainda estava tentando encontrar a solução para esse enigma.

O detetive perguntou:

— Então você não vai dizer nada? Marshall nem mesmo assentiu com a cabeça.

— Bem — disse o detetive dando levemente de ombros — pelo menos me dê o nome do seu advogado. Vai precisar dele.

Marshall não tinha uni nome para dar e não conseguia nem mesmo pensar em algum. Passou a ser um jogo de espera.

— Spence — disse um auxiliar — uma ligação de Ashton para você.

O detetive ergueu o telefone que estava na sua mesa.

— Nelson. Alô, Alf. O que há? Alf Brummel?

— Sim — disse o detetive — está bem aqui. Você quer falar com ele? Conosco é que ele não quer falar.

Ele ofereceu o aparelho a Marshall, dizendo: — Alf Brummel. Marshall pegou o receptor.

— Sim, aqui é Hogan.

Alf Brummel, fingiu-se chocado e consternado.

— Marshall, o que está acontecendo?

— Não posso dizer.

— Disseram-me que Ted Harmel foi assassinado e que você é um dos suspeitos. É verdade?

— Não posso dizer.

Alf estava começando a entender.

— Marshall... escute, telefonei para ver se posso ajudar. Ora, estou certo de que houve um engano e estou certo de que podemos chegar a algum acordo. O que você estava fazendo na casa de Harmel, afinal de contas?

— Não posso dizer.

Essa resposta o perturbou.

— Marshall, pela madrugada, quer se esquecer de que sou um tira? Também sou seu amigo. Quero ajudá-lo!

— Faça-o.

— Eu quero. De verdade. Agora escute, deixe-me falar com o De­tetive Nelson novamente. Talvez eu possa arranjar alguma coisa.

Marshall entregou o aparelho a Nelson. Nelson e Brummel con­versaram um pouco, demonstrando que se conheciam muito bem.

— Olhe, pode ser que você consiga fazer mais com ele do que eu jamais conseguirei — disse Nelson de maneira muito agradável. — Claro, por que não? Ah? Sim, está bem —. Nelson olhou para Mars­hall. — Ele teve que atender outra chamada. Acho que ele se res­ponsabilizará por você, e penso que assumirá jurisdição do seu caso, se houver caso.

Marshall acenou com a cabeça, sabendo de sobra o que se seguiria. Agora Brummel o teria exatamente onde queria. Se houvesse um caso! Se não houvesse, Brummel acharia um. O que seria agora, Harmel e Hogan na chefia de uma quadrilha de molestadores de crianças com um assassínio de bandidos?

Nelson ouviu Brummel voltar à linha.

— Sim, alô. Sim, claro.

Nelson entregou novamente o aparelho a Marshall.

Brummel estava contrariado ou pelo menos parecia contrariado.

— Marshall, foi o departamento de bombeiros que acabou de ligar. Acabaram de enviar um carro na direção de Baker. É Berenice. Ela foi assaltada.

Marshall jamais havia pensado que gostaria que Brummel estivesse mentindo.

— Diga-me mais.

— Não saberemos mais até que cheguem lá. Não vai demorar. Es­cute, eles vão soltá-lo em reconhecimento pessoal sob minha super­visão. É melhor você voltar imediatamente para Ashton. Pode se encontrar comigo no meu escritório, digamos, às 3:00hs?

Marshall, tentando conter os palavrões que tinha para aquela em­brulhada, pensou que teria um ataque.

— Estarei aí, Alf. Nada poderia impedir-me.

— Ótimo, até às três.

Marshall devolveu o aparelho a Nelson. Nelson sorriu e disse:

— Levaremos você de volta ao seu carro.

 O homem de roupas de couro preto estava de volta a Ashton, correndo pelas ruas e depois pelas vielas como um possesso, olhando para atrás, arquejando, gritando, aterrorizado.

Cinco espíritos cruéis, montados nas costas dele, entravam e saíam do seu corpo, apegavam-se a ele como enormes sanguessugas, as garras enterradas em sua carne. Mas não estavam no controle. Tam­bém estavam aterrorizados.

Logo acima dos cinco demônios e de sua vítima em disparada, seis guerreiros angélicos flutuavam com as espadas desembainhadas, movendo-se para a esquerda e para a direita, fazendo o que fosse ne­cessário a fim de tocar os demônios na direção certa.

Os demônios sibilavam, cuspiam e tentavam afastar seus perse­guidores abanando as mãos entrecortadas de nervos.

O rapaz corria, tentando afugentar abelhas invisíveis.

O rapaz e seus demônios chegaram a uma esquina. Tentaram ir para a esquerda. Os anjos bloquearam o caminho e os incitaram com as espadas à direita. Com um grito e um terrível gemido, os demônios fugiram para a direita.

Os demônios começaram a pedir misericórdia.

— Não! Deixem-nos em paz! — imploraram. — Vocês não têm esse direito!

Logo adiante, Hank Busche e Andy Forsythe vinham andando juntos, conversando acerca dos seus encargos e orando.

Ao lado deles caminhavam Triskal, Krioni, Sete e Scion. Os quatro guerreiros viram o que os seus camaradas tocavam em sua direção, e estavam mais do que preparados.

— Hora de uma lição objetiva para o homem de Deus — disse Krioni.

Triskal simplesmente chamou os demônios com o dedo e disse:

— Venham, venham!

Andy foi o primeiro a ver o homem.

— Ora... !

— O quê? -— perguntou Hank, vendo a cara estupefata de Andy.

— Prepare-se. Aí vem Bobby Corsi!

Hank olhou e sentiu-se encolher à vista de um tipo de aparência selvagem correndo em sua direção, os olhos cheios de terror, os

braços batendo o ar, debatendo-se com inimigos invisíveis. Andy advertiu:

— Cuidado. Ele pode ser violento!

— Oh, formidável!

Eles ficaram imóveis e esperaram para ver o que Bobby ia fazer. Bobby os viu e gritou mais aterrorizado ainda:

— Não, não! Deixem-nos em paz!

Guerreiros celestiais já era ruim, mas os cinco demônios não que­riam nada a ver com Busche e Forsythe. Eles torceram Bobby na outra direção e tentaram escapar, mas foram prontamente cercados pelos seis angélicos.

Bobby estacou bruscamente. Ficou fitando o nada à sua frente, depois olhou para Hank e Andy, depois olhou novamente para seus inimigos invisíveis. Deu um berro, parado onde estava, as mãos em forma de garras e tremendo, os olhos esbugalhados e embaçados.

Hank e Andy adiantaram-se devagar.

— Calma, Bobby — disse Andy suavemente. — Acalme-se.

— Não! — berrou Bobby. — Deixem-nos em paz! Não queremos nada com vocês!

Um anjo cutucou um dos demônios com a ponta da espada.

— Aiiii! — gritou de dor o rapaz, caindo de joelhos. — Deixem-nos em paz, deixem-nos em paz!

Hank adiantou-se rápido e disse com firmeza:

— No nome de Jesus, fique quieto! — Bobby soltou mais um berro. — Fique quieto!

Bobby aquietou-se e começou a chorar, ajoelhado na calçada.

— Bobby — disse Hank, inclinando-se e falando com brandura — Bobby, pode me ouvir?

Um demônio tapou os ouvidos de Bobby. Bobby não ouviu a per­gunta de Hank.

Hank, avisado pelo Espírito de Deus, sabia o que o demônio estava fazendo.

— Demônio, em nome de Jesus, solte os ouvidos do rapaz.

O demônio tirou bruscamente as mãos, um olhar surpreso na face. Hank perguntou de novo:

— Bobby?

Desta vez Bobby respondeu:

— Sim, pregador, eu o ouço.

— Você quer-se ver livre desses espíritos? Imediatamente um demônio respondeu:

— Não, não quer! Ele nos pertence — e Bobby cuspiu as palavras no rosto de Hank:

— Não, não quer! Ele nos pertence!

— Espírito, fique quieto. Estou falando com Bobby.

O demônio não disse mais nada, mas afastou-se amuado. Bobby murmurou:

— Acabei de fazer uma coisa horrível... — Ele começou a chorar. — Você precisa me ajudar... Não posso parar de fazer esse negó­cio. ..

Hank falou baixinho de lado com Andy:

— Vamos levá-lo a um lugar onde possamos cuidar dele, onde ele possa fazer um escândalo, se precisar.

— A igreja?

— Vamos, Bobby.

Eles o tomaram pelos braços, ajudaram-no a levantar-se, e os três, e os cinco, e os seis, e os quatro dirigiram-se rua acima.

 Marshall atravessou Baker em alta velocidade e então deu uma passada rápida pelo conjunto de apartamentos onde Weed morava. Não parecia haver atividade ali, por isso ele se dirigiu a Ashton. Ao chegar ao hospital, viu o carro de socorro estacionado do lado de fora.

Um técnico de emergências médicas que estava prendendo a maca de volta no veículo informou a Marshall que ela estava na sala de pronto-socorro, duas portas abaixo.

Marshall explodiu pelas portas principais e num instante encon­trou a sala certa. Quando ia chegando à porta, ouviu um gemido de dor de Berenice.

Ela estava deitada numa mesa, sendo atendida por um médico e duas enfermeiras que lhe lavavam o rosto e colocavam curativos nos cortes. Ao vê-la, Marshall não mais conseguiu se conter; toda a raiva e frustração e terror daquele dia inteiro explodiram de seus pulmões em veemente imprecação.

Berenice respondeu com lábios inchados e sangrentos:

— Acho que isso diz tudo.

Ele correu para o lado da mesa e o médico e as enfermeiras lhe deram lugar. Tomando a mão de Berenice nas suas, ele não podia acreditar no que tinha acontecido. Seu atacante havia sido impie­doso.

— Quem lhe fez isto? — exigiu ele, o sangue a ferver.

— Percorremos os quinze rounds, chefe.

— Nada de palhaçada, Bernie. Você viu quem foi? O médico advertiu-o:

— Ei, calma, vamos cuidai dela primeiro...

Berenice sussurrou algo. Marshall não conseguiu entender. Ele se abaixou, chegando-se mais perto e ela sussurrou novamente, a boca inchada pronunciando indistintamente as palavras.

— Ele não me estuprou.

— Graças a Deus — disse Marshall, endireitando-se.

A reação dele não a satisfez. Ela acenou que ele se abaixasse de novo e escutasse.

— Tudo o que ele fez foi bater. Foi só o que fez.

— Não está satisfeita? — Marshall sussurrou de volta um tanto alto.

Entregaram à moça um copo d'água para lavar a boca. Ela girou a água na boca e cuspiu numa vasilha.

— A casa de Strachan estava em ordem? — perguntou. Marshall evitou responder. Perguntou ao médico:

— Quando posso falar com ela em particular? O médico pensou a respeito.

— Bem, ela vai para a radiografia dentro de alguns minutos...

— Dê-me trinta segundos — pediu Berenice — somente trinta se­gundos.

— Não pode esperar?

— Não. Por favor.

O médico e as enfermeiras saíram da sala. Marshall disse baixinho.

— A casa de Strachan estava uma bagunça; alguém realmente a revirou. Ele não estava lá. Não tenho a mínima idéia de onde ele está ou se está bem.

Berenice relatou:

— O apartamento de Weed estava assim também, e havia uma ameaça pichada na parede. Ele não apareceu no serviço hoje, e Dan do Bar Sempre-Verde disse que ele estava muito chateado com al­guma coisa. Não o encontrei.

— E agora eles me embrulharam na morte de Ted Harmel. Des­cobriram que estive lá hoje de manhã. Pensam que foi eu que o matei.

— Marshall, Susan Jacobson tinha razão: nosso telefone deve estar grampeado. Lembra-se? Você me ligou no Clarim e me disse que havia estado na casa de Ted e para onde ia a seguir.

— Sim, foi o que percebi. Mas isso quer dizer que os tiras de Windsor teriam de estar envolvidos também. Eles sabiam certinho onde e quando me encontrar na casa de Strachan.

— Brummel e o Detetive Nelson são assim, Marshall — disse Be­renice, erguendo dois dedos juntos.

— Eles devem ter ouvidos por toda a parte.

— Sabiam que eu estaria na casa de Weed sozinha... e quando... — disse Berenice. Foi então que percebeu outra coisa. — Carmem também sabia.

A revelação atingiu Marshall quase como uma sentença de morte.

  Carmem sabe uma porção de coisas.

— Fomos atingidos, Marshall. Acho que estão tentando nos dar

um aviso. Ele se endireitou.

— Espere só até eu encontrar Brummel! Ela agarrou a mão dele.

— Tome cuidado. Quero dizer, realmente tome cuidado! Ele beijou-lhe a testa.

— Boa radiografia!

Ele saiu do quarto qual touro furioso, e ninguém se atreveu a meter-se em seu caminho.