sexta-feira, 7 de maio de 2021

Este mundo tenebroso - volume 01 - Capítulo 35

O hotel em Orting era simpático, exótico, caseiro, exata­mente como o resto dessa cidade situada ao longo do rio Judd, na fronteira da floresta nacional. Era uma hospedaria para esportistas, construído e decorado em agradável tema de caça e pesca, de passeio nos bosques. Susan não queria encrencas ou atenção, portanto pagou para ter mais dois ocupantes no quarto aquela noite. Eles se dirigiram ao aposento e abaixaram os estores. Todos deram uma passada pelo banheiro, mas Berenice ficou lá um pouco mais, cuidadosamente enrolando de novo as faixas em torno das costelas e a seguir lavando o rosto. Mirou-se ao espelho e tocou os machucados muito de leve, assobiando com o que viu. Só poderia melhorar dali em diante.

Entrementes, Susan havia jogado a grande mala sobre a cama e a havia aberto. Quando Berenice finalmente saiu, Susan tirou um livrinho da mala e entregou-lhe.

— Foi aqui que tudo começou — disse ela. — É o diário de sua irmã.

Berenice não sabia o que dizer. Um brilhante não teria constituído tesouro maior. Pôde apenas baixar os olhos ao pequeno diário azul, o último elo restante a ligá-la à irmã morta, e a luta para acreditar que ele realmente ali se encontrava.

— Onde... como conseguiu isto?

— Juleen Langstrat assegurou-se de que ninguém o visse. Fez com que fosse roubado do quarto de Pat e deu-o a Kaseph, de quem eu roubei. Tornei-me a garota de Kaseph, como sabe; sua Serva, como ele dizia. Tinha acesso regular a ele o tempo todo, e ele confiava em mim. Encontrei o diário por acaso certo dia quando arrumava o seu escritório, e reconheci-o imediatamente pois costumava ver Pat es­crever nele quase todas as noites no nosso quarto do dormitório. Tirei-o às escondidas, li-o, e ele me despertou. Eu achava que Alex­ander Kaseph era... bem, o Messias, a resposta para toda a huma­nidade, um verdadeiro profeta da paz e da fraternidade universais...

 Susan fez ar de quem estava ficando enjoada.

— Oh, ele me encheu a cabeça com todo esse tipo de conversa, mas em algum lugar dentro de mim sempre tive minhas dúvidas. Esse livrinho aí disse-me que desse ouvido às dúvidas e não a ele.

Berenice folheou as páginas do diário. Datava de alguns anos atrás, e parecia muito detalhado. Susan continuou:

— Você pode não querer ler neste exato momento. Quando li esse diário... bem, fiquei nauseada durante dias.

Berenice queria o fim da história.

— Susan, você sabe como minha irmã realmente morreu? Susan disse enraivecida:

— Sua irmã Pat foi metódica e selvagemente destruída pela So­ciedade da Percepção Universal, ou eu deveria dizer pelas forças por trás da sociedade. Ela cometeu o mesmo erro fatal que vi tantos outros cometerem: descobriu muita coisa a respeito da Sociedade, de­monstrou ser inimiga de Alexander Kaseph. Escute, o que Kaseph quer, ele consegue, e não se importa com quem tenha de ser des­truído, assassinado ou mutilado para garantir isso —. Ela meneou a cabeça. — Eu tinha de estar cega para não ver o que estava aconte­cendo com Pat. Era exatamente o que deveria esperar!

— E que me diz de um homem chamado Thomas? Susan respondeu diretamente:

— Sim, foi Thomas. Ele foi o responsável pela morte de Pat —.

Em seguida, ela acrescentou um tanto enigmaticamente:

— Mas ele não era homem.

Berenice estava aos poucos começando a entender esse novo jogo com suas regras muito esquisitas.

— E agora vai me dizer que também não era mulher.

— Pat tinha um curso de psicologia, e um dos requerimentos era o de que ela participasse de um grupo de "cobaias" para experiências psicológicas... está no diário, lerá tudo. Um amigo persuadiu-a a participar de uma experiência que envolvia técnicas de descontração, e foi durante essa experiência que ela teve o que chamou de expe­riência psíquica, certo tipo de percepção de um mundo superior, como ela disse.

— Serei breve; pode ler tudo isso por si mesma depois. Ela se apaixonou profundamente pela experiência e não via ligação alguma entre essa exploração "científica" e as práticas "místicas" de que eu estava participando. Ela voltou freqüentemente, continuou a tomar parte nas experiências, e por fim entrou em contato com aquilo que chamou de "ser humano altamente evoluído e desencarnado" de outra dimensão, um ser muito sábio e inteligente chamado Thomas.

Berenice achou difícil aceitar o que estava ouvindo, mas segurava a documentação do relato de Susan, o diário da irmã.

— Então, quem era realmente esse Thomas? Apenas invenção dela?

— Há coisas que simplesmente terá de aceitar por enquanto re­plicou Susan com um suspiro. — Falamos de Deus, brincamos com a idéia de anjos; tentemos agora anjos malignos, entidades espirituais malignas. Para os cientistas ateus, eles poderiam aparecer como seres extraterrenos, geralmente em suas próprias naves espaciais; aos evolucionistas, podem alegar serem seres altamente evoluídos; aos so­litários, podem aparecer como parentes há muito mortos, falando de além túmulo; psicólogos jungianos consideram-nos "imagens arqué­tipas" desenterradas do consciente coletivo da raça humana.

— O quê?

— Ei, escute, qualquer descrição ou definição serve, qualquer que seja o formato, qualquer que seja a aparência necessária para con­quistar a confiança da pessoa e apelar à sua vaidade, essa é a apa­rência que eles tomam. E dizem à iludida pessoa que busca a verdade o que ela quiser ouvir até terem completo domínio sobre ela.

— Como um conto do vigário, em outras palavras.

— É tudo um conto do vigário: meditação oriental, bruxaria, fei­tiçaria, Ciência da Mente, cura psíquica, educação integralizada... oh, a lista não tem fim, é tudo a mesma coisa, nada mais que uma tapeação para tomar a mente e o espírito das pessoas, e até seus corpos.

Berenice repassou lembrança após lembrança de sua investigação, e as alegações de Susan encaixavam-se direitinho.

Susan continuou:

— Berenice, estamos lidando com uma conspiração de entidades espirituais. Eu sei. Kaseph está envolvido com muitas dessas enti­dades e recebe ordens delas. Elas fazem o trabalho sujo dele. Se alguém se mete no caminho dele, ele dispõe de inúmeros recursos no mundo espiritual para desvencilhar-se do problema da maneira que seja mais conveniente.

Ted Harmel, pensou Berenice. Os Carluccis. Quantos outros?

— Você não é a primeira pessoa que me diz isso.

— Espero ser a última que terá de fazê-lo. Kevin fez-se ouvir.

— Sim, lembro-me de como Pat falava em Thomas. Ele nunca dava a impressão de ser humano. Ela agia mais como se ele fosse um deus. Tinha de consultá-lo antes mesmo de resolver o que comer no café da manhã. Eu... eu achei que ela tinha arranjado um namorado, sabe, algum tipo machão chauvinista.

Susan entrou suavemente no arremate da história.

— Pat havia entregue a vontade a Thomas. Não demorou muito; geralmente não demora, uma vez que a pessoa realmente se submeta à influência de um espírito. Sem dúvida ele passou a controlá-la, depois a aterrorizá-la, depois convenceu-a de que... bem, os hindus chamam isso de carma; é a ilusão de que sua próxima vida será melhor que esta porque você fez um número suficiente de pontos. No caso de Pat, uma morte auto-infligida nada mais seria do que a forma de escapar ao mal deste mundo inferior e juntar-se a Thomas num estado superior de existência.

Susan folheou delicadamente as páginas do diário que ainda se encontrava nas mãos de Berenice, e encontrou o última anotação.

— Aí está. A última coisa no diário de Pat é uma carta de amor a Thomas. Ela planejava juntar-se a ele em breve, e chega a mencionar como fará isso.

A idéia de ler essa carta repelia Berenice, mas ela pôs-se a repassar as últimas páginas do diário da irmã. Pat escrevera no estilo de alguém que estivesse sob uma ilusão muito estranha que soava gran­diosa, mas ficava patente que ela também estava desorientada por um medo irracional da própria vida. Terrível sofrimento e angústia espiritual haviam tomado conta de sua alma, transformando-a da despreocupada Patrícia Krueger com quem Berenice havia sido criada em uma psicótica aterrorizada, sem rumo, totalmente desli­gada da realidade.

Berenice tentou continuar a leitura, mas começou a sentir antigas mágoas reabrindo-se; emoções que haviam esperado por esse exato momento de revelação final explodiram de seus esconderijos como um rio através da comporta aberta. As palavras rabiscadas e errantes nas páginas borraram atrás de súbita cascata de lágrimas, e todo o seu corpo foi sacudido por soluços. Tudo o que ela queria fazer era excluir o mundo, não dar atenção a essa mulher galante e a esse pobre madeireiro desgrenhado, deitar-se na cama, e chorar. E foi o que fez.

 Hank dormia tranqüilamente em seu leito na cela. Marshall não conseguia pegar no sono. Achava-se sentado no escuro, as costas de encontro às grades frias e duras da cela, a cabeça pendida, a mão dando voltinhas nervosas em torno do rosto.

Ele havia levado chumbo nas entranhas. Essa era a impressão que tinha. Nalgum canto, ele havia perdido a proteção do seu escudo, a força, a fachada forte e durona. Sempre havia sido Marshall Hogan, o caçador, o perseguidor, o que conseguia tudo o que queria com a atitude de saia-da-minha-frente, um inimigo que não podia ser su­bestimado, um cara que se virava sozinho.

Um estafermo, isso é o que era, e nada mais que um tolo. Esse Hank Busche tinha razão. Olhe para você, Hogan. Não se preocupe com Deus pisar na bola; você já pisou há muito tempo. Deu com os burros na água, cara. Achou que tinha tudo sob controle, e agora onde está a sua família, e onde está você?

Talvez tenha caído na esparrela desses demônios de quem Hank esteve falando, mas pode ser também que tenha caído na sua própria esparrela. Convenhamos, Marshall, que sabe por que lesou a sua família. Pura negligência, a mesma velha história. E gostou de tra­balhar com a sua repórter bonita, não gostou? Provocando-a, ati-rando-lhe bolinhas de papel, ora essa! Quantos anos tem, dezesseis?

Marshall deixou que a mente e o coração lhe dissessem a verdade, e sentiu que muito do que falaram já era do seu conhecimento em algum lugar mas ele nunca havia escutado. Por quanto tempo, co­meçou a perguntar-se, tinha mentido para si mesmo?

— Kate — sussurrou ali no escuro, os olhos brilhantes de lágrimas. — Kate, o que foi que fiz?

Uma grande mão atravessou a cela e tocou o ombro de Hank. Hank mexeu-se, abriu os olhos e disse baixinho:

— Sim, o que é?

Marshall chorava e disse em voz muito baixa:

— Hank, não presto. Preciso de Deus. Preciso de Jesus. Quantas vezes na vida havia Hank dito as palavras "Vamos orar."

Depois que diversos minutos se haviam passado, Berenice come­çou a sentir o dilúvio amainar. Ela se sentou, ainda fungando, mas tentado retornar ao negócio diante deles.

— Foi o que me despertou — reiterou Susan. — Achei que esses seres eram benevolentes; achei que Kaseph tinha todas as respostas. Mas vi a todos como realmente eram ao ler o que fizeram com a minha melhor amiga, Sua irmã.

Kevin perguntou:

— Então foi por isso que você me procurou no parque de diversões e pediu o meu número?

— Kaseph tinha uma reunião especial na cidade com Langstrat e outros conspiradores vitais, Oliver Young e Alf Brummel. Eu fui a Ashton com Kaseph, acompanhando-o como sempre, mas quando tive a oportunidade, escapuli. Tinha de aproveitar a chance de talvez encontrá-lo em algum lugar. Talvez tenha sido Deus outra vez; foi nada menos que milagroso o fato de ter encontrado você no parque. Eu precisava de um amigo no lado de fora em quem eu pudesse confiar, alguém obscuro.

Kevin sorriu.

— É, essa descrição me assenta muito bem. Susan continuou:

— Kaseph nunca gostou de sentir que não tinha controle absoluto sobre mim. Quando desapareci de vista no parque, ele provavelmente disse aos outros que fora ele quem me enviara lá e que eles se en­contrariam comigo. Quando ele me encontrou e me arrastou atrás daquela barraca idiota, falou aos outros como se eu tivesse ido à frente e escolhido aquele lugar.

Berenice disse:

— E foi nessa hora que apareci e tirei a foto de vocês!

— E Alf Brummel passou umas notas àquelas duas prostitutas e algumas instruções a alguns de seus amigos de Windsor, e você sabe o resto.

Susan dirigiu-se à mala.

— Mas vamos agora à notícia realmente importante. Kaseph fará a sua jogada amanhã. Há uma reunião especial marcada com os membros do conselho diretor da Faculdade Whitmore para as 14:00hs. A Omni S.A., como uma frente da Sociedade da Percepção Universal, tem planos de comprar a Faculdade Whitmore, e Kaseph vai fechar o negócio.

Os olhos de Berenice se escancararam de horror.

— Então tínhamos razão! Ele quer-se apoderar da faculdade!

— É boa estratégia. A cidade inteira de Ashton está praticamente construída em torno da faculdade. Uma vez que a Sociedade e Kaseph se estabeleçam em Whitmore, exercerão influência avassaladora so-

bre o resto da cidade. O pessoal da Sociedade afluirá ali como um enxame e Ashton se tornará outra "Cidade Sagrada da Mente Uni­versal". Já aconteceu um número suficiente de vezes antes, em outras cidades, em outros países. Berenice deu um soco na cama em frustração.

— Susan, temos os registros das transações financeiras de Eugene Baylor, prova que poderia mostrar como a faculdade foi arruinada. Mas não conseguimos entender nada daquilo!

Susan tirou uma latinha da mala.

— Na realidade, vocês só têm metade do quadro. Baylor não é nenhum bobo; sabia que teria de esconder o que fazia de forma que seu desfalque em favor da Omni não fosse percebido. Você precisa é da outra metade das transações: os registros do próprio Kaseph —. Ela estendeu a latinha para que eles vissem. — Eu não tinha espaço para todo o material. Não obstante, fotografei-o, e se pudéssemos revelar este filme...

— Temos um quarto escuro no Clarim. Poderíamos fazer as fotos imediatamente.

— Vamos sair daqui. Eles andaram depressa.

 O Remanescente continuava orando. Nenhum deles tinha podido ver ou mesmo receber notícias de Hank desde que fora preso. A delegacia estava o tempo todo nas mãos de policiais estranhos que ninguém jamais vira em Ashton antes, e nenhum deles sabia coisa alguma a respeito de como visitar alguém na cadeia, ou como pagar-lhes a fiança, nem permitiam que se tentasse descobrir como fazer isso. Parecia que Ashton se havia tornado um estado totalitário.

Medo, raiva e oração aumentaram. Algo terrível estava aconte­cendo à cidade, e todos eles sabiam disso vividamente, mas o que podia ser feito numa cidade cujas autoridades estavam surdas, em um município cujos gabinetes estavam fechados para o fim-de-se­mana?

As linhas telefônicas continuavam zumbindo, tanto dentro da ci­dade quanto em chamadas interurbanas a parentes e amigos, e todos esses caíram de joelhos em intercessão e ligaram para suas próprias autoridades e legisladores.

Alf Brummel manteve-se afastado do seu gabinete, evitando assim algum cristão aborrecido que lhe viesse com sermões acerca dos direitos constitucionais do seu pastor, ou do dever de um funcionário público de fazer a vontade do povo, ou qualquer outra coisa. Per­maneceu no apartamento de Langstrat andando de um lado a outro, preocupado, suando, esperando as 14:00 horas do domingo.

Vovó Duster continuava a orar e a assegurar a todos que Deus tinha tudo sob controle. Lembrou-lhes do que os anjos lhe haviam dito, e a seguir relembrou-os daquilo com que eles haviam sonhado, ou ouvido em pensamento enquanto oravam, ou visto numa visão, ou sentido em seus espíritos. E eles continuavam a orar pela cidade.

E por toda a parte, de todas as direções, novos visitantes conti­nuavam a chegar a Ashton, transportados em caminhões de feno ou passando-os na estrada, pedindo carona como fazem excursionistas no verão, deslizando pelos milharais e a seguir pelas ruas secun­dárias, rugindo cidade adentro como motoqueiros doidos, chegando agarradinhos como colegiais, escondidos em porta-malas e debaixo do bojo de todo o veículo que passava pela Rodovia 27.

E continuamente os escaninhos, as frestas, os aposentos que nin­guém usava, e incontáveis esconderijos além desses em toda a cidade ficaram repletos de vultos quietos, calados, as mãos robustas nas espadas, os olhos dourados penetrantes e alertas, os ouvidos sinto­nizados a um som específico de uma trombeta específica.

Acima da cidade, escondido nas árvores, Tal ainda podia olhar do outro lado do vasto vale e ver Rafar na grande árvore morta, super­visionando as atividades de seus demônios.

Capitão Tal continuava a vigiar e esperar.

 No vale remoto, uma nuvem rapidamente crescente de espíritos demoníacos se revolvia em raio de uns três quilômetros em redor da fazenda, elevando-se à altura dos picos das montanhas. Era impos­sível contar o seu número, sua densidade era tal que a nuvem obscurecia por completo qualquer coisa que envolvesse. Os espíritos dançavam e sibilavam como desordeiros bêbados, abanando as es­padas, endoidecidos e babando, os olhos selvagens de loucura. Miríades deles saíam aos pares, combatendo, atacando e defendendo, testando a habilidade um do outro.

No escurecido centro da nuvem, no casarão de pedra, sentava-se o Valente com olhos meio fechados e um risinho torto que tornava mais profundas as dobras de sua grande cara flácida. Na companhia de seus generais, ele tirou tempo para vangloriar-se com as notícias que havia acabado de receber de Ashton.

— O Príncipe Rafar satisfez a meus desejos, cumpriu sua missão — disse o Valente, pondo à mostra em seguida as presas de marfim em um sorriso baboso. — Vou gostar daquela cidadezinha. Em mi­nhas mãos, ela crescerá como uma árvore e encherá os campos.

Ele saboreou seu próximo pensamento:

— Pode ser que jamais tenha de deslocar-me daquele lugar. O que acham? Teremos nosso lar enfim?

Os altos e odiosos generais murmuraram todos afirmativamente. O Valente ergueu-se do seu assento, e os outros puseram-se de chofre em rígida e aprumada posição de sentido.

— O nosso Sr. Kaseph tem-me chamado por algum tempo agora. Preparem as tropas. Partiremos imediatamente.

Os generais arrojaram-se através do teto da casa nuvem adentro, ganindo ordens, reunindo as tropas.

O Valente desfraldou as asas com pose real, depois qual abutre monstruoso, pesadão, flutuou ao aposento no porão onde Alexander Kaseph, sentado de pernas cruzadas sobre uma grande almofada, entoava o nome do Valente vez após vez. O Valente aterrizou à frente de Kaseph e observou-o por um momento, sorvendo a adoração e servilidade espirituais de Kaseph. Então, num movimento rápido, adiantou-se e deixou seu enorme vulto dissolver-se no corpo de Kaseph enquanto o homem se crispava e contorcia grotescamente. Em um instante, a possessão era completa, e Alexander Kaseph des­pertou da meditação.

— Chegou a hora! — disse ele, com a expressão do Valente nos olhos.