segunda-feira, 10 de maio de 2021

Este mundo tenebroso - parte 2 - Capítulo 07

James Bardine em um advogado jovem, bonitão, com cabe­los pretos e ondulados mais longos na parte de trás e voz com uns grasnidos que haviam sobrevivido à adolescência. Normalmente, ele era duro e decisivo — seus companheiros usavam palavras como beligerante e rude para descrevê-lo por trás dele — e tinha o controle da situação. Ele era ambicioso, um verdadeiro vencedor de metas, e exibia seu Porsche vermelho em qualquer oportunidade. Seus ternos eram especialmente confeccionados para projetar uma imagem de poder. Havia aperfeiçoado seu próprio modo de andar para ser usado sempre que fosse ao tribunal: um passo veloz, intimidador, queixo alto, coluna ereta, e uma porção de blocos de papel amarelo para anotações jurídicas debaixo do braço. Ele sabia que iria longe. Tinha a têmpera para o seu trabalho. Era bom no que fazia.

Naquele exato momento, morria de medo. Sentado num sofá demasia­damente macio na recepção do escritório do chefe, o Sr. Santinelli, ele esperava ser chamado para uma conferência. A sala tinha paredes altas de quase quatro metros, um enfeite de mogno escurecido que dava a volta, passava por cima e por baixo de tudo, e um tapete macio no qual os pés da pessoa se afundavam. Tudo estava mortalmente quieto ali, exceto pelas batidas uniformes da secretária no teclado da máquina de escrever e o trinado eletrônico ocasional de algum telefone. Bardine precisava de um cigarro, mas o Sr. Santinelli proibia que fumassem no seu escritório. As revistas sobre a mesinha de centro eram velhas ou cacetes, mas não importava. De jeito algum ele conseguiria ler naquele momento.

Tentava compor uma defesa mental, algo persuasivo. Seguramente o Sr. Santinelli sabia que ele era um bom homem; seguramente não iria criar caso por um incidente tão pequeno. Seguramente consideraria o cadastro de bons serviços que Bardine havia acumulado nos últimos cinco anos.

A grande porta de mogno abriu-se como a vedação de uma cripta, e o Sr. Anthony saiu. Anthony era o assistente e braço direito do Sr. Santinelli, um tipo alto, magro, fantasmagórico, algo como um misto de mordomo e carrasco. Bardine ergueu-se depressa.

— Estamos prontos — avisou Anthony. — Vamos entrar?

Um convite tão amável a uma inquisição, pensou Bardine. Ele adiantou-se.

— São seus? — perguntou Anthony, apontando uns blocos de anotações amarelos sobre a mesinha de centro.

— Oh, sim, obrigado.

Bardine agarrou-os e acompanhou Anthony através da grande porta. Ela fechou-se após eles com um baque de finalidade.

Essa era a sala de conferências interna adjacente ao escritório do Sr. Santinelli. Os lustres enfeitados brilhavam muito, mas ainda assim a sala parecia sombria. O madeirame escuro e o mobiliário pareciam absorver a luz; as pesadas cortinas de veludo que iam do teto ao chão estavam fechadas sobre as janelas.

O Sr. Santinelli encontrava-se sentado na outra ponta de uma mesa oval de conferência, examinando alguns papéis à sua frente e parecendo não perceber quando Bardine entrou. Era um vulto impressionante, cuja simples presença intimidava. Vestia-se de roupas caras, era grisalho, mal-humorado e mandava ali. Estava flanqueado por dois de seus compa­nheiros mais chegados e mais poderosos, o Sr. Evans, um advogado de rosto duro e punhos de ferro que não sorria havia anos, e o Sr. McCutcheon, um homem que tinha tanto dinheiro que o assunto o aborrecia. Perto desta ponta da mesa, sentava-se o Sr. Mahoney, o superior imediato de Bardine, um tipo nada impressionante. Havia outro homem presente à mesa, mas desconhecido.

— Sente-se, Sr. Bardine — disse Santinelli, ainda sem erguer o olhar. Anthony conduziu Bardine à cadeira na ponta mais próxima da mesa, e que ficava diretamente oposta a Santinelli. Essa seria uma reunião verdadeiramente cara a cara.

Bardine tomou seu lugar e arranjou bem certinho os blocos de anota­ções à sua frente.

— Bom dia, cavalheiros.

Alguns deles resmungaram, devolvendo-lhe o bom dia. Alguns apenas moveram a cabeça. Nenhum deles sorriu.

Santinelli finalmente terminou de examinar a papelada e ergueu os olhos.

— Sr. Bardine. deixe-me apresentá-lo aos cavalheiros sentados conosco. Ao Sr. Evans e, ao Sr. McCutcheon tenho a certeza de que já os conhece.

Bardine acenou com a cabeça aos dois homens, e eles fizeram o mesmo.

— O Sr. Mahoney também está aqui, e fazemos menção de sua presença. O outro cavalheiro é o Sr. Goring, de Summit, que veio a fim de nos oferecer sua ajuda e conhecimento.

Bardine acenou-lhe com a cabeça, mas eles não corresponderam ao gesto.

O Sr. Santinelli folheou os papéis à sua frente.

— Para revisarmos rapidamente nossa situação atual, descobrimos que uma... complicação... se desenvolveu, que a princípio não parecia tão nociva quanto agora parece. Ehmmmm...e a cada momento que se passa, a gravidade da complicação aumenta... - Então Santinelli olhou direta­mente para Bardine e perguntou: — Sr. Bardine, reconhece o nome Sally Beth Roe?

Seta Número Um. Bardine pôde sentir a pergunta atravessando-o.

— Sim, senhor.

— E o nome Alicia Von Bauer?

Essa deu a impressão de diversas setas.

— Sim, senhor.

— Seria correto dizer, Sr. Bardine, que está extremamente familiarizado com o nome da Srta. Von Bauer?

— Bem... não estou certo do que o senhor quer dizer com isso...

— Voltaremos a isso mais tarde. — Santinelli pôs o papel de lado e examinou a próxima folha. — Com certeza já sabe a esta altura que a Srta. Von Bauer está morta?

— O Sr. Mahoney notificou-me a esse respeito hoje de manhã. Santinelli ajustou os óculos de leitura e estudou o papel à sua frente.

— Sally Beth Roe... Que interessante ela surgir de novo, e em Baskon, onde mais! — Santinelli olhou os homens que o flanqueavam. — Que estranho como uma coisa dessas acontece tantas vezes. A gente poderia pensar que existe uma mente inteligente por trás disso, a mão de qualquer deus que se deseje imaginar...

Não era uma piada, e ninguém riu.

— De qualquer forma — continuou Santinelli — acabamos de ser infor­mados sobre um plano que foi levado a efeito para fazer com que Sally Roe fosse assassinada e, claro, fizesse a coisa parecer suicídio. Quem foi que teve essa idéia?

— O Sr. Bardine, senhor — disse Mahoney rápida e claramente. Bardine olhou horrorizado para o seu superior.

— O senhor parece estar tendo dificuldade com a resposta dele, Sr. Bardine — atacou Santinelli.

A voz de Bardine falhou quando respondeu:

— Uh, bem, sim...

— Cuidaremos disso mais tarde — propôs Santinelli, olhando de novo para o papel. — Continuando minha revisão, e por favor corrijam os erros que notarem, Alicia Von Bauer, membro da organização satânica chamada Vidoeiro Quebrado, foi contratada a fim de executar esse homicídio, e paga... — Santinelli encrespou ao ler a quantia — ...dez mil dólares de entrada, com outros dez mil prometidos para quando completasse com sucesso a missão. Estou certo até aqui?

Mahoney apenas olhou para Bardine. Bardine devolveu-lhe o olhar. Nenhum dos dois respondeu.

Santinelli continuou, mas de olho nos dois.

— Aparentemente, a Srta. Von Bauer fez uma tentativa na noite de terça-feira desta semana, mas descobriu que a Srta. Roe era mais forte do que ela. A Srta. Roe conseguiu vencer sua agressora e escapar, deixando para trás o corpo morto de sua assassina, onde, teoricamente, ela própria teria sido encontrada se o plano tivesse vingado. — Ele colocou o papel estendido sobre a mesa à sua frente, cruzou as mãos sobre ele, e olhou Mahoney e Bardine por cima dos óculos de leitura. — Em outras palavras, essa trama ambiciosa, excessivamente imaginosa, foi um fracasso lastimoso.

Mahoney olhou de novo para Bardine. Bardine devolveu-lhe um olhar enraivecido.

Santinelli fez escorregar aquele papel para o lado e apanhou o próximo.

— Para complicar ainda mais a questão, os planejadores dessa trama ampliaram o círculo de confidentes além dos principais envolvidos e incluíram um oficial da polícia local chamado... uh... Mulligan, bem como o médico legista local, tendo assumido, acho eu, que essas duas pessoas são firmemente leais à nossa causa, visto terem de fato sido avisadas com antecedência de que haveria um suicídio no sítio dos Potters e que dispusessem do caso tão depressa e silenciosamente quanto possível.

Santinelli deixou cair o papel sobre a mesa e reclinou-se, tirando os óculos.

— E isto, muito para crédito seu, eles fazem, ou pelo menos tentam fazer, a despeito do fato de a falecida que supostamente se matou ter morrido por meio de um óbvio ato de violência e é, naturalmente, a pessoa errada para começo de história. Como estão quietos, posso assumir que minha narrativa está certa até aqui?

Santinelli não precisava da resposta que não obteve. Ele simplesmente recolocou os óculos de leitura e pegou a próxima folha de papel.

— Agora vamos às complicações, as complicações verdadeiras. Antes de tudo, a mais óbvia: Sally Beth Roe está viva... em algum lugar. Está viva, respirando, andando por aí, e estou certo de que totalmente ciente de que um cruel atentado foi praticado contra a sua vida. Se não sabe quem foi o responsável, estou certo de que tem uma idéia muito boa de quem poderia ter sido. E como estou tão certo? Deixem-me contar-lhe a próxima com­plicação.

— Segundo fonte de confiança que permanecerá incógnita, Alicia Von Bauer usava um anel quando cometeu, perdão, tentou cometer o homicí­dio. A pedido nosso, o legista examinou o corpo em busca daquele anel, e descobriu que havia sido removido do dedo anular da mão direita com a ajuda de óleo de cozinha..., vestígios de óleo ainda se encontravam no dedo. Enviamos algumas pessoas para examinar o local do homicídio e a casa, e o guarda civil e o médico legista reexaminaram todos os objetos de uso pessoal da assassina. O anel sumiu.

— E também há a questão dos dez mil dólares. Eles também sumiram, sem deixar vestígios. Von Bauer pode tê-los depositado numa conta secreta em algum lugar, mas isso é pouco provável, tendo em vista a natureza delicada de sua missão.

— Ah, senhor! — exclamou Bardine.

Santinelli ergueu os sobrolhos apenas o suficiente para dar a palavra a Bardine.

— Os... dez mil dólares foram lavados. Não podem tornar-se uma pista até nós.

Os sobrolhos ergueram-se novamente.

— Até nós, Sr. Bardine? Bardine gaguejou um pouco.

— Bem, a nós... a mim, e... e ...

— Eles sumiram, não é mesmo?

— Sumiram, senhor?

— A menos que você possa fazer um chamado ou dar uma volta, ir buscá-lo?

— Oh... — Bardine protelou, mas finalmente respondeu: — Sim, senhor, eu diria que esse dinheiro está agora fora do nosso alcance, irrecuperável.

— Mas... lavado.

— Oh, sim, senhor.

Santinelli continuou, referindo-se às suas anotações.

— A terceira complicação abrange as duas primeiras: Temos motivo mais do que suficiente para presumir que Sally Roe está de posse tanto do anel quanto do dinheiro. Assim, ela representa a maior ameaça possível a nós e aos nossos planos. — Santinelli pausou a fim de enfatizar. — Uma ameaça maior, senhores, do que jamais poderia ter sido se ninguém mexesse com ela.

Santinelli colocou de lado suas anotações, tirou os óculos, e olhou diretamente a Mahoney e a Bardine.

— Agora, Sr. Mahoney e Sr. Bardine... voltemos a uma pergunta anterior. De quem, exatamente, foi a idéia desse plano de assassinato?

Mahoney falou primeiro.

— Sr. Santinelli, terei de assumir parte da responsabilidade. Quando ouvimos dizer que Sally Roe se encontrava em Baskon, sabíamos que isso poderia ser um sério impedimento. Pesamos muitas opções, e acho que ela se tornou uma prioridade alta demais em nossas mentes. Quando o Sr. Bardine apresentou-me a idéia de um assassinato, acho que simplesmente não fui firme o suficiente em desencorajá-lo. Mas de forma alguma autorizei esse ato, senhor.

Santinelli podia ver que Bardine estava muito agitado.

— Tem alguma coisa a acrescentar ao que foi dito?

Bardine olhou de Mahoney para Santinelli e outra vez para Mahoney.

— Senhor... eu... bem, entendi que esse empreendimento havia sido autorizado desde o topo. Acreditei que estivesse executando o plano com o pleno endosso e autorização dos meus superiores. — Bardine podia sentir o vento frio, gelado soprando em sua direção e vindo da fisionomia de Mahoney. Ele não conseguia encontrar palavras, pelos menos as palavras apropriadas. — A... uh... idéia de um suicídio, senhor. Não seria um assassinato, entende, mas um suicídio, para todos os efeitos práticos. Feito corretamente, Jamais seria interpretado como qualquer outra coisa. Sally Roe já era uma pessoa solitária e desgastada, com um passado terrível e nada pela frente. O suicídio parecia crível.

— Eu não o autorizei, senhor! — disse Mahoney. — Ele agiu sem minhas ordens diretas!

Santinelli nem tentou esconder o sorriso sarcástico em seu rosto.

— Trataremos disso mais tarde. Sr. Bardine, tenho algumas perguntas acerca da participação da falecida, Srta. Von Bauer. Como foi ela envolvida nisso?

— Ela ... ela... — Bardine sentiu-se como uma testemunha atormenta­da no banco das testemunhas. — Eu, estava conversando com ela acerca desse problema específico, e ela... bem, ela propôs as providências.

— Ela propôs matar Sally Roe?

— Sim, senhor, pela soma de vinte mil dólares. — Bardine acrescentou depressa: — Como sabe, esse tipo de coisa é feito de vez em quando.

Os olhos de Santinelli se estreitaram. Ele estava se preparando para o golpe final.

— Você disse que conversava com ela a respeito desse problema específico?

— Bem, eu...

— Sr. Bardine, o senhor sempre discute assuntos tão altamente sensíveis com tipos tão questionáveis?

— Não, senhor, claro que não!

— O senhor discute livremente questões de alto nível com uma satanista?

Não uma satanista, senhor — pelo menos não no sentido pejorativo. Ela pertence ao Vidoeiro Quebrado, sim, mas eles são muito respeitados, mesmo entre o nosso próprio pessoal.

— E onde foi que essa discussão teve lugar?

— Bem, suponho...

— Não foi na sua casa, Sr. Bardine? Mais especificamente, no seu quarto? Bardine ficou em silêncio. Sentia-se aturdido.

Santinelli explicou brevemente:

— Mantemo-nos a par das coisas, Sr. Bardine. — Em seguida, ele voltou à carga. — O senhor estava envolvido romanticamente com Alicia Von Bauer, não estava?

Bardine tentava formular uma resposta. Santinelli atacou-o de novo:

— O senhor já tinha tido muitos encontros clandestinos com Von Bauer antes disto; já lhe havia revelado diversos dos nossos segredos, e agora, no auge da paixão, quando tinha ela sua completa confiança, contou-lhe acerca deste problema, e os dois fizeram um pacto, não é verdade? Bardine resolveu tentar a honestidade.

— Eu... achei que seria seguro. Isto é, ela estava envolvida com um grupo bizarro, já tinha antecedentes criminais... Achei que se algo desse errado, sempre poderíamos nos desassociar dela, alegar desconhecimento de suas ações. Ela era... uma entidade descartável, puramente utilitária. Eu estava certo de que funcionaria.

Santinelli colocou as duas mãos firmemente sobre a mesa, como quem se segura logo antes de explodir.

— Suponho, Sr. Bardine, que jamais pensou o que poderia fazer não apenas à sua própria reputação, mas à desta organização, o fato de associar-se intimamente a uma criminosa condenada?

— Senhor... — Bardine tentou suavizar as coisas. — O nosso pessoal é visto na companhia desse tipo de gente o tempo todo...

— Não desse tipo, Sr. Bardine! Não satanistas! Não queremos nos associar a eles porque não queremos ser associados a eles pelo público, compreendeu? Esse seu relacionamento com Von Bauer foi extremamente imprudente! — Santinelli deteve-se, não satisfeito com a palavra. — Impru­dente? Sr. Bardine, foi censurável!

Bardine só pôde permanecer sentado ali, silencioso e todo rebentado. Mas Santinelli não havia terminado.

— Nunca lhe ocorreu que ela podia ser uma espiã? Nunca lhe ocorreu que todas as informações confidenciais que passava a ela, sem dúvida para impressioná-la, seriam logo a seguir relatadas aos seus comparsas do Vidoeiro Quebrado? Ainda não aprendeu nada sobre a política do poder? Tem alguma idéia de quanto nos tornou vulneráveis a esses sanguessugas desprezíveis?

Santinelli estava quente e rodando; não havia como detê-lo.

— Eles querem poder, Sr. Bardine, da mesma forma que todos nós queremos! Não são uma exceção neste jogo! Todos nós o queremos, e todos fazemos nossas próprias maquinaçõezinhas e truquezinhos para obtê-lo. Mas de uma coisa esteja certo, Sr. Bardine: o poder, o verdadeiro poder, pertence a uns poucos escolhidos, e nós somos esses poucos escolhidos... compreende? — Ele não deu a Bardine tempo de responder. — Todos os outros, sejam ricos, sejam realeza, sejam ratazanas de esgoto como esses satanistas, apenas terão de acostumar-se com esse fato e viver com ele. Não permitiremos que quaisquer outros insignificantes caçadores de poder tentem competir conosco mediante alavancas, e (ele reforçou a sentença) não permitiremos que mais ninguém do nosso pessoal lhas dê!

A voz de Bardine era quase inaudível.

— Compreendo, senhor. Santinelli ignorou a réplica.

— O anel tirado do dedo de Alicia Von Bauer... era seu, não era? Bardine tentou explicar. — Ela... ela o roubou, senhor! Não lho dei!

Tinha de tê-lo roubado de cima do meu camiseiro!

— E isso foi, naturalmente, depois que o senhor fez o seu pacto com ela?

— Sim... suponho que sim.

— Então ela tirou seu anel, que trazia sua inscrição pessoal, e o colocou no dedo, caso... — Santinelli tirou um momento para respirar e fazer alguns buracos em Bardine com os olhos — caso alguma coisa desse errada, e tentássemos nos desassociar dela e alegar desconhecimento de suas ações e tratá-la como uma entidade descartável. Com seu anel personali­zado, veja só, ela teria como recorrer contra nós, teria alguma prova de que fora um dos nossos próprios advogados de alto nível quem a tinha contratado e lhe havia pago aqueles dez mil dólares!

Bardine baixou o olhar à mesa.

Santinelli havia ventilado a maior parte de sua zanga. Agora sua voz suavizou-se.

— Sr. Bardine, não é minha responsabilidade pensar em todas essas coisas para o senhor; é sua responsabilidade fazer isso, e sempre manter os melhores interesses desta organização prioritários em sua mente.

— Sim, senhor. Sinto muito, senhor.

— É tarde demais para isso. O estrago está feito, e por outra complicação romântica! Espero que tenha aprendido — e foi da forma mais difícil — como isso pode ser perigoso.

— Sim, senhor, aprendi.

— É um bom homem, Bardine. Gosto de sua ficha de desempenho. Vamos manter isto em segredo, e espero que você também mantenha silêncio, para o seu bem e para o nosso também.

— Sim, senhor. Tem a minha palavra, senhor.

— Entrará em gozo de licença para... continuar seus estudos — e por favor, arranje algo convincente. Enquanto isso, simplesmente teremos de ver o que podemos fazer para endireitar essa embrulhada.

A essa altura, tal sentença era boa notícia.

— Sim, senhor. Obrigado por sua bondosa consideração... Santinelli pôs-se a ajuntar os papéis.

— No futuro, Sr. Bardine, mostrará por seu exemplo como ações tais como as que discutimos nunca são uma boa idéia para qualquer pessoa numa posição delicada como a sua.

— Sim, senhor — disse Bardine. — É o que farei, senhor! Santinelli apenas sorriu.

— Oh, estou certo disso.