Poucos dias depois de meu batismo no Espírito Santo Deus
enviou-me o pior pagão que já conheci. Fazia anos que eu o conhecia, e ele
costumava revoltar-se quando se mencionava o nome de Jesus. Naquele dia ele me olhou
de alto a baixo e disse:
— Você está diferente.
— Estou? — perguntei-lhe. Eu sabia que estava diferente, mas
não sabia em que medida essa diferença se refletia em meu exterior.
— Está. Que foi que lhe aconteceu? — perguntou.
Em meu íntimo o Espírito me disse: Fale-lhe acerca de Jesus.
O velho capeta sussurrava-me ao ouvido: “Sim, fale-lhe, e
ele lhe arrebentará o nariz tão depressa . . .” Em realidade pensei que ele o
faria, mas o Espírito Santo me havia dotado de poder, e não havia como não
falar-lhe a respeito de Jesus. Comecei com palavras simples, contando
exatamente o que me havia acontecido, e ali estava o homem, absorvendo o que eu
dizia, arregalando cada vez mais os olhos. Ele estava literalmente pasmado pelo
poder de Deus.
Depois de havermos conversado durante uns cinco ou dez
minutos, ele disse:
— Que tenho de fazer para salvar-me? — e quase desmaiei.
Em resumo: ele foi salvo. Seu nome é Blair Reed. Ele abandonou
seu negócio de empreiteiro e se foi para a Carolina do Norte onde durante
quinze anos, mais ou menos, dirige um lar para alcoólatras, a Casa de Oração.
Ele é um grande discípulo de Jesus Cristo, e tem levado milhares
ao Senhor. Blair foi salvo quando o poder do Espírito me transformou em
testemunha.
Antes de conhecer a Jesus como meu Batizador no Espírito
Santo, meu testemunho não dava ao Senhor a oportunidade de interferir a meu
favor, de selecionar e preparar o coração daqueles aos quais eu devia falar sobre
ele. Não é de admirar que eu fosse um fracasso tão grande, navegando com o
emprego de minhas fracas forças, pensando que eu conquistaria alguém para ele.
A única coisa que eu conseguia era afastá-los, vez após vez.
Contudo, depois de meu batismo entendi que eu não podia
salvar ninguém, que a salvação é obra de Jesus, e que ele abriria as portas
onde quisesse meu testemunho.
Aprendi a aguardar uma pergunta, a esperar que a porta se
abrisse. E então sabia que ele me apoiava. O texto bíblico que ele me deu foi:
“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.” Logo descobri que isso
funcionava, na medida em que eu dependesse dele para realizar seu propósito,
não tentando fazê-lo por mim mesmo.
Certa noite eu cruzava o oceano em direção da Inglaterra
para uma viagem de negócios, e próximos de mim estavam um homem e sua esposa.
Ela estava no centro e ele na poltrona do corredor, um tanto alto depois de
haver ingerido uns oito ou dez drinques.
Eu estava ali assentado aguardando a pergunta; uma hora,
duas horas, e devíamos chegar a Londres às cinco horas da manhã. Por volta das
três horas da madrugada, a mulher virou-se para mim e disse:
— O senhor não bebe nem fuma, pois não?
Respondi-lhe que não.
— Por quê?
O tempo- era curto para explicar tudo, mas comecei a falar-lhe
acerca de Jesus.
— Gostaria de conhecer a Jesus tão bem quanto o senhor —
disse ela.
— A senhora o pode agora mesmo — respondi-lhe.
Nesse instante passou um garçom e quase despejou uma bandeja
de bebida sobre nós. Tivemos de limpar e enxugar nossas roupas, e com isso
nossa conversa foi interrompida. A mulher disse:
— Bem, realmente o momento não é propício, mas quando chegar
ao hotel vou pedir a Jesus que assuma o comando de minha vida.
Aconteceu que nos hospedamos no mesmo hotel, e quando a vi
no dia seguinte, ela estava radiante com a glória de Deus.
Certo dia bateu à minha porta um Testemunha de Jeová, e sob
o poder do Espírito Santo dei-lhe as boas-vindas e convidei-o a entrar. Se
fosse por mim, eu não queria saber de conversa alguma com ele. Minha mente humana
dizia: “Esse sujeito é um maluco.”
Mas o Espírito dizia: Peça-lhe que entre. Será que não posso
salvá-lo?
Então eu disse: “Senhor, acho que podes. Tu me salvaste.”
Em realidade eu não havia considerado que os Testemunhas de
Jeová fossem candidatos à salvação.
Em minha cabeça eu havia elaborado uma espécie de doutrina
segundo a qual esse grupo estava fora dos limites.
— Entre — disse-lhe. — Alegro-me de conhecê-lo.
Era Jesus que se alegrava de conhecê-lo, não eu. Ele entrou,
assentou-se, e eu lhe disse:
' — Você é um dos muitos que têm batido à minha porta
recentemente.
— Sim — disse ele. — Achamos que o tempo é curto, e nos
esforçamos o mais que podemos para fazer convertidos.
— Que é isso que você traz na mão? Uma nova Bíblia?
— Não, é um manual de nossa fé — respondeu.
— Posso dar uma olhada nele?
Ele parecia contente de que eu estivesse interessado o bastante
para examinar seu manual. O Senhor é que estava orientando; por mim, eu nunca
teria feito isso. Eu teria dito: “Livre-se do vagabundo o mais depressa possível.
Eu sou superior.” Mas o Senhor me trouxe à lembrança que eu fui trazido da
posição de um vagabundo de sarjeta pela graça de Jesus, e se ele pôde tirar-me da
sujeira deste mundo, poderia fazer a mesma coisa por este rapaz. Comecei a
folhear o livro e verifiquei que Jesus Cristo era um profeta, um bom mestre, e
que estava morto como qualquer outra pessoa. Bem, isso estabelecia sua doutrina
— ele não tinha um Salvador Vivo. Sendo assim, disse-lhe:
— Onde você vai passar a eternidade?
— Provavelmente no inferno.
— Nesse caso, por que se esforça tanto para levar outros com
você?
Realmente ele não havia pensado nisso. Nem eu. Era o
Espírito Santo que começava a trabalhar.
— Quantos de seu grupo vão para o céu? — perguntei-lhe.
— Somente cento e quarenta e quatro mil, e a quota já está
completa.
Pude dizer-lhe que ele não estava devidamente informado sobre
á doutrina da Torre de Vigia, de sorte que fiz valer minha vantagem.
— Sendo assim — perguntei-lhe —, por que deseja arrastar-me
para onde você vai?
— Bem, foi assim que nos ensinaram — respondeu.
A seguir abri o manual sob o título da cura. Ali estava, preto
no branco, que Deus curava de modo sobrenatural, mas hoje já não o faz, desde
que os médicos e os remédios entraram em cena. Então eu disse ao rapaz:
— Jovem, aqui está escrito que Deus já não efetua curas.
— É verdade — disse ele.
— Este livro foi escrito por autoridades de sua denominação?
— perguntei-lhe.
— Sim, foi — respondeu.
— Suas autoridades o conferiram, reconferiram, e leram as
provas tipográficas?
— Fizeram-no com todo o cuidado — assegurou-me o jovem. — O
livro é inteiramente autêntico.
— Nesse caso é melhor que vocês mandem o impressor embora,
porque ele colocou uma inverdade neste livro. Ele diz que Jesus já não cura,
que ele é um profeta morto, porém eu sei que está vivo, porque ele me curou.
O jovem ficou branco. Ele tinha de chamar-me de mentiroso ou
tinha de admitir que sua denominação laborava em erro. E aí ele cometeu um
grande engano, ao dizer:
— Oh, é assim? Fale-me a esse respeito.
Contei-lhe como simplesmente li na Bíblia que Deus cura, e
que eu acreditava na Bíblia, e que entrei na fila de cura na tenda de Oral
Roberts, em 1954, em Baltimore, e recebi cura instantânea de um disco
desintegrado da coluna espinal. Radiografias recentes provavam que não havia
nenhum disco danificado.
Bem, o rapaz estava visivelmente abalado. Não sabia o que
dizer. Ele não podia chamar-me de maluco, porque eu estava obviamente curado.
Nem podia ele dizer que seu manual estava errado, por isso disse:
— Vou dizer-lhe uma coisa. Sou meio novato neste negócio.
Gostaria que o senhor pudesse conversar com alguns de nossos membros mais
idosos. Que tal ir à igreja comigo?
— Quando vamos? — perguntei-lhe.
Isso quase o derrubou, que eu fosse à sua igreja com ele. No
domingo seguinte fui ao Salão do Reino. Quando começaram a ensinar o erro,
desliguei-me deles e comecei a orar no Espírito. Se damos ouvidos a uma mentira,
recebemos o espírito da mentira, e ficamos decepcionados. Sendo cristão cheio
do Espírito, eu podia desligar minha audição e ligar-me em Jesus para ouvir bem
e forte. Ele fez que as palavras de erro tomassem outro rumo. E assim não fui
enganado.
Depois que saímos do Salão do Reino naquele dia, Jimmy me
perguntou:
— Que tal achou de tudo isso?
— Louvo seu interesse em pegar-me — disse-lhe eu, e acrescentei:
— A propósito, que acha de vir à igreja comigo hoje à noite?
Ele não podia ser indelicado e recusar, porque eu tinha ido
com ele. Meio desconcertado, disse:
— É que . . . eu . . . é . . . está bem.
Ele foi comigo à igreja naquela noite, e ouviu a Palavra pregada
com poder. Ele já tinha ouvido meu testemunho, e como diz Apocalipse 12:11:
“Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra
do testemunho.” O jovem Testemunha de Jeová foi salvo.
Existe alguma coisa difícil demais para Deus? Não quando
vivemos como filhos do Rei e permitimos que ele nos forneça o equipamento certo
para realizar o trabalho.