sábado, 24 de abril de 2021

Vaso para honra - 02 - Alfinetes



Capítulo 2

Alfinetes

            Rebecca, esta ligação é para você - disse a recepcionista esten­dendo o fone.
            Rebecca tinha ido ao veterinário em busca de remédios para seus gatos. Elas tinham estado sob um ataque tão forte de feitiçaria que todos os animais da casa estavam doentes. O coração de Rebecca estava pesado quando ela foi ao balcão atender o telefone.
            - Rebecca, - uma voz fraca disse do outro lado - venha rápido, acho que Elaine está morta e creio que não vou agüentar por muito tempo. Eles estão aqui para nos pegar. Estão do lado de fora. Eu... -sua voz desvaneceu do outro lado e o telefone fez um ruído, como se tivesse caído ao chão.
            - Annie! (não é este o seu nome real), - gritou Rebecca - Annie, responda-me, o que está acontecendo?
            Houve silêncio, exceto por algum estranho ruído no fundo. Annie não pegou de novo o telefone. Rebecca devolveu o fone à recepcionista.
            - Desculpe-me. Vou ter que pegar os remédios depois. Estou tendo alguns problemas em casa. Tenho que correr.
            Dizendo isso, saiu correndo pela porta até o carro. Estava a cerca de dez minutos de distância de casa.
            O sol estava pondo-se rapidamente e as sombras estendiam-se en­quanto Rebecca corria para casa.
            "Oh, Pai - ela orou. - Venho diante do teu trono firmando-me na tua aliança comigo. Satanás não pode tirar a vida de ninguém em minha casa. Intercedo contra o pedido de Satanás, Pai, em nome de Jesus. Tu me prometeste a vida de todos os que estivessem sob os meus cuidados, e agora eu confio nessa promessa."
            Rebecca dirigiu tão rápido quanto pôde. O breve percurso parecia interminável. Sua mente rodopiava. O que estaria acontecendo? O que poderia ter acontecido no curto espaço de tempo em que ela esteve fora de casa? Ela só havia estado ausente por cerca de 30 minutos.
            A intensidade da guerra espiritual havia aumentado rapidamente nas últimas semanas, desde que Annie e seu filho Timmy (não é este o seu nome real) tinham vindo morar com elas. Annie havia passado todos os seus quase trinta anos de vida no Satanismo. Ela era o que se cos­tuma chamar de "procriadora". Ela havia sido dada à suma sacerdoti­sa do grupo local quando criança, para crescer e ser educada com esse propósito. Ela não conhecia nada além de terríveis abusos, desde as suas mais antigas lembranças. Tinha sido muito usada em pornografia infantil, e depois como geradora de filhos. Ela teve o primeiro bebê aos onze anos. Teve dez filhos, dos quais nove foram sacrificados.
            O déci­mo, Timmy, não havia sido sacrificado e estava agora com seis anos de idade. Annie tinha entrado em contato com Rebecca, desesperada para sair da feitiçaria. Quando ela aceitou o Senhor, Rebecca a trouxe para morar em sua casa. Os satanistas não estavam nada contentes!
            Quando Rebecca virou a última esquina antes da sua rua, o sol desapareceu atrás das montanhas. A escuridão estaria completa em pou­cos minutos. Essa hora, do pôr-do-sol, parecia ser o momento em que os satanistas sempre lançavam seus mais fortes ataques. Quando Rebecca chegou em sua rua, viu um helicóptero voando baixo ao re­dor de sua casa. Ia tão baixo que as árvores estavam sendo sacudidas pelas hélices e muitos dos galhos menores estavam quebrando-se e sendo arremessados por toda parte, na grama. Quando ela se aproxi­mou da entrada da casa, notou um furgão escuro estacionado à beira da propriedade e três homens postados a uma certa distância uns dos outros, guardando o caminho para a sua garagem.
            A pressa de Rebecca era tão grande que ela apenas agiu, sem perder muito tempo pensando. Retirou o cinto de segurança e saltou do carro, gritando de forma a ser ouvida, acima do barulho ensurdecedor do helicóptero:
            - Eu os repreendo em nome de meu Senhor Jesus Cristo! Vocês têm 20 segundos para sair do meu caminho ou eu os atropelarei! Em nome de Jesus Cristo eu ordeno a todos vocês, demônios, que fiquem amar­rados e que desfaçam todos os encantamentos que fizeram! Agora, saiam do meu caminho!
            E, tendo dito isso, ela saltou de novo para dentro do carro e recuou um pouco até a rua. Então acelerou, dirigindo-se à entrada da casa. Os homens estavam, obviamente, surpresos. Eles saltaram para os lados, escapando apenas por poucos centímetros, enquanto Rebecca passava correndo. Ela acionou o controle para abrir a porta da gara­gem e entrou rapidamente, fechando a porta em seguida. Deu uma brecada que fez os pneus guincharem, e saltou do carro. Com o cora­ção batendo forte, disparou para a porta da casa e entrou correndo.
            "Puf!'' Assim que entrou, Rebecca foi atingida e derrubada ao chão. Por alguns segundos ficou ali deitada, imóvel, ofegante, tentando recuperar o fôlego. Ela não esperava um ataque desses. Era extremamente raro acon­tecer de os demônios atingirem-na e derrubarem-na fisicamente. Sacudin­do a cabeça para tentar pôr a mente em ordem, ela falou em voz alta:
            - Vocês, demônios, eu lhes ordeno que se afastem de mim, em nome de Jesus!
            Com isso, ela levantou-se do chão e dirigiu-se à sala de estar.
            A opressão demoníaca na casa era tão grande que era difícil respi­rar. O mal estava em toda parte. O barulho do helicóptero em cima da casa tornava difícil ouvir qualquer coisa. O medo era palpável.
            Rebecca, ao entrar na sala de estar, rapidamente avaliou a situação. Elaine estava azul por falta de oxigênio, estendida no chão, com um sério ataque epiléptico. Annie estava caída inconsciente na cozinha. Seu filho estava sentado perto dela, gritando e chorando. Rebecca sabia que não poderia ressuscitá-los todos ao mesmo tempo. Seu co­ração clamava ao Senhor por orientação.
            Rapidamente virou Elaine de lado, inclinando a cabeça dela para trás para abrir a passagem de ar, para que pudesse respirar. Em nome de Jesus ordenou aos demônios que causavam a asfixia que saíssem. Ime­diatamente os movimentos convulsivos começaram a diminuir. Então o Espírito Santo lhe falou:
"Sele a casa, filha, sele a casa!"
            Rebecca pulou, pondo-se de pé. Apanhou o frasco de óleo e esta­beleceu um novo recorde do tempo de unção de casas. Correu tão rápido quanto pôde, da porta para a janela, para outra janela, para a porta, orando enquanto se movia, pedindo ao Senhor que limpasse e selasse a sua casa. Quando chegou à última porta, gritou:
            - Em nome de Jesus eu ordeno a cada demônio e espírito humano nesta casa que saia de imediato! Esta casa pertence a meu Deus, e vocês não têm o direito de estar aqui.
            "Pai, - orou ela - em nome de Jesus, peço-te que limpes totalmente esta casa e a santifiques para ti. E, Pai, toma-nos invisíveis ou algo assim para que nos livremos desse helicóptero aí em cima. Não posso escutar nem mesmo os meus pensamentos, com o barulho dessa coisa!"
            Rebecca voltou então correndo às moças que estavam deitadas no chão. Alegrou-se ao ver que Elaine estava de novo respirando nor­malmente. Sua cor começava a melhorar e Annie gemia em voz baixa, começando a voltar à consciência. Rebecca pegou Timmy no colo, segurando-o em seus braços, tentando acalmá-lo.
            Subitamente o helicóptero se foi, deixando-as num silêncio mortal. Rebecca movia-se silenciosamente entre os três, ungindo cada um deles, enquanto orava. Todos estavam sentindo muita dor, mas estavam vi­vos! O Senhor havia novamente cumprido a sua promessa. Eles esta­vam vivos e em segurança.
            As duas horas seguintes foram muito árduas. Rebecca ajudou cada um a ir para a cama. Telefonou para Betty, pedindo-lhe que a ajudas­se, a qual chegou cerca de meia hora depois. A essa altura já estava completamente escuro e o furgão tinha recuado para uma posição mais distante na rua, mas ainda permanecia lá, ameaçador.
            Finalmente, todos estavam mais ou menos recuperados e deitados na cama. Betty e Rebecca sentaram-se na sala para conversar. Rebecca rapidamente expôs a Betty todos os eventos que haviam ocorrido.
            - Parece que estamos entrando numa fase diferente da batalha -disse Rebecca pensativamente. - Há muito tempo que um demônio não me derrubava, e todas foram salvas realmente por um triz, especi­almente Elaine. Eu não gosto disso; não gosto nem um pouco disso!
            - O que está me preocupando é: como eles conseguiram entrar? A casa estava selada, não estava? - perguntou Betty.
            - Sim, estava. De fato, eu havia acabado de ungir a casa na noite anterior porque estava sentindo muita opressão - disse Rebecca en­quanto meditava nos eventos da noite. - Aquele helicóptero também me incomoda. Annie disse que a suma sacerdotisa do seu grupo já havia usado helicópteros antes. O que é ainda mais preocupante é o fato de que a casa estava, obviamente, como um campo aberto de batalha para todos os demônios que eles quisessem mandar. Algo deve ter quebrado o selo, mas o quê?
            - Sim, o quê? Esta é a questão que vale dez mil dólares - disse Betty, enquanto ria entre os dentes.
            - Sim, eu sei - replicou Rebecca. - Não quero passar uma outra noite como esta. Passou perto demais para o meu gosto! Rebecca mal sabia quantas vezes ainda teria que passar por esse tipo de ataque.
            No dia seguinte ela foi ao veterinário novamente em busca dos re­médios. Desta vez foi numa hora em que o sol brilhava bem forte. Todos os animais estavam doentes, e Rebecca não tinha dúvida de que era devido a maldições que estavam sendo lançadas contra eles. Mais tarde, naquela noite, enquanto ela preparava o jantar, todos sen­tiram a opressão crescendo de novo. Rebecca tinha pedido a Betty para que viesse passar a noite com elas e ajudar.
            - Parece que é hora dos feitiços de novo - resmungou Rebecca com Betty, enquanto trabalhavam na cozinha. - Isto está rapidamente tor­nando-se uma coisa rotineira.
            - Sim, eu sei - disse Betty. - Gostaria de saber o que eles vão tentar esta noite.
            Mal essas palavras tinham saído de sua boca e... crash! Um som veio da sala de estar. Betty e Rebecca largaram o que estavam fazen­do e correram para ver o que acontecia. Elaine estava no chão, com um abajur por cima. Ela tinha segurado o abajur ao cair, tentando re­cuperar o equilíbrio. Estava gemendo e rolando no chão.
            - Elaine, o que está acontecendo? - Rebecca perguntou-lhe, ajoe­lhando-se ao lado dela.
            - Eles estão me rasgando por dentro - Elaine murmurou, toda retorcida.
            Betty correu para pegar o óleo. O mal estava invadindo a casa. No­vamente, o ar estava como que denso pela presença do mal, de forma que parecia difícil mover-se e respirar.
            - Oh não! De novo, não! Ajuda-nos, Senhor! Como eu posso parar com isto? -exclamou Rebecca desesperada.
            "O selo em sua casa está quebrado de novo" - foi a resposta imedi­ata do Espírito Santo.
            - Rebecca, onde está você? - chamou Betty.- Annie foi atingida também.
            Rebecca correu para a cozinha.
            - Tenho que ungir a casa, cuide deles o melhor que puder - gritou para Betty.
            Mais uma vez, Rebecca correu pela casa, ungindo-a, selando-a e limpando-a. Quando terminou, elas puderam assumir o controle da situação e pôr um fim aos ataques demoníacos. As moças estavam ficando muito fracas e doentes, pelo dano causado pelos demônios.
            Rebecca e Betty trabalharam juntas, incansavelmente, até consegui­rem colocar os três - Elaine, Annie e Timmy - na cama. Haveria pou­co repouso para eles naquela noite. Rebecca e Betty passaram a mai­or parte da noite em oração. Com certeza elas estavam deixando es­capar alguma coisa importante. O que é que vinha quebrando o selo na casa? Por que os satanistas podiam enviar demônios e causar toda aquela confusão? Com empenho elas buscaram respostas do Senhor.
            No final da tarde do dia seguinte, tão logo o sol começou a se pôr, Rebecca percorreu, ungiu e selou a casa novamente.
            - Ninguém saia de casa - disse ela aos demais. - Quero ver se podemos impedir que um ataque aconteça.
            Elas prepararam o jantar e comeram em um silêncio desconfortável. Finalmente, Rebecca falou:
            -Estamos, com certeza, deixando escapar algo importante, em algum lugar. Aqueles demônios têm direito legal para entrar aqui, ou então o selo em nossa casa não poderia ter sido quebrado. Alguma de vocês tem alguma idéia do que é? (Direito legal é uma "porta" ou "brecha" de pecado que permite a Satanás acesso legal à sua vida. Ver Prepare-se Para a Guerra, capítulos 9 e 10, para explicações adicionais).
            As duas moças sacudiram a cabeça.
            - Não, eu não sei - disse Elaine.
            - Nem eu - acrescentou Annie.
            - Bem, nós nunca passamos por um ataque assim antes de você vir para cá, Annie. Tem que haver algum direito legal para eles na sua vida, em algum lugar! Quero que você realmente se coloque diante do Senhor e busque-o pedindo-lhe uma resposta.
            Annie concordou em buscar uma resposta do Senhor.
            Ninguém dormiu muito naquela noite. Por cerca da meia-noite, Sheba começou a grunhir. Rebecca levantou-se e olhou pelas janelas da fren­te. Novamente havia homens nas proximidades da propriedade, mas aparentemente eles não conseguiam colocar os pés dentro dela. Rebecca suspirou. Alegrava-se agora por ter obedecido ao Espírito Santo, an­dando por toda a propriedade naquela noite, declarando-a santa para o uso do Senhor e pedindo a ele que a selasse com os seus anjos.
            De repente, o Senhor deu a Rebecca, por um breve momento, uma visão do mundo espiritual. Ao redor de toda a propriedade havia uma fileira brilhante de enormes anjos. Eles estavam ombro a ombro, volta­dos para o lado de fora. Estavam vestidos de branco, com cintos dou­rados e com espadas em suas mãos. Estavam em silêncio, imóveis, esperando. A luz irradiava-se deles. Toda a propriedade parecia estar
            coberta com uma suave luz azul. Havia muitos outros anjos em cima da casa, também. Rebecca ofereceu uma oração de intensa gratidão ao Senhor por sua maravilhosa provisão.
            "E, Pai, queira também agradecer aos anjos por mim- ela orou. -Eles certamente têm estado aqui muito ocupados ultimamente. Apre­cio o que estão fazendo. Muito obrigada, Pai, por tua fidelidade em cuidar de todos nós. Eu te agradeço em nome de Jesus."
            Bastante reconfortada, ela voltou para a cama.
            A batalha estendeu-se por mais três semanas. Cada vez as moças eram atingidas por demônios e derrubadas ao chão. Todos estavam continuamente doentes. Noite após noite, Rebecca punha-se de joe­lhos, clamando ao Senhor por respostas e por graça para continuar a luta. Elas estavam ficando cada vez mais fracas. Parecia não haver fim para a luta, e tampouco respostas.
            Finalmente, o Senhor falou com Rebecca e disse-lhe que pegasse Ester, Annie, Betty e Elaine e deixassem a cidade por uma semana, para descansarem.
            - Nosso Pai diz que devemos permanecer alguns dias longe daqui para um breve descanso - disse Rebecca, discutindo o assunto com Elaine e Betty. - Deus sabe que nós todas necessitamos de um des­canso. Mas como vamos poder descansar com os satanistas nos se­guindo por toda parte?
            - Bem, em primeiro lugar, não vamos contar antecipadamente para ninguém para onde estamos indo - sugeriu Elaine. - Não acho que as pessoas iriam deixar deliberadamente que os satanistas soubessem, mas eles parecem ter alguma forma de descobrir.
            - Para onde iremos? - Betty perguntou.
            - Oh, creio que o Pai está me mostrando que devemos ir para o Havaí - disse Rebecca. - Lá eu tenho um refúgio especial. Até agora o Pai nos tem protegido completamente, a mim e a Elaine, nesse lugar. Ainda bem que não é tão caro pegar um avião para lá, daqui da Califórnia. Vou tomar as providências e procurar manter tudo em segredo, tanto quanto possível. Vamos também orar e pedir ao Senhor que feche os ouvidos dos demônios e dos satanistas, para que não possam saber para onde estamos indo. Estamos todas exaustas, isto é certo.
            - Sinceramente espero que você consiga- disse Betty.
            Os planos foram executados com todo o cuidado. Finalmente che­gou o dia em que tomaram um avião para o Havaí. Elas alegraram-se por ver que aparentemente ninguém as estava seguindo. De fato, os dois primeiros dias na ilha foram completamente tranqüilos. Mas... essa paz teria curta duração.
            Na terceira noite, durante o jantar, Rebecca e Elaine viram dois homens que não lhes eram desconhecidos, mas que criam tê-los visto antes, seguindo-as, na Califórnia. Quando pergunta­ram a Annie, ela disse que não os conhecia, mas recusou-se a olhar para Rebecca nos olhos. Seu comportamento foi claramente diferente. Naquela noite, não ficaram por muito tempo em seus quartos antes de serem atacadas por demônios. Depois que a situação foi controlada, Rebecca fez Annie sentar-se.
            - Agora, escute aqui, disse. - Eu já estou farta de tudo isso! Não tenho dúvidas de que você conhece esses homens. E também estou certa de que você sabe como esses satanistas sabiam onde estáva­mos! Eles só levaram dois dias para nos descobrir. Então deve haver alguma forma de transmissor demoníaco, ou dispositivo de localiza­ção, em você. É melhor que você comece a falar, e rápido, ou eu vou colocá-la lá fora e deixar que a levem. Nós já jogamos este jogo por muito tempo! Na volta do jantar, esta noite, o Pai me disse que você sabe muito bem como eles a encontraram.
            Annie abaixou a cabeça.
            - Estou esperando, Annie - disse Rebecca num tom exasperado.
            Finalmente Annie falou:
            -Bem,... é verdade; aqueles dois homens são satanistas. Eu estava com receio de contar para você.
            -E como eles ficaram sabendo onde nos encontrariam?
            Annie olhou para baixo e mexeu os pés, embaraçada. Finalmente, voltou a falar:
            - Bem, devem ser os meus alfinetes inseridos.
            - Alfinetes inseridos?! O que é isso? - Rebecca e Betty perguntaram a uma só voz.
            Elaine bateu na testa:
            - Claro! Como é que eu não pensei nisso?
            Rebecca voltou-se para Elaine.
            - Você sabe o que são esses alfinetes inseridos?
            - Sim.
            - Então, por que você não me contou antes?
            -Bem, primeiro porque você não perguntou, e eu não tinha pensado neles.
            Rebecca caiu para trás, no sofá.
            - Essa não!! - disse. - Estivemos lutando com unhas e dentes por mais de um mês e vocês simplesmente não se lembram de um peque­no detalhe como esse dos alfinetes inseridos! - Ela estava tão exaspe­rada que quase não conseguia falar.
            Betty tomou a palavra:
            -Exatamente, o que são alfinetes inseridos?
            - São uns pequenos alfinetes sem cabeça ou pinos de metal que são inseridos sob a pele num ritual especial. E demônios aderem a esses alfinetes com diversas finalidades - disse Annie. - Eles entram na pes­soa quando o alfinete é inserido.
            - Será que eles funcionam como uma forma de dispositivo de loca­lização por radar, será isso? - Betty perguntou, secamente.
            - Sim, e também com propósitos de destruição. O que dizem é que os demônios ligados aos alfinetes destroem a pessoa se ela sair da bruxaria ou se os alfinetes forem retirados - disse Annie, demonstran­do sentir-se muito incomodada.
            - Posso perguntar-lhe por que você nunca pensou em contar-nos essas coisas? - perguntou Rebecca.
            - Eu não sabia o que fazer. Eles me disseram que os demônios dos alfinetes inseridos me matariam antes que eu os pudesse retirar. São como bombas-relógio, não há como se livrar deles.
            - Annie, Annie - Rebecca suspirou.- Como você pode acreditar numa mentira dessas depois de já ter tido o privilégio de ver o Senhor operar com tanto poder, de tantas formas maravilhosas?
            Annie olhou para as mãos.
            - Bem, eu estava com medo - murmurou.
            Uma vez mais Rebecca deparou-se com a teimosia e com o medo que são a marca registrada de todo aquele que vem do Satanismo.
            "Não é de se admirar que não conseguíamos manter a casa selada -pensou ela. - Cada vez que Annie entrava e saía de casa ela quebrava o selo trazendo consigo demônios para dentro da casa."
            Tudo começava a fazer sentido. Era por isso que as moças podiam ser afetadas de uma forma tão devastadora pelos ataques demoníacos.
            Um outro pensamento ocorreu a Rebecca. Ela virou-se para Elaine:
            - Você também recebeu em si esses alfinetes?
            - Sim, recebi, - disse Elaine acenando afirmativamente com a cabe­ça- mas tive receio de lhe contar. O que fiz foi pedir ao Senhor que me ajudasse a retirá-lo. Ele o fez. Ele literalmente o puxou para fora através da pele. Doeu muito, mas eu me livrei dele. Faz tantos anos, que eu já havia me esquecido de tudo isso. Eles são algumas vezes chamados de "inserções", ou de "alfinetes enfeitiçados", em algumas linhas da feitiçaria. (Ver o Capítulo 6 para uma discussão mais aprofundada sobre as inserções). Em outros países, utilizam-se coisas diferentes, ao invés de metal. Algumas vezes são pequenas lascas de pedra, um pequeno pedaço de madeira, um dente, ou um pedaço de osso humano. Entretanto, o propósito é o mesmo: exercer controle. Um dente ou um pedaço de osso humano também são usados freqüentemente nos Estados Unidos. Quando alguém recebe um alfi­nete desses, as pessoas na feitiçaria sempre sabem onde ele está. E quando essa pessoa deixa a feitiçaria, os demônios ligados ao alfinete entram em ação, e tentam matá-la fisicamente.
            - Bem, agora que nós finalmente sabemos qual é o problema, o que podemos fazer a respeito? - perguntou Betty.
            - A vontade que eu tenho é de pegar uma faca e extraí-los agora! - foi a resposta exasperada de Rebecca.
            - Não, você não vai fazer isso! Não em mim! - exclamou Annie. Betty riu e disse:
            - Você vai ter que segurar ela primeiro, Rebecca.
            Rebecca não respondeu, porque estava sentada orando, perguntan­do o que fazer naquela situação. Todos ficaram em silêncio por alguns minutos, escutando o som ritmado das ondas da praia e o suave sus­surro das folhas de palmeira. Finalmente, Rebecca as repreendeu.
            - O Senhor tem sido tão fiel conosco até agora. Creio que ele será fiel mais uma vez. Devemos lidar com este problema, imediatamente. A nossa vida está em perigo enquanto os alfinetes inseridos não forem retirados.
            - Mas como você vai extraí-los? - perguntou Annie.
            - Não sou eu que vou extraí-los, e sim o Senhor - foi a resposta de Rebecca. - Não seria prudente ir a um médico e contar uma história como esta. Não, vou pedir ao Senhor que os queime. Eu creio que ele o fará. Agora, quantos alfinetes você tem e onde eles estão?
            Annie não queria sentir dor, e principalmente não se agradava com a idéia de ter algo sendo "queimado" ou "vaporizado" sob a sua pele.
            - Vai doer? - perguntou ela.
            - Não sei, isso quem sabe é o Pai. Você, menina travessa, depois de todas essas dificuldades por que passamos, porque se recusou a nos contar estas coisas, eu deveria pegar uma faca e retirá-los! Entretanto, você tem sorte de servirmos a um Deus muito misericordioso. Agora, onde se localizam os alfinetes?
            - Há um na minha perna e outro na minha mão - disse Annie, apon­tando para eles.
            Rebecca pegou o óleo e sentou-se próximo de Annie.
            - Muito bem, - disse-lhe - vejamos o que o Senhor fará.
            Ela tomou o óleo e cobriu a área sobre o alfinete na perna de Annie. Então orou:
            "Pai, viemos a ti em nome de Jesus. Tu conheces o nosso problema. Estou te pedindo que faças fluir o teu poder na perna de Annie e vapo-rizes ou queimes este alfinete de metal, fazendo o que for necessário para isso. Também te peço que removas completamente todos os demônios ligados a este alfinete."
            - Pare! Ai! - interrompeu Annie. - Rebecca, a minha perna parece estar pegando fogo. Peça ao Senhor para parar! Está doendo demais!
            - Isso é o que eu não vou fazer! Se você me tivesse dito antes, nós poderíamos tê-lo extraído por um médico, com uma anestesia local. Agora, simplesmente você vai ter que agüentar a dor.
            Annie continuou a contorcer-se e a mexer-se, mas Rebecca a segurou com firmeza. Agradeceu ao Senhor por responder à sua oração. A dor ardente permaneceu por cerca de dez minutos, e então sumiu. Antes de pedir ao Senhor que removesse o alfinete, Rebecca podia senti-lo facilmente sob a pele de Annie. Agora ele havia desaparecido com­pletamente. A pele estava vermelha, mas não se podia sentir nenhum alfinete. Elas alegraram-se e louvaram ao Senhor por sua maravilhosa provisão. Um a um, todos os outros alfinetes foram também destruídos.
            Mais uma vez o Senhor havia sido fiel. Elas foram para a cama, para a primeira noite tranqüila de repouso depois de muito tempo.