A luta final
A data de meu “julgamento público” já estava marcada; tudo
estava preparado, mas eu ainda não me rendera. Os oficiais, a essa altura dos
acontecimentos, estavam ficando desesperados. Precisavam quebrar minha vontade
naqueles poucos dias, senão... Eram exatamente oito horas da manhã quando fui
levado para baixo, pelas escadas dotadas da tela de arame. Entrei novamente no
escritório do camarada Manoff, o principal interrogador. Embora eu andasse como
que sob os efeitos da grande bênção que acabara de receber, meu corpo estava
extremamente debilitado. Minhas pernas quase cediam ante o meu peso, quando eu
andava. Os efeitos acumulados do que eu estava experimentando cobravam seus
juros. Mas a Palavra de Deus se cumpria em mim: o corpo estava enfraquecido,
mas o espírito estava forte. Cumprimentei Manoff com polidez, mas ele virou a
cabeça, sem responder. Na sala, havia uma outra pessoa a quem eu nunca vira
antes. Com um grito feroz, ele me ordenou que virasse para a parede. Assim,
coloquei-me novamente naquela posição familiar. Tudo começou de novo. Manoff
tinha três interrogadores para o auxiliarem. Eu podia perceber que aquela era a
provação final. A voz dos interrogadores estava carregada de ódio.
Evidentemente, eles tinham sido repreendidos por não terem me quebrantado até
àquele momento; e agora não queriam falhar. O mais idoso ordenara que me
virasse para a parede. Seu nome era Dimitri Avrahamoff. Os outros dois jovens
pareciam estar apenas no começo de seus vinte anos. O mais jovem dos dois era
um rapaz cujos olhos estavam repletos de ira devoradora. Seu rosto estava
contorcido de ódio contra mim. Tão jovem, mas já reduzido a um ódio e agitação
animalescos! Como aquele homem precisava de Cristo!, eu pensei. Os três serviam
em turnos de oito horas, enquanto, novamente, eu ficava olhando para a parede,
sem qualquer oportunidade de dormir, mantendo os olhos abertos, tal como fizera
naqueles outros catorze dias. Naquela primeira ocasião, entretanto, eu tinha
alguma reserva de energia. Agora, não tinha nenhuma. A “Dieta de Morte” cobrara
caro. À meia-noite, naquele primeiro dia, o jovem cheio de ódio começou o seu
turno. Ele observava todos os meus movimentos, percebendo até se eu mudava o
peso do corpo de um pé para outro, a fim de descansar um pouco ou se eu não ficava
em posição de sentido. Ele me escarnecia e insultava. Conforme já mencionei, as
horas depois da meia-noite são as mais difíceis para os prisioneiros, pois é
naquele período que o corpo exige sono e tem de lutar para conservar-se
desperto. Não importa o quanto tente permanecer acordado, mesmo estando em pé,
o prisioneiro acaba cochilando, e cai. Quando isso acontecia, o jovem se
arrastava silenciosamente por trás de mim e acertava uma pancada seca do lado
da cabeça, que deixava o meu ouvido tinindo. Imediatamente depois do golpe, ele
me chutava nas canelas, com suas pesadas botas e toda a força de que dispunha.
Certa vez, quando caí, fui ordenado a levantar os braços verticalmente. Após
cerca de dez minutos, ficaram tão cansados que caíram. Praguejando em voz alta,
ele gritou que eu levantasse novamente os braços, mas não tive forças para
cumprir sua ordem. Outra pancada. Outro chute. Então, ele ordenou que me
apoiasse contra a parede utilizando dois dedos, o que é ainda pior. Aqueles
homens conhecem toda a contorção dolorosa que pode ser imposta ao corpo humano.
As últimas horas da noite foram indescritivelmente dolorosas. Era apenas a
primeira noite, mas, pelo menos, eu conseguira resistir.
Chegando o novo dia, minhas forças se renovaram. É
interessante observar que uma pessoa não se sente tão cansada durante o dia
como se sente à noite. Naquele tempo, aprendi muito sobre o corpo humano e sua
resistência. A tortura, os espancamentos e os chutes violentos continuaram
durante o segundo, o terceiro e o quarto dia. O lado de minha cabeça estava
inchado. Minhas canelas doíam constantemente, devido aos chutes. Fiquei mais
fraco, sem receber alimentos e água. A minha fome desapareceu novamente, e, em
lugar dela, surgiu a sede que eu experimentara antes. Uma vez mais, o sangue
desceu da cabeça às pernas, que incharam até ficarem o dobro do tamanho normal.
Meu rosto enrugou, minha barba cresceu muito, meus lábios racharam e o sangue
correu novamente por sobre a barba. Eu estava experimentando aquilo por que já
passara antes, mas dessa vez era muito mais doloroso. Um dia entrava no outro
imperceptivelmente. Muitas vezes perdi os sentidos e caí no chão. Eles me
reanimavam com um balde de água e me levantavam de novo, cobrindo-me com golpes
e maldições. Eu não sentia coisa alguma senão ardor, ardor intenso, proveniente
da sede e da dor. Então, a Palavra de Deus relampejou em minha memória: “Tudo
isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que
me enviou” (João 15.21); “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por
Cristo e não somente de crerdes nele” (Filipenses l.29). Por causa de Cristo!
Por causa dEle! Este glorioso pensamento renovou minhas forças. Meu espírito
começou a conversar com Deus. As horas mais difíceis — aquelas depois da
meia-noite — chegavam e terminavam, e eu nem sabia para onde fora a noite. Logo
chegou a manhã do sétimo dia. Manoff, o chefe dos interrogatórios, veio
novamente e não se sentiu nem um pouco feliz por ver-me tão revigorado. Já era
o sétimo dia de torturas, e ele esperava que eu me dobrasse. O julgamento
estava marcado para breve, e eles estavam ficando desesperados. Ele deu uma
ordem a Dimitri, que me segurou por trás, pelos ombros, e me sacudiu
ferozmente. Senti que o Espírito do Senhor me encheu novamente. Dimitri
virou-me para ele, fechou os punhos... então, algo me aconteceu.
Até hoje, não posso explicar o que aconteceu. Naquele
momento, cada músculo de meu corpo tornou-se duro como uma pedra. A debilidade
de momentos anteriores desapareceu completamente. Os efeitos de seis dias e
seis noites de fome, do esforço para ficar em pé, das pancadas, das maldições e
os três meses de tortura e desnutrição foram esquecidos num momento. Meu corpo
enfraquecido e contraído reergueu-se. Cheguei perto de Dimitri totalmente
ereto, reto como uma estátua. Dimitri me ultrapassava em estatura, pois era
homem forte e enorme. Os seus três primeiros socos me acertaram diretamente
entre os olhos. Meu nariz inchou e o sangue esguichou, mas eu não sentia
qualquer dor. Meus músculos estavam firmes e meu corpo rígido. Nem balancei,
nem caí de fraqueza. Outros golpes se seguiram, mas, incrivelmente, não senti
dor alguma. A frente de minha camisa ficou coberta de sangue. Dimitri me
golpeava cruelmente. Meu rosto tornou-se uma massa de sangue a escorrer, de
cortes abertos e inchaços. No entanto, eu não sentia qualquer dor! Ao invés
disso, senti um imenso poder vindo sobre mim e ofereci o rosto a Dimitri, para
que ele tivesse um alvo melhor. Movimentei-me em direção a Dimitri, que começou
a recuar. Segui-o. Meu rosto estava perto dele, novamente. E gritei: “Bata-me!
Então você compreenderá! Bata em mim! Bata em mim!” Abalado e pálido, Dimitri
voltou-se com lentidão e caiu pesadamente em uma cadeira. Eu o tinha seguido
pela sala, exigindo que me espancasse, impelido por uma força que não era
minha. Agora eu estava por sobre Dimitri, enquanto ele afundava na cadeira.
Subitamente, a força sobrenatural que eu havia sentido desapareceu. Senti-me
tão fraco que não pude manter-me de pé. Cai no chão em pedaços como um trapo
molhado. A incrível experiência terminara. Eu estava caído, enquanto a sala se
enchia de silêncio e de interrogadores perplexos. Finalmente, arrastaram-me e
empurraram-me contra a parede. Encostei nela fracamente. Fiquei ali a noite
inteira. O dia seguinte era 7 de novembro, o dia em que perdi a vontade
própria. Lembro-me de ter caído como se alguém tivesse acertado minha cabeça
com uma barra de ferro. Comecei a ter alucinações. A sala parecia repleta de
serpentes. Elas se arrastavam pelo assoalho, paredes e móveis, vindo
diretamente contra mim, deslizando pelo meu corpo. Os buracos na parede
tornaram-se rostos — rostos loucos que riam histericamente de mim. Eu estava à
beira da loucura. As serpentes, os rostos — tudo parecia girar, girar ao meu
redor, enquanto eu sentia que estava afundando, afundando cada vez mais.
Afundara até à beira da loucura. Passando por meses de espancamento, fome e
tortura, eu havia combatido o bom combate. Resistira mais do que um corpo
humano poderia resistir. Cheguei ao fim de minha resistência. Exclamei: “Ó
Deus!” Sim, minha vontade fora finalmente quebrada. Eles ganharam daquela vez.
Sob a influência desse tratamento psicológico e da tortura física, uma pessoa é
transformada no que se assemelha a uma gravação, que fala e canta aquilo que
nela houver sido gravado. Eles nos enchiam com as palavras, e, tal como
máquinas, as repetíamos. Se me dissessem que eu assassinara minha própria mãe,
eu teria repetido mecanicamente: “Sim, assassinei minha mãe”. Eu não era mais
um ser humano, e sim um gravador humano. Fora espancado, brutalizado, sujeito à
fome, até transformar-me em um robô humano. Estava pronto para confessar
qualquer coisa. Tendo-me reduzido a uma massa, Dimitri começou a moldar-me
conforme desejava. E parece que era especialista nisso. Aquela não era a
primeira vez que ele conseguia fazer um prisioneiro curvar-se à sua vontade.
Ele então me disse: “Você é um espião de primeira categoria”. “Sim”, respondi.
“É disso que eu gosto em você. Você está no trilho certo. Sente-se. Esperaremos
até à vinda de Manoff; então, você poderá ir descansar em sua cela.” Sentei-me
em uma cadeira. Minha cabeça girava de tontura. Daquele momento em diante,
acreditei e fiquei sabendo que eu era um espião. Foi assim que todos os quinze
dentre nós, líderes eclesiásticos, nos tornamos “espiões”. Pela manhã Manoff
chegou. Ao ouvir a notícia, sorriu de orelha a orelha. Fui levado à minha cela,
recebi alimentos e fui deixado sozinho, para descansar. Fiquei deitado por
longo tempo, enquanto se acalmavam meu corpo e meu sistema nervoso, e então caí
em sono profundo. Uma elaborada série de “confissões” estava preparada pelos
comunistas para que eu as assinasse. Eu as assinei. Se me tivessem ordenado que
assinasse dizendo que Deus estava morto, eu o teria feito. Minha vontade
própria havia ido tão longe, que não podia mais resistir. Em 31 de dezembro, às
quatro horas da tarde, mandaram-me juntar minhas coisas. Eu tinha um colchão e
um cobertor, que recebera de minha casa, após minha vontade ter-se dobrado, e
os enrolei juntamente com minhas roupas e algumas outras coisas. Dois guardas
me levaram até um carro que esperava do lado de fora. O dia estava tristemente
frio. Nas ruas de Sofia, as árvores e os postes telefônicos estavam cobertos
por uma grossa camada de geada. Pareciam-me tão bonitos. Rodamos por um bom
número de ruas e chegamos às portas traseiras da Prisão Central de Sofia. A
Polícia Especial tinha terminado sua obra. Eu deixara a “Casa Branca”. Eles já
me tinham “preparado” para o julgamento.
O cântico dos tamancos
“Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e
vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à
presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto vos acontecerá
para que deis testemunho” (Lucas 21.12-13). Com essas palavras, Jesus preparou
os seus discípulos para o que aconteceria. Durante toda a história do
cristianismo, essas palavras têm se cumprido muitas e muitas vezes e continuam
se cumprindo em nossos dias. As igrejas evangélicas da Bulgária
experimentaram-nas em grau especialmente intenso. O “cárcere”, no meu caso, era
um edifício de cinco andares, circundado por um grande pátio. Ao redor do
pátio, havia um muro de pedras de cinco metros de altura e um metro de largura.
Em cada um dos quatros cantos daquela fortaleza havia uma torre elevada, onde
um guarda não afrouxava a vigilância. A Prisão Central é semelhante, em sua
construção, a todas as demais prisões da Bulgária, porém é maior do que todas
as outras. Construída muitos anos antes dos comunistas subirem ao poder, tinha
mais de trezentas e cinqüenta celas individuais; em cada uma das celas, havia
um cama, uma mesa e uma cadeira. O chão era de cimento; por isso, os
prisioneiros tinham de usar tamancos. Naquela prisão, construída para acomodar
trezentos ou talvez quatrocentos prisioneiros, agora havia mais de cinco mil!
Uma ala inteira da prisão fora separada para acomodar os pastores e as
testemunhas, que chegavam ao total de cento e setenta pessoas. Após o julgamento,
algumas dessas pessoas foram postas em liberdade, outras foram enviadas para
outra prisão, e outras, para campos de concentração. Minha cela ficava no fim
de um corredor, ao lado de um banheiro. O banheiro era o lugar para onde os
prisioneiros traziam seus baldes e os esvaziavam. Minha cela era como uma
despensa fria, não parecia um lugar a ser ocupado por uma pessoa. O chão estava
coberto de lixo. Coloquei meu colchão de palha e meu cobertor sobre o assoalho
de cimento e me deitei ali. Era um dia extremamente frio, e, embora eu usasse
cada peça do meu vestuário e me enrolasse no cobertor, não pude dormir devido
ao frio. Era a véspera do Ano Novo, e fiquei caminhando pela cela, enrolado no
cobertor e ouvindo o estalido dos tamancos dos prisioneiros no chão de cimento.
Chamávamos isso de “cântico dos tamancos”. Era causado pelos tamancos de
milhares de prisioneiros que andavam para lá e para cá, procurando aquecer-se.
Durante os treze anos de meu aprisionamento, tive apenas um par de sapatos de
couro, mas não posso nem contar quantos pares de tamancos eu gastei. Naquela
noite eu ouvia o “cântico dos tamancos” pela primeira vez. Eu ouviria aquele
estranho ruído por muitas e muitas vezes. Gelado até aos ossos, naquela noite
terrivelmente fria, eu e cinco mil outros prisioneiros observamos a chegada do
Ano Novo. Posteriormente, Rute falou sobre a primeira visita que me fez. Ela
disse: “No começo de janeiro, um guarda da prisão veio falar comigo e
esclarecer que eu e as crianças poderíamos ir visitar meu esposo, na prisão. Eu
não tinha visto meu esposo desde que fora detido, em 24 de julho. Na prisão,
fomos cumprimentados pelo superintendente, que se mostrou muito cordial. Então,
fomos levados a uma sala de espera, e dois guardas conduziram Haralan até ali.
Saudamo-nos, enquanto um oficial se assentava nas proximidades, para ouvir
nossa conversa. Meu marido tinha as pernas, os braços — seu corpo inteiro —
inchado no dobro do seu tamanho normal. Perguntei-lhe se estivera doente, visto
que estava tão inchado. Ele olhou ao redor nervosamente e levou um dos dedos
aos lábios; assim, fiquei sabendo que não podia fazer-lhe tal pergunta. Então
ele disse em voz alta: ‘Minhas roupas estão um pouco apertadas. Se você pudesse
me enviar calças mais frouxas, seria ótimo!’ Terminaram os dez minutos
permitidos de visita — passaram-se rápido demais. Então, Haralan foi novamente
levado embora.” Tendo visto Rute pela primeira vez, desde meu aprisionamento,
eu lhe perguntei: “Você está vendo o que ganhou por ter-se casado comigo?
Talvez fosse melhor se você tivesse ficado na Suécia. Eu só lhe trouxe
sofrimentos”. Lágrimas jorraram de seus olhos; e ela respondeu: “Não, o meu
lugar é junto de você”. Após aquela visita, comecei a receber alimento
substancial, para que voltasse ao peso original. Também recebi atenções médicas
para que os danos físicos fossem reparados. Eu não podia mostrar qualquer sinal
do que havia sofrido. Durante seis meses, eu não tivera permissão de lavar o
rosto, tomar um banho ou barbear-me. É fácil imaginar qual era o meu aspecto!
Quebrado, mas não derrotado
O tribunal de Sofia é o maior edifício isolado da Bulgária.
E quão apropriado é que seja tão grande: é de muita utilidade. Ocupa um
quarteirão inteiro na região central da cidade. Meu julgamento realizou-se no
mais belo e importante dos salões de julgamento do tribunal — o Salão 11.
Microfones e câmeras foram instalados em ambos os lados do auditório, para que
o julgamento fosse filmado. Jornalistas de países estrangeiros encontravam-se
entre os convidados especiais, estavam lá representados o The London Telegraph,
The New York Times e outros grandes jornais. Aquele seria um julgamento
histórico, no qual eu e outros catorze principais líderes eclesiásticos da
Bulgária seríamos julgados ao mesmo tempo. Também estava presente o “Deão
Vermelho” de Canterbury, H. Johnson, que fora trazido especialmente para o
julgamento. Aos parentes foram dados cartões especiais de admissão. O salão,
que tinha capacidade para mais de quinhentas pessoas, estava lotado. Um por um,
fomos trazidos de nossas celas, escoltados por um policial de cada lado. Fomos
levados a assentos sem qualquer comunicação uns com os outros. No entanto, não
pudemos deixar de olhar uns para os outros, quando vimos os pastores
“bem-vestidos”, usando terno limpo e passado. Que contraste com os imundos
trapos que havíamos usado na prisão, durante os últimos seis meses! Como foi
que isso aconteceu? Duas semanas antes de começar o julgamento, disseram-nos
que escrevêssemos aos familiares pedindo camisas e ternos bem passados. Também
lhes foi permitido que nos enviassem tanto alimento quanto pudessem. Além
disso, a cozinha da prisão nos mandara alimentos nutritivos e calóricos, nas
duas últimas semanas. Tudo para impedir que houvesse qualquer evidência do sofrimento
pelo qual havíamos passado, visto que teríamos de comparecer diante de
repórteres e diplomatas estrangeiros. Deveríamos parecer bem-alimentados,
bem-vestidos e bem-tratados — o ludíbrio comunista estava em ação! O tribunal
constituía-se de três juízes, que eram meros robôs. As verdadeiras decisões
estavam nas mãos dos oficiais da Polícia Secreta, sentados na primeira fileira
do auditório. Todo o texto do que seria dito fora escrito com bastante
antecedência. As acusações foram lidas pelo Promotor-Chefe da Bulgária, que era
auxiliado pelo promotor estadual Tsakoff. O primeiro a ser levado ao banco dos
réus foi o pastor batista Nickola Michailoff. Seu julgamento durou seis horas.
Era o mais transformado, o mais disposto a dizer o que os comunistas queriam
que ele dissesse. Na realidade, o pastor Ziapkoff, que era o líder de todas as
congregações evangélicas da Bulgária, deveria ter sido o primeiro a ser
julgado, mas evidentemente a DS não confiava muito em que ele se humilharia. O
pastor Michailoff mostrou-se uma “testemunha importante” contra todos os
pastores, especialmente contra o pastor Ziapkoff. Bastaria o testemunho de
Michailoff para condenar todos nós à morte. Contudo, visto que “tínhamos
confessado”, a sentença de morte foi “revogada” e transformada em
aprisionamento. O intuito disso era demonstrar a “misericórdia” dos comunistas.
O segundo a ser levado ao banco de réus foi o líder dos metodistas, o pastor
Janko Ivanoff. Ele repetiu o que dissera o pastor batista, confirmando o
testemunho deste em todos os aspectos. No dia seguinte, os jornais estavam
repletos das terríveis “confissões” de espionagem dos pastores, que haviam
“vendido” a Bulgária aos ingleses e americanos. De acordo com os jornais, o
“povo” exigia as penas mais severas. Evidentemente, toda a notícia dos jornais
viera da Polícia Secreta. De fato, ficamos sabendo posteriormente que os
artigos tinham sido escritos várias semanas antes! Cedo pela manhã, recebemos
cópias dos jornais, a fim de percebermos que nossa situação era desesperadora,
não havendo nada mais a fazermos, senão confessar, arrepender-nos e implorar
clemência. Nossas confissões estavam escritas como sermões, e disseram-nos que,
depois de lermos as confissões, deveríamos lamentar e clamar em
“arrependimento”. Somente meu irmão, Ladim não fora quebrantado. Recusara-se
até a usar gravata no tribunal, como sinal de sua resistência. Naquela noite, a
British Broadcasting Company (BBC), em Londres, noticiou que Ladim Popov fora o
único dos quinze pastores acusados de espionagem que se recusara a confessar.
Os repórteres da BBC proclamaram-no o herói do julgamento; e ele realmente o
era. Ladim era fisicamente muito vigoroso e foi capaz de resistir a boa parte
das torturas. Não sendo casado, não tinha esposa ou filhos com quem se preocupar.
E isso o ajudara mentalmente. O julgamento foi uma trágica comédia “negra”,
escrita, produzida e dirigida pela Polícia Secreta. Nós, os pastores, tínhamos
sido espancados, submetidos a regime de fome e nos tornamos gravadores. Antes
do julgamento, fôramos destituídos dos dois mais importantes fatores da vida de
um ser humano: a vontade e a razão. Na realidade, éramos apenas gravações
usadas pelas autoridades da Polícia Secreta — gravações que reproduziam a
vontade, os desejos, os pensamentos e as mentiras deles. Gravações reproduzem
apenas aquilo que tiver sido registrado nelas. De acordo com a doutrina
comunista, o fim justifica os meios. Isso permite aos comunistas usarem
mentira, engano deliberado, assassinato e todas as medidas possíveis que os ajudem
a conseguir os seus propósitos.
Em nosso caso, os comunistas tinham objetivos específicos.
Em primeiro lugar, o caso contra os principais pastores da nação tinha por
objetivo destruir as igrejas evangélicas. Em segundo lugar, visava a destruir
os pastores fiéis com um só golpe, para que fossem substituídos por
pastores-fantoches. Mas, quando os pastores foram levados ao banco dos réus,
era Cristo e seus ensinos que estavam realmente sendo julgados. Novamente, o
diabo arranjara falsas testemunhas e encontrara acusações falsas para livrar-se
de Cristo, a Luz do Mundo. Ele foi julgado perante Pilatos, que recebia ordens
de Roma; foi escarnecido, sentenciado à morte, crucificado e colocado em um
túmulo selado. Estávamos apenas seguindo os passos dEle. No entanto, embora o
diabo tenha se mostrado bastante astuto, esperto e maldoso, ele não obteve
êxito. E a razão disso encontra-se nas palavras de Paulo a Timóteo: “A palavra
de Deus não está algemada” (2 Timóteo 2.9). A Palavra de Deus não pode ser
destruída. Mais cedo ou mais tarde, a verdade será vitoriosa. Exatamente quando
o diabo pensava ter obtido a vitória, Cristo ressuscitou dentre os mortos. Uma
mentira é sempre uma mentira. Nem marxistas, nem leninistas conseguirão criar
um paraíso terrestre fundamentados na mentira. As testemunhas de acusação eram
semelhantes aos principais sacerdotes que cuidaram para que Jesus fosse
sentenciado à morte. As acusações feitas contra nós não se baseavam nos fatos,
mas, apesar disso, as palavras vazias e as circunstâncias fabricadas eram
repetidas vez após vez. Um engenheiro que trabalhava em uma fábrica de
marmelada testemunhou que discutira com o pastor Ivanoff a respeito de como a
marmelada era “enlatada a vácuo”. Mais tarde, esse engenheiro encontrou
dinheiro em um de seus livros. O promotor lhe perguntou: “Como você acha que o
dinheiro apareceu ali? Não acha que o pastor Ivanoff o colocou ali, como
pagamento pela informação que recebeu de você?” Após gaguejar um pouco, a
testemunha disse: “É claro que ele deve ter feito isso”. Esses eram os
testemunhos apresentados contra nós! As testemunhas não disseram a verdade. Mas
o perjúrio das testemunhas era involuntário. Declararam o que eram forçadas a
dizer; eu não sentia nenhuma indignação contra elas. Os testemunhos prosseguiram
por oito dias; o julgamento inteiro prolongou-se por doze dias. Tudo estava
andando como um teatro de marionetes. Os fios eram puxados, e as marionetes se
moviam. Após serem ouvidos os depoimentos das testemunhas, o promotor fez um
discurso que durou quatro horas e continha mais assuntos políticos do que
acusações. Ele descreveu a situação internacional e disse que o “imperialismo
internacional” tentava impedir os trabalhadores de lutarem por seus ideais.
Afirmou que, por meio de nós, os pastores, os imperialistas tentavam destruir o
comunismo. Ao terminar, o assistente do promotor fez um discurso de
condenações, vituperando pessoalmente cada um de nós. Durante toda a audiência,
tanto a promotoria como a defesa salientaram quão perverso era o crime, exigindo
a pena de morte para o que acusavam ser espionagem na política, nos assuntos
econômicos e nas questões de defesa nacional. Contudo, nem a promotoria, nem a
defesa puderam apresentar um exemplo sequer de qualquer coisa que tivéssemos
praticado e que merecesse castigo tão severo. Nossos advogados, que ganhavam
polpudas somas todos os dias, em nossa “defesa”, apoiavam ao promotor em sua
propaganda política e nos condenavam. Somente dois dos advogados de defesa
ousaram dizer a verdade. Um deles não era comunista; estava ali por ser um dos
mais hábeis e dos mais conhecidos advogados de Sofia. Em seu discurso de
defesa, ele disse: “Meritíssimo, estes pastores foram acusados de espionagem.
Não é de nosso dever descobrir em que consistiu a espionagem deles?” E
continuou: “O pastor Mishkoff traçou um mapa mostrando uma estrada de Plovdiv a
Pestera. Segundo a acusação, esse mapa foi entregue aos norte-americanos. Os
norte-americanos seriam tão bobos que não poderiam ir à livraria mais próxima e
comprar um mapa da Bulgária, que mostra não somente todas as estradas da
Bulgária, mas também as ferrovias? Esses mapas são vendidos abertamente”. O
promotor saltou sobre os pés como se tivesse sido picado por uma abelha. E
gritou: “Sr. Toumparoff, o senhor não tem o direito de falar isso! Não sabe que
hoje tudo é secreto na Bulgária?” Toumparoff imediatamente percebeu a seriedade
do tom de voz do promotor, bem como a ameaça sugerida, e, assim, mudou de
tática, adotando a mesma atitude subserviente usada pelos outros advogados. O
pastor Vasil Ziapkoff, o líder das congregações evangélicas, recebeu o
tratamento mais severo. A despeito de sua inocência, em face das acusações
lançadas contra ele, seus advogados aconselharam-no a confessar, arrepender-se
e pedir misericórdia, pois, de outra maneira, seria impossível escapar da pena
de morte. Quando testemunhou em defesa própria, aquele homem, que conhecêramos
como firme e resoluto servo do Senhor, chorou profusamente. Ele também passara
por sofrimentos indescritíveis. Todos olharam surpresos para o pastor Ziapkoff.
Contudo, não era o pastor Ziapkoff que falava, e sim um “toca-fitas” que
reproduzia o cântico composto pela Polícia Secreta. Nem mesmo o tom e o som de
voz eram dele. Após o julgamento, não vimos mais o pastor Ziapkoff por três
nos. As torturas pelas quais passara o tinham levado à beira da demência, e
foram necessários três anos inteiros para que ele se recuperasse. Sob aquelas
circunstâncias, a timidez e o temor tomaram conta das igrejas — o segundo plano
da Polícia Secreta começava a funcionar. Um após outro, os principais líderes
cristãos leigos foram chamados à sede da Polícia Secreta, sendo-lhes ordenado
terminantemente que renunciassem a amizade e a comunhão com seus ex-pastores.
Os jornais começaram a imprimir notas escritas por membros comuns das igrejas
ou por seus líderes leigos, dizendo: “Expresso meu repúdio pelas atividades dos
pastores e renuncio minhas relações com eles”. No entanto, assim como nos dias
de Elias, houve um remanescente que se recusou a prostrar-se diante de Baal.
Portanto, nas congregações, houve aqueles que permaneceram ao nosso lado. Houve
pastores que não apresentaram notas de renúncia nos jornais. Mas, um por um
desses pastores logo foram lançados no ostracismo e obrigados a abandonar o
ministério. Alguns deles foram até enviados a campos de concentração. Outros
passaram a ser varredores de ruas, nas próprias cidades onde tinham pastoreado.
E muitos daqueles pastores, fiéis e caídos no ostracismo, iniciaram reuniões
“secretas” em seus lares, correndo grande risco. Não demorou e os comunistas
vieram para dentro da igreja na forma de “novos pastores” nomeados pela Polícia
Secreta. Alguns dos jovens e dos membros mais ativos das igrejas eram levados à
sede da Polícia Secreta, à noite. Ali eram violentamente espancados, de um modo
que não deixasse marcas. Pela manhã eram soltos e forçados a prometer que não
contariam nada a respeito de tudo quanto sucedera, nem mesmo a suas esposas. Um
jovem crente foi convocado à sede da Polícia Secreta todas as noites, durante
seis meses, para ser espancado. Por meio de vários recursos, os comunistas
tentavam fazê-lo prometer que lhes contaria tudo quanto acontecia em sua
congregação. Ele se recusava. Sua esposa notou as ausências noturnas,
percebendo também que ele retornava pálido e trêmulo. Ele nunca contou seus
sofrimentos para ela. Os mesmos métodos eram usados contra muitos jovens
crentes em todo o país. Crentes fervorosos e membros ativos das igrejas eram
especialmente procurados pela Polícia Secreta. Muitos deles não resistiam e se
renderam à vontade das autoridades, talvez para permanecerem na congregação. O
temor de ser delatado determinava a conduta do indivíduo. Em muitos casos,
sabia-se quem era o informante, mas ninguém ousava dizê-lo abertamente, porque
a Polícia Secreta podia alcançar a quem quisesse. Isso me faz lembrar a
profecia bíblica de que o homem seria traído pelos de sua própria casa. Muitos
crentes de outros países não conseguem entender quão astutos e malignos são os
poderes das trevas, porque nunca estiveram assentados sozinhos, numa cela,
completamente impotentes e sem esperança. Não importa quantos livros sejam
escritos a esse respeito, somente aqueles que têm experimentado os caminhos e
os meios usados podem compreender o que Satanás é capaz de inventar para
torturar os homens. Nossas sentenças foram anunciadas em oito de março. As
sentenças mais pesadas caíram sobre os líderes das várias denominações. O
pastor Vasil Ziapkoff, representante das Igrejas Evangélicas Unidas; o pastor Janko
Ivanoff, representante auxiliar das Igrejas Evangélicas Unidas; o pastor Georgi
Chermeff, presidente-auxiliar das Igrejas Evangélicas Unidas; Nickola
Michailoff, presidente das Igrejas Evangélicas Unidas — cada um deles foi
sentenciado à prisão perpétua e ao confisco de todos os seus bens pelo Estado.
Suas famílias foram destituídas de tudo, exceto as roupas do corpo. Os demais
pastores e eu, membros do Supremo Concílio das Igrejas Evangélicas Unidas,
fomos sentenciados a quinze anos de encarceramento. Os pastores Jontso Drenoff,
Zakari Raicheff e Ivan Angeloff foram sentenciados a dez anos de
encarceramento. O pastor Mitko Matteff foi condenado a seis anos e oito meses
de encarceramento; Ladin, meu irmão, a cinco anos de encarceramento. (Ele nunca
se rendeu, pelo que levantaram outra acusação falsa contra ele.) Os pastores
Angel Dinoff e Alexander Georgieff receberam liberdade condicional. Angel
Dinoff foi imediatamente escolhido pelos comunistas para ser o presidente das
Congregações Evangélicas. Durante todo o período de detenção parece que a
Polícia Secreta estava preparando-o para essa tarefa. Os comunistas sabiam que
um ataque externo sobre as igrejas uniria e fortaleceria os crentes, como
acontecera em toda a história do cristianismo. Portanto, resolveram destruí-las
ou controlá-las internamente. Os comunistas encontraram em Angel Dinoff um
instrumento bastante condescendente. É claro que ele apoiava fielmente os
comunistas. Até hoje a tática comunista consiste em fechar algumas igrejas e
instalar seus próprios homens naquelas que permanecem abertas.
O trágico sofrimento dos familiares
Após o julgamento,
fomos levados de volta à prisão, para desaparecermos da atenção pública. Agora,
porém, eram as nossas famílias que também sofriam. A perseguição surgiu não
somente dos inimigos da cruz, mas também dos recém-instalados “pastores”,
incluindo Angel Dinoff. O povo foi advertido de que todo aquele que tentasse
ajudar os pastores aprisionados ou as suas famílias desamparadas seria enviado
a um campo de concentração Um dos pastores do Norte da Bulgária recolheu uma
pequena importância que enviou a Rute e à esposa do pastor Cherneff. Ele foi
abordado na rua, segurado pelo colarinho e indagado violentamente: “Quem lhe
deu permissão para recolher dinheiro para as famílias dos pastores
aprisionados?” O idoso irmão levantou a mão para os céus e disse: “Deus!” Em
certa ocasião, Rute estava com seus últimos centavos. Paulo e Rode choravam de
fome. Rute caiu de joelhos e orou: “Ó Deus, não temos qualquer alimento. Não
temos dinheiro. Haralan está na prisão. Ó Deus, cheguei ao final de meus
recursos. Ajuda-nos”. Um pouco mais tarde, naquele mesmo dia, chegou uma carta
enviada por esse mesmo pastor, contendo um vale postal em valor suficiente para
tirá-la daquela emergência! Posteriormente, Rute, Paulo e Rode foram despejados
da casa em que morávamos. Este intenso sofrimento de famílias de prisioneiros
crentes era cuidadosamente planejado, a fim de aumentar a agonia dos homens
encarcerados. Rute estava preocupada com a possibilidade de seus familiares,
que moravam na Suécia, não saberem a verdade sobre o julgamento. Devido ao
serviço postal deficiente, não recebemos cartas deles por algum tempo, e não
sabíamos se haviam recebido as cartas de Rute. Então, um dia ela foi consolada
de maneira inesperada. Um de seus parentes lhe enviara um cartão postal
simples, dizendo: “Ouvimos, lemos e compreendemos tudo”. O temor dos comunistas
chegou ao ponto de os novos pastores exigirem que os membros das igrejas
descobrissem quem tivera a ousadia de ajudar Rute e meus filhos. A família do
pastor Cherneff foi obrigada a mudar-se para Svistov, uma pequena cidade perto
do rio Danúbio. Certa vez a Sra. Cherneff foi a Sofia para transmitir um
recado. À noite ela compareceu a um encontro na igreja onde seu marido servira
como pastor durante vinte anos. Apesar de estar chovendo muito e apesar de ser
conhecida por todos, ninguém pôde convidá-la para passar a noite em sua casa,
pois os informantes estavam presentes. Assim, a Sra. Cherneff ficou andando
pelas ruas a noite inteira. A princípio, Rute teve um emprego. Era irônico: ela
devia limpar a igreja de Angel Dinoff, em dias alternados. Também recebia um
pequeno salário mensal para tocar o órgão durante os cultos. Mas não demorou
até que Dinoff fosse advertido de que dessa maneira estava ajudando as famílias
de pastores aprisionados. Portanto, ele deixou claro para minha esposa que os
seus serviços não eram mais necessários. Depois, uma irmã da igreja, que estava
doente, pediu à minha esposa que a substituísse no trabalho. Foi assim que
minha esposa encontrou um emprego como zeladora noturna. Ela permaneceu naquele
emprego por um ano inteiro, antes de seus patrões descobrirem que ela era a
esposa de Haralan Popov. Rute foi imediatamente despedida. Rute lutava todos os
dias para manter nossos filhos alimentados. Era uma luta solitária e
desesperada para manterem-se vivos. Mais tarde, descobri que nem mesmo nossos
irmãos crentes do mundo livre faziam qualquer coisa para ajudar-nos. É uma
vergonha para a consciência dos crentes do mundo livre o fato de que milhares
de famílias evangélicas estejam sofrendo, agora, deste modo — sozinhas e
desamparadas — em terras comunistas. Rute não recebia um centavo de ajuda. Ela
e nossos filhos sobreviviam devido a algumas poucas cenouras que lhes eram
dadas por um corajoso crente que desafiou as advertências dos novos pastores.
Era uma existência precária e perigosa para Rute e as crianças. Os comunistas
sempre fazem as famílias de crentes aprisionados sofrerem, pelo menos, tanto
quanto os próprios prisioneiros. Isto visa intensificar o sofrimento mental e a
preocupação dos prisioneiros. Não podemos descrever a agonia de um pai ou
esposo trancado impotentemente atrás das grades de uma prisão, sabendo que sua
esposa e seus filhos, naquele momento, passam fome, sendo expulsos de uma
cidade para outra, como animais desarraigados. Para um homem, este é um fardo
pior que a fome. Já vi homens fortes, capazes de resistir a quase qualquer
espancamento físico, enlouquecerem ao saber o que a esposa e os filhos estavam
sofrendo, enquanto eles eram incapazes de ajudá-los. Esta é a tragédia de
nossos irmãos na fé aprisionados em países comunistas, hoje.