“Bem-vindo à Casa Branca, prisioneiro Popov!”
A Polícia Secreta chamava-se Dershavna Sigornost ou DS. Seu
centro de operações ficava em um grande edifício branco que o povo apelidara de
“A Casa Branca”. Mas asseguro que essa “Casa Branca” era bem diferente da Casa
Branca norte-americana! Muitos dos melhores homens de nosso país foram levados
à “Casa Branca” e dali nunca saíram vivos. Havia até boatos de que a “Casa
Branca” tinha seu próprio “cemitério” subterrâneo, para se livrar dos corpos de
suas vítimas. Para o povo da Bulgária, o nome DS significava desaparecimento,
sofrimento e morte. Por cima da porta de uma cela, estava escrita uma citação
da Divina Comédia, de Dante: “Abandonai toda a esperança, vós que aqui
entrais”. Quão apropriado! Maior é o número de pessoas que morrem ali, do que o
número das que saem vivas; e aquelas que saem não sobrevivem por muito tempo,
em conseqüência das torturas a que são submetidas. Falava-se que as pessoas, ao
passarem perto do edifício da Polícia Secreta, podiam ouvir gritos que
atravessavam as pedras do piso da rua, gritos provenientes do extenso complexo
de celas subterrâneas. Mais tarde, descobri que isso era verdade. Quando o
“Corvo Negro” parou, e fui introduzido no edifício, temor e insegurança
invadiram-me o coração. Eu havia experimentado uma semana de insônia e
interrogatórios; meu corpo tremia e balançava. Quando atravessei a porta,
vieram-me à memória as palavras de Salmos 73.28: “No SENHOR Deus ponho o meu
refúgio”. Eu sabia que não poderia esperar ajuda de ninguém ali na “Casa
Branca”. Sussurrei uma oração: “Ó Deus, minha vida está em tuas mãos”. Meus
temores começaram a desvanecer. Fui tomado por um forte sentimento de paz. A
tensão de meu corpo desapareceu. Talvez a morte me esperasse na “DS”, a “Casa
Branca”, mas meu coração louvava e adorava ao Senhor. Quando um homem enfrenta
a morte, examina a si mesmo e medita sobre a sua posição diante de Deus.
Percebe as coisas com muita clareza. Eu me resignara ao pensamento de que minha
vida terrena acabaria em breve e de que em pouco tempo estaria com o Senhor.
Para mim, era evidente que eu fora levado ali para morrer. Na semana que se
passara, eu tinha perdido tudo o que era precioso para mim — esposa, família,
igreja, lar — mas senti Deus bem ao meu lado, quando passei pela porta que me
levaria ao interior do centro de operações. O guarda fitou-me com ironia e
disse: “Bem-vindo à Casa Branca, prisioneiro Popov”. Fui novamente despido e
revistado; depois, conduzido ao terceiro andar. Ao subir as escadas, percebi
que havia uma rede de arame por sobre o poço da escada, uma rede colocada para
que nenhum prisioneiro escapasse lançando-se da escada. Evidentemente, tantos
prisioneiros tentaram cometer suicídio, que a rede fora colocada para
apanhá-los. No terceiro andar, fui levado ao longo de um corredor escuro que
tinha janelas sujas, fechadas com barras, de um lado, e fileiras de portas
escuras e enferrujadas, do outro lado. Na porta das celas, havia um pequeno
buraco com uma tampa corrediça. Esse buraco permitia que os guardas observassem
os prisioneiros. Gemidos quase inaudíveis eram suspirados pelos ocupantes das
celas. Os guardas usavam sapatos feitos de pano grosso, para que os
prisioneiros não os ouvissem ao se aproximarem. Mas deixe-me contar-lhe como
cheguei a esse ponto, em minha vida...