ENCHEI-VOS!
Eu estivera freqüentando um pequeno grupo de oração que se
reunia perto de Fort Bragg. Certa noite, Ruth, membro do grupo, foi
visivelmente abençoada durante o período de oração. Eu já a havia observado em
outras ocasiões e muitas vezes tive vontade de perguntar-lhe como tinha
conseguido tamanha felicidade em sua vida. Diferentemente de nós, ela parecia
estar sempre alegre; tinha uma alegria constante que eu experimentara poucas
vezes. Naquela noite Ruth disse-me: "Recebi tanta bênção que quase falei
em língua em voz alta!" "Você o quê?" Eu estava horrorizado.
"Falei em língua", disse Ruth alegremente. Olhei ao redor para ver se
alguém nos observava e diste em voz baixa: "Ruth, você teria arrasado o grupo.
Que foi que deu em você?" Ruth riu alegremente. "Eu tenho o dom de
línguas desde que recebi o batismo com o Espírito Santo." "O que é
isto?" Nunca tinha ouvido aquela expressão. Pacientemente, Ruth explicou
que era a experiência que os discípulos tiveram no dia de Pentecoste.
"Tive meu próprio Pentecoste", ela sorriu com alegria inconfundível.
"Pensei que você fosse batista." Eu estava abalado. "E sou; mas
Deus está operando em todas as denominações." Eu tinha ouvido rumores de
que uma onda de emocionalismo estava invadindo as igrejas, que alguns crentes
estavam-se atirando a estas coisas e perdendo a fé. Tinha ouvido falar de
alguns pentecostais que ficavam "bêbados no Espírito" ou o que quer
que fosse, e realizavam orgias estranhas. Compreendi que Ruth precisava com
urgência de uma conversa séria. Coloquei a mão em seu braço. "Cuidado,
Ruth", disse gravemente. "Você está mexendo com coisas perigosas. Vou
orar por você e se precisar de ajuda, pode me chamar." Ruth sorriu e
deu-me um tapinha na mão. "Obrigada, Merlin. Obrigada pelo seu interesse.
Alguns dias mais tarde ela me telefonou: "Merlin, há um
grupo chamado "Camp Farthest Out" que vai realizar um retiro em
Morehead; gostaríamos que você fosse." Pelo jeito parecia algo de que eu
devia manter distância. Diplomaticamente respondi que iria, se pudesse, o que
significava que não poderia. No decorrer da semana seguinte, várias outras
pessoas telefonaram; um amigo negociante para lembrar-me que deveria levar
tacos de golfe; uma senhora de Raleigh para dizer-me que minhas despesas seriam
todas pagas se eu quisesse ir. Outro telefonou para dizer que, se eu quisesse,
poderia levar outro pastor comigo, o qual tombem não pagaria nada. Assim já era
demais. Como poderia resistir a tanto interesse pelo meu bem-estar espiritual?
Agradeci e disse que iria. Entrei em contato com um amigo meu, um ministro
presbiteriano, e convidei-o para ir. Ele tentou esquivar-se. "É um passeio
a um hotel de recreio com todas as despesas pagas", argumentei.
"Irei." Já a caminho, Dick falou: "Merlin, por que estamos indo
a esse lugar?" "Não sei", respondi. "Mas é de graça; vamos
aproveitar." No saguão do hotel fomos recebidos com tanto entusiasmo por
pessoas que nunca tínhamos visto que eu comecei a me indagar quem realmente
eram esses estranhos seres no meio dos quais tínhamos vindo cair. O culto era
bem diferente do que eu estava acostumado. Os crentes cantavam com uma alegria
descontraída, batiam palmas e até mesmo levantavam os braços quando cantavam.
Tanto Dick quanto eu sentíamo-nos desajustados, mas concordei que havia ali um
certo gozo que nunca experimentáramos e o qual bem precisávamos conhecer. Uma
senhora de aparência fina dirigiu-se a nós várias vezes e perguntou: "Já
aconteceu alguma coisa?" "Não, senhora. O que quer dizer com
isso?" respondíamos. "Vocês verão; vocês verão", dizia. Ruth e
as outras pessoas que nos haviam convidado a ir ali sugeriram que fôssemos
falar com uma certa senhora que diziam possuir um poder incomum.
Apresentaram-nos a ela e de imediato não gostei. Ela
mencionava as Escrituras de uma maneira que parecia querer converter-me. Não
gostava quando pessoas citavam a Bíblia daquele modo para mim e principalmente
não gostava que uma mulher o fizesse. Nossos amigos, porém, insistiam que
tivéssemos uma conversa com ela, e como eles tinham pago tudo para nós, senti
que devia dar-lhes essa satisfação. Sentamo-nos a ouvir pacientemente, e ela
nos contou o que Deus havia feito em sua vida e na vida de outros. Mencionou
várias vezes o "batismo com o Espírito Santo" e mostrou-nos na Bíblia
que essa experiência tinha sido comum entre os crentes do primeiro século.
"O Espírito Santo ainda realiza a mesma obra hoje", disse.
"Jesus Cristo ainda batiza com o Espírito Santo aqueles que crêem nele,
exatamente como o fez no dia de Pentecoste." Senti uma ponta de vibração.
Será que eu poderia experimentar o meu próprio pentecoste? Será que poderia ver
as línguas de fogo, ouvir o vento impetuoso, e falar em outras línguas? Ela
terminou de falar e ficou olhando para nós. "Eu gostaria de orar pelos
senhores", disse suavemente, "para que recebam o batismo com o
Espírito Santo." Sem hesitação eu disse sim. Ela colocou as mãos sobre
minha cabeça e começou a orar. Eu esperava que algo me atingisse. Nada
aconteceu. Não senti nada. Ela colocou as mãos na cabeça de Dick. Quando acabou
de orar olhei para ele e ele olhou para mim. Percebi que ele também não tinha
sentido nada. O negócio era falso. A senhora olhou para nós com um leve
sorriso. "Ainda não sentiram nada, já?" Balançamos a cabeça em
negativa. "Não, senhora." "Vou orar pelos senhores numa língua
estranha também." Novamente ela impôs as mãos sobre minha cabeça. Não
senti, não vi e nem ouvi nada. Quando acabou de orar, ela me perguntou se eu
não ouvia ou sentia dentro de mim umas palavras que não compreendia. Pensei um
pouco, e percebi que realmente havia em minha mente umas palavras que não
significavam nada. Estava certo de que eram apenas produto de minha imaginação
e disse-o a ela. "Se o senhor as dissesse em voz alta, sentir-se-ia
ridículo?"
"Certamente que sim." "Estaria disposto a ser ridículo por amor a Cristo?" Esta pergunta colocava a questão sob um prisma inteiramente diferente. Naturalmente eu faria qualquer coisa por Cristo, mas falar em voz alta uma tolice tal poderia ser a destruição do meu futuro. Eu imaginava aquelas pessoas saindo dali e contando a todo mundo que o capelão metodista tinha recebido o dom de línguas. Podia até ser que eu tivesse de deixar o exército! Mas, e se isto fosse exatamente o que Deus queria que eu fizesse? De repente, até minha carreira pareceu de pouca importância. Ainda hesitante, comecei a falar as palavras que estavam na minha mente e mesmo assim não senti nada de diferente. Eu cria que Jesus Cristo havia me dado uma nova língua como sinal de que havia me batizado com o Espírito Santo; entretanto, os discípulos, no dia de Pentecoste, haviam agido como bêbados. Certamente eles estavam tomados por um certo sentimento. Olhei para Dick. Ele fazia o mesmo que eu. Falava palavras numa língua estranha e parecia crer na validade da experiência e, no entanto, não mostrava nenhuma reação emocional "A experiência baseia-se na fé em um fato, não em sentimentos", disse aquela senhora, aparentemente lendo nossa mente.
Fiquei pensativo — não me sentia diferente; mas, estava diferente? Levantei os olhos; subitamente compreendi uma coisa: "Eu sei que Jesus Cristo está vivo!" disse. "Eu não apenas creio; eu SEI!" Mas, naturalmente! O Espírito Santo dá testemunho de Jesus Cristo, diz a Bíblia. Agora eu sabia que aquilo era verdade. Aqui estava a fonte da grande autoridade dos discípulos após o Pentecoste. Eles não apenas se lembravam de um homem que tinha vivido, morrido e ressuscitado. Eles o conheciam no presente porque ele os tinha enchido com seu Espírito Santo, cujo propósito essencial é testemunhar de Jesus Cristo. Como um raio, compreendi o horror de que eu havia sido culpado durante os últimos anos. Não somente eu, mas milhares de crentes, nos púlpitos e nos bancos, cometem o erro de diluir a mensagem da cruz, e tirar Cristo da posição central que deve ocupar. Ao mesmo tempo que via a enormidade de meu pecado, vi também a Jesus Cristo em todo o seu esplendor, como meu redentor. Vi-o como bem no fundo do meu coração eu sabia que ele era. Todas as dúvidas inquietantes que tivera recentemente foram varridas por uma onda de alegre certeza. Aquilo era glorioso demais! Nunca mais duvidaria que Jesus Cristo era quem afirmara ser. Nunca mais iria cometer a insensatez de pensar que ele era apenas homem, um homem bom e um exemplo para nós seguirmos. Que verdade maravilhosa! Jesus Cristo vivendo em nós, seu poder operando através de nós. Ele é a videira; sua vida é a nossa própria vida. Sem ele nada somos; em nosso próprio poder não conseguimos realizar nada. "Obrigado, Senhor Jesus."
Levantei-me, e quando estava de pé, algo
veio a mim. Fui subitamente cheio, até transbordar, de um sentimento de calor
humano e amor para com todos que estavam naquele aposento. Dick também deve
tê-lo recebido no mesmo momento. Vi lágrimas se formando em seus olhos e sem dizer
palavra, adiantamo-nos e abraçamo-nos fortemente, chorando e rindo ao mesmo
tempo. Olhei para a querida irmã com quem momentos antes tinha antipatizado e
compreendi que a amava. Ela era minha irmã em Cristo. Descemos para almoçar e
senti um amor transbordante por todos que eu via. Nunca sentira aquilo antes.
Naquela mesma noite, eu e Dick entramos numa das salas para orar. Algumas
pessoas se uniram a nós e, em pouco, a sala estava cheia. Enquanto orávamos
outros foram cheios do Espírito Santo. Por todo o hotel ressoaram gritos de
alegria à medida que uns e outros experimentavam a plenitude da presença de
Cristo. Às duas da madrugada eu e Dick tentamos ir dormir. Não adiantava
tentar, estávamos por demais alegres. Eu disse: "Vamos levantar e orar mais."
Oramos mais duas horas, suplicando a Deus por todos os nossos conhecidos e
depois louvamo-lo por sua bondade para conosco.