sábado, 24 de abril de 2021

Louvor que liberta - Capítulo 03


 Capítulo 03

A PROCURA O trabalho de um capelão é empolgante e eu estivera à procura de aventuras empolgantes. Acompanhava os soldados a toda parte. No ar, em terra, escalando morros, em caminhadas, em preparação física, no quartel, em escritórios, no campo, no refeitório, onde estivesse, eu tinha muitas oportunidades de lhes transmitir a mensagem de Deus. Cada minuto de exercício físico era um prazer. No treinamento de selva, que recebemos no Panamá, alimentávamo-nos de frutas silvestres. A umidade da selva, porém, logo cobrou seu tributo; alguns tiveram de ser carregados dali em padiola. Aprendi a sentir-me confortável numa poça de lama. Em Fort Campbell tive oportunidade de me tornar piloto, coisa que sempre desejara fazer. 

Um amigo e eu compramos um velho avião que parecia estar de pé apenas a poder de goma de mascar e gominhas de borracha. Não tinha equipamento de rádio, e tínhamos que pilotá-lo quase que por instinto. Certa vez perdi-me e vi-me de repente escoltado por dois aviões do exército. Fizeram-me sinais para descer e vim a descobrir que estivera sobrevoando Fort Knox.* O oficial de segurança, indignado, informou-me que eu tinha tido muita sorte de não ter sido derrubado a tiros. Nosso avião chegou a um fim repentino, certo dia, quando meu colega teve de fazer uma aterrissagem forçada num milharal. Quando ainda aquartelado em Fort Bragg, fui até à República Dominicana com a 82ª divisão. Tratava-se apenas de uma missão de policiamento, mas trinta e nove paraquedistas perderam a vida. 

De volta a Fort Bragg continuei saltando e finalmente recebi o cobiçado título de mestre em paraquedismo. Aparentemente tudo estava bem. Minha vida era cheia de aventuras e eu estava fazendo a obra do Senhor. Talvez isso fosse parte do problema. Eu estava fazendo a obra do Senhor. Não me agradava admiti-lo, mas, muitas vezes, eu ficava tenso ao falar sobre o amor de Deus. Meu dever era fazer com que eles se convertessem, e eu me esforçava demais. Estava constantemente cônscio de que nunca conseguia atingir aquela perfeição desejada. Ela parecia estar sempre um pouco adiante, após a próxima curva da estrada. Quando criança, eu ouvira minha mãe e minha avó conversarem acerca da necessidade de pureza e santidade de vida. Uma era metodista wesleyana e a outra metodista livre e ambas falavam sobre a obra do Espírito Santo na vida do crente. 

O que quer que fosse, eu não o possuía. Li muita coisa a respeito da vida espiritual mais profunda e assisti conferências em acampamentos bíblicos, onde ouvia mensagens sobre o poder de Deus. Eu sabia que não havia muito desse poder na minha vida, e o desejava ardentemente. Queria ser usado por Deus, e onde quer que eu ia, encontrava pessoas necessitadas de ajuda espiritual. Mas eu não tinha condições de ajudá-las. Um amigo deu-me um livro acerca de certo culto oriental que dizia conhecer o método certo para se abrir a mente das pessoas ao poder de Deus. Ensinava que a pessoa devia deitar-se numa tábua, com os pés elevados e entregar-se à meditação silenciosa. Comecei a ler tudo que encontrava sobre fenômenos psíquicos, hipnotismo e espiritismo, esperando descobrir o segredo de como deixar o Espírito de Deus operar em mim e através de mim. Mais ou menos por essa época fui à Coréia e ali, ocorreu um pequeno acidente. Quebrei os óculos, e fragmentos de lente penetraram no meu olho direito. Perdi 60% da visão desse olho. A córnea ficou danificada e os médicos disseram que eu nunca recuperaria a visão total. Onde estava o poder de Deus? Cristo tinha andado na terra e curara vários cegos. Ele disse que seus seguidores iriam realizar obras ainda maiores. Fui a Seul duas vezes para fazer operação no olho. 

O resultado era sempre negativo. Orei. Todo meu ser se rebelava contra a idéia de que um Deus salvador, um Criador onipotente, um Deus cujo nome eu pregava a homens que enfrentavam a morte nos campos de batalha, era um Deus sem poder de curar. Mas onde estava o segredo? Como esse poder era liberado entre os homens? Eu tinha que descobrir. Na terceira vez que fui a Seul para uma consulta médica, estava sentado no avião, quando de repente tive uma sensação interior muito nítida. Não era uma voz audível, mas algo foi-me claramente comunicado: "Seus olhos vão ser restaurados." Compreendi que Deus havia falado. Ele tinha falado tão claramente como quando falara naquele domingo à noite, naquele celeiro, na Pensilvânia. Em Seul, o médico balançou a cabeça e disse: "Sinto muito, capelão, não há nada que possamos fazer pelo seu olho." Em vez de sentir desânimo, senti-me vibrar. Deus falara comigo e eu confiava nele. Alguns meses mais tarde senti enorme vontade de voltar ao médico. Ele ficou muito surpreso, quando terminou o exame. "Não compreendo", disse. "Seu olho está perfeito." Deus tinha operado. Eu estava maravilhado e mais determinado do que nunca a pesquisar todo e qualquer meio possível de conseguir contato com o seu poder. Regressei aos Estados Unidos em 1963. Voltei a fazer alguns cursos de capelania durante seis meses e depois fui designado para servir em Fort Bragg, em 1964. Ali, continuei a estudar hipnose com renovado vigor, e entrei em contato com o movimento 'Spiritual Frontiers" (Fronteiras Espirituais) liderado por Arthur Ford. Ouvira falar que muitos pastores haviam sido atraídos a esse movimento. 

Em casa de Arthur Ford vi, em primeira mão, evidências das operações de um mundo espiritual totalmente diverso do nosso mundo racional. Fiquei fascinado. Mas... aquilo seria bíblico? Fui assaltado por dúvidas. Os espíritos realmente existem, mas a Bíblia fala de outros espíritos além do Espírito Santo de Deus e das forças espirituais do mal nas regiões celestes (Efésios 6). A Bíblia chama esses espíritos de inimigos, força de Satanás, e nos admoesta a provar todos os espíritos para termos a certeza de que não estamos sendo manobrados pelo inimigo. Satanás consegue, habilmente, plagiar a obra do Espírito Santo. Estava quase certo de que não estava me metendo por um caminho escuso. Esses espíritos, e também as pessoas que fiquei conhecendo no movimento, falavam bem de Cristo. Naturalmente, eles o reconheciam como Filho de Deus e como um grande líder espiritual que operou muitos milagres. Nosso alvo, diziam, é tornar-nos semelhantes a Deus em tudo, já que nós também somos filhes dele. Viajei muito para ir falar com pessoas que sabiam alguma coisa sobre o assunto. Li livros sobre hipnotismo, conversei com médicos e até escrevi à Biblioteca do Congresso. Senti que através desse recurso eu, um simples mortal, poderia ajudar muitas pessoas. Não sabia que estava pisando terreno perigoso. Desapercebidamente eu começava a ver em Jesus Cristo uma pessoa igual a mim, alguém a quem eu poderia me equiparar, se para tanto me esforçasse. Tinha subestimado em muito as forças do inimigo. 

Não o sabia naquela época, mas a hipnose é uma ciência potencialmente muito perigosa, pois deixa a pessoa totalmente exposta aos ataques das hostes de Satanás. Outra coisa, eu estava caindo no erro de pensar que Satanás era mesmo aquele perverso sujeitinho de chifres, criado pela fantasia humana. Ele não faria nenhum mal a um homem esclarecido do século vinte. O escritor C. S. Lewis disse que o melhor truque de Satanás é convencer o mundo de que ele não existe. Minha fé tinha sido avariada e seriamente solapada, embora eu ainda não soubesse disso. A transição tinha sido muito sutil. Talvez eu tivesse saído dos limites da verdade quando descobri que estava me referindo a Jesus como mestre e operador de milagres, deixando de mencionar que ele morreu na cruz por nós, e que seu sangue nos purifica de todo o pecado. Satanás já citava as Escrituras no tempo de Jesus e hoje ainda as cita. Ele não se importa que nós a citemos; gostaria, porém, que nos esquecêssemos da cruz, do sangue e do Cristo ressuscitado. Paulo fala do segredo da vida cristã em Colossenses 1.27. 

Este segredo é Cristo em nós. Não é o fato de nos tornarmos iguais a ele, mas o de que ele vive em nós e nos transforma, começando em nosso interior. Pessoas podem olhar para nós e dizer que somos semelhantes a Cristo, não porque nos tornamos mais dignos, mais santos ou mais espirituais. Ele vive em nós e isso é o segredo de tudo. O perigo sutil do chamado "espiritualismo cristão" ou do movimento "Spiritual Frontiers" é que levam homens a tentar imitar a Cristo e apropriar-se de poderes espirituais para si mesmos, cometendo assim o pecado original de Satanás, o anjo caído, que quis ser igual a Deus. Sem Cristo e sem a cruz não haveria o plano da salvação e nem os meios legais para o perdão de pecados. Na realidade, não haveria evangelho. Eu estava caindo numa armadilha. Minha motivação era pura; sinceramente, eu queria ter poder para ajudar outros a resolver seus problemas e curar doenças do corpo e da mente. Foi preciso um ato divino para que meus olhos se abrissem e eu visse o erro em que estava.