SEU PODER NO HOMEM INTERIOR
Retornei a Fort Bragg ansioso para contar da bênção maravilhosa que tinha recebido. Eu já tinha pensado antes como uma experiência dessas afetaria meu ministério. Lembrava-me muito bem da minha própria reação diante de "emocionalismos pentecostais" na igreja. Agora sabia que não me importaria com a reação dos outros; eu não poderia deixar de falar da experiência. No primeiro dia, logo depois que cheguei, fui ao escritório do quartel. O primeiro sargento estava sentado à mesa. Era um homem grande e rude e seus modos grosseiros eram bem conhecidos de todos. "Sargento", disse-lhe, "alguma vez já lhe falei que Jesus o ama?" Para minha surpresa, lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Ele disse: "Não, capelão; o senhor nunca me falou nada disso." Senti meu rosto arder de vergonha. Há mais de um ano eu o via todos os dias, várias vezes por dia, e nunca havia lhe falado nada sobre Jesus. Saí para o corredor e encontrei o outro sargento: "Sargento, já lhe falei que Jesus o ama, e eu também?" "Não, o senhor nunca me disse isso." Mais uma vez senti vergonha.
Ele continuou: "O senhor poderia
me conceder um minuto? Preciso conversar com o senhor. Fomos para o meu
gabinete e ele apresentou uma série de problemas seus dos quais eu nunca tivera
conhecimento. Quando terminou, perguntei-lhe se gostaria de aceitar Cristo como
seu Salvador. Disse que sim e ajoelhou-se, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Onde quer que eu fosse, pessoas aceitavam a Cristo. Eu parecia ter um poder que
operava através de mim. Quando começava a falar com alguém, não tinha a mínima
idéia do que ia dizer, mas o que dizia tinha um grande poder que levava homens
a Cristo. Era fácil servir a Deus desse modo. Toda a tensão se fora e eu podia
rir novamente. A pregação não era mais algo por que tinha que batalhar
laboriosamente. Tornou-se uma grande alegria para mim deixar que os pensamentos
de Deus fluíssem através de minha vida.
Todo o pessoal do exército é obrigado a assistir aula de Moral e Cívica uma vez por mês. Os capelães, quando dão essa aula, não podem pregar. Um dia, cautelosamente, eu disse à classe que o Deus de nosso país ainda está vivo e atende às orações que lhe fazemos. Após a aula, um soldado veio até a mim e, chegando o rosto a um palmo de distância, disse com insolência: "O senhor crê mesmo nessas coisas, não crê?" "Sim, creio", respondi. "Crê que se pedisse uma coisa agora a Deus, ele atenderia?" "Sim", disse. "Sei que ele atenderá." "O senhor acha errado fumar?" A pergunta foi meio inesperada. "Para alguns é errado, para outros pode não ser", respondi evasivamente. "Eu comecei a fumar aos quatorze anos e agora fumo três maços por dia. Hoje o médico falou comigo que se não parar, eu morro." "Então não há dúvida: para você é errado." "Então peça ao seu Deus para me fazer parar." Como poderia eu fazer uma oração dessas?
As
respostas habituais começaram a vir-me à mente: "Deus ajuda aos que se
ajudam; peça a Deus que o ajude a querer parar", mas não fora isso que ele
me pedira. "Senhor", orei em silêncio, "mostra-me o que
fazer." Imediatamente senti uma forte impressão. "Ore em sua nova
língua." "Em voz alta?" "Não, em silêncio." Comecei a
orar na língua que havia recebido no retiro; depois, fiz uma pausa. Outra
impressão me sobreveio: "Ponha a mão no ombro dele e ore."
Obedientemente coloquei a mão no ombro dele. "O que devo pedir?"
"Ore silenciosamente em língua estranha." Assim fiz. Depois outra
impressão: "Traduza para o inglês." Sem hesitar, abri a boca e as
palavras saíram: "Senhor, não o deixe fumar mais enquanto viver." Que
oração! Se o homem fumasse de novo, ficaria convencido de que Deus não ouvira a
oração. Senti-me totalmente confuso; virei-me e saí.
Nos dias que se seguiram perguntei a Deus várias vezes se não havia compreendido mal. Será que meu engano não faria aquele homem descrer de tudo? Várias vezes senti a resposta: "Confie em mim." Confiar em Deus, aparentemente, significava andar numa corda bamba, sem nada em que segurar a não ser a fé. Com renovado afinco, mergulhei no estudo intensivo da Palavra de Deus. Se eu ia trabalhar na base da fé, tinha que ser fé na integridade e na natureza de Deus. Eu tinha de conhecê-lo e descobri que quanto mais eu lia, mais fortemente cria. A leitura da Bíblia nunca tinha me empolgado tanto. Nas suas páginas, obtive um novo conhecimento de Deus, o onipotente Deus que prometeu que, em Cristo, poderíamos fazer tudo. Não nos foi dito que o poder que há em nós é o mesmo que ressuscitou a Cristo de entre os mortos? Em Efésios 3.20-21 Paulo diz: "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém." Estudei, cuidadosamente, as instruções de Paulo à igreja de Corinto. Ali ele menciona os vários modos como o Espírito Santo opera através dos homens: em línguas, interpretação das línguas, cura, milagres, profecias, pregação, sabedoria, ciência, fé, discernimento. Como poderia saber quais os dons que Deus queria manifestar através de mim? Teria ele me dado algum dom especial? De novo me veio à mente o verso de Efésios:"... conforme o seu poder que opera em nós." Não, eu não tinha dom nenhum. Tudo que sabia era que deixaria Deus operar através de minha pessoa. Em outras palavras, meu papel era ser estritamente obediente às impressões e instâncias que sentisse no meu interior. O verso dizia que Deus pode fazer muito mais do que pedimos ou pensamos. Obviamente, não havia um modo de eu saber, antecipadamente, o que Deus queria realizar. Uma noite, em nossa reunião de oração, falei sobre o poder de Deus para a cura.
Uma senhora então disse: "Por que o senhor não ora pela cura de um de nós?" Fiquei um pouco abalado. Eu sabia, naturalmente, que Deus pode e quer atender à oração de seus filhos, mas ouviria e atenderia a mim? "Está bem", respondi num assomo de fé. "Quem deseja que eu ore por ele?" "Eu quero", disse a mesma senhora. "Um dos meus olhos tem estado lacrimejando há vários meses. Nenhum medicamento resolveu o problema. Ore por mim." Respirei fundo, coloquei as mãos sobre sua cabeça e orei, apelando para toda a fé que me era possível ter, para crer que Deus a estava curando naquele momento. Quando terminei, o olho ainda lacrimejava. Havia feito algo errado? De novo aquela impressão interior: "Confie em mim." Muito bem, ter fé significava crer em algo que não se vê. A Bíblia ensina isso claramente. Conseguir vitória em tudo era sempre uma questão de fé. Quando os israelitas se recusavam a crer, Deus não podia realizar nada. Há promessas de Deus em abundância para aqueles que crêem. "Obrigado, Senhor", disse em voz alta, "por ter ouvido nossa oração!" Mais tarde, aquela irmã me telefonou: "Capelão, adivinhe o que aconteceu?" Havia vibração em sua voz. "Diga." "Eu estava aqui sentada lendo e, de repente, percebi que algo havia acontecido ao meu olho. Está completamente curado." Eu estava encantado. "Obrigado, Senhor", disse. "Entendi o que queres. Eu confio; tu fazes o resto." Um pastor da cidade, um presbiteriano que fora batizado com o Espírito Santo, tinha estado relutando em contar o acontecido à igreja. Ele convidou uma irmã do nosso grupo de oração para dar testemunho num culto de domingo à noite, e vários membros do grupo foram também para acompanhá-la em oração. Havia um profundo silêncio na congregação, enquanto aquela irmã narrava como, mesmo sendo batista, tinha sido batizada com o Espírito Santo. Era evidente que Deus estava falando ao povo. No fim da reunião, o pastor me chamou para dar a bênção apostólica.
Levantei-me, mas, em vez de dar a bênção, comecei a dizer as primeiras palavras que me vieram à mente. "Quem quiser vir à frente entregar a vida a Deus, pode vir." Silêncio! Nunca havia sido feito um apelo naquela igreja. Então, uma a uma, várias pessoas começaram a vir à frente, e a se ajoelhar. Encaminhei-me para a primeira pessoa. Não sabia o que dizer em oração. Não sabia por que aquela pessoa tinha vindo à frente. Inclinei a cabeça orando silenciosamente. "Mostra-me o que dizer, Senhor." Ouvi: "Ore no Espírito." Em silêncio, orei em língua estranha. "Agora, comece a traduzir o que você falou." "Senhor, perdoa a este homem pelo vício da bebida, e pela desonestidade nos negócios." Eu estava chocado com minhas próprias palavras. E se eu tivesse compreendido mal? Eu poderia naquele momento estar trazendo graves problemas para o ministério daquele pastor. Volteime para a pessoa seguinte e fiz a mesma coisa. "Senhor, perdoa este homem por seu temperamento violento, seu mau gênio, e pela maneira egoísta como trata seus familiares." Ia de um para outro, e, com as mãos na cabeça das pessoas, fui levado a fazer orações de confissão e arrependimento. Quando terminei compreendi que havia realmente caminhado numa faixa bem estreita, em inteira dependência de Deus. Após o encerramento, as pessoas vieram a mim, uma a uma. Com lágrimas de alegria diziam: "Você orou exatamente o que eu precisava; mas como soube de meu problema?" Alguns dias mais tarde, aquele pastor me contou que a congregação estava totalmente mudada. Muitos dos homens que tinham vindo à frente eram presbíteros e oficiais da igreja. Agora, toda a congregação estava transbordando de entusiasmo, fervor e alegria. Tive vontade de gritar. Eu não conhecia os problemas que afligiam os membros daquela igreja, mas Deus sabia.
Ele conhece o coração e a mente de todos nós, e pode nos falar com um
poder que vai diretamente de encontro às necessidades de cada indivíduo. Se a
pessoa aceita, não é mérito nosso, mas de Deus; se rejeita, também não é nossa
a culpa do fracasso. Todos os dias, onde quer que eu fosse, acontecia o mesmo.
Pessoas atendiam ao chamado de Jesus Cristo. Sempre que eu tentava voltar ao
velho hábito de pensar antes o que iria dizer, a conseqüência imediata era que
ficava tenso. O poder e a presença de Deus simplesmente não fluíam. O princípio
de abandonar-me nas mãos de Deus e deixá-lo agir era válido. Tudo o que eu
tinha a fazer era descansar nele, deixar a mente aberta e abrir a boca, numa
atitude de fé, e falar o que Deus me comunicasse. As palavras sempre vinham ao encontro
da necessidade de alguém e a pessoa sempre era poderosamente abençoada. Eu
estava maravilhado. Eu era pastor há vários anos. Tinha sempre me esforçado
bastante e, no entanto, nunca tinha visto tanta coisa acontecer na vida de
tantos crentes, em tão curto espaço de tempo, quanto depois que Cristo invadiu
minha vida na plenitude do seu Espírito. Sem a pesada carga que era planejar,
organizar, pesquisar e escrever notas para os sermões, descobri que tinha mais
tempo para a leitura da Bíblia e para a oração.
Parecia que, de repente, eu tinha mais energia que nunca, e não passei mais pela frustração de perder tempo em projetos que no fim resultariam em nada. Enquanto eu descansasse em Cristo, Deus dirigiria minha vida, e aconteceu que cada coisa, cada compromisso, cada acontecimento começaram a se encaixar nos lugares certos, formando um todo harmonioso. Não mais havia confusões e conflitos com relação a compromissos e horários. Minha única tristeza era não ter descoberto esta experiência de rendição completa a Deus muitos anos antes. Mais ou menos por essa época, Oral Roberts veio a Fayetteville. Levantou-se uma enorme tenda, e todas as noites milhares de pessoas iam vê-lo e ouvi-lo pregar e orar pelos enfermos. Eu queria conhecê-lo pessoalmente e por isso procurei saber quem era o pastor local encarregado dos trabalhos. Fui a ele e ofereci meus préstimos. Ele ficou espantado ao ver um capelão metodista querer se envolver com eles. Até então não conseguira a ajuda de mais ninguém a não ser dos ministros pentecostais.
Todas as noites, eu
compareci fardado e fiquei na plataforma. Estava próximo a Oral Roberts quando
ele orava pelos enfermos e vi mudanças físicas acontecerem à medida que pessoas
eram curadas. Que alegria imensa! Amigos meus, capelães, começaram a insinuar
que se eu continuasse a aparecer em tais lugares, e estar ligado a homens como
Oral Roberts, eu poderia desistir de progredir na capelania do exército.
Provavelmente eles estavam certos, mas eu preferia antes obedecer a Deus e ver
seu poder demonstrado claramente do que buscar a aprovação momentânea dos
homens. Na semana seguinte, eu estava olhando a lista de capelães que haviam
sido promovidos a tenente-coronel. Eu era major há pouco tempo e não poderia
ser considerado nem candidato à promoção, mas meu nome estava na lista. Mais
tarde vim a saber que o exército pode promover cinco por cento dos oficiais,
mesmo que estes não preencham todos os requisitos. Tudo o que pude pensar foi:
"Obrigado, Senhor, por teres me mostrado que eu posso confiar em ti para
tomar conta de minhas necessidades." Obediência a Deus significava, às
vezes, ir contra o desejo expresso da pessoa que buscava a bênção.
Um jovem tenente trouxe sua esposa para que eu orasse por ela. "Ela deseja receber o batismo com o Espírito Santo", disse ele. Senti algo de diferente. Recebi a revelação de que aquela jovem já tinha tido esta experiência. Ela não havia dito ama só palavra desde que entrara no gabinete e no entanto eu sabia que ela havia recebido o batismo. "Você já recebeu o batismo e não é preciso que eu ore por você", disse-lhe. "Como é que o senhor sabe?" perguntou surpresa. "Quero tanto essa bênção e tenho me esforçado para crer desde que oraram por mim." "Eu sei, porque o Espírito Santo me disse", respondi. "Ele disse também que antes de você se levantar receberá a evidência do dom de línguas." Isso já é demais, pensei. E se nada acontecesse? A fé dela ficaria abalada. No entanto, interiormente, eu tinha certeza. Convidei-os a se ajoelharem comigo numa oração de agradecimento pelo que Deus já havia feito. Antes de terminar, ouvi-a falando em uma nova língua.
Ficou tão alegre que, ao
deixar a sala, parecia estar flutuando. Certo dia, um jovem soldado veio ao meu
gabinete. Lembrei-me que havia orado por ele antes para que Deus não o deixasse
fumar mais. Seu rosto brilhava de felicidade. "O senhor não vai acreditar
o que aconteceu depois que o senhor saiu", falou. Eu tinha visto tantos
acontecimentos extraordinários nos últimos dias que acreditaria em qualquer
coisa. "Sim, vou acreditar", disse. "Conte." "Quando o
senhor voltou-se e saiu, eu ri e pensei: Vai ser fácil. É só eu fumar, e provo
que Deus não ouve oração nenhuma. Entrei no banheiro e acendi um cigarro; dei
uma longa tragada e imediatamente comecei a vomitar. Pensei que aquilo era
coincidência; provavelmente, eu comera alguma coisa estragada. Mais tarde
tentei fumar de novo. Aconteceu a mesma coisa. Nos dias seguintes toda vez que
eu tentava fumar, vomitava. Mesmo agora, só de pensar em fumar tenho vontade de
vomitar." Eu estava exultante. Jesus Cristo havia prometido que o Espírito
Santo estaria conosco para nos guiar a toda a verdade. Eu não tinha entendido
mal suas instruções. Alguns dias mais tarde aquele soldado voltou.
"Senhor, gostaria que orasse por mim outra vez." "Certamente." "Peça a Deus para perdoar meus pecados e me ajudar a aceitar a Cristo como Salvador." Em questão de minutos nos ajoelhamos e ele alegremente aceitou a Cristo como seu Salvador. Alguns meses mais tarde contei este incidente na Primeira Igreja Batista de Columbus, na Geórgia. Após o culto, um homem veio a mim e disse: "Eu também era daquela companhia quando aquilo aconteceu. O homem saiu pela companhia contando a todo mundo que o capelão tinha dado um jeito nele e ele não podia fumar mais." Que verdade maravilhosa! Deus não salva somente. Ele estava realmente falando a sério quando disse que podemos nos remodelar e tornar conformes à sua imagem. Ele pode perfeitamente tirar de nós os velhos hábitos, mazelas e pensamentos impuros, renovando-nos interiormente. Eu havia recebido o batismo com o Espírito Santo há apenas alguns meses e, no entanto, parecia-me que já tinha vivido toda uma vida nesta nova dimensão. Breve, eu iria ter um encontro com as forças inimigas. Subitamente fui acometido de uma enfermidade. Toda minha vida eu fora muito forte e gozara perfeita forma física. Mas agora toda vez que eu me exercitava um pouquinho que fosse, meu coração começava a bater mais depressa. Eu me sentia fraco, com dores no corpo todo.
Com relutância, concordei em ficar de cama uma semana.
Minha condição não melhorou em nada. Fui ao hospital para ver o que o médico
diria, e ali, imediatamente me colocaram numa padiola e me levaram para um dos
quartos. Fiz exames e mais exames, e não se descobria a causa da doença.
Sentia-me infeliz, fraco, tinha dores no corpo e parecia piorar em vez de
melhorar. Daquele jeito eu preferia estar morto; minhas energias estavam-se
esgotando e o mundo me parecia sombrio. Uma noite, eu estava pensando se o fim
não estaria próximo, quando, de repente, senti aquela forte impressão:
"Ainda confia em mim?" "Sim, Senhor", murmurei naquele
quarto escuro. Uma grande paz me envolveu e eu cai num sono profundo. Na manhã
seguinte, senti-me muito melhor. Os médicos insistiam em que eu devia ficar de
cama mais uns dias e eu fiquei satisfeito de ter mais algum tempo para orar,
louvar a Deus e estudar a Palavra.