sábado, 24 de abril de 2021

Foge Nick Foge - 18 - No território de Jesus



Capítulo 18

NO TERRITÓRIO DE JESUS

A GRANDE OPORTUNIDADE surgiu pouco antes do Natal, quando recebi um convite de um grupo de leigos conhecido como “Full Gospel Business Men's Fellowship International”. Foi através desse grupo de comerciantes dedicados que começaram a chegar convites para falar em ginásios e universidades. Du­rante 1965 estive na maioria das cidades mais impor­tantes do país. Minhas concentrações e cruzadas, em sua maior parte patrocinadas por igrejas de todas as denominações, estavam obtendo maravilhoso êxito, e eu falei a multidões de mais de dez mil pessoas.
Agradecia diariamente a Deus por sua bondade. Porém, ainda estava impaciente e tinha um profundo anseio no coração. Não parecia encontrar a solução para o problema, e por isso tornava-me cada dia mais impaciente.
Foi então que fiquei conhecendo Daniel Mala­chuk, um negociante extrovertido, de elevada estatu­ra, que vivia em Nova Jersey, e que, sem o saber, trou­xe à tona o meu problema. Casualmente ele mencio­nou certa noite que sabia que o meu desejo original fora trabalhar com os “pequenos”. Não respondi à sua observação, mas suas palavras ficaram gravadas em minha mente.
Recordei minha própria infância. Se tão somen­te alguém tivesse se preocupado em me levar a Cris­to quando criança, talvez...
Conversei a esse respeito com Glória. Deus esta­va usando o meu testemunho em grandes cruzadas, mas cada vez que eu lia nos jornais um artigo sobre crianças presas por terem cheirado cola ou terem fu­mado maconha, meu coração doía. Continuávamos orando para que Deus nos mostrasse o caminho para nos aproximarmos dessas crianças.
Poucos meses depois, Daniel ajudou a preparar uma cruzada de quatro dias em Seattle. Durante to­do esse tempo, eu estivera falando através do intér­prete Jeff Morales. Jeff mudara-se para a Califórnia, a fim de viajar comigo para as grandes concentra­ções onde as pessoas tinham dificuldade em enten­der meu sotaque. Porém, cerca de meia hora antes de deixar o aeroporto, ele telefonou: “Nicky, estou de cama, com pneumonia. O médico não me deixou ir. Você terá que se virar sozinho.”
De pé na plataforma, diante de uma bateria de microfones e de câmaras de TV, examinei a enorme multidão. Será que eles seriam capazes de entender-me, apesar do sotaque porto-riquenho? Será que ri­riam do meu inglês arrevesado? Nervosamente, lim­pei a garganta e abri a boca para falar. As palavras não saíram — só um murmúrio enrolado. Limpei a garganta outra vez, e saiu uma coisa que parecia com  “uuuggghhhllkfg”.
A multidão mexeu-se nervosa, mas polidamente. Não adiantava. Eu já tinha me habituado à ajuda de Jeff. Curvei a cabeça e pedi poder: “Senhor amado, se podes dar-me uma língua desconhecida para lou­var o teu nome, confio em que podes dar-me uma língua conhecida para falar de ti a estes jovens.”
Levantei a cabeça e comecei a falar. As palavras vieram perfeitas, e fluíram de minha boca com poder sobrenatural. Jeff fora substituído por Jesus e, des­de aquele momento, tive a certeza de que sempre que estivesse falando dele, não precisaria mais de intér­prete.
Depois do último culto, Daniel foi ao meu quar­to, no hotel.
“Nicky, as bênçãos de Deus estão se derramando de maneira maravilhosa. Uma oferta de amor de três mil dólares foi levantada para você usar em seu mi­nistério.”
“Daniel, não posso aceitar esse dinheiro.”
“Nicky”, disse Daniel, enquanto se colocava à von­tade, esparramando-se no sofá e tirando o sapato, “o dinheiro não é para você. É para Deus operar atra­vés da sua pessoa.”
“E posso usá-lo de qualquer forma que sinta que Deus quer?” perguntei.
“Isso mesmo”, disse Daniel.
“Então vou usá-lo para os “pequenos”. Quero co­meçar um centro para ministrar a eles.”
“Maravilhoso”, explodiu Daniel, sentando no so­fá. “Dê-lhe o nome de “Esforço para a Juventude.”
E o nome foi “Esforço para a Juventude”. Voltei à Califórnia com os três mil dólares, resolvido a abrir um Centro onde pudesse tirar os pequenos das ruas, e ganhá-los para Cristo.
Estabelecemos o nosso Centro em Fresno, na Av. N. Broadway, 221. Requeremos o alvará oficial do Estado da Califórnia, e pendurei uma placa na porta da frente: “Esforço para a Juventude, Nicky Cruz, Diretor.”
Logo em seguida, comecei a vasculhar as ruas. No primeiro dia, encontrei um garoto de onze anos dormindo no vão de uma porta. Sentei-me ao seu la­do e perguntei como se chamava.
Ele me examinou com o canto dos olhos, e final­mente disse: “Rubem; por que quer saber?”
“Não sei”, respondi na mesma linguagem errada que ele usara. “Você me pareceu tão simpático que quis conversar com você.”
Espontaneamente ele me contou que o pai era viciado em tóxicos. Ele mesmo tinha cheirado cola no dia anterior. Deixara a escola no sexto ano. Es­cutei sua história, e depois contei-lhe que eu estava abrindo um Centro para garotos como ele, e pergun­tei-lhe se gostaria de ir morar comigo.
“Você quer mesmo que eu vá?”
“Claro”, respondi, “mas temos de falar primeiro com seu pai.”
“Com os diabos”, respondeu o garoto, “o meu ve­lho vai pular de alegria por se livrar de mim. O úni­co que vai se importar é o comissário de menores.”
O comissário ficou satisfeito com a notícia, e Rubem mudou-se para o Centro naquela mesma noi­te.
Poucas semanas depois, recolhemos mais dois meninos. Foram todos matriculados na escola, e fa­zíamos estudos bíblicos diários no Centro. A princí­pio, Rubem nos deu muito trabalho, mas no fim da segunda semana aceitou a Cristo durante um estudo bíblico. Na tarde seguinte, ao voltar da escola, diri­giu-se diretamente para o seu quarto e começou a estudar. Glória piscou para mim. “Que outra evidên­cia você quer, de que a sua conversão foi sincera?” disse ela. Eu não precisava de nenhuma outra. Senti-me bem, interiormente. A inquietude estava desapa­recendo .
À medida que os dias se passavam, começamos a receber telefonemas de mães aflitas, que diziam que os filhos estavam completamente impossíveis, e pediam que os recolhêssemos. Em questão de sema­nas, nossas acomodações estavam lotadas, e ainda continuávamos recebendo telefonemas. Glória e eu passamos muito tempo em oração, pedindo a Deus que nos guiasse.
Certa manhã, depois de apenas algumas horas de sono, o telefone tocou. Cambaleei até o aparelho. Era Daniel Smith, membro ativo da sociedade “Full Gos­pel Business Men's” de Fresno:
“Nicky, Deus está nos dirigindo por um miste­rioso caminho. Várias pessoas de nosso grupo têm orado em favor da obra que você está realizando. Deus colocou no meu coração o desejo de ajudá-lo a formar uma Junta de Diretores. Falei com Earl Dra­per, contador, com o Rev. Paulo Evans, e com H. J. Keener, gerente de uma estação de TV local. Estamos dispostos a trabalhar com você, se nos aceitar.”
Era outra resposta de oração, o fato daquele pe­queno grupo de negociantes e profissionais liberais se colocarem à disposição do Centro, para ajudar na direção.
Mais tarde, naquele mesmo mês, Davi Carter jun­tou-se à nossa equipe, para trabalhar com os meni­nos. Eu conhecera Davi, um rapaz de cor, alto, quie­to, quando era chefe de uma quadrilha em Nova York. Fora para o Instituto Bíblico depois da sua conversão, e como não tinha laços de família, podia passar muitas horas aconselhando pessoalmente os meninos famintos de amor. Havia também duas mo­ças mexicanas: Frances Ramírez e Angie Sedillos, que se juntaram a nós para promover o contato com as meninas, e ajudar no trabalho da secretaria.
O último membro da equipe era uma pessoa mui­to especial para mim. Tratava-se de Jimmy Baez. Jimmy acabara de diplomar-se na Escola Bíblica, e desposara uma jovem calma, de voz suave. Ele viria para trabalhar como nosso supervisor, mas para mim, era muito mais do que isso. Ele era uma prova viva do poder transformador de Jesus Cristo. Era difícil imaginar que aquele jovem de aparência culta, rosto simpático e óculos de aros escuros, fosse o mesmo garoto franzino, pálido, que ficara agachado horas a fio no Centro Desafio Jovem, tremendo devido à pri­vação de heroína, e suplicando que lhe dessem dro­gas.
Com o coração cheio de fé em Deus, e as mãos ocupadas com os “pequenos”, continuamos avançan­do. Deus estava abençoando, e eu pensava já ter recebido o máximo em surpresas maravilhosas. Contu­do, para os que amam a Deus, não há limite para as surpresas do amanhã.
Naquele outono, Daniel Malachuk escalou me pa­ra uma série de palestras em Nova York. Depois de me apanhar no aeroporto, entramos no seu carro e fomos para a cidade, passando por quilômetros e mais quilômetros de apartamentos, tipo cortiço. Recostei-me no banco, ao lado dele, e fiquei observando os velhos prédios passarem velozmente. Algo me to­cava o coração. Eu não fazia mais parte do gueto, mas ele ainda era uma parte de mim. Comecei a pen­sar nos velhos amigos, e nos membros da quadrilha — principalmente em Israel. “Jesus”, orei, “por fa­vor, dê-me outra oportunidade de dar meu testemu­nho em presença dele.”
Depois da reunião, naquela noite, Daniel foi co­migo para o quarto do hotel onde eu ia passar a noi­te. O telefone estava tocando quando entramos.
Atendi, e houve um longo silêncio do outro lado da linha, antes que eu ouvisse uma voz fraca, mas bem conhecida dizer: “Nicky, sou eu, Israel.”
“Israel!” gritei. “Glória a Deus! Minha oração foi respondida. Onde você está?”
“Estou em casa, Nicky, no Bronx. Acabei de ler no jornal que você estava na cidade, e telefonei para o seu irmão, Frank. Ele disse que eu poderia encon­trá-lo no hotel.”
Comecei a dizer algo, mas ele me interrompeu: “Nicky, eu-eu-eu estava pensando se poderia vê-lo en­quanto está na cidade. Só para conversar a respeito dos velhos tempos.”
Quase não podia crer nos meu ouvidos. Virei-me para Daniel: “Israel. Ele quer me ver.”
“Convide-o para se encontrar conosco no hotel, amanhã à noite, para jantar”, disse Daniel. O encon­tro longamente esperado foi marcado para as seis horas da tarde seguinte.
Orei por ele a noite inteira, pedindo a Deus para me dar as palavras certas, a fim de ganhar o seu co­ração para Cristo.
Daniel e eu ficamos medindo o saguão do hotel com nossos passos, das cinco e trinta às sete horas da noite. Ele não apareceu. O coração subiu-me à garganta, enquanto eu me lembrava daquela manhã, nove anos antes, quando nos tínhamos desencontrado da primeira vez.
De repente, eu o vi. Suas feições harmoniosas, olhos profundos, cabelo ondulado. Nada mudara. Não pude falar, pois as lágrimas vieram-me aos olhos. “Nicky”, disse ele com voz estrangulada, “nem posso crer.” Repentinamente, começamos a rir e falar ao mesmo tempo, completamente esquecidos do trânsito intenso ao nosso redor.
Passado algum tempo, Israel se afastou e disse: “Nicky, quero que você conheça minha esposa, Rosa.” Ao seu lado  estava uma jovem porto-riquenha, baixinha e simpática, com um  sorriso   que  tomava conta de todo o seu  bonito  rosto.   Curvei-me  para apertar-lhe a mão, porém ela me agarrou pelo pes­coço e beijou-me resolutamente na face.  “Está ale­gre de conhecer você”, piscou, falando um inglês arrevesado. “Tenho vivido perto de você todo este tem­po.  Israel fala muito de você estes três anos.”
Fomos até o salão Hay Market Room para jan­tar. Israel e Rosa ficaram para trás, e pude perce­ber que algo os preocupava. “Ei, Israel, qual é o pro­blema? Daniel vai pagar a conta.  Vamos!”
Israel olhou para mim embaraçado, e finalmente me puxou de lado. “Nicky, não posso entrar aí. É chique demais.  Não sei o que fazer.”
Rodeei-lhe os ombros com o braço. “Eu também não sei o que fazer”, respondi. “Olhe, peça o troço mais caro que encontrar na lista e deixe o “dono do ouro” aqui pagar”, sorri, apontando para Daniel.
Depois do jantar, tomamos  o  elevador  para  o meu   apartamento,   no   décimo - quarto   andar. Israel estava descontraído, e parecia o mesmo velho
Israel, quando nos falou da sua casa, no gueto “Não é um lugar muito agradável para se viver”, dis­se ele. “Precisamos guardar os pratos na geladeira, por causa das baratas. Mas poderia ser pior. No an­dar térreo, os ratos vêm dos esgotos e mordem as crianças enquanto dormem. É como se estivéssemos acorrentados ali”, disse. “Não podemos livrar-nos. É um lugar péssimo para criar os filhos. Na semana passada, três meninas do meu edifício, todas de cer­ca de nove anos, foram estupradas em uma viela, nos fundos do prédio. Não temos coragem de deixar as crianças saírem à rua, e eu estou doente de preo­cupação .  Quero sair de lá. Mas...”
A sua voz falhou, e ele levantou-se da cadeira, foi até a janela, e olhou para fora, em direção à tor­re reluzente do edifício “Empire State”. “Mas a gente precisa viver em algum lugar, e em qualquer outro lugar o aluguel é alto demais. Quem sabe no ano que vem... talvez no ano que vem nos mudemos para um lugar melhor. Até que eu não me saí tão mal. Come­cei lavando pratos, e prosperei. Agora sou contínuo em um edifício na Wall Street.”
“Mas depois que você conseguir mudar, o que acontecerá?” interrompi.
“O que foi que você disse?” perguntou.
Percebi que chegara a hora de me aprofundar no passado. “Israel, conte-me o que foi que saiu errado.”
Ele voltou para o sofá onde Rosa estava, sentou-se nervosamente ao seu lado. “Não me incomodo de falar nisso agora. Acho mesmo que preciso falar. Nunca contei, nem para Rosa. Você se lembra daque­la manhã, depois que saiu do hospital, quando você e aquele homem iam encontrar comigo?”
Acenei que sim.  A recordação era dolorosa.
“Esperei três horas. Fiquei como louco. Eu fi­quei danado com os crentes, e naquela noite voltei para a quadrilha.”
“Israel, sinto muito.  Nós procuramos você...”
“Não importa. Faz muito tempo. Talvez as coi­sas fossem diferentes se eu tivesse ido com vocês. Quem sabe?”
Fez uma pausa, e depois começou de novo. “De­pois, arranjamos uma encrenca com os Angels da Rua Sul. Aquele cara entrou em nosso território e dissemos que não queríamos nenhum “bicho de pé” por ali. Quis bancar o engraçadinho, e batemos nele. Correu, e cinco dos nossos foram atrás dele até os domínios da Rua Sul, e o agarramos na Arcada. Nós o puxamos para fora, e começamos a lutar com ele. A coisa de que me lembro a seguir, é que um dos nossos tinha um revólver na mão e começou a dar tiros. Paco pôs-se a segurar a barriga e dizer brin­cando: “Oh, peguei um tiro! peguei um tiro!” Todos os rapazes riam.”
“Então, o “bicho-do-pé” caiu no chão. Estava mesmo ferido. Estava morto. Eu vi o buraco da bala na sua cabeça.”
Israel fez uma pausa. O único som que se ouvia era o do trânsito, atenuado pela distância, lá embai­xo.
“Fugimos. Eu e mais três fomos agarrados. Os outros se safaram. O cara que puxou o gatilho to­mou vinte anos. O resto, de cinco a vinte anos.”
Ele parou de falar, e baixou a cabeça: “Foram cinco anos de inferno.”
Recuperando a serenidade, prosseguiu: “Tive de fazer um “acordo” para sair da prisão.”
“O que é um “acordo?” interrompeu Daniel. “A Junta de Livramento Condicional disse que eu seria solto, se pudesse provar-lhes que tinha um em­prego me esperando. Eles me disseram que eu teria de voltar para meu antigo lar. Eu não queria voltar para o Brooklin. Queria começar a vida de novo, mas disseram que eu tinha de voltar para casa. As­sim, eu fiz um “acordo” através de um viciado que estava lá dentro comigo. Ele conhecia um homem que tinha uma fábrica de roupas no Brooklin, e disse à minha mãe que, se ela lhe pagasse cinqüenta dólares, ele me prometeria um emprego. Ela deu ao ho­mem o dinheiro, e ele escreveu uma carta dizendo que eu tinha um emprego na sua fábrica, quando saísse da prisão. Foi a única maneira de arranjar emprego. Rapaz, quem é que vai querer um ex-preso como em­pregado?”
“Mas você conseguiu o emprego?” perguntou Da­niel.
“Nada” disse Israel, “eu disse a vocês que era um “acordo”. Não havia emprego nenhum. Era só um jeito para eu sair da cadeia.”
“Saí, então, e fui a uma agência de empregos, e menti sobre o meu passado. Você pensa que eles me teriam contratado, se eu contasse que saíra da cadeia no dia anterior? Arranjei um emprego de lavador de pratos, e depois uma dúzia de outros empregos. Des­de então, tenho mentido. A gente precisa mentir para conseguir um emprego. Se meu patrão soubesse que eu sou um ex-preso, ele me mandaria embora, apesar de eu estar fora da cadeia há quatro anos, e ser um bom empregado. Portanto, eu minto. Todo mundo faz isso.”
“O oficial de justiça responsável por você duran­te seu livramento condicional, ajudou-o?” perguntou Daniel.
“Sim ele foi o único sujeito que realmente ten­tou. Mas o que é que poderia fazer? Ele tinha mais de cem rapazes como eu para ajudar. Não, a respon­sabilidade era minha, e consegui tudo sozinho.”
O quarto ficou em silêncio. Durante todo o tem­po Rosa estivera sentada, quieta, ao lado de Israel. Ela não conhecia essa parte da vida de seu marido.
Depois eu falei: “Israel, você se lembra daquela vez em que estávamos procurando os Phantom Lords, e caímos em uma emboscada?”
“Lembro.”
“Você salvou a minha vida naquela noite, Israel. Esta noite eu quero retribuir aquele favor. Quero dizer-lhe algo que salvará sua vida.”
Rosa estendeu a mão e passou o braço pelo dele. Ambos viraram-se e me olharam com ar de expecta­tiva.

“Israel, você é o meu melhor amigo. Você pode notar que houve uma transformação na minha vida. O velho Nicky morreu.  A pessoa que você vê agora não é realmente o Nicky, é Jesus Cristo vivendo em mim.   Você se lembra daquela noite, na Arena St. Nicholas, quando demos nosso coração ao Senhor?” Israel fez que sim, baixando os olhos para o chão. “Deus entrou no seu coração naquela noite, Israel. Eu sei disso. Deus fez um acordo com você e ainda mantém a sua parte do acordo. Ele não se esqueceu de você, Israel.  Você tem fugido todos estes anos, mas a mão dele ainda está sobre você.”
Peguei a Bíblia: “No Velho Testamento tem a história de um homem chamado Jacó. Ele também fugiu de Deus. Então, uma noite, exatamente como esta, ele teve uma luta com um anjo. O anjo venceu, e Jacó rendeu-se a Deus. Naquela noite Deus mudou o seu nome. Não era mais Jacó — mas Israel. E Is­rael significa “aquele que anda com Deus.”
Fechei a Bíblia e fiz uma pausa, antes de conti­nuar. Os olhos de Israel estavam molhados, e Rosa apertava o seu braço. “Durante todos estes anos, te­nho ficado acordado durante a noite, muitas vezes, orando por você — pensando como seria maravilho­so se estivesse trabalhando ao meu lado — não como fazíamos antes, mas na obra de Deus. Israel, esta noite eu quero que você passe a andar com Deus. Quero que entre no território de Jesus.”
Israel olhou-me com os olhos rasos de água. Virou-se e olhou para Rosa. Ela estava confusa, e falou-lhe em espanhol. Eu estivera falando em inglês, e vi que Rosa não compreendera tudo o que dissera. Ela perguntou-lhe o que eu queria. Israel explicou que eu queria que eles dessem o coração para Cristo. Ele falou rapidamente em espanhol, contando-lhe do seu desejo de voltar para Deus — como outrora Jacó teve vontade de voltar ao lar, e perguntou-lhe se ela iria com ele.
Ela sorriu, e os seus olhos brilharam, enquanto acenava que sim.
“Glória a Deus!” gritei. “Ajoelhem-se ao lado des­te sofá, enquanto oro.”
Israel e Rosa ajoelharam-se ao lado do sofá. Da­niel escorregou da cadeira e ajoelhou-se, do outro lado da sala. Coloquei as mãos sobre suas cabeças, e comecei a orar, primeiro em inglês, depois em es­panhol, oscilando entre as duas línguas. Senti o Es­pírito de Deus fluindo através de meu coração, meus braços, e meus dedos, e alcançando as suas vidas. Orei, pedindo a Deus para perdoá-los e abençoá-los e recebê-los na plenitude do seu reino.
Foi uma oração longa. Quando terminei, ouvi Is­rael começar a orar. Temerosamente a princípio, e depois com intensidade, ele clamou: “Senhor, perdoa-me. Perdoa-me. Perdoa-me.” Então a sua oração mu­dou, e eu pude sentir novas forças atuando em seu corpo, quando começou a dizer: “Senhor, muito obri­gado.”
Rosa uniu-se à sua oração: “Obrigado, Senhor, muito obrigado.”
Daniel pôs Israel e Rosa em um táxi, e pagou a corrida até o seu apartamento no Bronx. “Nicky” disse ele limpando os olhos, enquanto se afastavam, “esta foi a melhor noite da minha vida, e sinto que Deus vai mandar Israel para a Califórnia para traba­lhar com você.”
Concordei. Pode ser que sim. Deus tem sempre uma forma de cuidar de tudo.