Capítulo 18
NO TERRITÓRIO DE JESUS
A GRANDE OPORTUNIDADE surgiu pouco antes do Natal, quando
recebi um convite de um grupo de leigos conhecido como “Full Gospel Business
Men's Fellowship International”. Foi através desse grupo de comerciantes
dedicados que começaram a chegar convites para falar em ginásios e
universidades. Durante 1965 estive na maioria das cidades mais importantes do
país. Minhas concentrações e cruzadas, em sua maior parte patrocinadas por
igrejas de todas as denominações, estavam obtendo maravilhoso êxito, e eu falei
a multidões de mais de dez mil pessoas.
Agradecia diariamente a Deus por sua bondade. Porém, ainda
estava impaciente e tinha um profundo anseio no coração. Não parecia encontrar
a solução para o problema, e por isso tornava-me cada dia mais impaciente.
Foi então que fiquei conhecendo Daniel Malachuk, um
negociante extrovertido, de elevada estatura, que vivia em Nova Jersey, e que,
sem o saber, trouxe à tona o meu problema. Casualmente ele mencionou certa
noite que sabia que o meu desejo original fora trabalhar com os “pequenos”. Não
respondi à sua observação, mas suas palavras ficaram gravadas em minha mente.
Recordei minha própria infância. Se tão somente alguém
tivesse se preocupado em me levar a Cristo quando criança, talvez...
Conversei a esse respeito com Glória. Deus estava usando o
meu testemunho em grandes cruzadas, mas cada vez que eu lia nos jornais um
artigo sobre crianças presas por terem cheirado cola ou terem fumado maconha,
meu coração doía. Continuávamos orando para que Deus nos mostrasse o caminho
para nos aproximarmos dessas crianças.
Poucos meses depois, Daniel ajudou a preparar uma cruzada de
quatro dias em Seattle. Durante todo esse tempo, eu estivera falando através
do intérprete Jeff Morales. Jeff mudara-se para a Califórnia, a fim de viajar
comigo para as grandes concentrações onde as pessoas tinham dificuldade em
entender meu sotaque. Porém, cerca de meia hora antes de deixar o aeroporto,
ele telefonou: “Nicky, estou de cama, com pneumonia. O médico não me deixou ir.
Você terá que se virar sozinho.”
De pé na plataforma, diante de uma bateria de microfones e
de câmaras de TV, examinei a enorme multidão. Será que eles seriam capazes de
entender-me, apesar do sotaque porto-riquenho? Será que ririam do meu inglês
arrevesado? Nervosamente, limpei a garganta e abri a boca para falar. As
palavras não saíram — só um murmúrio enrolado. Limpei a garganta outra vez, e
saiu uma coisa que parecia com
“uuuggghhhllkfg”.
A multidão mexeu-se nervosa, mas polidamente. Não adiantava.
Eu já tinha me habituado à ajuda de Jeff. Curvei a cabeça e pedi poder: “Senhor
amado, se podes dar-me uma língua desconhecida para louvar o teu nome, confio
em que podes dar-me uma língua conhecida para falar de ti a estes jovens.”
Levantei a cabeça e comecei a falar. As palavras vieram
perfeitas, e fluíram de minha boca com poder sobrenatural. Jeff fora
substituído por Jesus e, desde aquele momento, tive a certeza de que sempre
que estivesse falando dele, não precisaria mais de intérprete.
Depois do último culto, Daniel foi ao meu quarto, no hotel.
“Nicky, as bênçãos de Deus estão se derramando de maneira
maravilhosa. Uma oferta de amor de três mil dólares foi levantada para você
usar em seu ministério.”
“Daniel, não posso aceitar esse dinheiro.”
“Nicky”, disse Daniel, enquanto se colocava à vontade,
esparramando-se no sofá e tirando o sapato, “o dinheiro não é para você. É para
Deus operar através da sua pessoa.”
“E posso usá-lo de qualquer forma que sinta que Deus quer?” perguntei.
“Isso mesmo”, disse Daniel.
“Então vou usá-lo para os “pequenos”. Quero começar um
centro para ministrar a eles.”
“Maravilhoso”, explodiu Daniel, sentando no sofá. “Dê-lhe o
nome de “Esforço para a Juventude.”
E o nome foi “Esforço para a Juventude”. Voltei à Califórnia
com os três mil dólares, resolvido a abrir um Centro onde pudesse tirar os
pequenos das ruas, e ganhá-los para Cristo.
Estabelecemos o nosso Centro em Fresno, na Av. N. Broadway,
221. Requeremos o alvará oficial do Estado da Califórnia, e pendurei uma placa
na porta da frente: “Esforço para a Juventude, Nicky Cruz, Diretor.”
Logo em seguida, comecei a vasculhar as ruas. No primeiro
dia, encontrei um garoto de onze anos dormindo no vão de uma porta. Sentei-me
ao seu lado e perguntei como se chamava.
Ele me examinou com o canto dos olhos, e finalmente disse:
“Rubem; por que quer saber?”
“Não sei”, respondi na mesma linguagem errada que ele usara.
“Você me pareceu tão simpático que quis conversar com você.”
Espontaneamente ele me contou que o pai era viciado em
tóxicos. Ele mesmo tinha cheirado cola no dia anterior. Deixara a escola no
sexto ano. Escutei sua história, e depois contei-lhe que eu estava abrindo um
Centro para garotos como ele, e perguntei-lhe se gostaria de ir morar comigo.
“Você quer mesmo que eu vá?”
“Claro”, respondi, “mas temos de falar primeiro com seu
pai.”
“Com os diabos”, respondeu o garoto, “o meu velho vai pular
de alegria por se livrar de mim. O único que vai se importar é o comissário de
menores.”
O comissário ficou satisfeito com a notícia, e Rubem
mudou-se para o Centro naquela mesma noite.
Poucas semanas depois, recolhemos mais dois meninos. Foram
todos matriculados na escola, e fazíamos estudos bíblicos diários no Centro. A
princípio, Rubem nos deu muito trabalho, mas no fim da segunda semana aceitou
a Cristo durante um estudo bíblico. Na tarde seguinte, ao voltar da escola,
dirigiu-se diretamente para o seu quarto e começou a estudar. Glória piscou
para mim. “Que outra evidência você quer, de que a sua conversão foi sincera?”
disse ela. Eu não precisava de nenhuma outra. Senti-me bem, interiormente. A
inquietude estava desaparecendo .
À medida que os dias se passavam, começamos a receber
telefonemas de mães aflitas, que diziam que os filhos estavam completamente
impossíveis, e pediam que os recolhêssemos. Em questão de semanas, nossas
acomodações estavam lotadas, e ainda continuávamos recebendo telefonemas.
Glória e eu passamos muito tempo em oração, pedindo a Deus que nos guiasse.
Certa manhã, depois de apenas algumas horas de sono, o
telefone tocou. Cambaleei até o aparelho. Era Daniel Smith, membro ativo da
sociedade “Full Gospel Business Men's” de Fresno:
“Nicky, Deus está nos dirigindo por um misterioso caminho.
Várias pessoas de nosso grupo têm orado em favor da obra que você está
realizando. Deus colocou no meu coração o desejo de ajudá-lo a formar uma Junta
de Diretores. Falei com Earl Draper, contador, com o Rev. Paulo Evans, e com
H. J. Keener, gerente de uma estação de TV local. Estamos dispostos a trabalhar
com você, se nos aceitar.”
Era outra resposta de oração, o fato daquele pequeno grupo
de negociantes e profissionais liberais se colocarem à disposição do Centro,
para ajudar na direção.
Mais tarde, naquele mesmo mês, Davi Carter juntou-se à
nossa equipe, para trabalhar com os meninos. Eu conhecera Davi, um rapaz de
cor, alto, quieto, quando era chefe de uma quadrilha em Nova York. Fora para o
Instituto Bíblico depois da sua conversão, e como não tinha laços de família,
podia passar muitas horas aconselhando pessoalmente os meninos famintos de
amor. Havia também duas moças mexicanas: Frances Ramírez e Angie Sedillos, que
se juntaram a nós para promover o contato com as meninas, e ajudar no trabalho
da secretaria.
O último membro da equipe era uma pessoa muito especial
para mim. Tratava-se de Jimmy Baez. Jimmy acabara de diplomar-se na Escola
Bíblica, e desposara uma jovem calma, de voz suave. Ele viria para trabalhar
como nosso supervisor, mas para mim, era muito mais do que isso. Ele era uma
prova viva do poder transformador de Jesus Cristo. Era difícil imaginar que
aquele jovem de aparência culta, rosto simpático e óculos de aros escuros,
fosse o mesmo garoto franzino, pálido, que ficara agachado horas a fio no
Centro Desafio Jovem, tremendo devido à privação de heroína, e suplicando que
lhe dessem drogas.
Com o coração cheio de fé em Deus, e as mãos ocupadas com os
“pequenos”, continuamos avançando. Deus estava abençoando, e eu pensava já ter
recebido o máximo em surpresas maravilhosas. Contudo, para os que amam a Deus,
não há limite para as surpresas do amanhã.
Naquele outono, Daniel Malachuk escalou me para uma série
de palestras em Nova York. Depois de me apanhar no aeroporto, entramos no seu
carro e fomos para a cidade, passando por quilômetros e mais quilômetros de
apartamentos, tipo cortiço. Recostei-me no banco, ao lado dele, e fiquei
observando os velhos prédios passarem velozmente. Algo me tocava o coração. Eu
não fazia mais parte do gueto, mas ele ainda era uma parte de mim. Comecei a
pensar nos velhos amigos, e nos membros da quadrilha — principalmente em
Israel. “Jesus”, orei, “por favor, dê-me outra oportunidade de dar meu testemunho
em presença dele.”
Depois da reunião, naquela noite, Daniel foi comigo para o
quarto do hotel onde eu ia passar a noite. O telefone estava tocando quando
entramos.
Atendi, e houve um longo silêncio do outro lado da linha,
antes que eu ouvisse uma voz fraca, mas bem conhecida dizer: “Nicky, sou eu,
Israel.”
“Israel!” gritei. “Glória a Deus! Minha oração foi
respondida. Onde você está?”
“Estou em casa, Nicky, no Bronx. Acabei de ler no jornal que
você estava na cidade, e telefonei para o seu irmão, Frank. Ele disse que eu
poderia encontrá-lo no hotel.”
Comecei a dizer algo, mas ele me interrompeu: “Nicky,
eu-eu-eu estava pensando se poderia vê-lo enquanto está na cidade. Só para
conversar a respeito dos velhos tempos.”
Quase não podia crer nos meu ouvidos. Virei-me para Daniel:
“Israel. Ele quer me ver.”
“Convide-o para se encontrar conosco no hotel, amanhã à
noite, para jantar”, disse Daniel. O encontro longamente esperado foi marcado
para as seis horas da tarde seguinte.
Orei por ele a noite inteira, pedindo a Deus para me dar as
palavras certas, a fim de ganhar o seu coração para Cristo.
Daniel e eu ficamos medindo o saguão do hotel com nossos
passos, das cinco e trinta às sete horas da noite. Ele não apareceu. O coração
subiu-me à garganta, enquanto eu me lembrava daquela manhã, nove anos antes,
quando nos tínhamos desencontrado da primeira vez.
De repente, eu o vi. Suas feições harmoniosas, olhos
profundos, cabelo ondulado. Nada mudara. Não pude falar, pois as lágrimas
vieram-me aos olhos. “Nicky”, disse ele com voz estrangulada, “nem posso crer.”
Repentinamente, começamos a rir e falar ao mesmo tempo, completamente
esquecidos do trânsito intenso ao nosso redor.
Passado algum tempo, Israel se afastou e disse: “Nicky,
quero que você conheça minha esposa, Rosa.” Ao seu lado estava uma jovem porto-riquenha, baixinha e
simpática, com um sorriso que
tomava conta de todo o seu
bonito rosto. Curvei-me
para apertar-lhe a mão, porém ela me agarrou pelo pescoço e beijou-me
resolutamente na face. “Está alegre de
conhecer você”, piscou, falando um inglês arrevesado. “Tenho vivido perto de
você todo este tempo. Israel fala muito
de você estes três anos.”
Fomos até o salão Hay Market Room para jantar. Israel e
Rosa ficaram para trás, e pude perceber que algo os preocupava. “Ei, Israel,
qual é o problema? Daniel vai pagar a conta.
Vamos!”
Israel olhou para mim embaraçado, e finalmente me puxou de
lado. “Nicky, não posso entrar aí. É chique demais. Não sei o que fazer.”
Rodeei-lhe os ombros com o braço. “Eu também não sei o que
fazer”, respondi. “Olhe, peça o troço mais caro que encontrar na lista e deixe
o “dono do ouro” aqui pagar”, sorri, apontando para Daniel.
Depois do jantar, tomamos
o elevador para o
meu apartamento, no
décimo - quarto andar. Israel
estava descontraído, e parecia o mesmo velho
Israel, quando nos falou da sua casa, no gueto “Não é um
lugar muito agradável para se viver”, disse ele. “Precisamos guardar os pratos
na geladeira, por causa das baratas. Mas poderia ser pior. No andar térreo, os
ratos vêm dos esgotos e mordem as crianças enquanto dormem. É como se
estivéssemos acorrentados ali”, disse. “Não podemos livrar-nos. É um lugar
péssimo para criar os filhos. Na semana passada, três meninas do meu edifício,
todas de cerca de nove anos, foram estupradas em uma viela, nos fundos do
prédio. Não temos coragem de deixar as crianças saírem à rua, e eu estou doente
de preocupação . Quero sair de lá.
Mas...”
A sua voz falhou, e ele levantou-se da cadeira, foi até a
janela, e olhou para fora, em direção à torre reluzente do edifício “Empire
State”. “Mas a gente precisa viver em algum lugar, e em qualquer outro lugar o
aluguel é alto demais. Quem sabe no ano que vem... talvez no ano que vem nos
mudemos para um lugar melhor. Até que eu não me saí tão mal. Comecei lavando
pratos, e prosperei. Agora sou contínuo em um edifício na Wall Street.”
“Mas depois que você conseguir mudar, o que acontecerá?”
interrompi.
“O que foi que você disse?” perguntou.
Percebi que chegara a hora de me aprofundar no passado.
“Israel, conte-me o que foi que saiu errado.”
Ele voltou para o sofá onde Rosa estava, sentou-se
nervosamente ao seu lado. “Não me incomodo de falar nisso agora. Acho mesmo que
preciso falar. Nunca contei, nem para Rosa. Você se lembra daquela manhã,
depois que saiu do hospital, quando você e aquele homem iam encontrar comigo?”
Acenei que sim. A
recordação era dolorosa.
“Esperei três horas. Fiquei como louco. Eu fiquei danado
com os crentes, e naquela noite voltei para a quadrilha.”
“Israel, sinto muito.
Nós procuramos você...”
“Não importa. Faz muito tempo. Talvez as coisas fossem
diferentes se eu tivesse ido com vocês. Quem sabe?”
Fez uma pausa, e depois começou de novo. “Depois,
arranjamos uma encrenca com os Angels da Rua Sul. Aquele cara entrou em nosso
território e dissemos que não queríamos nenhum “bicho de pé” por ali. Quis
bancar o engraçadinho, e batemos nele. Correu, e cinco dos nossos foram atrás
dele até os domínios da Rua Sul, e o agarramos na Arcada. Nós o puxamos para
fora, e começamos a lutar com ele. A coisa de que me lembro a seguir, é que um
dos nossos tinha um revólver na mão e começou a dar tiros. Paco pôs-se a
segurar a barriga e dizer brincando: “Oh, peguei um tiro! peguei um tiro!”
Todos os rapazes riam.”
“Então, o “bicho-do-pé” caiu no chão. Estava mesmo ferido.
Estava morto. Eu vi o buraco da bala na sua cabeça.”
Israel fez uma pausa. O único som que se ouvia era o do
trânsito, atenuado pela distância, lá embaixo.
“Fugimos. Eu e mais três fomos agarrados. Os outros se
safaram. O cara que puxou o gatilho tomou vinte anos. O resto, de cinco a
vinte anos.”
Ele parou de falar, e baixou a cabeça: “Foram cinco anos de
inferno.”
Recuperando a serenidade, prosseguiu: “Tive de fazer um
“acordo” para sair da prisão.”
“O que é um “acordo?” interrompeu Daniel. “A Junta de
Livramento Condicional disse que eu seria solto, se pudesse provar-lhes que
tinha um emprego me esperando. Eles me disseram que eu teria de voltar para
meu antigo lar. Eu não queria voltar para o Brooklin. Queria começar a vida de
novo, mas disseram que eu tinha de voltar para casa. Assim, eu fiz um “acordo”
através de um viciado que estava lá dentro comigo. Ele conhecia um homem que
tinha uma fábrica de roupas no Brooklin, e disse à minha mãe que, se ela lhe
pagasse cinqüenta dólares, ele me prometeria um emprego. Ela deu ao homem o
dinheiro, e ele escreveu uma carta dizendo que eu tinha um emprego na sua
fábrica, quando saísse da prisão. Foi a única maneira de arranjar emprego.
Rapaz, quem é que vai querer um ex-preso como empregado?”
“Mas você conseguiu o emprego?” perguntou Daniel.
“Nada” disse Israel, “eu disse a vocês que era um “acordo”.
Não havia emprego nenhum. Era só um jeito para eu sair da cadeia.”
“Saí, então, e fui a uma agência de empregos, e menti sobre
o meu passado. Você pensa que eles me teriam contratado, se eu contasse que
saíra da cadeia no dia anterior? Arranjei um emprego de lavador de pratos, e
depois uma dúzia de outros empregos. Desde então, tenho mentido. A gente
precisa mentir para conseguir um emprego. Se meu patrão soubesse que eu sou um
ex-preso, ele me mandaria embora, apesar de eu estar fora da cadeia há quatro
anos, e ser um bom empregado. Portanto, eu minto. Todo mundo faz isso.”
“O oficial de justiça responsável por você durante seu
livramento condicional, ajudou-o?” perguntou Daniel.
“Sim ele foi o único sujeito que realmente tentou. Mas o
que é que poderia fazer? Ele tinha mais de cem rapazes como eu para ajudar.
Não, a responsabilidade era minha, e consegui tudo sozinho.”
O quarto ficou em silêncio. Durante todo o tempo Rosa estivera
sentada, quieta, ao lado de Israel. Ela não conhecia essa parte da vida de seu
marido.
Depois eu falei: “Israel, você se lembra daquela vez em que
estávamos procurando os Phantom Lords, e caímos em uma emboscada?”
“Lembro.”
“Você salvou a minha vida naquela noite, Israel. Esta noite
eu quero retribuir aquele favor. Quero dizer-lhe algo que salvará sua vida.”
Rosa estendeu a mão e passou o braço pelo dele. Ambos
viraram-se e me olharam com ar de expectativa.
“Israel, você é o meu melhor amigo. Você pode notar que
houve uma transformação na minha vida. O velho Nicky morreu. A pessoa que você vê agora não é realmente o
Nicky, é Jesus Cristo vivendo em mim.
Você se lembra daquela noite, na Arena St. Nicholas, quando demos nosso
coração ao Senhor?” Israel fez que sim, baixando os olhos para o chão. “Deus
entrou no seu coração naquela noite, Israel. Eu sei disso. Deus fez um acordo
com você e ainda mantém a sua parte do acordo. Ele não se esqueceu de você,
Israel. Você tem fugido todos estes
anos, mas a mão dele ainda está sobre você.”
Peguei a Bíblia: “No Velho Testamento tem a história de um
homem chamado Jacó. Ele também fugiu de Deus. Então, uma noite, exatamente como
esta, ele teve uma luta com um anjo. O anjo venceu, e Jacó rendeu-se a Deus.
Naquela noite Deus mudou o seu nome. Não era mais Jacó — mas Israel. E Israel
significa “aquele que anda com Deus.”
Fechei a Bíblia e fiz uma pausa, antes de continuar. Os
olhos de Israel estavam molhados, e Rosa apertava o seu braço. “Durante todos
estes anos, tenho ficado acordado durante a noite, muitas vezes, orando por
você — pensando como seria maravilhoso se estivesse trabalhando ao meu lado —
não como fazíamos antes, mas na obra de Deus. Israel, esta noite eu quero que
você passe a andar com Deus. Quero que entre no território de Jesus.”
Israel olhou-me com os olhos rasos de água. Virou-se e olhou
para Rosa. Ela estava confusa, e falou-lhe em espanhol. Eu estivera falando em
inglês, e vi que Rosa não compreendera tudo o que dissera. Ela perguntou-lhe o
que eu queria. Israel explicou que eu queria que eles dessem o coração para
Cristo. Ele falou rapidamente em espanhol, contando-lhe do seu desejo de voltar
para Deus — como outrora Jacó teve vontade de voltar ao lar, e perguntou-lhe se
ela iria com ele.
Ela sorriu, e os seus olhos brilharam, enquanto acenava que
sim.
“Glória a Deus!” gritei. “Ajoelhem-se ao lado deste sofá,
enquanto oro.”
Israel e Rosa ajoelharam-se ao lado do sofá. Daniel
escorregou da cadeira e ajoelhou-se, do outro lado da sala. Coloquei as mãos
sobre suas cabeças, e comecei a orar, primeiro em inglês, depois em espanhol,
oscilando entre as duas línguas. Senti o Espírito de Deus fluindo através de
meu coração, meus braços, e meus dedos, e alcançando as suas vidas. Orei,
pedindo a Deus para perdoá-los e abençoá-los e recebê-los na plenitude do seu
reino.
Foi uma oração longa. Quando terminei, ouvi Israel começar
a orar. Temerosamente a princípio, e depois com intensidade, ele clamou:
“Senhor, perdoa-me. Perdoa-me. Perdoa-me.” Então a sua oração mudou, e eu pude
sentir novas forças atuando em seu corpo, quando começou a dizer: “Senhor,
muito obrigado.”
Rosa uniu-se à sua oração: “Obrigado, Senhor, muito
obrigado.”
Daniel pôs Israel e Rosa em um táxi, e pagou a corrida até o
seu apartamento no Bronx. “Nicky” disse ele limpando os olhos, enquanto se
afastavam, “esta foi a melhor noite da minha vida, e sinto que Deus vai mandar
Israel para a Califórnia para trabalhar com você.”
Concordei. Pode ser que sim. Deus tem sempre uma forma de
cuidar de tudo.