Capítulo 7
FILHO DE LÚCIFER
QUANDO O SEGUNDO VERÃO se aproximou, parecia que o gueto
inteiro estava pegando fogo, cheio de ódio e violência. As quadrilhas haviam diminuído
as atividades durante o inverno, surgindo na primavera com forças muito bem
organizadas. Durante todo aquele inverno nós nos ocupáramos, fazendo revólveres
caseiros, roubando armas de fogo, e estocando munição. Eu ganhei a reputação
de ser o chefe de quadrilha mais temido do Brooklin. Fui preso dezoito vezes, e
uma vez naquele inverno, passei trinta dias na cadeia, aguardando julgamento.
Jamais, porém, puderam provar qualquer acusação.
Com a chegada do calor, começamos a agir como loucos ou
selvagens. Os Dragons estavam empenhados em batalha contínua contra os Viceroys.
No dia primeiro de maio, Mingo, presidente dos Cha-plains, entrou em uma
confeitaria, tendo no braço uma espingarda de cano serrado.
“Ei garoto”, disse ele, apontando a espingarda por sobre o
braço, para um rapaz sentado em um reservado.
“Você é o Sawgrass?”
“Sou eu, sim. O que é
que há?”
Mingo não respondeu. Fez mira com a espingarda e apontou
para a cabeça dele.
“Ei, cara” disse Sawgrass rindo amarelo, enquanto se punha
de pé e recuava. “Não aponte esse negócio para mim. Pode disparar.”
Mingo estava “alto” de heroína, e contentava-se em olhá-lo
sem qualquer expressão, ao puxar o gatilho. O disparo atingiu o rapaz pouco
acima do nariz, e arrancou o alto da sua cabeça. O resto do corpo caiu
debatendo-se no chão. Sangue, ossos e grãos de chumbo foram chocar-se contra a
parede que lhe ficava por detrás.
Mingo virou-se e saiu da confeitaria. Quando a polícia o
encontrou, ele descia a rua, segurando a espingarda indolentemente.
Gritaram-lhe para que parasse. Em lugar de obedecer, virou-se e apontou a arma
para os guardas. Eles abriram fogo e Mingo caiu na rua crivado de balas.
Contudo, dentro de cada um de nós havia um Mingo. Era como
se toda a cidade tivesse enlouquecido.
Naquele verão declaramos guerra à polícia. Escrevemos uma
carta para os guardas do 88º. Distrito e para a Central de Polícia, avisando
que estávamos em guerra contra eles e que daquela hora em diante qualquer
guarda que entrasse em nosso território era um homem morto.
A polícia dobrou as patrulhas, e geralmente faziam a ronda
em grupo de três. Isto não nos intimidava. Subíamos nos telhados, e atirávamos
tijolos, garrafas e latas de lixo neles. Quando saíam para ver quem estava
atirando aquelas coisas, nós abríamos fogo. Nossa pontaria era péssima, e nossos
revólveres de fabricação caseira eram muito imprecisos, exceto em disparos à
queima-roupa. Nosso maior sonho era matar um guarda.
Um dos nossos golpes favoritos era atirar bombas de
gasolina, chamadas “coquetéis Molotov”. Roubávamos gasolina de carros que
ficavam estacionados durante a noite, e a colocávamos em garrafas de
refrigerante e de vinho. Fazíamos um pavio com um trapo, púnhamos fogo e
atirávamos a garrafa na parede de um edifício ou em um carro da polícia. Ela
explodia em chamas.
Algumas vezes o feitiço virava-se contra o feiticeiro.
Certa tarde Dan Brunson, membro da nossa gang, acendeu um “coquetel Molotov”
para atirar na delegacia. O pavio queimou depressa demais, e a bomba explodiu
na mão dele. Antes que alguém pudesse chegar até ele, todo o seu corpo já estava
coberto de gasolina em chamas. Os guardas correram e apagaram as chamas com as
próprias mãos. Um deles ficou gravemente queimado ao abafar o fogo. Levaram
depressa Dan para o hospital, mas os médicos disseram que só após muitos anos
é que ele voltaria ao normal.
Na semana seguinte, diminuímos o ritmo das brigas, porém,
elas foram logo reiniciadas com ferocidade ainda maior.
Os feriados eram ocasiões excelentes para os “quebra-paus”
das quadrilhas. Na Páscoa, no Dia do Trabalho e no Dia da Independência grande
parte das duzentas e oitenta e cinco gangs da cidade reuniam-se em Coney
Island. Todos iam vestidos com as suas melhores roupas, e procuravam exibir-se,
o que resultava em lutas terríveis, e muitas vezes fatais. Naquele 4 de julho
— Dia da Independência dos EUA — os Bishops mataram Larry Stein, um de nossos
rapazes. Ele tinha só treze anos de idade. Cinco deles surraram-no com
correntes de bicicleta até matá-lo; depois, enterraram seu corpo na areia,
debaixo de uma passagem de tábuas. Ele só foi encontrado uma semana mais tarde.
Quando ficamos sabendo disso, nos reunimos no porão da
escola — éramos quase duzentos — para uma assembléia de vingança. A sala estava
carregada de ódio. Metade dos rapazes estava embriagada, e queria sair naquela
noite e queimar os prédios de apartamentos dos Bishops, e pôr fogo na parte da
Av. Bedford que ficava no bairro de Brooklin. Contudo, eu consegui manter a
ordem, e concordamos em assistir ao enterro de Larry, na tarde seguinte, e
depois reunirmo-nos outra vez, à noite, para traçar os planos de batalha.
Na tarde seguinte reunimo-nos no cemitério para o enterro.
Dois carros pararam e um pequeno grupo de pessoas que choravam saiu deles. Reconheci
a mãe de Larry, seu pai e seus quatro irmãos. Os Mau-Maus estavam vagueando
pelo cemitério, e quando o funeral chegou, todos avançamos — mais de duzentos
rapazes e garotas, a maioria vestida de blusões negros com um duplo M escarlate
nas costas.
Dirigi-me à Senhora Stein para falar com ela. Ela me viu
chegando e gritou: “Tirem esses monstros daqui! Levem esses diabos!” Ela
voltou-se e começou a andar em direção ao carro, cambaleando, mas desmaiou e
caiu na grama. O marido curvou-se sobre ela, e os filhos ficaram estáticos de
terror, olhando nossa quadrilha que se esgueirava por entre os túmulos,
aproximando-se da cova.
O pai de Larry olhou para mim e amaldiçoou-me: “Você é o
culpado. Se não fosse você e sua gang imunda, Larry estaria vivo hoje.” Começou
a aproximar-se de mim, disparando chispas de ódio pelos olhos, mas o
administrador do cemitério agarrou-o pelo braço, puxando-o para trás.
“Por favor, espere do outro lado da cova”, disse-me o
administrador. “Colabore conosco, certo?”
Fiz o que pedia e afastamo-nos do túmulo, enquanto eles
reanimavam a Sra. Stein e continuavam a cerimônia fúnebre.
Naquela noite tivemos a segunda reunião. Desta vez nada
haveria de nos segurar. Ficamos sabendo na tarde do mesmo dia, que os GGI
haviam matado um dos Bishops, e que o funeral seria realizado no dia seguinte.
Os rapazes queriam acabar com o funeral atirando bombas dos edifícios A
intensa lealdade da quadrilha, em vingar o seu parceiro morto, era espantosa.
Todos ferviam de ódio, e finalmente não podiam mais contê-lo. Mannie foi quem
gritou que já ia para a agência funerária, onde o corpo do rapaz dos Bishops
aguardava a hora do enterro. “Vamos pôr fogo naquela baiúca”, gritou ele. “Se
esperarmos até amanhã, será tarde demais. Vamos agora.”
“Sim, sim, vamos”, gritaram em coro. Mais de quinze deles
convergiram em direção ao pequeno salão da empresa funerária, reservado aos
negros; tombaram caixões e rasgaram as cortinas com facas.
O enterro foi realizado no dia seguinte sob forte escolta
policial, mas nós nos sentimos vingados.
Os tumultos nas ruas eram superados apenas pelos pesadelos
de violência que fervilhavam em meu coração. Eu era um animal sem consciência,
moral, razão, e sem qualquer senso do que era certo ou errado. A quadrilha me
sustentava com o produto dos seus roubos noturnos, e Frank me ajudava um pouco.
Mas eu preferia obter o de que precisava por meus próprios meios.
Na primavera de 1957, Frank veio ver-me e disse que mamãe e
papai vinham de Porto Rico para visitar-nos. Ele queria que eu fosse ao seu
apartamento na noite seguinte, para vê-los. Recusei-me. Eu não precisava
deles. Eles me haviam rejeitado, e eu agora não queria qualquer contato com
eles.
Na noite seguinte, Frank trouxe papai ao meu quarto. Mamãe
não apareceu, já que eu não quisera vê-la.
Papai ficou de pé à porta, por muito tempo, olhando para
mim, que estava sentado à beira da cama
“Frank me contou tudo sobre você”, disse ele, levantando a
voz, até falar quase aos gritos quando terminou. “Ele disse que você é agora
chefe de uma quadrilha e que a polícia está procurando-o. É verdade?”
Não respondi, mas virei-me para Frank, que estava de pé ao
lado do velho, e rosnei: “Que diabo andou falando para ele? Eu te disse para
não vir aqui com eles.”
“Contei-lhe a verdade, Nicky”, disse Frank calmamente.
“Talvez já seja hora de você também enfrentar a verdade.”
“Ele tem um demônio”, disse papai, encarando-me sem piscar
os olhos. “Ele está possesso. Preciso libertá-lo.”
Olhei para papai e ri nervosamente: “No ano passado eu
pensei que tinha um demônio. Mas agora até os demônios têm medo de mim.”
Papai atravessou o quarto e colocou sua pesada mão em meu
ombro. Empurrou-me com força, até que fui obrigado a ajoelhar-me por terra.
Dominou-me em toda a sua altura, suas mãos enormes prendendo-me como correntes.
“Sinto cinco espíritos maus nele”, disse papai. Fez sinal
para que Frank agarrasse meus braços e os levantasse acima da minha cabeça.
Lutei para libertar-me, mas eles eram fortes demais para mim. “Cinco demônios!”
cantou papai, “é por isso que ele é delinqüente! Hoje nós vamos curá-lo.”
Cruzando as mãos sobre a minha cabeça, exerceu grande
pressão, apertando para baixo, e torcendo as mãos, como se estivesse tentando
abrir a tampa de um recipiente.
“Sai! Sai!”, gritava ele, “eu ordeno que vocês saiam.” Papai
estava falando com os demônios da minha mente.
Deu-me, então, tapas com as duas mãos em ambos os lados da
cabeça, sobre as orelhas, repetidas vezes. Estava gritando com os demônios para
que saíssem de meus ouvidos.
Frank continuou segurando meus braços acima da cabeça, e
papai colocou suas mãos imensas ao redor do meu pescoço, e começou a me
estrangular.
“Há um demônio na sua língua. Sai, demônio, sai.” Depois gritou: “Pronto.
Ele já está saindo.”
“O seu coração também está negro”, disse ele, e deu-me
vários socos no peito, que até pensei que minhas costelas iriam partir-se.
Finalmente, ele me agarrou pela cintura e me colocou de pé,
dando-me tapas nas virilhas e ordenando aos espíritos maus que saíssem das
minhas entranhas.
Afinal ele me soltou e Frank afastou-se dizendo : “Ele te
fez um grande favor, Nicky. Você tem sido muito mau, mas papai te purificou.”
Papai estava de pé no meio do quarto, tremendo como vara
verde. Eu disse um palavrão e saí como um pé-de-vento pela porta a fora,
correndo pelas escadas, em direção à rua. Duas horas depois encontrei um
marinheiro bêbedo, dormindo em um banco na Praça Washington. Virei-o de lado e
roubei-lhe a carteira. Se papai tinha expulsado os demônios de mim, não
demorou muito tempo para que eles voltassem. Eu ainda era filho de Lúcifer.
Os pesadelos ficaram piores. A visita de meu pai pareceu
aumentar o meu medo do futuro. Noite após noite rolava pela cama gritando, ao
acordar de um pesadelo após outro. Redobrei minhas brigas frenéticas, tentando
encobrir o medo que me consumia interiormente.
Naquele verão nossa luta contra a polícia tornou-se ainda
mais intensa. Todas as noites ficávamos nos telhados, esperando que os guardas
passassem por baixo. Derrubávamos sacos de areia, atirávamos garrafas e
pedras neles — mas precisávamos de armas de fogo, principalmente de rifles, e
isto custava dinheiro.
Tive uma idéia, para realizar um roubo fácil. Eu tinha
notado que todo sábado, às três da madrugada, um homem chegava em um grande
carro preto, dirigindo-se para um dos apartamentos. Os rapazes já haviam
observado isso, e
contávamos muitas piadas sobre o caso. Sabíamos que ele vinha da cidade
de Jersey, e que esperava sempre que Mário Silvério saísse para o trabalho.
Achávamos que estava se encontrando com a mulher de Mário. Certa noite, alguns
dos rapazes desafiaram a mim e Alberto a espiá-los. Trepamos assim pela escada
de incêndio e vimo-lo entrar no apartamento de Silvério.
Todo sábado às três da manhã acontecia a mesma coisa. Ele
estacionava o carro, trancava as portas e subia as escadas até o apartamento.
Eu disse a Mannie que achava que seria um trabalhinho fácil
e ele concordou. Pedimos a Willie Açougueiro para trazer o seu revólver, e
encontrar-se conosco às duas da madrugada.
Quando chegamos ao prédio de apartamentos, Willie já estava por
ali, testando o revólver. Ele tirara todas as balas e colocara uma ao lado da
outra, num degrau da escadaria. Vendo-nos chegar, recarregou a arma e
colocou-a no cinto.
Nosso plano era: Willie e Mannie esperariam atrás do
edifício. Quando o homem saísse do carro, eu me aproximaria dele e faria uma
pergunta. Então Willie e Mannie apareceriam, o primeiro apontando a arma para o
homem, enquanto o revistávamos e tomávamos seu dinheiro.
O relógio do grande edifício de Flatbush, na esquina da Rua
Houston, deu três badaladas. Willie quis examinar o revólver de novo. Desta vez
dirigiu-se aos fundos do edifício, e voltou dentro de poucos minutos, dizendo
que tudo estava pronto.
Mais ou menos às três e quinze o carro virou a esquina e
parou defronte ao prédio. Willie e Mannie esconderam-se nas sombras. Enrolei a
capa de chuva em torno do corpo,
e comecei a andar pela calçada. O homem saiu do carro. Era um sujeito
grandalhão, de cerca de quarenta anos e usava chapéu e casaco de elevado
preço. Fechou o carro cuidadosamente, e começou a andar em direção ao edifício.
As ruas estavam desertas. Só os carros que transitavam pela
avenida próxima quebravam o silêncio.
Quando me aproximei, ele apertou o passo. “Ei, moço”, disse
eu, “estou perdido. Pode me dizer onde é
a Av. Lafayette ?”
O homem virou-se e olhou em todas as direções. “Suma,
moleque”, disse, “não quero amolação. “
“Olhe, moço, tudo o que eu quero saber é onde fica a Av.
Lafayette.” Dei uma risada e pus a mão no bolso da capa, como se tivesse um revólver
apontado para ele.
“Socorro! Ladrões !” gritou o homem, recuando para o carro.
Encostei-me nele : “Cale a boca, ou eu te mato.”
Ele engoliu em seco, e olhou-me incrédulo. Depois começou a
gritar : “Socorro! Socorro!”
Naquele momento Willie passou o braço ao redor do seu
pescoço, por trás, batendo-lhe no rosto com o tambor do revólver : “Se der um
pio, está morto”, falou Willie entre dentes.
O homem ficou duro, enquanto Mannie e eu começávamos a
revistá-lo.
No bolso do paletó encontrei o maior maço de notas que já
vira. Estavam presas por um elástico. Penso que estava levando aquele dinheiro
para a mulher de Mário.
“Ei, olhe, Willie. Que tal ? Este cara é rico. Puxa, veja
todo este dinheiro.”
Afastei-me rindo. Tínhamos achado uma mina de ouro. Comecei
a caçoar dele : “Ei, cara, se eu deixar você dormir com a minha velha, você me
dará dinheiro toda semana ?”
Mannie começou a desafivelar o cinto do homem. “Que tal, Zé
? Não se importa se tirarmos sua calça para que todas as senhoritas vejam como você é
simpático?”
O homem rilhou os dentes e começou a gemer. “Ei, cara, nós
estamos prestando um favor a você”, disse Mannie. “Vamos, vamos tirar a calça
como um bom menino.”
Abriu o cinto e o homem começou a gritar outra vez. “Socorro! Soc...”
Mas eu pulei e fechei-lhe a boca com a mão. Ele enterrou os
dentes com força na palma da minha mão. Pulei para trás gritando : “Atira nele,
Willie! Fura ele ! Ele me mordeu. “
Willie recuou e com ambas as mãos apontou o revólver para as
costas do homem e puxou o gatilho. Ouvi o pino cair, mas nada aconteceu.
Dei um soco no estômago do homem, com todas as forças. Ele
dobrou-se, e eu dei-lhe outro soco na fonte com a outra mão, mas senti tanta
dor que pensei que ia desmaiar. Fiquei de lado, rodeando-o : “Atira nele,
Willie. Dê-lhe uma lição.”
Willie puxou o gatilho outra vez. Nada aconteceu de novo.
Ele continuou tentando, mas o revólver não disparou.
Agarrei o revólver de Willie, e dei uma coronha-da no rosto
do homem. Houve um ruído de metal batendo no osso. A carne se rompeu e eu pude
ver o branco do osso facial, e o sangue começando a correr. Ele estava tentando
gritar quando eu o feri de novo no alto da cabeça. Ele caiu prostrado na
sarjeta, uma das mãos pendentes sobre o bueiro que havia sob o meio-fio.
Não esperamos mais. Luzes se acendiam nas janelas dos
apartamentos, e ouvimos alguém gritar. Corremos rua abaixo, e atalhamos por uma
travessa que ia dar atrás da escola. Enquanto corria, tirei a capa e joguei-a
em uma lata de lixo.
Separamo-nos na rua seguinte. Corri para a minha rua e subi
a escada até meu quarto. Já dentro, tranquei a porta e fiquei na escuridão
arquejando e rindo, “Isto sim, era vida.”
Acendi a luz e olhei para a minha mão. Vi claramente as
marcas dos dentes do homem na palma. Lavei-a com um pouco de vinho e enrolei um
lenço.
Apaguei a luz e deixei-me cair na cama. As sirenes da
polícia gemeram à distância, e eu sorri para mim mesmo. “Que pacote!” pensei, e
apalpei o bolso, procurando o maço de
notas.
E esta agora ? Não estava lá ! Fiquei de pé, procurando
freneticamente em todos os bolsos. De repente, lembrei. Eu o colocara no bolso
da capa, no começo da briga. Ah, não ! Eu havia jogado a capa na lata de lixo.
E o revólver? O revólver de Willie também se fora. Eu devia tê-lo deixado cair,
depois que dera a coronhada no homem.
Eu não podia voltar lá aquela hora. O lugar devia estar
regurgitando de guardas. Precisaria esperar até de manhã, mas então o lixeiro
teria passado e a capa e o dinheiro estariam perdidos.
Caí na cama, batendo com os punhos no colchão. Todo aquele
esforço, e nenhum resultado.