sábado, 24 de abril de 2021

Foge Nick Foge - 07 - Filho de Lúcifer



Capítulo 7

FILHO DE LÚCIFER

QUANDO O SEGUNDO VERÃO se aproximou, parecia que o gueto inteiro estava pegando fogo, cheio de ódio e violência. As quadrilhas haviam di­minuído as atividades durante o inverno, surgindo na primavera com forças muito bem organizadas. Durante todo aquele inverno nós nos ocupáramos, fazendo revólveres caseiros, roubando armas de fo­go, e estocando munição. Eu ganhei a reputação de ser o chefe de quadrilha mais temido do Brooklin. Fui preso dezoito vezes, e uma vez naquele inverno, passei trinta dias na cadeia, aguardando julgamento. Jamais, porém, puderam provar qualquer acusação.
Com a chegada do calor, começamos a agir co­mo loucos ou selvagens. Os Dragons estavam empe­nhados em batalha contínua contra os Viceroys. No dia primeiro de maio, Mingo, presidente dos Cha-plains, entrou em uma confeitaria, tendo no braço uma espingarda de cano serrado.
“Ei garoto”, disse ele, apontando a espingarda por sobre o braço, para um rapaz sentado em um reservado.  “Você é o Sawgrass?”
“Sou eu, sim.  O que é que há?”
Mingo não respondeu. Fez mira com a espin­garda e apontou para a cabeça dele.
“Ei, cara” disse Sawgrass rindo amarelo, en­quanto se punha de pé e recuava. “Não aponte esse negócio para mim. Pode disparar.”
Mingo estava “alto” de heroína, e contentava-se em olhá-lo sem qualquer expressão, ao puxar o ga­tilho. O disparo atingiu o rapaz pouco acima do na­riz, e arrancou o alto da sua cabeça. O resto do cor­po caiu debatendo-se no chão. Sangue, ossos e grãos de chumbo foram chocar-se contra a parede que lhe ficava por detrás.
Mingo virou-se e saiu da confeitaria. Quando a polícia o encontrou, ele descia a rua, segurando a espingarda indolentemente. Gritaram-lhe para que parasse. Em lugar de obedecer, virou-se e apontou a arma para os guardas. Eles abriram fogo e Mingo caiu na rua crivado de balas.
Contudo, dentro de cada um de nós havia um Mingo. Era como se toda a cidade tivesse enlouque­cido.
Naquele verão declaramos guerra à polícia. Es­crevemos uma carta para os guardas do 88º. Distrito e para a Central de Polícia, avisando que estávamos em guerra contra eles e que daquela hora em diante qualquer guarda que entrasse em nosso território era um homem morto.
A polícia dobrou as patrulhas, e geralmente fa­ziam a ronda em grupo de três. Isto não nos inti­midava. Subíamos nos telhados, e atirávamos tijo­los, garrafas e latas de lixo neles. Quando saíam pa­ra ver quem estava atirando aquelas coisas, nós abríamos fogo. Nossa pontaria era péssima, e nos­sos revólveres de fabricação caseira eram muito im­precisos, exceto em disparos à queima-roupa. Nosso maior sonho era matar um guarda.
Um dos nossos golpes favoritos era atirar bom­bas de gasolina, chamadas “coquetéis Molotov”. Rou­bávamos gasolina de carros que ficavam estaciona­dos durante a noite, e a colocávamos em garrafas de refrigerante e de vinho. Fazíamos um pavio com um trapo, púnhamos fogo e atirávamos a garrafa na parede de um edifício ou em um carro da polícia. Ela explodia em chamas.
Algumas vezes o feitiço virava-se contra o feiti­ceiro. Certa tarde Dan Brunson, membro da nossa gang, acendeu um “coquetel Molotov” para atirar na delegacia. O pavio queimou depressa demais, e a bomba explodiu na mão dele. Antes que alguém pu­desse chegar até ele, todo o seu corpo já estava co­berto de gasolina em chamas. Os guardas correram e apagaram as chamas com as próprias mãos. Um deles ficou gravemente queimado ao abafar o fogo. Levaram depressa Dan para o hospital, mas os mé­dicos disseram que só após muitos anos é que ele voltaria ao normal.
Na semana seguinte, diminuímos o ritmo das brigas, porém, elas foram logo reiniciadas com fe­rocidade ainda maior.
Os feriados eram ocasiões excelentes para os “quebra-paus” das quadrilhas. Na Páscoa, no Dia do Trabalho e no Dia da Independência grande parte das duzentas e oitenta e cinco gangs da cidade reu­niam-se em Coney Island. Todos iam vestidos com as suas melhores roupas, e procuravam exibir-se, o que resultava em lutas terríveis, e muitas vezes fa­tais. Naquele 4 de julho — Dia da Independência dos EUA — os Bishops mataram Larry Stein, um de nossos rapazes. Ele tinha só treze anos de ida­de. Cinco deles surraram-no com correntes de bici­cleta até matá-lo; depois, enterraram seu corpo na areia, debaixo de uma passagem de tábuas. Ele só foi encontrado uma semana mais tarde.
Quando ficamos sabendo disso, nos reunimos no porão da escola — éramos quase duzentos — para uma assembléia de vingança. A sala estava carrega­da de ódio. Metade dos rapazes estava embriagada, e queria sair naquela noite e queimar os prédios de apartamentos dos Bishops, e pôr fogo na parte da Av. Bedford que ficava no bairro de Brooklin. Con­tudo, eu consegui manter a ordem, e concordamos em assistir ao enterro de Larry, na tarde seguinte, e depois reunirmo-nos outra vez, à noite, para traçar os planos de batalha.
Na tarde seguinte reunimo-nos no cemitério pa­ra o enterro. Dois carros pararam e um pequeno grupo de pessoas que choravam saiu deles. Reco­nheci a mãe de Larry, seu pai e seus quatro irmãos. Os Mau-Maus estavam vagueando pelo cemitério, e quando o funeral chegou, todos avançamos — mais de duzentos rapazes e garotas, a maioria vestida de blusões negros com um duplo M escarlate nas cos­tas.
Dirigi-me à Senhora Stein para falar com ela. Ela me viu chegando e gritou: “Tirem esses mons­tros daqui! Levem esses diabos!” Ela voltou-se e co­meçou a andar em direção ao carro, cambaleando, mas desmaiou e caiu na grama. O marido curvou-se sobre ela, e os filhos ficaram estáticos de terror, olhando nossa quadrilha que se esgueirava por en­tre os túmulos, aproximando-se da cova.
O pai de Larry olhou para mim e amaldiçoou-me: “Você é o culpado. Se não fosse você e sua gang imunda, Larry estaria vivo hoje.” Começou a aproximar-se de mim, disparando chispas de ódio pelos olhos, mas o administrador do cemitério agar­rou-o pelo braço, puxando-o para trás.
“Por favor, espere do outro lado da cova”, dis­se-me o administrador.  “Colabore conosco, certo?”
Fiz o que pedia e afastamo-nos do túmulo, en­quanto eles reanimavam a Sra. Stein e continuavam a cerimônia fúnebre.
Naquela noite tivemos a segunda reunião. Desta vez nada haveria de nos segurar. Ficamos sabendo na tarde do mesmo dia, que os GGI haviam matado um dos Bishops, e que o funeral seria realizado no dia seguinte. Os rapazes queriam acabar com o fu­neral atirando bombas dos edifícios A intensa leal­dade da quadrilha, em vingar o seu parceiro morto, era espantosa. Todos ferviam de ódio, e finalmente não podiam mais contê-lo. Mannie foi quem gritou que já ia para a agência funerária, onde o corpo do rapaz dos Bishops aguardava a hora do enterro. “Vamos pôr fogo naquela baiúca”, gritou ele. “Se esperarmos até amanhã, será tarde demais. Vamos agora.”
“Sim, sim, vamos”, gritaram em coro. Mais de quinze deles convergiram em direção ao pequeno sa­lão da empresa funerária, reservado aos negros; tombaram caixões e rasgaram as cortinas com fa­cas.
O enterro foi realizado no dia seguinte sob forte escolta policial, mas nós nos sentimos vingados.
Os tumultos nas ruas eram superados apenas pelos pesadelos de violência que fervilhavam em meu coração. Eu era um animal sem consciência, moral, razão, e sem qualquer senso do que era certo ou er­rado. A quadrilha me sustentava com o produto dos seus roubos noturnos, e Frank me ajudava um pou­co. Mas eu preferia obter o de que precisava por meus próprios meios.
Na primavera de 1957, Frank veio ver-me e dis­se que mamãe e papai vinham de Porto Rico para visitar-nos. Ele queria que eu fosse ao seu aparta­mento na noite seguinte, para vê-los. Recusei-me. Eu não precisava deles. Eles me haviam rejeitado, e eu agora não queria qualquer contato com eles.
Na noite seguinte, Frank trouxe papai ao meu quarto. Mamãe não apareceu, já que eu não quisera vê-la.
Papai ficou de pé à porta, por muito tempo, olhando para mim, que estava sentado à beira da cama
“Frank me contou tudo sobre você”, disse ele, levantando a voz, até falar quase aos gritos quando terminou. “Ele disse que você é agora chefe de uma quadrilha e que a polícia está procurando-o. É ver­dade?”
Não respondi, mas virei-me para Frank, que es­tava de pé ao lado do velho, e rosnei: “Que diabo andou falando para ele? Eu te disse para não vir aqui com eles.”
“Contei-lhe a verdade, Nicky”, disse Frank cal­mamente.
“Talvez já seja hora de você também enfrentar a verdade.”
“Ele tem um demônio”, disse papai, encarando-me sem piscar os olhos. “Ele está possesso. Preciso libertá-lo.”
Olhei para papai e ri nervosamente: “No ano passado eu pensei que tinha um demônio. Mas ago­ra até os demônios têm medo de mim.”
Papai atravessou o quarto e colocou sua pesada mão em meu ombro. Empurrou-me com força, até que fui obrigado a ajoelhar-me por terra. Dominou-me em toda a sua altura, suas mãos enormes prendendo-me como correntes.
“Sinto cinco espíritos maus nele”, disse papai. Fez sinal para que Frank agarrasse meus braços e os levantasse acima da minha cabeça. Lutei para li­bertar-me, mas eles eram fortes demais para mim. “Cinco demônios!” cantou papai, “é por isso que ele é delinqüente! Hoje nós vamos curá-lo.”
Cruzando as mãos sobre a minha cabeça, exer­ceu grande pressão, apertando para baixo, e torcen­do as mãos, como se estivesse tentando abrir a tam­pa de um recipiente.
“Sai! Sai!”, gritava ele, “eu ordeno que vocês saiam.” Papai estava falando com os demônios da minha mente.
Deu-me, então, tapas com as duas mãos em am­bos os lados da cabeça, sobre as orelhas, repetidas vezes. Estava gritando com os demônios para que saíssem de meus ouvidos.
Frank continuou segurando meus braços acima da cabeça, e papai colocou suas mãos imensas ao redor do meu pescoço, e começou a me estrangular.
“Há um demônio na sua língua. Sai, demônio, sai.”   Depois gritou:  “Pronto.   Ele já está saindo.”
“O seu coração também está negro”, disse ele, e deu-me vários socos no peito, que até pensei que minhas costelas iriam partir-se.
Finalmente, ele me agarrou pela cintura e me colocou de pé, dando-me tapas nas virilhas e or­denando aos espíritos maus que saíssem das minhas entranhas.
Afinal ele me soltou e Frank afastou-se dizendo : “Ele te fez um grande favor, Nicky. Você tem sido muito mau, mas papai te purificou.”
Papai estava de pé no meio do quarto, tremen­do como vara verde. Eu disse um palavrão e saí como um pé-de-vento pela porta a fora, correndo pelas escadas, em direção à rua. Duas horas depois encontrei um marinheiro bêbedo, dormindo em um banco na Praça Washington. Virei-o de lado e rou­bei-lhe a carteira. Se papai tinha expulsado os de­mônios de mim, não demorou muito tempo para que eles voltassem. Eu ainda era filho de Lúcifer.
Os pesadelos ficaram piores. A visita de meu pai pareceu aumentar o meu medo do futuro. Noite após noite rolava pela cama gritando, ao acordar de um pesadelo após outro. Redobrei minhas bri­gas frenéticas, tentando encobrir o medo que me consumia interiormente.
Naquele verão nossa luta contra a polícia tor­nou-se ainda mais intensa. Todas as noites ficáva­mos nos telhados, esperando que os guardas pas­sassem por baixo. Derrubávamos sacos de areia, ati­rávamos garrafas e pedras neles — mas precisáva­mos de armas de fogo, principalmente de rifles, e isto custava dinheiro.
Tive uma idéia, para realizar um roubo fácil. Eu tinha notado que todo sábado, às três da ma­drugada, um homem chegava em um grande carro preto, dirigindo-se para um dos apartamentos. Os rapazes  já haviam  observado   isso,  e   contávamos muitas piadas sobre o caso. Sabíamos que ele vi­nha da cidade de Jersey, e que esperava sempre que Mário Silvério saísse para o trabalho. Achávamos que estava se encontrando com a mulher de Mário. Certa noite, alguns dos rapazes desafiaram a mim e Alberto a espiá-los. Trepamos assim pela es­cada de incêndio e vimo-lo entrar no apartamento de Silvério.
Todo sábado às três da manhã acontecia a mes­ma coisa. Ele estacionava o carro, trancava as por­tas e subia as escadas até o apartamento.
Eu disse a Mannie que achava que seria um trabalhinho fácil e ele concordou. Pedimos a Willie Açougueiro para trazer o seu revólver, e encontrar-se conosco às duas da madrugada.
Quando chegamos ao prédio de apartamentos, Willie já estava por ali, testando o revólver. Ele ti­rara todas as balas e colocara uma ao lado da ou­tra, num degrau da escadaria. Vendo-nos chegar, recarregou a arma e colocou-a no cinto.
Nosso plano era: Willie e Mannie esperariam atrás do edifício. Quando o homem saísse do carro, eu me aproximaria dele e faria uma pergunta. Então Willie e Mannie apareceriam, o primeiro apontando a arma para o homem, enquanto o revistávamos e tomávamos seu dinheiro.
O relógio do grande edifício de Flatbush, na esquina da Rua Houston, deu três badaladas. Willie quis examinar o revólver de novo. Desta vez diri­giu-se aos fundos do edifício, e voltou dentro de poucos minutos, dizendo que tudo estava pronto.
Mais ou menos às três e quinze o carro virou a esquina e parou defronte ao prédio. Willie e Mannie esconderam-se nas sombras. Enrolei a capa de chuva em torno  do  corpo,  e comecei a andar pela cal­çada. O homem saiu do carro. Era um sujeito gran­dalhão, de cerca de quarenta anos e usava chapéu e casaco de elevado preço. Fechou o carro cuidadosamente, e começou a andar em direção ao edifício.
As ruas estavam desertas. Só os carros que transi­tavam pela avenida próxima quebravam o silêncio.
Quando me aproximei, ele apertou o passo. “Ei, moço”, disse eu, “estou perdido. Pode me dizer onde é   a   Av.   Lafayette ?”
O homem virou-se e olhou em todas as direções. “Suma, moleque”, disse, “não quero amolação. “
“Olhe, moço, tudo o que eu quero saber é onde fica a Av. Lafayette.” Dei uma risada e pus a mão no bolso da capa, como se tivesse um revólver apon­tado para ele.
“Socorro! Ladrões !” gritou o homem, recuando para o carro.
Encostei-me nele : “Cale a boca, ou eu te mato.”
Ele engoliu em seco, e olhou-me incrédulo. De­pois começou a gritar : “Socorro! Socorro!”
Naquele momento Willie passou o braço ao re­dor do seu pescoço, por trás, batendo-lhe no rosto com o tambor do revólver : “Se der um pio, está morto”, falou Willie entre dentes.
O homem ficou duro, enquanto Mannie e eu co­meçávamos a revistá-lo.
No bolso do paletó encontrei o maior maço de notas que já vira. Estavam presas por um elástico. Penso que estava levando aquele dinheiro para a mulher de Mário.
“Ei, olhe, Willie. Que tal ? Este cara é rico. Puxa, veja todo este dinheiro.”
Afastei-me rindo. Tínhamos achado uma mina de ouro. Comecei a caçoar dele : “Ei, cara, se eu deixar você dormir com a minha velha, você me dará di­nheiro toda semana ?”
Mannie começou a desafivelar o cinto do ho­mem. “Que tal, Zé ? Não se importa se tirarmos sua calça para que todas as senhoritas vejam co­mo  você é  simpático?”
O homem rilhou os dentes e começou a ge­mer. “Ei, cara, nós estamos prestando um favor a você”, disse Mannie. “Vamos, vamos tirar a calça como um bom menino.”
Abriu o cinto e o homem começou a gritar outra vez. “Socorro!   Soc...”
Mas eu pulei e fechei-lhe a boca com a mão. Ele enterrou os dentes com força na palma da minha mão. Pulei para trás gritando : “Atira nele, Willie! Fura ele ! Ele me mordeu. “
Willie recuou e com ambas as mãos apontou o revólver para as costas do homem e puxou o gati­lho. Ouvi o pino cair, mas nada aconteceu.
Dei um soco no estômago do homem, com todas as forças. Ele dobrou-se, e eu dei-lhe outro soco na fonte com a outra mão, mas senti tanta dor que pensei que ia desmaiar. Fiquei de lado, rodeando-o : “Atira nele, Willie. Dê-lhe uma lição.”
Willie puxou o gatilho outra vez. Nada acon­teceu de novo. Ele continuou tentando, mas o re­vólver não disparou.
Agarrei o revólver de Willie, e dei uma coronha-da no rosto do homem. Houve um ruído de metal batendo no osso. A carne se rompeu e eu pude ver o branco do osso facial, e o sangue começando a correr. Ele estava tentando gritar quando eu o feri de novo no alto da cabeça. Ele caiu prostrado na sarjeta, uma das mãos pendentes sobre o bueiro que havia sob  o meio-fio.
Não esperamos mais. Luzes se acendiam nas ja­nelas dos apartamentos, e ouvimos alguém gritar. Corremos rua abaixo, e atalhamos por uma traves­sa que ia dar atrás da escola. Enquanto corria, ti­rei a capa e joguei-a em uma lata de lixo.
Separamo-nos na rua seguinte. Corri para a mi­nha rua e subi a escada até meu quarto. Já dentro, tranquei a porta e fiquei na escuridão arquejando e rindo, “Isto sim, era vida.”
Acendi a luz e olhei para a minha mão. Vi cla­ramente as marcas dos dentes do homem na palma. Lavei-a com um pouco de vinho e enrolei um lenço.
Apaguei a luz e deixei-me cair na cama. As sire­nes da polícia gemeram à distância, e eu sorri para mim mesmo. “Que pacote!” pensei, e apalpei o bolso, procurando o maço de  notas.
E esta agora ? Não estava lá ! Fiquei de pé, pro­curando freneticamente em todos os bolsos. De re­pente, lembrei. Eu o colocara no bolso da capa, no começo da briga. Ah, não ! Eu havia jogado a capa na lata de lixo. E o revólver? O revólver de Willie também se fora. Eu devia tê-lo deixado cair, depois que dera a coronhada no homem.
Eu não podia voltar lá aquela hora. O lugar devia estar regurgitando de guardas. Precisaria es­perar até de manhã, mas então o lixeiro teria pas­sado e a capa e o dinheiro estariam perdidos.
Caí na cama, batendo com os punhos no col­chão. Todo aquele esforço, e nenhum resultado.