sábado, 24 de abril de 2021

Ele veio pra libertar os cativos - 02 - Elaine


O casamento dos meus pais foi bastante conturbado. Meu pai era um beberrão que acreditava ser o dom de Deus para as mulheres. Ele maltratava muito minha mãe. Quando nasci ele parou aos pés da cama dela e disse-lhe que desejaria que eu tivesse morrido. Até que, finalmente, ela atirou um vaso contra ele.
Meu nascimento foi como qualquer outro, igual a centenas no mesmo dia por todo o mundo, exceto, que eu nascera deformada. Não tinha nariz, lábio superior e nem o céu da boca. É o que eles chamam de lábio leporino. Minha mãe quis me ver tão logo eu nasci, e para ela, eu era o bebê mais lindo do mundo. Sua primeira pergunta fora: “Ela poderá ser operada?”
Ela era muito... muito... pobre. Não tinha dinheiro e nem meios para consegui-lo. Naquela época, os programas destinados à população carente, não eram acessíveis como hoje, mas mesmo assim, minha mãe não era o tipo de pessoa que desistia facilmente só pelo fato de ser pobre.
Aconteceu que, no mesmo hospital, havia uma enfermeira chamada Helen. Ela dera assistência ao meu nascimento, e no mais, sabia da situação da minha mãe, e também dos maus tratos do meu pai. Helen não era uma pessoa comum, era uma poderosa bruxa membro de uma seita que apesar de pouco conhecida, se tornou uma das mais poderosas em nosso país. Os membros dessa comunidade prestam uma espécie de culto e adoração a Satanás e chamam a si mesmos de “A Irmandade”. Helen, era naquele tempo, o que eles denominavam em seus cultos de “a pessoa do contato”. O contato dela com minha mãe iria afetar não só todo o resto da minha vida como o de Rebecca também.
No dia seguinte ao meu nascimento, Helen aproximou-se da minha mãe com uma proposta. Se minha mãe permitisse que ela pegasse uma pequena quantidade do meu sangue, ela e suas “amigas” providenciariam todos os recursos financeiros e a ajuda necessária para a obtenção da melhor cirurgia e cuidados médicos disponíveis. Mamãe não conseguia entender porque ela oferecia tanto em troca de tão pouco. Porém, como não houvesse outro recurso para uma situação desesperadora como a nossa e, ainda, Helen assegurando-lhe o tempo todo, que não me causaria mal algum, mamãe, finalmente aceitou a proposta. Helen, era uma jovem senhora atraente, que parecia genuinamente sincera e preocupada no desejo de ajudar tanto minha mãe, como eu.
O que ela não explicara para a minha mãe é que o meu sangue era uma importante “venda”. O pequeno recipiente contendo o meu sangue, foi levado e dado a uma outra mulher chamada Grace. Ela fazia parte da seita satânica. Lá, era conhecida como uma “sacerdotisa superior”. A venda do meu sangue daria a ela maior poder, vigor e uma posição mais elevada na seita. Helen, também, obteve maior poder com a transação.
O sangue fora levado por Helen e dado à Grace, que durante a cerimônia, bebera do meu sangue. Isto fez com que ela e Satanás tomassem posse de mim. Assim, a partir daquele momento, eu ficara exposta à entrada de muitos demônios. Grace, sob a orientação do diabo, enviou especificamente, para o meu corpo, diversos demônios que moldariam minha vida, personalidade e futuro.
Mamãe, não sendo cristã, jamais poderia imaginar que, o quê ela fizera, iria me tornar numa pessoa marcada, cuidadosamente vigiada pelos satanistas. Mais tarde, como resultado, o meu próprio envolvimento na seita. Mesmo que mamãe jamais tivesse dito: “Tudo bem, você pode pegar um pouco do sangue dela”, no futuro, eu testemunharia a venda do sangue de outros bebês. Meu coração se afligia só de pensar nas conseqüências que “essas vendas” causariam no futuro deles.
Satanás tinha, agora, uma preciosa propriedade. Um novo bebê, onde os demônios poderiam habitar, crescer e tornarem-se poderosos e ágeis. Quanto mais eu crescia, tomando consciência de mim mesma, mais eu sabia que algo diferente e incomum, acontecia dentro de mim, entretanto, não sabia o que era.
Quatro dias, após o meu nascimento disseram à minha mãe que ela poderia levar-me a um hospital infantil perto dali. Lá, eu sofreria várias intervenções cirúrgicas. Muitas na verdade. Foram necessários dezesseis anos de cirurgias plásticas para que eu tivesse um rosto normal. Também, tive que freqüentar terapias para a correção da fala e da audição além das correções na arcada dentária. Era apenas o começo dos anos de muita dor, solidão e rejeição. Dor, porque a cirurgia plástica me causava dores como de queimadura quando na fase de recuperação. Solidão, porque eu não era como as outras crianças, e rejeição porque devido à deformidade no meu rosto, eu tinha poucos amigos. Eu me tornara rude e violenta. Aprendera a lutar para me defender. As interrupções, na escola, devido às cirurgias, desfaziam os meus círculos de amizade.
As crianças na escola pareciam se divertir. Faziam-me de palhaça, cutucando, empurrando e zombando, até que eu não mais pudesse suportar. Mudávamos de escola para escola. Eu não freqüentava a mesma dois anos consecutivos.
Meus pais achavam bom que eu não tivesse de enfrentar o mesmo grupo de crianças no ano seguinte. Porém, eu vivia a mesma situação. Acontecia o mesmo em cada escola. Um ano após outro de agonia. Nada, absolutamente nada, mudava.
Mamãe casou-se novamente, após o meu nascimento. Os meus pais não iam à igreja, e não me negavam o direito de ir, mas não iam. Ficavam esperando “um pelo outro”, e assim, nenhum dos dois dava o primeiro passo. Finalmente, eu me ajuntei a um grupo da igreja. Era um grupo ativo na Igreja Pentecostal. Eu tinha dezesseis anos e fora aceita na mocidade por que sabia cantar, tocar guitarra e bateria. Eu possuía muitos talentos, habilidade musical assim como habilidades artísticas. Foi uma época feliz, embora durasse pouco.
Enquanto crescia, descobri que possuía poderes inexplicáveis, entretanto, não sabia de onde eles vinham, o que eram ou o que fazer com eles. Algumas pessoas me disseram que eu tinha “dons” especiais. Tenho uma tia que conhece profundamente a bruxaria e o espiritismo, ela costumava atrair as crianças para exibir “jogos ocultos”, e eu demonstrava habilidades superiores com as cartas, tarô etc. Na adolescência constatei uma enorme habilidade para influenciar outros e fazê-los agirem de acordo com minha vontade. A minha força física era incomum.
Lembro-me de que no primeiro ano da escola secundária, depois da aula de ginástica, uma garota lésbica tentou abusar de mim, fiquei tão furiosa que quase a afoguei no vaso sanitário. Ela era bem maior do que eu, e se não fosse a intervenção de alguns adultos, eu a teria matado.
Permaneci na mesma escola todo o segundo grau. Meus colegas zombavam de mim, e a pior coisa do mundo nessa idade, é ver que seus companheiros, além de abusarem, zombam de você. Eu chegara ao ponto de não mais suportar a situação.
Certa vez, quando eu passava pelo corredor, o capitão do time de futebol gritou: “Olhem essa horrível lábio leporino!” Recordo-me de houver jogado os livros no chão e avançado na direção dele. O que consegui recordar depois foram os cinco professores tentando tirar-me de cima dele. Eu quase o matara. Deixei-o de nariz quebrado, assim como o queixo e inúmeros ossos da face. A minha força era sobrenatural. Naquele tempo, o garoto pesava cerca de cem quilos e eu não passava dos cinqüenta quilos. Mesmo assim, não sofri sequer um arranhão, nem nos punhos.
A “força” parecia de mau agouro, entretanto, eu gostava. Ela era o único jeito de ter paz e ninguém podia me maltratar. Hoje, vejo de forma diferente, mas, na época, ela era o único meio de ter um pouco de paz. Amava aquela força mesmo não sabendo de onde vinha, e o que eu queria era conseguir mais. Não demoraria muito e logo seria envolvida e arrasada por uma mentira de Satanás que eu lamentaria por muito, muito tempo, e ainda o faço. Mas, graças a Jesus que sempre me amou, mesmo que eu não O conhecesse. Foi nessa época que conheci Sandy, no grupo da mocidade que eu freqüentava. Ela também era da mesma escola que eu, e tínhamos a mesma idade. Sandy era uma “recruta” no Satanismo e me levou ao passo seguinte no plano que o inimigo traçara para mim.