CAPÍTULO 11- DESMANTELANDO O MANTO DE JEZABEL
JEREMIAS OBSERVAVA HORRORIZADO enquanto os soldados
babilônios ateavam fogo ao Templo em Jerusalém. Seus olhos ardiam por causa da
fumaça e também devido à sua tristeza, enquanto os edifícios por toda a cidade
eram saqueados e em seguida queimados. Ele se perguntava por que o povo não
dera ouvidos. Por que se deixara influenciar pelas nações pagas ao redor? Se ao
menos tivesse dado ouvidos aos profetas! Se ao menos tivesse respeitado a Lei
de Moisés!
Olhando a espessa nuvem de fumaça que subia, Jeremias viu as
chamas consumindo o Santo Lugar. Embora fossem o povo escolhido de Deus,
lentamente os judeus tinham se tornado iguais aos babilônios. Agora, tinham
incorrido no juízo divino, como Moisés, da parte de Deus, havia predito.
Porém, se não
desapossardes de diante de vós os moradores da terra, então, os que deixardes
ficar ser-vos-ão como espinhos nos vossos olhos e como aguilhoes nas vossas
ilhargas e vos perturbarão na terra em que habitardes. E será que farei a vós
outros como pensei fazer-lhes a eles. — Números 33.55,56
UM ESPINHO DEMONÍACO
Qualquer espinho, quando cravado em nossa carne, causará
infecção, a menos que seja removido. Um espinho demoníaco pode ferir a igreja e
causar infecção, assim como uma lasca de madeira pode causar inflamação e infecção.
Quanto mais tempo for ignorado, mais grave será a infecção. Se o espinho for
negligenciado, a infecção pode se espalhar e culminar com a amputação - ou, o
que é pior, até com a morte.
Para resolver o problema do espírito de Jezabel, Deus requer
que seus servos removam o espinho demoníaco que contamina a igreja. A
confrontação piedosa é necessária a fim de que ocorra convicção de pecado e
verdadeiro arrependimento.
Convicção de pecado e arrependimento ocorrem com a ajuda do
Espírito Santo. Os seres humanos não podem forçar o arrependimento porque não
somos nós que convencemos as pessoas do pecado. É tarefa do Espírito. Podemos
orar para que Ele convença um indivíduo com o espírito de Jezabel. Entretanto,
se o comportamento do indivíduo se tornar obviamente malicioso e causar dano a
outras pessoas na igreja, o pastor deve confrontar.Antes que Deus intervenha,
como fez na igreja de Tiatira, é preciso que o pastor e os líderes se unam e
adotem ações decisivas.
RESPONSABILIDADE PELA REMOÇÃO
O pastor tem a responsabilidade de enfrentar o espírito de
Jezabel. Como o responsável pelo rebanho, ele tem autoridade de confrontar e
remover qualquer pessoa ou situação problemática da igreja.
O pastor não deve esperar que um profeta enfrente a
situação. A responsabilidade profética é apenas revelar os indivíduos que
veladamente operam sob o espírito de Jezabel. É bom lembrar que o profeta Elias
fugiu de Jezabel. Seu sucessor, Eliseu, reconheceu que somente os reis tinham
autoridade de remover Jezabel. Portanto, Deus o instruiu para ungir Jeú como
rei.
ABORDAGENS A SEREM CONSIDERADAS
Há duas abordagens básicas a ser adotadas quando
confrontamos o espírito de Jezabel. A primeira é anunciar sua conclusão (ex.,
dizer ao indivíduo: "Você tem o espírito de Jezabel.") e depois
enunciar as razões para tal conclusão. Esta abordagem raramente funciona. O
estigma de ser chamado de "Jezabel" é ofensivo demais. Além disso, a
pessoa erroneamente acha que está sendo dirigida pelo Espírito de Deus.
Portanto, tudo o que ela faz se torna suspeito. Desde que o espírito de Jezabel
imita o Espírito Santo, ela terá de admitir que estava operando sob o espírito
errado. Terá de reconhecer que o espírito que lhe deu conforto, poder,
revelação, autoridade, valor e auto-estima é demoníaco. Se fizer tal confissão,
se sentirá confusa e desorientada, não sabendo mais no que acreditar e em quem
confiar.
Por essas razões, não recomendo esta abordagem. É mais do
que provável que a pessoa não reconhecerá sua real condição. Continuará a
acreditar que está sendo dirigida pelo Espírito Santo. No final, começará a
montar a campanha defensiva, tentando se enraizar ainda mais na igreja,
tornando mais difícil a remoção, ou então abandonará a igreja. Essa opção
resolverá os problemas imediatos, mas a pessoa continuará sem cura. Pastores
com visão do Reino lamentarão pela perda do destino original de Deus na vida
daquela pessoa.
A segunda abordagem - e a mais apostólica - é identificar e
confrontar o âmago da questão antes de anunciar sua conclusão. De fato, o
pastor pode jamais revelar à pessoa o espírito que a estava dominando. A
esperança é que ela entenda a situação e tire sua própria conclusão.
Por exemplo, se alguém está espalhando mentiras sobre o
pastor, este terá de tratar com a mentira em si e descobrir por que a pessoa
está mentindo. É muito provável que ela tenha sido criada sem um modelo
adequado. Já viu figuras de autoridade usando erroneamente o poder. Num
sentido, esta abordagem exigirá que o pastor corrija alguns dos pensamentos
distorcidos da pessoa. É bom encorajá-la a identificar e abandonar as
expectativas não realistas e começar a se arrepender.
O MEDO ATRAPALHA O ARREPENDIMENTO
O pastor terá de buscar a sabedoria divina para encorajar o
indivíduo a realmente se arrepender e também terá de lidar com os seus medos.
Antes de as pessoas permitirem que o pastor ore por elas,
precisarão da certeza de que o que quer que as tenha deixado vulneráveis à
operação do espírito de Jezabel será eliminado. A porta de acesso a este
espírito de medo deve ser descoberta, fechada, selada e coberta.
O indivíduo também deve se sentir seguro perto do pastor e
das outras pessoas de quem está recebendo a ministração. Amor e sabedoria devem
ser claramente demonstrados a fim de que o trato com o espírito de Jezabel seja
bem-sucedido. Apenas a boa intenção não é suficiente para dar segurança.
Uma miríade de medos pode estar compelindo o indivíduo. Pode
ser o medo de autoridade ou o medo das pessoas que são encaradas como uma
ameaça. Descobrir a raiz do problema ou o ponto de acesso por onde o espírito
maligno se infiltrou ajuda muito no processo de cura. Também ajudará a pessoa a
rejeitar o mesmo espírito em situações futuras. Por exemplo, se um espírito de
Jezabel entrou num momento em que o indivíduo se sentia rejeitado, a situação
específica deve ser identificada. Portanto, na próxima vez em que o indivíduo
for rejeitado — ou sentir rejeição -, não apelará para o antigo comportamento
de controle e manipulação.
Quando tentamos libertar uma pessoa com o espírito de
Jezabel, ela tem medo de perder tudo. O que nós vemos como um espírito maligno,
ela encara como um espírito protetor. Erroneamente, ela foi levada a acreditar
que está agindo sob a direção do Espírito Santo. Assim, ela acha que todas as
suas percepções, opiniões, palavras de conhecimento e sonhos são provenientes
de Deus. A tarefa do pastor é desmascarar essa mentira de modo que o indivíduo
possa reconhecer o engano no qual está caminhando.
Normalmente a pessoa precisará ter a garantia de que Deus está
agindo para ajudá-la a resistir efetivamente e vencer o espírito de Jezabel.
Com o tempo, esse processo de discernimento e de não se submeter aos velhos
hábitos construirá um caráter piedoso. Lembre-se: Deus é fiel para completar a
cura que começou na vida do indivíduo (Fp 1.6).
REMORSO POR TER SIDO APANHADO
O remorso inclui o sentimento de pesar por ter sido
apanhado. Além disso, sugere a possibilidade de que isso acontecerá de novo em
outra ocasião. O líder experiente deve discernir a diferença entre
arrependimento e remorso.
A disciplina eclesiástica deve continuar até que haja
verdadeiro arrependimento, evidenciado pela tristeza segundo Deus (2 Co 7.10).
A tristeza piedosa é sinal de quebrantamento da vontade. Mesmo quando o
indivíduo se arrepende, não deve ser mantido nem colocado em nenhum tipo de
posição de liderança. Primeiro sua alma e seu espírito precisam ser
restaurados. Tudo isso leva tempo, para que a cura seja completa. Devemos
entender que este processo envolve mais do que perdão. Envolve cura interior,
que em geral leva vários anos. Portanto, se o indivíduo deseja começar a
liderar um grupo pequeno, não ceda à sua insistência. A pressa em recolocar o
indivíduo em posição de liderança seria como levar um ex-alcoólatra a um bar
para dar testemunho. A sabedoria nos aconselha a não fazer isso.
O PROBLEMA DA NEGAÇÃO
O problema surge quando o indivíduo nega ter atitudes de
controle e de manipulação. E surpreendente, mas muitas vezes a negação ocorre
logo depois que houve uma reunião na qual o indivíduo admitiu ter problemas.
Quando esses problemas reaparecem, têm um poder de dano
maior. Desde que o pastor já fez a sua parte, o espírito de Jezabel começará a
antecipar o que ele dirá e a compor seus argumentos. Peça por peça, ele
desmontará toda a argumentação feita contra ele.
O pastor, que já deve ter informado a liderança sobre o
espírito de Jezabel, precisará reunir os líderes ao seu redor. Juntos, terão de
confrontar o indivíduo o mais rápido possível. Não é bom retardar o tratamento,
porque ele crescerá como um furacão. Além disso, o arrependimento deve ser
requerido imediatamente. Recomendo que o pastor siga os 12 passos esboçados no
capítulo dez deste livro.
Desde que o princípio bíblico exige duas testemunhas, o
pastor deve estar acompanhado de no mínimo duas pessoas quando confrontar o
indivíduo com o espírito de Jezabel, senão posteriormente o acusado pode mentir
e torcer o que foi dito. Na presença de testemunhas, o pastor declarará o curso
de ação que será adotado.
Além disso, as testemunhas proporcionam o poder da
concordância, para ligar ou soltar. Juntos, vocês podem amarrar o espírito de
Jezabel e seu poder, impedindo-o de agir no futuro contra a igreja.
EXCLUSÃO
Se o indivíduo não se arrepender e não demonstrar disposição
de aceitar a libertação, deve ser afastado da igreja. A Bíblia menciona um
homem que resistiu à autoridade pastoral e que foi severamente corrigido e
excluído da comunhão (1 Co 5.4,5). Essa correção severa exige que os líderes
continuem a demonstrar amor, caráter e ousadia.
RESTAURAÇÃO
O apóstolo Paulo estava interessado no Reino, e não em
vingança pessoal; por isso, vários anos mais tarde, mencionou a tristeza
piedosa do homem que fora excluído da igreja (2 Co 2.4-11). No entanto, a
liderança da igreja falhou em notar isso. Assim, Paulo os encorajou a
reintegrar o indivíduo na comunhão.
Semelhantemente, depois que o indivíduo é excluído, se a
fortaleza maligna sobre ele é realmente quebrada, temos de perdoá-lo e
restaurá-lo à comunhão. Obviamente, a restauração deve ser feita com sabedoria
por aqueles que julgam com precisão a sinceridade e a profundidade do arrependimento.
A DESTRUIÇÃO DE JEZABEL
Jeú, líder da dinastia mais longa de Israel, foi ungido por
Eliseu e recebeu de Deus a ordem de eliminar Jezabel e a casa de Acabe (2 Rs
9.7).
Jeú não perdeu tempo para realizar sua tarefa. Obedecendo à
sua ordem, os servos de Jezabel jogaram-na de uma janela alta. É interessante
notar que os servos eram eunucos que não cederam à sua sedução. Conseguiram
executar a ordem de Jeú, de modo que os verdadeiros atalaias de Deus puderam
sobreviver (2 Rs 9.33).
Da mesma forma, aquele que enfrenta o espírito de Jezabel
deve se tornar um eunuco espiritual. Não pode ser tentado pela concupiscência
da carne, dos olhos e pela soberba da vida (1 Jo2.16). Tal pessoa deve ser
resoluta e imparcial, como Jeú, e ser invulnerável à sedução, como os eunucos.
Neste momento, oro para que pastores piedosos de caráter
real, ousadia e força se levantem. Oro para que, com coragem, eles coloquem o
machado na raiz desse espírito demoníaco que busca destruir os profetas,
macular os pastores e perverter a igreja de Cristo. Como povo de Deus,
precisamos amar o que Ele ama e odiar o que Ele odeia. Não precisamos recuar e
ficar com medo de enfrentar e disciplinar a iniqüidade e a rebelião que
profanam o Corpo de Cristo.
O ANTÍDOTO
Desde que a iniqüidade é uma doença em nossa cultura, os
pastores precisarão de uma abordagem ativa. Recomendo que haja ensino
sistemático nas igrejas sobre o tema da autoridade espiritual e da iniqüidade.