CAPÍTULO 10- PREPARANDO PARA MINISTRAR AOS FERIDOS
NO CURTO ESPAÇO DE DOIS ANOS, Joel viu sua igreja encolher,
caindo de 300 para 120 membros. Nesse período, ele notou uma mulher em
particular, que personificava tudo o que um pastor sonhava ver num membro - ela
apoiava os trabalhos da igreja, era humilde, orava muito e parecia sincera.
Numa manhã de sábado, porém, seus olhos foram dolorosamente abertos. A mulher,
que era divorciada, chegou num retiro para casais e tentou pegar o microfone à
força. Joel não podia conceber o que tinha acontecido com ela.
Algumas semanas mais tarde, suas reservas em relação a ela
se fortaleceram quando ele recebeu uma carta enviada por um amigo dela. Num tom
que parecia ser de revelação divina, o missivista dizia que a mulher divorciada
era a mulher cena para Joel e insinuou que ele deveria abandonar sua esposa,
que estava "atrapalhando seu progresso espiritual". Desde que na
verdade não foi a própria mulher quem escreveu a carta, Joel ficou sem saber
exatamente como enfrentar esse ataque contra seu casamento.
Numa manha, depois da reunião de oração, ele estava tomando
café com um pequeno grupo de irmãos, incluindo a irmã divorciada. Ela disse que
tinha algumas "direções de Deus" e, quando ele não as aceitou, ficou
furiosa e, por alguns segundos, perdeu a compostura. Deu um murro na mesa,
derrubando várias xícaras de café, e saiu.
Algumas semanas mais tarde, um profeta foi convidado para
uma conferência na igreja e transmitiu uma mensagem ao pastor. Advertiu contra
a assim chamada "parceira espiritual" que estava tentando se levantar
na igreja. Surpreso com a revelação, Joel falou em particular com a mulher
sobre essa profecia. No dia seguinte, durante o culto, ela se levantou e
calmamente foi até a frente, interrompendo o pregador. Numa atitude de falsa
humildade, leu uma carta cheia de denúncias falsas. Para o pastor, esta foi a
gota d'água. Disse à irmã que ela estava errada e que gostaria de falar com ela
no dia seguinte, em seu gabinete. No entanto, ela não apareceu. Abandonou a
igreja, mas o dano já havia sido feito. Dentro de um ano, a igreja fechou.
AVALIAÇÃO PESSOAL
O confronto com esse espírito não é tão simples como pode
parecer. Devido às suas muitas facetas, ele é muito difícil de sei
diagnosticado. Pode aparentar uma atitude de submissão c de oração e, no minuto
seguinte, revelar uma atitude atrevida e dura. Pode parecer simplesmente
preocupado com o bem-estar da igreja. Como um polvo cheio de tentáculos, o
espírito de Jezabel é muito difícil de ser desarraigado.
Antes de confrontar alguém com o espírito de Jezabel, o
pastor deve primeiro avaliar sua própria condição espiritual e pessoal. O
perigo é se colocar na defensiva e empregar mal sua autoridade.
Se o pastor se sentir intimidado pelos encontros anteriores
com o espírito de Jezabel, os confrontos seguintes podem deixá-lo com um
sentimento de amargura, ressentimento e ira. Se esses sentimentos estiverem
presentes, é um sinal de que ele não está preparado para lidar efetivamente com
esse espírito.
Antes de ir adiante, o pastor poderia indicar alguém com
sabedoria, discernimento e autoridade espiritual, bem como com uma
"mentalidade de eunuco". Às vezes, tais características só são
encontradas em pessoas especializadas em ministério de libertação. Há um número
crescente de ministérios desse tipo.
Todo aquele que se depara com o espírito de Jezabel deve
fazer uma pausa e avaliar sua própria condição espiritual. Você sente ciúme,
inveja ou raiva de alguma figura de autoridade - do passado ou do presente - em
sua vida? Você acalenta algum sentimento oculto de rejeição ou de estar sendo
ignorado? Tais sentimentos podem levar o indivíduo a reagir erroneamente ao
espírito de Jezabel. Até que essas atitudes sejam superadas, não se pode
enfrentar de forma plena e poderosa um espírito de insubordinação e rebelião em
outra pessoa. Além disso, há outras questões que precisam ser tratadas.
FRUSTRAÇÃO E RAIVA ...
Vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de
brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.- Gaiatas 6.1 A
frustração e a raiva surgem quando não lidamos imediatamente com os problemas.
Ninguém gosta de ser controlado por outras pessoas. Se um pastor foi ferido por
um indivíduo com o espírito de Jezabel, torna-se candidato para tratar de forma
inadequada de uma situação ministerial. A Bíblia nos adverte:
A ira do homem não produz a justiça de Deus.- Tiago 1.20
Desde que o espírito de Jezabel muitas vezes usa a crítica e
a acusação, não pode ser expulso por um pastor que reage dessa maneira. O
pastor deve primeiro confrontar e tratar do seu próprio espírito crítico e
acusador.
MAL POR MAL
Quando elementos de controle e manipulação são evidenciados
na vida do pastor, ele se torna vulnerável contra o espírito de Jezabel. Ao
reagir à manipulação com manipulação, ele terá fracassado em andar no fruto do
Espírito. Além disso, Deus não honra nossas ações quando pagamos mal com mal.
Sempre que retaliamos dessa maneira, nossa ira tem um
impacto duplo. Primeiro, o indivíduo explode porque estar ferido consigo mesmo,
por permitir que a ferida permaneça em sua alma. Segundo, ele reage porque está
irado com a pessoa que manifesta a mesma propensão. Muitas vezes, somos
culpados de atacar nos outros as fraquezas que são evidentes em nossa vida.
Quando o pastor está inseguro ou em dúvida sobre como lidar
com uma situação, pode apelar para a intimidação, numa tentativa de manter o
controle. No entanto, a intimidação jamais produz verdadeiro arrependimento e
restauração, que sempre devem ser nosso objetivo. Ela só produzirá um remorso
temporário, um arrependimento superficial ou um recuo. Conseqüentemente, a
intimidação abortará qualquer oportunidade sincera de ministrar cura a pessoas
feridas.
Tentar criar medo em alguém, assumindo uma atitude
ameaçadora, só complicará o problema. Levará o pastor a perseguir, menosprezar
e tentar colocar a pessoa "contra a parede". Tais métodos só servirão
para aumentar a hostilidade, ou levará a vítima a espalhar calúnias ou planejar
atos de violência e ódio. Quando o pastor reage com ira ao espírito de Jezabel,
ele começará a se encolher. Irá se apresentar às pessoas como vítima da
situação e fará com que o pastor pareça o vilão. É o que comumente acontece
quando outras pessoas presenciam as explosões de ira do pastor, o que faz com
que o espírito de Jezabel pareça a parte mais fraca. Se você, pastor, nunca
experimentou uma situação como esta, um dia experimentará. E só uma questão de
tempo.
PASTORES DOMINADORES
Muitas vezes, o indivíduo com o espírito de Jezabel
instintivamente refletirá o método de operação do pastor. Se o pastor gosta de
se promover, o espírito de Jezabel terá um bom ambiente para se promover e
exibir seus dotes. Se o líder é dominador, o espírito de Jezabel verá isso como
uma espécie de permissão para sempre dar a última palavra na vida de outros. Se
um pastor dominador se defronta com um espírito de Jezabel obstinado, então
será travada uma batalha feroz.
Eu recomendo que o pastor se concentre em fazer oposição às
fortalezas demoníacas na vida do indivíduo, ao mesmo tempo demonstrando amor
para com ele. Qualquer confronto deve ser efetuado em amor, visando a
restauração. Somente o confronto em amor levará o indivíduo a experimentar
quebrantamento. Jezabel terá de experimentar a tristeza piedosa que leva ao
arrependimento.
Se você enfrentar a resistência de um espírito de Jezabel,
evite a tendência de reagir com zombaria. Lembre-se de que não está lutando
contra carne e sangue, mas contra os poderes das trevas (Ef 6.12). Peça a Deus
que sonde seu coração. Depois, responda com grande força e determinação para
ajudar o indivíduo a se arrepender. Se você estiver na defensiva ou tiver
outras reações inadequadas, Jezabel perceberá sua insegurança. Para desarmar
você, ela pode responder com uma falsa máscara de mansidão.
Sua confiança deve estar no Senhor. A certeza de que Deus o
colocou como pastor sobre o rebanho lhe dará condições de agir com ousadia e
compaixão.
AMARGURA PARA COM AS MULHERES
A lembrança de ter sido rejeitado por uma mulher, num
relacionamento romântico anterior ou num casamento tumultuado, pode influenciar
a capacidade do pastor de se comunicar e confrontar. O espírito de Jezabel em
geral é capaz de perceber a amargura dos outros ou as áreas de feridas não
curadas. Portanto, o pastor deve se guardar e evitar transferir questões não
resolvidas com avó, mãe, irmã ou esposa para a mulher que está operando sob o
espírito de Jezabel.
Suspeita, briga e imaginação vã sobre conflitos em potencial
levarão o pastor a erradicar qualquer pessoa que pareça insubmissa. No entanto,
suspeita, briga e imaginação vã são espíritos de feitiçaria. Se um pastor é
tentado a operar dessas maneiras, tais espíritos podem ter uma base de operação
em sua vida. Ele não será capaz de vencer o espírito de Jezabel até que seja
liberto. Além disso, os espíritos demoníacos podem atacar o pastor ou líder que
se opõem ao espírito de Jezabel, numa atitude de arrogância ou de presunção.
Operar no espírito errado é o mesmo que agir no poder da
carne. Sempre que usamos nossa carne para vencer outra carne, falhamos em
seguir os conselhos de Deus para alcançar a vitória. Somente exercitando o
fruto do Espírito Santo - amor, alegria, paz, longanimidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio -, o poder da carne pode ser
conquistado. Somente o toque espiritual pode produzir mudanças eternas em
outrem.
Além do mais, tentar usar as habilidades da carne trará
desastre sobre o pastor, sua família e a igreja. O pastor não pode esquecer que
está lidando com poderes das trevas. A batalha não é meramente contra uma
pessoa. O sucesso do inimigo distorce nosso raciocínio e produz um espírito de
medo, suspeita ou acusação. Jezabel opera no poder da carne. Se operarmos no
mesmo poder, concederemos mais poder a ele, e, no final, ele controlará os
dois.
UM TRÁGICO ENCONTRO
Pouco depois de seu aniversário de 40 anos, Martin teve um
encontro com um casal da igreja. Ele tinha certeza de que eles tinham o espírito de Jezabel. Era a segunda
vez que se reuniam, e dessa vez Martin convidou os presbíteros. Embora o
primeiro encontro tivesse sido bem ameno, Martin estava preparado para o
confronto. O casal não faria com que ele parecesse mal, embora tivesse ameaçado
fazer isso.
Intimamente, Martin odiava confrontos. Evitava isso a todo
custo. No entanto, ele se lembrava de duas outras ocasiões em que falhara em
resolver questões semelhantes e o resultado tinha sido devastador - duas
divisões na igreja. A última vez, custara a Martin sua exoneração do ministério
de uma igreja grande e conhecida. Martin resolvera que jamais deixaria que
aquilo acontecesse novamente. Dissiparia qualquer mal-entendido antes que as
coisas piorassem. Naquela reunião, os presbíteros testemunhariam as intenções
hostis daquele casal, como ele tinha notado na reunião anterior.
Duas horas depois da reunião, Martin sentou cobrindo o rosto
com as mãos. Estava profundamente frustrado. Nada tinha mudado. O casal não
tinha feito nenhuma admissão de culpa. Além disso, não havia demonstrado nenhum
remorso. Pelo contrário, ambos agiram como se fossem tímidos e inocentes.
Chegaram a acusar Martin de ter interpretado mal suas palavras e ações.
Durante a reunião, muitas vezes os dois afirmaram que
estavam apenas tentando servir a Deus. Com lágrimas no rosto, lembraram a
Martin e aos presbíteros todas as vezes que tinham ajudado a igreja e apoiado a
liderança. Falando brandamente e parecendo humildes, questionaram a motivação
de Martin e disseram que ele estava fazendo tempestade em copo d'água.
Usando de muita destreza, os dois acabaram por virar o jogo
contra Martin. Ao ouvi-los, ele próprio ficou confuso e chegou a se perguntar
se não tinham razão. Talvez seu próprio medo e insegurança o tivessem levado a
acusá-los.
Depois que o casal foi embora, os presbíteros questionaram
Martin por causa de suas acusações. Começaram a tomar o partido dos dois.
Também especularam sobre os motivos das acusações de Martin. O pastor via a
dúvida estampada em cada rosto. Estavam colocando em questão seu discernimento
e sua capacidade de liderança.
Três meses mais tarde, o casal se levantou durante um culto
e exigiu a exoneração de Martin. Apresentaram suas razões e expressaram suas
acusações como se fosse Deus falando por intermédio deles. Quando Martin se
recusou a pedir sua exoneração do cargo, eles gritaram: "Icabode",
que significa "foi-se a glória de Israel". A seguir, marcharam para
fora da igreja. Oitenta membros saíram atrás deles. Dois meses depois, Martin
pediu férias. Lamentavelmente, ele jamais retornou ao ministério.
QUANDO MINISTRAR AOS OUTROS
A pessoa que se arrependeu de usar o espírito de Jezabcl
deve ser encorajada a continuar dando novos passos adiante. Deve ser
incentivada a continuar renovando a mente. Precisa reconhecer e adotar a
maneira de Deus de encarar cada situação. Deve ser encorajada a desenvolver
atividades que restauram o sentimento de valor pessoal. Freqüentemente, tais
indivíduos têm grande desejo de contribuir e ajudar. O serviço, dentro de
limites saudáveis, é a chave para a restauração. Entretanto, as oportunidades
de servir não devem ser confundidas com autoridade. Seria uma temeridade
delegar autoridade nesse momento, pois seria como dar uma garrafa de bebida a
um alcoólatra.
Todas as áreas de rebelião devem ser tratadas. Numa atitude
de mansidão, é preciso que se faça restituição, a fim de fechar a porta para
futuras incursões do inimigo.
PASSOS SUGERIDOS PARA O CONFRONTO
Eis aqui algumas sugestões para pastores que precisam
confrontar pessoas com o espírito de Jezabel:
1. Peça conselho a
outras pessoas espiritualmente maduras sobre qualquer área obscura e sobre como
lidar com a situação.
2. Ore antes de
qualquer confronto. Peça ao Espírito Santo que revele aquilo que pode estar
oculto. É espantoso como questões que antes estavam ocultas vêm à tona quando
pedimos a direção do Espírito.
3. Peça sabedoria ao
Espírito Santo para poder discernir o que é espiritual, identificando qual é o
espírito maligno que está em operação. Peça discernimento sobre o que é
natural, o que faz parte do perfil da personalidade do indivíduo e o que é
resultado de sua criação.
4. Sempre esteja
acompanhado durante as reuniões de confronto.
5. Aborde cada
questão com graça, mas também com firmeza e autoridade. Seja específico.
Explique bem o problema. Não cometa o erro de revelar nomes e acusações
específicas.
6. Evite a todo
custo perder a paciência e se zangar. Mantenha a calma. Não reaja com agressão
e não torne a questão maior do que ela é.
7. Não ignore o
problema. Ele não diminuirá de tamanho e não desaparecerá.
8. A partir do
momento em que passou a ter uma suspeita, comece a documentar todas as
informações. Registre datas, horários, locais e palavras. Caso contrário, a tentativa de
reunir pequenas porções de informação facilitará a negação por parte do
espírito de Jezabel.
9. Peça a permissão
dos envolvidos para usar seus depoimentos, juntamente com os nomes. Se não
fizer isso, o espírito de Jezabel negará ter dito o que disse.10. Registre os
encontros. Certifique-se de informar ao indivíduo que está gravando a conversa.
Coloque o gravador à mostra, para que todos vejam.
Seguindo essas sugestões, há grande possibilidade de que o
espírito de Jezabel se arrependa com grande paixão e carga emocional. Ao mesmo
tempo, não se surpreenda se depois, quando todos pensaram que ele tinha se
arrependido, tornar a atacar. Se isso acontecer, o pastor precisa repetir todo
o processo de confrontação. Se na segunda vez ele não se retratar, então deve
ser afastado da congregação.
SINAL VERMELHO
Eis aqui alguns sinais iniciais de advertência que pastores
disseram que demoraram a perceber. Os pastores devem se manter atentos em
relação a essas frases que podem indicar a formação de tempestades no
horizonte.
1. "Só quero ser seu amigo." É mais do que
provável que pessoas que digam isso tenham expectativas que você jamais será
capaz de cumprir.
2. "Quero ajudá-lo a chegar onde Deus o chamou para
estar." Em outras palavras, estão dizendo que você não pode chegar ao seu
destino sem elas. Cuidado!
3. "Não quero
nada em troca. Só quero ajudar." No entanto, você poderá achar uma série
de exigências vinculadas à ajuda.
4. "Pode confiar
em mim. Eu sempre apoiarei você." O espírito de Jezabel apoia os outros
enquanto fizerem o que ele diz!
5. "Você não
reconhece meu dom." Em outras palavras, a pessoa está pedindo mais
autoridade na igreja.
6. "Você não me
compreende." Trata-se de uma súplica velada para que as pessoas dediquem
mais tempo a ela.
7. "Você me
intimida. Não me sinto confortável para conversar com você." Em outras
palavras, quer que os alvos dela se tornem os seus alvos.
8. "Tenho uma
nova revelação. O pastor tem uma mentalidade do Antigo Testamento. Eu tenho uma
mentalidade do Novo Testamento." Em outras palavras, ela está certa e você
está errado!
9. "O Senhor me mostrou algumas coisas que preciso
compartilhar com você." Cuidado! Provavelmente você receberá algumas
lambadas dolorosas!
10. "Meu último
pastor não sabia como usar meus dons.”
Em outras palavras, "abra espaço para mim"!
TRABALHANDO PARA O BEM
Quando tratado de forma apropriada, o ataque do espírito de
Jezabel no final fortalece a igreja. Deus utiliza as batalhas ferozes da vida
para nos treinar, fortalecer e purificar (1 Pe 4.12-19). Certa vez, Deus me disse:
Pequenas batalhas produzem pequenas vitórias, mas grandes batalhas produzem
grandes vitórias — em nossa vida, em nosso ministério e em nossa igreja.