De todos os dons ministeriais, certamente o dom de pastor é
o mais difícil de ser exercitado. Ao mesmo tempo, é o mais desejado por aqueles
que almejam exercer o ministério, na Igreja do Senhor Jesus. Em todos os
tempos, a função pastoral foi complexa e alvo das forças contrárias ao rebanho
espiritual, constituído dos salvos por Cristo. Sem dúvida alguma, nos dias
presentes, em pleno século XXI, ser pastor não é missão fácil, não obstante os
recursos existentes, em termos humanos, técnicos e financeiros.
Os primeiros pastores, no Novo Testamento, em geral, pagaram
com a vida pelo fato de representarem a Igreja de Jesus. As forças infernais,
usando os sistemas religiosos, políticos, econômicos e sociais, investiram
pesadamente contra os que foram levantados como líderes, nos primórdios da
Igreja. Tiago, “irmão de João”, foi morto por Herodes, para satisfazer a sede
de sangue dos judeus fanáticos, que não entenderam a missão de Cristo e de seus
seguidores. Pedro foi preso com o mesmo destino, para ser morto, num espetáculo
macabro, que agradaria aos inimigos do evangelho de Cristo. Mas foi
poderosamente liberto do cárcere, por intervenção direta de Deus, que enviou
seu anjo para salvá-lo da morte programada e continuar sua missão (At 12.11).
Eles eram pastores, apóstolos, evangelistas e líderes da
Igreja, em seus primeiros dias, após a Ascensão de Jesus. Pedro e João foram
presos por terem sido instrumentos de Deus para a cura de um coxo de nascença,
posto à porta do templo. E foram libertos para proclamarem
o evangelho de Jesus (At 3.1-6; 4.1-21). De modo geral,
segundo a tradição e a história da Igreja, somente João Evangelista teve morte
natural, alcançando extrema velhice, após passar por sofrimentos atrozes. Os
demais apóstolos de Jesus tiveram morte trágica, nas mãos dos sanguinários
inimigos da fé.
Nos primeiros séculos, a perseguição aos servos de Deus foi
cruel. “As perseguições só cessaram, quando Constantino (272-337 d.C.),
imperador de Roma, tornou-se cristão. Seguiu-se uma era de crescimento numérico
do Cristianismo, embora, nem sempre, acompanhado de autenticidade e genuíno
testemunho cristão. A mistura entre a Igreja e o Estado trouxe enormes
prejuízos à ortodoxia neotestamentária”.1
Os regimes ditatoriais do nazismo, do fascismo e do
comunismo, sempre procuraram destruir os pastores das igrejas cristãs. Cientes
de que, mortos os líderes, os fiéis sempre se dispersariam e abandonariam sua
fé. Mas cometeram grave engano. Quanto mais os cristãos foram mortos, mais seu
sangue serviu para regar a sementeira do evangelho. Jesus disse que “as portas
do inferno” não prevaleceriam contra a sua Igreja (Mt 16.18). Pastores foram
presos, torturados e mortos. Mas a Igreja de Jesus segue sua marcha triunfal,
em direção ao seu destino, que é chegar aos céus, na vinda de Jesus, e reinar
com Ele sobre as tribos de Israel (Mt 19.28) e sobre as nações (Ap 20.6).
Nos dias atuais, ser pastor não é absolutamente tarefa
fácil, para quem deseja exercer o ministério com fidelidade e sacrifício. As
oposi- ções externas e internas, muitas vezes, perturbam as atividades do pastor.
Dessa forma, o dom ministerial de pastor precisa muito da graça e da unção de
Deus para que seus detentores não fracassem espiritual, emocional ou
fisicamente. Necessitam muito das orações, da compreensão, do apoio e do amor
dos crentes em Jesus. Vamos refletir sobre a função pastoral, com base no que a
Palavra de Deus nos revela sobre essa importante missão.
I - O Sumo pastor
1. JESUS É O PASTOR SUPREMO
O Pastor dos pastores. O escritor aos Hebreus denomina Jesus
Cristo de “o grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20). Só ele merece a
qualificação de “grande”. No seu nascimento, marcado pela humildade e despo-
jamento de sua glória, Jesus foi chamado de “grande”, na mensagem do anjo a
Maria (Lc 1.32). Nenhum pastor, nas igrejas locais, deve aceitar o título de
“grande”, pois só Jesus o merece. Ele é grande em todos os aspectos que se
possam considerar em relação à sua pessoa. Podemos refletir sobre o porquê Ele
é chamado “grande”.
Primeiramente, porque Ele é Deus! Todos os fundadores de
religiões pereceram e seus restos mortais jazem sob a tumba fria. Em seus
túmulos consta a inscrição “aqui jaz” fulano ou sicrano. No túmulo de Jesus, há
uma inscrição diferente e gloriosa: “Ele não está aqui porque ressuscitou” (Mt
28.6; Mc 16.6). Se Jesus houvesse sido um homem comum, mortal, jazeria no
túmulo como Buda, Maomé, Alan Kardec e outros fundadores de religiões ou de
seitas. Mas Jesus é Deus. Como tal, venceu todos os poderes cósmicos,
espirituais, humanos e físicos. E, por fim, vitorioso, venceu a morte!
2. ELE É A PORTA DAS OVELHAS
Em segundo lugar, Jesus é o grande pastor das ovelhas, porque ele é “a porta das ovelhas” (Jo 10.7). Em termos espirituais, as ovelhas ou os salvos em Cristo só podem chegar ao céu, na presença de Deus, através de Cristo, de seus ensinos, de seu exemplo marcante, que deixou para todos os pastores e crentes de todas as idades. Ele disse que era “o Bom Pastor”, que dá a vida por suas ovelhas e as conhece pelo nome (Jo 10.11, 14).
Para entrar no seu redil, o pecador tem que arrepender-se,
crer em sua Palavra, e segui-lo (Jo 10.9). Não pode entrar, saltando os muros.
O Adversário é “ladrão e salteador”, porque não entra pela porta das ovelhas.
Ele, e somente Ele, dá acesso ao homem à presença de Deus. Jesus é ao mesmo
tempo, “a porta”, “o caminho e a verdade e a vida”. E declarou: “Ninguém vem ao
Pai senão por mim” (Jo 14.6).
3. JESUS CONHECE SUAS OVELHAS
Ele disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas
ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10.14). Jesus cuida de seus servos,
como um bom pastor cuida de suas ovelhas. Ele não vê apenas o “rebanho”, ou a
Igreja, que é predestinada, coletivamente, para a salvação (1 Jo 1.5,11). Ele
vê cada um dos seus servos, sabe o nome de cada um, ainda que sejam milhões e
milhões, em todo o mundo, ao longo da História. Ele sabe o que cada um pensa ou
diz (SI 139.1-4).
As ovelhas de Jesus o conhecem. No relacionamento espiritual
entre os crentes e o Senhor Jesus, através da comunhão constante, o servo de
Deus não se engana com a voz do seu Pastor.
4. O PASTOR QUE DEU A VIDA PELAS OVELHAS
Na vida pastoril, nos campos, os pastores cuidam das ovelhas
para obterem delas o sustento para suas vidas. Eles não morrem pelas ovelhas.
Mas Jesus, o Sumo Pastor, deu a sua vida pelos que nEle creem (Jo 10.1, 15). Na
sua morte, aparentemente, o seu rebanho estaria destinado a ficar sem pastor.
Mas, contrariando a lógica humana, Ele ressuscitou ao terceiro dia, vitorioso
sobre a morte, sobre o inferno, sobre o Diabo e sobre todos os poderes do
universo. Ele proclamou aos discípulos a sua onipotência: “É-me dado todo o
poder no céu e na terra” (Mt 28.18).
5. O PASTOR QUE CUIDA DAS OVELHAS
O salmista Davi escreveu certamente o mais belo texto sobre
a figura de Deus como nosso Pastor, o “Jeová Raá”, que, ao mesmo tempo, é o
“Jeová-Jirê\ o Senhor que provê todas as coisas necessárias a seu povo. Ele se
referia ao Deus Pai. E falava da ovelha que confia no seu Pastor. Porém todas
as características do pastor do Salmo 23 aplicam-se a Jesus Cristo, “o bom
Pastor” (Jo 10.11,14).
1)
Não nos deixa faltar nada. No seu cuidado, Jesus
não nos deixa faltar nada que seja essencial ou indispensável à nossa vida. O
crente fiel sabe contentar-se com o que Deus lhe concede por sua infinita
bondade (Fp 4.11-13). O que lhe falta, o Senhor lhe dá graciosamente, por sua
bondade e por seu amor.
2) Os “verdespastos” (SI 23. 2), São a
figura do alimento espiritual que Jesus propicia à sua Igreja, através da
ministração sadia da sua palavra. Os pastores verdadeiros alimentam a Igreja
com a sã doutrina. As “águas tranquilas” falam da paz interior, que o Senhor
concede aos que nele confiam. E a paz que Ele deixou para seus servos (Sl
23.2b; Jo 14.27); é a paz “que excede todo o entendimento” (l;p 4.7).
3) O refrigério da alma. Lembra o conforto
que a presença de Deus nos concede, através do Espírito Santo, nosso
“Consolador” (Sl 23.3; Jo 14.16, 17). Nas horas mais difíceis, quando não liá
solução humana, o Bom Pastor nos conforta com sua graça e seu poder.
4) As “veredas da justiça”. São o caminhar
reto e hei do crente salvo em Jesus (Sl 23.3b; Rm 5.19; 1 Pe 3.12), Quando o
crente anda, seguindo o pastor Fiel, não comete injustiças.
5) A segurança da ovelha. Mesmo passando
pelo “vaie da sombra da morte” (Sl 23.4), a presença do pastor dá segurança:
“porque tu estás comigo” (Sl 23.4b). Jesus assegurou que estaria com seus
servos, ainda que sejam “dois ou três” (Mt 18.20).
6) A mesa perante os inimigos. A mesa
preparada para a ovelha, perante os inimigos e a unção com óleo (Sl 23.5), nos
remetem à unção do Espírito Santo na vida do crente fiel (1 Jo 2.20, 27; Ef
5.18), concedendo-nos vitória sobre os inimigos que se levantam contra a nossa
fé.
7) Bondade e misericórdia todos os dias. O
Pastor do Salmo 23 concede “bondade e misericórdia” para que o crente fiel
habite na casa do Senhor “todos os dias” da sua vida (Sl 23.6). Cristo nos faz
ser “templo do Espírito Santo” (1 Co 6.19,20). Por todos esses paralelos de
Cristo em relação a nós e o descrito no Salmo 23, podemos concluir que Jesus é
o nosso Pastor por excelência.
II - As Características do Verdadeiro
Pastor
Neste tópico, enfatizamos as
características do verdadeiro pastor, no sentido humano, daquele que tem o
chamado de Deus para ser um guia de parte do rebanho do Sumo Pastor. E o que
tem o dom ministerial de pastor. Não é qualquer pessoa que tem condições de
receber esse dom, ainda que seja o mais procurado pelos aspirantes ao
ministério eclesiástico. Paulo ensina que é Deus quem dá pastores às igrejas (Ef
4.1): “Os pastores são aqueles que dirigem a congregação local e cuidam das
suas necessidades espirituais. Também são chamados “presbíteros” (At 20.17; Tt
1.5) e “bispos” ou supervisores (lTm 3.1; Tt 1.7)”.2
O pastor de uma igreja deve espelhar-se nas
características do “Sumo Pastor” (1 Pe 5.4). E deve possuir qualificações que o
credenciem para tão importante missão. O pastor verdadeiro é dado por Deus à
igreja. Ele não dá a igreja ao pastor (Ef 4.11); a igreja, mesmo no sentido
local, não pertence ao pastor. O pastor deve ser um servo da igreja local, e
não seu mandatário ou proprietário. A seguir, algumas dessas qualificações,
conforme 1 Timóteo 3.1-7 eTito 1.7, relativas ao bispo, que é sinônimo de
pastor:
1) Irrepreensibilidade moral. Refere-se a
uma vida de integridade, de que não tenha de que se envergonhar ou causar
escândalo.
2) Vida conjugal ajustada (“marido de uma
mulher”). Note-se que é prioridade o cuidado com a vida conjugal; no Novo
Testamento, não é prevista a tolerância com a bigamia ou a poligamia; a regra é
a monogamia, como plano original de Deus para o matrimônio; e o pastor como
esposo deve ser exemplo para os demais esposos, na igreja, amando sua esposa e
cuidando dela (Ef 5.25).
3) Vigilante. O pastor é o guarda do
rebanho. Deve estar atento ao que se passa ao seu redor; vigiando, primeiro, a
sua vida pessoal e ministerial (1 Tm 4.16). Depois, vigiando o rebanho para
alertar e livrar dos “lobos devoradores”; Ser vigilante significa ser “atento,
cauteloso, cuidadoso, precavido” quanto aos perigos que o rodeiam. Para assumir
a função de liderança, na igreja local, o obreiro deve ser muito cuidadoso
quanto à sua vida espiritual, moral, social, familiar e em todos os aspectos.
Isso porque o Diabo “anda rugindo como leão, buscando a quem possa tragar” (1
Pe 5.7). O presbítero, bispo ou pastor deve obedecer o que Jesus disse: “Vigiai
e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto,
mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Ele precisa ser “exemplo dos fiéis” (1 Tm
4.12; 1 Pe 5.3).
4) Sóbrio (simples, moderado). O pastor ou
bispo deve zelar pela simplicidade, no ministério; o luxo, a ostentação
material, a exibição de riqueza não convém a um homem de Deus; Jesus disse:
“sede símplices como as pombas” (Mt 10.16).
5) Honesto. Tem o significado de ser
“honrado, digno, correto, íntegro; decoroso, decente, puro, virtuoso”. Todas
essas qualificações podem resumir-se numa expressão: ser “santo em toda a
maneira de ver” (1 Pe 1.15). O homem de Deus não é perfeito em si mesmo, por
mais que se esforce para ser santo. Mas, cuidando de sua vida pessoal,
ministerial e como cidadão, pode ser muito bem visto pelos crentes como uma
pessoa honesta. O seu falar deve ser “sim, sim; não, não” (Mt 5.37).
Honestidade é sinônimo de integridade. O pastor ou bispo deve ser uma pessoa
assim, fiel, sincera, verdadeira. Deve ser alguém que vive o que prega ou
ensina (Tg 2.12).
6) Hospitaleiro. Esta palavra vem de
hospital, na sua origem. Não havia casas de saúde como hoje. Uma hospedaria era
um hospital, um lugar onde os viandantes podiam pousar, e também os enfermos,
uma hospedaria ou estalagem (Lc 10. 34,45). Mas o pastor não tem obrigação de
transformar sua casa em hospedaria. No sentido do texto, hospitaleiro é
sinônimo de acolhedor, que sabe tratar bem as pessoas, sem fazer acepção de
ninguém; é pecado (Dt 16.19; Ml 2.9; 1 Tm 2.11;Tg2.9).
7) Apto a ensinar. Como o pastor é o que
alimenta ou apascenta o rebanho, o pastor deve saber fazer uso da Palavra de
Deus, ministrando mensagens, estudos e reflexões que edifiquem o rebanho sob
seus cuidados. Se não tiver essa aptidão, deve estar no lugar errado (2 Tm
2.15).
8) uNão dado ao vinho”. Nos tempos de
Paulo, o vinho era já uma bebida alcoólica que podia causar dependência química
ou psicológica. Seria uma tristeza um pastor ficar embriagado pelo uso
constante do vinho. Se tosse escrito hoje, o texto talvez dissesse: “não dado à
cerveja, à champanhe, ao licor ou a outra bebida alcoólica”. O pastor ou bispo
deve dar exemplo de abstinência desse tipo de bebida para o seu bem, de sua
família e do rebanho sob seus cuidados.
9) Ordeiro (“não espaiicador”). Por que
Paulo fez referência a esse tipo de comportamento? Sem dúvida, porque observou
que algum obreiro tinha o costume de “espancar” as pessoas a seu redor. Sempre
houve pastores grosseiros, prepotentes, alguns que cometeram “assédio moral”
contra pessoas a seu redor. Isso é reprovável sob todos os aspectos. O pastor
deve ser ordeiro, humilde, de bom trato para com todos, não cobiçoso nem
ganancioso. Ordeiro quer dizer que mantém a ordem, na casa de Deus.
10) Moderado, É sinônimo de suave, brando,
comedido, prudente, contido. É qualidade sem a qual o pastor pode sofrer sérios
revezes em sua vida, no relacionamento com outras pessoas, em seus hábitos,
costumes, etc. Ele não pode ser um desequilibrado mental, sem controle de suas
emoções. Para ser moderado, precisa ter o fruto da temperança e da
longanimidade (cf. G1 5.22).
11) Não contencioso. O pastor ou bispo não
deve viver em contenda, nem com a família, nem com os crentes, nem. com os de
fora. Contenda é o mesmo que porfia, dissensão, peleja, que são “obras da
carne” (G1 5.2,1). Diz um ditado: a melhor maneira de ganhar uma contenda é
evitá-la. Cora oração e vigilância é possível viver em paz.
12) Não avarento. Quer dizer que o pastor
ou bispo não deve ser sovino, mesquinho, e não deve ter amor ao dinheiro
(avareza), que é “a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6,10). O pastor não
deve viver em função de dinheiro ou de bens materiais. Sua missão é
elevadíssima, e deve focar-se no amor às almas ganhas para Cristo, que ficarão
aos seus cuidados ministeriais.
13) Que governe bem a sua casa. Esta é uma
qualificação de grande importância, pois a.s pessoas ouvem as mensagens dos
pastores, mas olham para ele e como se relaciona com a família, notadamente com
os filhos. Ele é o cabeça (líder) da esposa e do lar (Ef 5.22). Ao lado da
esposa, que também governa a casa (1 Tm 5.14), deve criar seus filhos “com
sujeição” (1 Tm 3.4). Porque, diz Paulo: “se alguém não sabe governar a sua.
própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? (1 Tm 3.5).
14) Experiente (“não neófito”). Nem todo
presbítero {ancião) é pastor. Mas todo pastor deve ser presbítero. Pedro, um dos
pastores líderes da Igreja Primitiva, exortou aos colegas de ministério, sobre
como liderar a igreja local, dizendo: “Aos presbíteros que estão entre vós,
admoesto eu, que sou também presbítero com e/es, e testemunha das aflições de
Cristo, e participante da glória que se há de revelar...” (1 Pe 5.1). Aqui,
temos base para dizer que presbítero é termo equivalente a pastor ou bispo.
Assim, o pastor não deve ser um obreiro muito novo (neófito), pois, a missão de
pastor exige capacidade para aconselhar em situações que só a experiência
mostra as lições a serem indicadas.
15) De bom testemunho perante os descrentes
(“bom testemunho
dos que estão de fora”). O pastor deve ser
um proclamador do evangelho transformador de Cristo. Seu testemunho deve ser
uma pregação viva de que jesus converte e transforma o pecador. Esse testemunho
deve ser demonstrado, primeiramente, em sua vida pessoal; depois, em sua casa,
na igreja e, por fim, perante todas as pessoas que o conhecerem.
O Ministério pastoral
1. O SIGNIFICADO DE PASTOR
A palavra pastor vem do latim, pastor, com
o significado de “aquele que guarda as ovelhas”, “o que cuida das ovelhas”. Na
língua original do Novo Testamento, pastor (gr. poimen), de acordo com Vine, é
“... aquele que cuida de rebanhos (não meramente aquele que os alimenta), é
usado metaforicamente acerca dos ‘pastores’ cristãos (Ef 4.11)”.3 Em termos
ministeriais, o pastor é aquele que tem esse dom ministerial, e é encarregado
de cuidar da vida espiritual dos que aceitam a Cristo e ficam sob seus
cuidados, numa igreja ou congregação local. Pastor é um termo de cuidado, de
zelo, de ternura, para com as ovelhas de Jesus.
2. A MISSÁO DO PASTOR
A principal missão do pastor é cuidar das
ovelhas de Cristo, que lhe são confiadas. A ele cabe apascentar (gr. poimanô)
as ovelhas, dando-lhes o alimento espiritual, através do ensino fundamentado
(doutrina) da Palavra de Deus. No Salmo 23, Davi mostra o cuidado do pastor.
Ele leva as ovelhas a deitar-se “em verdes pastos”. O pastor fiel leva as
ovelhas de Jesus a alimentar-se do “pasto verde”, que nutre a alma e o
espírito, fortalecendo-as, para que cresçam na graça e conhecimento do Senhor
Jesus Cristo (2 Pe 3.18).
Sua missão é múltipla ou polivalente. Um
pastor de verdade tem que agir como ensinador, conselheiro, pregador,
evangelizador, missionário, profeta, juiz de causas complexas, fazer as vezes
de psicólogo, conciliador, administrador eclesiástico dos bens espirituais e de
recursos humanos sob seus cuidados, na igreja local; é administrador de bens
materiais ou patrimoniais; gestor de finanças e recursos monetários, da igreja
local, além de outras tarefas como pai, esposo, e dono de casa, como pastor de
sua família.
A atividade pastoral genuína é tão
importante, que o profeta Isaías, falando ao povo de Israel, acerca do
livramento que lhe seria dado, usa a figura do pastor, aplicando-a ao próprio
Deus (Is 40.11). O verdadeiro pastor cuida bem das ovelhas: recolhe os cordeirinhos
(os mais fracos, mais novos) entre os braços; leva-os no regaço; aos novos
convertidos, os “amamenta”, como a “bebês espirituais” e os guia mansamente.
3. O PASTOR — UM CONTRADITADO
Muitos obreiros, principalmente os mais
jovens, aspiram ao pastorado. Não é errado ter essa aspiração. Paulo escreveu
ao jovem obreiro Timóteo:
“Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja
o episcopado, excelente obra deseja” (1 Tm 3.1). Mas os candidatos ao
episcopado (pastorado) devem ter consciência de que um pastor é alvo de grandes
contradições e oposiçóes, a despeito de sua honrosa missão. A lista de
contradições sobre o que as pessoas pensam do pastor, é ampla e variada. Alguém
já escreveu diversas listas sobre isso. A seguir, resumimos uma delas:
Se o pastor é ativo, é ambicioso; se é
calmo, é preguiçoso; se o pastor é exigente, é intolerante; se não exige, é
displicente; se fica com os jovens, é imaturo; se fica com os adultos, é
antiquado; se procura atualizar-se, é mundano; se não se atualiza, é de mente
fechada, retrógrado, ultrapassado; se prega muito, é prolixo, cansativo; se
prega pouco, é que não tem mensagem; se veste-se bem, é vaidoso; se veste-se
mal, é relaxado; se o pastor sorri, é irreverente; se não sorri, é cara dura. O
que o pastor fizer, alguém pensa que faria melhor. Pode parecer algo hilário ou
grotesco, mas reflete um pouco a visão que muitas pessoas têm do pastor de uma
igreja local . Aliás, alguém já escreveu, dizendo que “pastor é uma espécie em
extinção”.
Mas tais contradições não devem ser motivo
para desânimo ou desinteresse pelo ministério pastoral. O Sumo Pastor, Jesus
Cristo, foi alvo de piores referências a seu respeito, mesmo demonstrando que
era um ser especial, humano e divino, que só fazia o bem. Seus opositores o
acusaram de ser “comilão e bebedor” (Mt 11.19); de ter demônio (Jo 8. 52); de
ser endemoninhado e expulsar demônio pelo príncipe dos demônios (Mc 3-22); e de
tramar contra o governo da época, justificando sua condenação (Lc 23.2; Jo
19.12). Mas Jesus não desistiu. Foi até ao fim, entregando sua vida em lugar
dos pecadores. E cumpriu a sua missão (Jo 19.30).
4. CUIDADOS COM OS FALSOS PASTORES
Lamentavelmente, existem falsos pastores.
Deus mandou o profeta Ezequiel repreender os pastores infiéis de Israel. Em
suas qualificações negativas, podemos entender o que faz um falso pastor, nos
dias atuais.
1)
Eles não cuidam do rebanho. Mas aproveitam-se do
pastorado para “apascentarem a si mesmos” (Ez 34.2 c). São oportunistas.
Aproveitam-se das ovelhas para angariarem glórias para si.
2) Eles enriquecem às custas das ovelhas. Diz o texto: “Comeis a gordura,
e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas” (Êx
34.3). Há casos de pastores que se tornam milionários, com fazendas, aviões, e
muito dinheiro, aproveitando-se das necessidades e carências dos crentes.
3) Eles não têm amor às ovelhas. Pouco lhes importa a situação espiritual
dos crentes. Só pensam em se aproveitar do pastorado (Ex 34.4). Nas igrejas dos
falsos pastores, não há ensino, doutrina e cuidado com os novos convertidos;
nem com os desviados e os crentes fracos.
4) Eles dispersam as ovelhas. Por não terem cuidado das fracas, das
doentes, das quebradas e das desgarradas, elas se dispersam e são vítimas das
“feras do campo”, que são inimigos do rebanho. “Assim, se espalharam, por não
haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do campo, porquanto se
espalharam. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo
o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da
terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque” (Ez 34.5,6).
5) Deus é contra tais pastores. Em Ezequiel 34.8-10, diante de tão grande
calamidade espiritual, perpetrada por falsos pastores, O Senhor mandou dizer
pelo profeta que Ele próprio cuidaria de suas ovelhas (Ez 43.11, 12). Que Deus
nos guarde desses pastores, reprovados pelo Sumo Pastor.
5. O GALARDÃO DO PASTOR
Jesus ensinou que quem dá ao menos “um copo de água fria” a um dos seus
discípulos não ficará sem seu galardão (Mt 10.42). O pastor de uma igreja local
cuida dos discípulos de Jesus, dando-lhe não só um copo de água fria, mas,
muito mais, alimentando-os com a Palavra de Deus (Hb 13.13); guiando-os pelo
caminho da justiça; velando por suas almas (Hb 13.17). O apóstolo Pedro,
ensinando aos presbíteros, como pastor (e presbítero), lhes assegurou que
teriam o seu galardão, quando Jesus voltar para buscar a sua Igreja: “E, quando
aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória" (1 Pe
5.4).
É certamente um galardão diferenciado do que os crentes em geral irão
receber. A “coroa da vida” será dada a todos os que forem fiéis (Ap 2.10); mas
a “incorruptível coroa de glória” está reservada aos pastores que cuidam das
ovelhas de Jesus.
Conclusão
O dom ministerial de pastor só c concedido àqueles a quem Deus escolhe
para liderarem parte do seu grande rebanho, que é a Igreja de Jesus. Em todos
os lugares, estão espalhadas igrejas locais e congregações, que reúnem os
crentes, que aceitam a Cristo. Ali, estão sob os cuidados de pastores ou
líderes, que lhes alimentam espiritualmente com a Palavra de Deus,
ensinando-lhes a servir a Deus, crescendo na graça e no conhecimento do Senhor
Jesus (2 Pe 3.18). É gloriosa a missão do pastor, e muito espinhosa. Na igreja,
ele é o mais visado pelos adversários. Mas, com a graça de Deus e o apoio dos
crentes, pode cumprir sua missão, da qual um dia prestará contas ao Supremo
Pastor.