1. “E vi na destra do que estava
assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete
selos”.
I. “...um livro selado com sete selos”. No presente capítulo temos a continuação da administração programada pelo governo divino. O livro selado contém: “o programa divino” que se cumprirá sucessivamente até ao capítulo 8.5 do presente livro. Isso não significa que não pode ser lido, mas que simplesmente a indignidade não permitia e, por essa razão, ainda não se encontrou ninguém que executasse a ordem celeste. Também é autoridade legal a fim de ser quebrado seus selos. Observemos as interpretações diversificadas quanto a sete livro misterioso:
1. A igreja universal (qual?) pensa e reflete
e chega à conclusão de que o livro exprime, com toda probabilidade, o plano de
Deus a respeito dos acontecimentos e dos homens. Tudo é fixado e determinado
por Deus, nenhum ser criado consegue compreender o conteúdo do livro.
2. Um outro ponto de vista identifica o rolo
com o “Livro da Vida co Cordeiro”, que aparece diversas vezes no Apocalipse
(cf. 3.5; 13.8; 20.12, 15; e 21.27). O livro está escrito em todos os espaços
livres porque contém uma multidão de nomes (7.9). No momento em que seus selos
forem abertos os nomes dos redimidos são revelados.
3. O rolo selado com sete selos é o Antigo
Testamento, cumprido no Novo. Jesus, na sinagoga de Nazaré, depois de ler do
rolo de Isaías (61.1-2), proclamou: “Hoje se cumpriu esta escritura em vossos
ouvidos” (Lc 4.21b). Jesus, assim, é o único capaz de levar toda a esperança
profética do Antigo Testamento ao seu cumprimento assim como Deus planejou.
4. (O nosso ponto de vista). O profeta
Ezequiel, profeta do cativeiro, cerca de 595 a.C., viu também um livro “...
escrito por dentro e por fora” (Ez 2.10). Sendo, porém, que aqui, o livro está
hermeticamente fechado com sete selos. E ninguém consegue abri-lo. A
“Dispensação da Graça” começou com a morte e ressurreição de Cristo e terminará
em sua “plenitude” com o arrebatamento da Igreja. Mas, é evidente que, uma
dispensação, sempre entrou na outra. Assim para nós, restritamente falando a
“Dispensação da Graça” terminará sua missão completa, no capítulo 8.5 deste
livro do Apocalipse. Para nós, esse livro selado contém as mensagens e visões
desenvolvidas nos capítulos 6.1-17; 8.1-8, a seguir aparece um “depois” que
introduz outra secção na seqüência dos julgamentos. A partir daí, aparece
apenas dois dispositivos na salvação da pessoa humana (a fé e o sangue do Cordeiro);
a graça já cumpriu sua missão (cf. 12.11; 14.12, etc).
5. Quanto à selagem dos antigos rolos,
observemos vários outros pontos de vista: (a) Segundo o comentário de Charles,
as leis romanas só aceitavam um testemunho se estivesse selado com sete selos e
confirmado por sete testemunhas; (b) Conforme hábito da época, os escritos eram
feitos em papiro ou pergaminho. A parte escrita deixava em cada um dos 4 lados
a margem de 6 cm. Quando necessário mais de uma folha, elas eram colocadas
horizontalmente formando uma faixa em cujos extremos se fixava um cilindro de
madeira para suporte. O Apocalipse ocuparia uma faixa de 4.56m. Calculando,
grosso modo, pode dizer-se que a largura da folha feita no pairo era
ligeiramente menor que sua altura (25 cm). Entre os mais antigos manuscritos do
Novo Testamento contam-se 10 folhas do Apocalipse; (c) No tocante à selagem em
si, era comum, sempre que se fazia mister resguardar o conteúdo do rolo, de
pessoas não autorizadas a conhecê-lo. Ela podia efetuar-se de duas maneiras;
(aa) a determinada pelas leis romanas, isto é, mandavam passar sete cordões, amarrá-los
e selar com sete nós bem apertados; (bb) A outra maneira era a selagem
sucessiva: escrevia-se uma parte, enrolava-se aquela porção e selava-se;
escrevia-se mais um pouco e selava-se novamente. Provavelmente esta foi a
adotada no livro em foco, pois os selos foram abertos sucessivamente, como
veremos mais tarde.
2. “E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os selos?”
I. “...um anjo forte, bradando...” O Arcanjo Miguel deve está aqui em foco! O Arcanjo Miguel é sempre designado para missão especial (cf. Dn 12.1; Jd v.9; Ap 12.7). Três vezes é referida essa categoria de anjo denominado de “forte”; e todas elas (5.2; 10.1; 18.21) para tarefas executivas de grande importância. Aqui, ele é o arauto de uma proclamação de grande urgência.
1. “O vocábulo” anjo em hebraico é “mal’ãkh”
(lê-se malaque); no grego “angellos”. Ambos os termos denotam um “mensageiro de
Deus”, familiarizado com Ele face, e por isso pertence a uma ordem de ser
superior ai homem (cf. Sl 8.5 e 2P 2.11). A palavra é também usado na Bíblia,
em alguns casos, para descrever homens mortais (cf. 2Sm 14.17; Mt 11.10; Ap
1.20). No presente texto, porém, refere-se a um mensageiro de natureza
imortal”. Estas criaturas celestes são mencionadas cerca de 108 vezes no Antigo
Testamento e 175 no Novo. Em Lucas nada menos de 23 vezes. Neste livro do
Apocalipse, além de referências tais como: “...milhares de milhares” e “milhões
e milhões” (5.11), são mencionados textualmente por 71 vezes: (1.1, 20; 2.1, 8,
12, 18; 3.1, 7, 14; 5.2, 11; 7.1, 2, 11; 8.2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 13;
9.1, 11, 13, 14, 15; 10.1, 5, 7, 8, 9, 10; 11.1, 15; 12.7; 14.6, 8, 9, 10, 15,
17, 18, 19; 15.1, 6, 8’16.1, 3, 4, 5, 8, 10,12, 17; 17.1, 7; 18.1, 21; 19.17;
20.1, 9, 12, 17; 22.6, 8, 16 etc). Existem apenas 3 capítulos: 4, 6, 13 onde a
palavra está ausente.
3. “E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele”.
I. “...podia abrir o livro”. O ato de desatar os selos significa “revelar” a mensagem do juízo, garantindo o seu cumprimento. Essa mensagem é aquela essencialmente contida nos capítulos sexto e oitavo do Apocalipse. Mas para tal, era preciso alguém que tivesse “dignidade” ou “no céu” ou “debaixo da terra”. Mas ninguém foi encontrado! A idéia de “dignidade” no presente texto e nos que se seguem, provavelmente, envolve, antes de tudo, o conceito de “dignidade moral”. Todavia, também deveria envolver outros aspectos.
1. Ninguém no céu. Os habitantes das regiões
celestes, segundo o pensamento judaico e dos cristãos primitivos, habitavam em
“muitas moradas”, ou seja, nos “lugares celestiais”, conforme se vê em (Jo 14.2
e Ef 1.3), onde o conceito é comentado por Paulo. Na presente passagem como em
outras expressões do mesmo significado do pensamento, os habitantes aqui,
referem-se aos anjos. Eles podiam até serem capazes, mas não eram “dignos” por
terem sido criados (cf. Cl 1.16, etc).
2. Nem na terra. Refere-se aos homens num
contexto geral. É esta a grande declaração do Salmista: “Os céus são os céus do
Senhor, mas a terra deu-a ele aos filhos dos homens” (Sl 115.16). A primitiva
morada dos homem foi o Jardim do Éden (Gn 2.8), porém, ao pecar, ele teve que
desocupar esse lugar. E a partir daí, o homem fixou sua morada a trinta quilômetros
do Rio Jaboque. Provavelmente, na cidade que leva o nome de “A-dai-mi~er, que
segundo se diz, teria sido ali a verdadeira morada de Adão e Eva. Dali partiram
as famílias adâmianas até Noé, onde essas famílias são destruídas pelo dilúvio
e nos três filhos de Noé (Sem, cão e Jafé), têm novamente uma expansão eterna
das famílias na face de toda a terra. Assim, no contexto social, e profético,
os habitantes da terra, são de fato, os homens. Mas também, eram indignos para
tão grande tarefa! Não podiam abri-lo!!!.
3. Nem debaixo da terra. O Hades está em
foco nesta passagem. Os habitantes desta região melancólica e tenebrosa, são os
espíritos dos homens que morreram sem encontrarem em Jesus a Salvação
prometida. “Há uma tradição entre os escritos judaicos que diz: “Originalmente,
o poço do abismo era reputado como o lugar que abrigava “os espíritos em
prisão”; mas ali viviam apenas como “sombras” a vaguearem o redor”. Seja como for,
tanto os espíritos humanos como seres angelicais; ali se encontram; mas também
são indignos para uma tão grande e sublime missão. Assim ninguém podia sequer
olhar para o livro, apenas João, para revelar o que viu.
4. “E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele”.
I. “...eu chorava muito”. Talvez seja esta a única ocorrência de uma pessoa chorar no céu: ali não haverá pranto! O termo grego aqui traduzido por “chorava”: indica um choro em voz audível (cf. Lc 6.21). João chorava muito por ver tanta indignidade diante daquele livro misterioso. Não admira, portanto, que João começasse a “chorar muito” – o verbo no imperfeito, que significa “chorar de modo audível”, como se tratasse duma criança decepcionada ou ferida, é empregado aqui – quando viu que ninguém respondia ao convite feito: “Quem é moralmente digno de abrir o livro?” Não havia ninguém digno de abri-lo. Talvez, como judeu, João visse naquele rolo selado, a significação de um título de resgate que não encontra remedo (cf. Jr 32.6-15).
1. “João afligia-se e chorava, porque temia
que não houvesse alguém capaz de vencer o mal. Teria de ser UM: que? que fosse
apto para cumprir os propósitos daquele que estava assentado sobre o Trono (cf.
Ef 1.21), e pudesse vencer o mal, governando sobre os principados, poderes,
potestades e domínios e, assim, por um fim ao grande conflito”. Só seria capaz
de abri-lo, aquele que abriu o túmulo e venceu a morte: Cristo.
5. “E disse-me um dos anciãos: Não chores: eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos”.
I. “...O leão da tribo de Judá”. A presente expressão “leão da tribo de Judá”, faz alusão a uma das primeiras profecias messiânicas, em (Gn 49.9-10): “Judá é um leãozinho, de presa subiste, filho meu. Encurva-se, e deita-se como leão, e como um leão velho quem o despertará? O Cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Silo (aquele a quem pertence, outra tradução); e a ele se congregarão os povos”. De acordo com o Dr. G. Ladd a literatura judaica contemporânea ao Apocalipse, pintava a figura do leão para representar o Messias conquistador. Apesar de que esta metáfora não se encontra em nenhuma outra passagem do Novo Testamento. É óbvio que a referência em Gênesis 49 não é a um Messias humilde e sofredor, mas a um que brande o Cetro como um rei valente que governa (cf. Ap 10.3).
1. Que venceu. Cristo é Vencedor por vários
motivos. Consideremos os pontos seguintes: (a) Através de seu ofício real; (b)
Através de Sua descendência real como Filho de Davi segundo a carne. Rm 1.3;
(c) Através do seu poder inerente, na qualidade de Leão da tribo de Judá; (d)
Através do equilíbrio de seu caráter; (e) Através de sua missão terrena, que
foi completada, incluindo a expiação, ressurreição e glorificação, como grande
declaração de seu supremo poder pessoal. Essa grande vitória de Cristo é
abrangente e universal e pode fazer calar a todos que pranteiam, a exemplo de
João no presente capítulo.
2. A raiz de Davi. Em Isaías, 4.2, há
referência a um Renovo que brotou dessa raiz, que Scofield comenta como segue:
“O Renovo é um nome de Cristo, e é empregado em quatro maneiras:
(a) O Renovo de Jeová (Is 4.2), isto é,
Cristo como Emanuel (7.14), para ser proclamado plenamente e manifestado a
Israel restaurado e convertido depois de Sua volta em divina glória. Cf. Mt
25.31:
(b) O Renovo de Davi (Is 11.1 e Jr 23.5 e
33.13), isto é, o Messias, “da semente de Davi segundo a carne” (Rm 1.3),
revelando na glória terrestre como o Rei dos reis e Senhor dos senhores:
(c) O Servo de Jeová, o Renovo (Zc 3.8), o
Messias em humilhação e obediência: até a morte, de acordo com Is 52.13-15 e
53.1-12; Fl 2.58:
(d) O Homem cujo nome é Renovo (Zc 6.12, 13),
isto é, Seu caráter com o Filho do homem, o “último Adão”, o “segundo homem”
(1Co 15.45-47), reinando como Sumo sacerdote-Rei sobre a terra, no domínio dado
a, e perdido pelo primeiro Adão. Mateus é o Evangelho do Renovo de Davi; Marcos
do Servo de Jeová, o Renovo; Lucas, do “Homem cujo nome é Renovo”; João do
Renovo de Jeová. Deus”.
6. “E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra”.
I. “...Um Cordeiro”. O nome “Cordeiro” (gr. “arnion”) ocorre 27 vezes no Apocalipse e proporciona um sentido lato e significativo. O vocábulo está em foco nas seguintes passagens: (5.6, 8, 13, 14; 6.1, 16; 7.10, 17; 12.11; 13.8; 14.4 (duas vezes), 10; 17.14; 19.7, 9; 21.9, 14, 22, 23, 27; 22.1, 3, 14). Em 13.11: é usado para descrever a segunda Besta. O Cordeiro do versículo 6 é o mesmo Leão do versículo 5. Ele é na qualidade de um “Cordeiro” na sua mansidão em tratar com os homens, mas, como o Leão, no Seu poder irresistível para executar juízo contra os ímpios. Nas páginas do Antigo Testamento, conforme devemos estar lembrados, o cordeiro pascoal conferiu aos israelitas a vitória sobre o Egito, não sendo apenas aquilo que forneceu a expiação. Paulo alude à pessoa de Cristo como a páscoa, que foi sacrificado por nós (1Co 5.7). João, em todo o Novo Testamento, ao referir-se à pessoa de Cristo como Cordeiro, usa o termo no grego “arnion”. O vocábulo grego “anion” é a forma diminutiva de “arnos”, e necessariamente tem o sentido de “cordeirinho”, expressando, assim, a inocência de Cristo (cf. Is 53.7; Jo 1.29, 36; At 8.32; 1Pd 1.19, etc).
1. Como havendo sido morto. Sobre essa
intuição de fundo, o autor constrói: sua vertical simbólica. Quatro vezes no
Apocalipse se fala de Cristo como havendo sido morto, imolado (5.6, 9, 12;
13.8). Seu sangue sacrificial tinge cada cena deste drama espiritual. João é
assegurado de que seu poderoso Messias, já conquistou uma grande vitória. A
palavra ‘venceu” diz literalmente “ganhou uma vitória”. Observemos em uma pausa
reflexiva, os dados fornecidos pelo autor: (a) “imolado” exprime o sacrifício
cruento de Cristo; (b) “de Pé” (Ed. Atualizada), sua ressurreição.
2. E sete pontas. (E sete chifres: Ed.
Atualizada). “Chifres, o orgulho do novilho jovem, são uma escolha que
claramente quer representar força invencível. J. Mellaart descobriu que em
alguns povoados da Idade da Pedra na Ásia Menor os chifres do gado eram
guardados e usados para decorar cadeiras, ou talvez para servir de encosto para
a cabeça: Como troféus de caça eles representavam vitória sobre a força. De
maneira semelhante, na “Bênção de Moisés” José é um novilho primogênito, “...e
as suas pontas são pontas de unicórnio: com elas ferirá os povos juntamente até
às extremidades da terra...” (cf. Dt 33.17). Os chifres podem ser exaltados na
vitória ou cortados na derrota (Sl 75.10). Quando usada neste sentido figurado
a palavra tem a forma plural normal, e não a forma dual e coisa que existem
normalmente aos pares. O mesmo vale para os chifres artificiais do altar, e da
palavra usada no presente texto de Apocalipse, onde a palavra é usada para
representar: “totalidade de perfeição naquilo que empreende”.
3. Sete olhos. A presente expressão encontra
seu paralelo na passagem de Zc 4.10b. De acordo com o Dr. H. G. Michell, a
palavra “ayon” (olho) é muito versátil no hebraico. Além de significar o olho
físico, ela aparece em contextos de metáforas conhecidas para nós, como “...na
menina do seu olho” (Zc 2.8), “...foram abertos olhos de ambos” (Gn 3.7), “...o
seu olho será mesquinho para com...” (Dt 28.54, RIB). Em outros termos temos de
ser mais literais na tradução, ou mudar a metáfora: o olho (face) da terra (Êx
10.5), o lho (aparência) do maná (Nm 11.7), o lho (brilho) do vinho (Pv 23.31),
e o olho (resplendor) do bronze (Ez 1.4). No texto em foco, “os sete olhos” do
Cordeiro estão associados com os “Sete Espíritos”. Isso pode apontar para a
“onisciência em plenitude”, discernimento: visão circundante.
7. “E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono”.
I. “...tomou o livro da destra”. O livro estava na “destra” (mão direita) de Deus. Simbolicamente, representa a mão mais forte: a mão do poder:
1. O antigo Testamento absolutamente não se
compraz em antropomorfismos (com algumas exceções), mas falar da “mão” da
“direita” de Deus, é humanamente a maneira concreta de falar da autoridade do
Deus vivo e ativo, que cria e mantém ativamente, ataca e defende, que
julga,castiga e salva. Mostra-nos poucas vezes as mãos consoladoras e
envolventes (Is 40.11), maternais (Nm 11.12!). Fala da mão libertadora (Êx
13.3), do Senhor proprietário (Sl 95.4), do pastor que não perde de vista seu
rebanho (Sl 95.7), do protetor livre e poderoso (Is 40.2) do rei que instrui
seus mensageiros (Ez 3.22; 37.1), do Criador (Sl 104.28), do juiz que usa de
severidade (Is 5.25), do adversário invencível (Dt 32.39; 2Sm 24.14), do juiz
de último instância (Sl 31.6, 16). “Vingadora “não vindicativa, mas
literalmente: mão de justiça. Is 41.10)”, esta mão restaura a justiça em prol
dos oprimidos e da honra de Deus. No mesmo sentido fala-se do braço do Senhor.
2. O Novo Testamento raras vezes fala da mão
ou da destra de Deus (Lc 1.51; Hb 10.31; 1Pd 5.6). Efetivamente a intervenção
divina tomou forma e nome na aparição de Jesus Cristo; agora, o novo Testamento
fala expressamente deles, isto é, do Pai e o Filho em conjunto. Em compensação,
a expressão “à direita de Deus” (do Salmo 110) figura uma vinte vezes. Usa-se
expressões similares; “O exaltor” (At 5.31), “assentou-se” (Hb 1.3), “em pé”
(somente At 7.55 e ss), “à destra de Deus”, significa pois, que Jesus, após seu
ministério, morte e ressurreição foi instalado por Deus como rei no sentido do
Salmo 110, ou seja como vencedor de todos os seus inimigos: recebendo todo o
poder “no céu e na terra”(cf. Mt 26.64; 28.18; Rm 8.34; Ef 1.20; Cl 3.1; Hb
8.1; 10.12; 12.2 e 1Pd 3.22).
8. “E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos”.
I. “...Harpa”. Originalmente, esse instrumento era de formato triangular, com sete cordas (provavelmente estas,de caráter divino tenham dez cordas). Mas tarde, o número de cordas foi aumentado para onze e Josefo menciona em seus escritos harpas contendo dez cordas, as quais eram tangidas com um “plectrum” – pequena peça de marfim. O uso da harpa fala da celebração de vitória. Citada cerca de 43 vezes no Antigo Testamento, está ligada sempre ao cântico. As do presente texto, lembram, as harpas nos salgueiros significando o cativeiro e portanto ausência de cântico (Sl 137.2). João fez referência às orações dos santos (5.8), porque ajudaram a executar a investida de Jesus como juiz e Senhor de todos. O cântico dos 144.000 era acompanhado por esses instrumentos (Ap 14.2), e de igual modo o cântico de Moisés, e do Cordeiro junto ao “mar de Vidro” (Ap 15.2). A harpa é um instrumento já mencionado em (Gn 4.21). Também nos Salmos há alusão a esses instrumentos (ver Salmos: 33.2; 98.5; 147.7, etc). Foi a harpa (excetuando-se a trombeta) o único instrumento mencionado no culto celeste e comumente usada nos cultos do Antigo Testamento: “Celebrai ao Senhor com harpa” (Cf. Sl 33.2). Entre os judeus, as harpas representavam louvores.
9. “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”.
I. “...cantavam um novo cântico”. Segundo Russell Norman Champrin, Ph, D. Os “novos cânticos” do Apocalipse podem ser vistos em Ap 5.9 (o texto em foco) e 14.3. Também há outras “coisas novas” neste livro, como sendo: “um novo nome”. (Cf. Ap 2.17); a “nova Jerusalém” (Ap 3.12 e 21.2); o “novo nome de Cristo”. (Cf. Ap 3.12) e os “novos céus e nova terra” (Ap 21.1); além do fato que todas as coisas serão “novas” (Ap 21.5). No texto em foco encontramos três doxologias. A primeira delas aqui, e começa aqui, e ocorre na cena imediata do trono, sendo proferido pelos elevados poderes angelicais. A segunda (ver os versículos 11 e 12) é um eco da primeira, com adições da parte da inumerável hoste de anjos. E a terceira é expressa pela “criação inteira”, partindo dos céus, da terra até do Hades (ver os versículos 13 e 14). A medida que o Apocalipse se desdobra, esta doxologia aumenta. Nesta passagem ela possui duas partes: em 4.11, possui três; em 5.13, possui quatro e em 7.12, sete. O grande “Amém” celestial dos mais elevados poderes angelicais santifica essas três doxologias.
10. “E para o nosso Deus os fizestes reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra”.
I. “...e eles reinarão sobre a terra”. Foi predito nas Escrituras que, um dia, Israel será cabeça das nações. Isso sucederá durante o Milênio. Mas o presente versículo mostra-nos que a posição do Israel espiritual, a Igreja, será ainda mais elevada. O texto em foco, lembra-nos (Mateus 5.5), quando Jesus em seu imortal ensino disse aos seus discípulos: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra”. O texto em apreço, fala do Milênio de Cristo; no primeiro caso, e de nossa herança no “Novo Céu e Nova Terra”, onde habita a justiça; no segundo (cf. 2Pe 3.13). Essa é, nosso ver, uma face interessantíssima da remissão. Somos, assim, como um pobre rebanho que o Cordeiro deu ao pastor, depois de transformar-se ao ponto de nos constituir “reino e sacerdotes”; isto é, súditos do Reino Celestial e Sacerdotes para Deus, o Pai. Essa promessa de “reinar sobre a terra” é para o futuro, mas também tem aplica;cão na era atual; estamos, realmente, já reinando ao lado de Cristo, no “Reino de Deus” (cf. Rm 14.14, etc).
11. “E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões e milhares de milhares”.
I. “...milhões de milhões e milhares de milhares”. Graficamente falando, os anjos são mencionados por 293 vezes nas Escrituras, mas na esfera celeste este número é elevado à terceira potência: “Há muitos milhares de anjos” (Hb 12.22) e “milhões de milhões” (Ap 5.11). O Salmista Davi inspirado por Deus, fala de “milhares de milhares” na poesia (Sl 68.17). A angelologia do Antigo Testamento atingiu seu mais alto desenvolvimento no livro de Daniel. Ali os anjos são pela primeira vez em toda a extensão das Escrituras dotados de nomes próprios. (Ver Dn 8.16 e 10.21). No conceito geral dos escritores sagrados, o anjo é um “enviado”, pouco importa sua natureza boa ou mal, dependendo do contexto (cf. Ap 12.7 e ss). São enviados por Deus para missões específicas e dependendo do ofício do mensageiro, são chamados:
1. (a) sacerdotes. Ec 5.6 e Ml 2.7; (b)
intérpretes. Jó 33.23; (c) homens. Lc 24.4; (d) mancebos. Mc 16.5. Na poesia
são chamados de “deuses” (Sl 97). A palavra hebraica “deuses” é traduzida por
anjos, angellos no grego da Septuaginta e assim aparece no texto original da
Epístola aos Hebreus.
2. O Dr. E. H. Bancroft, citando Gabelein
diz; “Em Hb 12.22 os anjos são indicados como uma inumerável companhia,
literalmente, miríades. De acordo com Lc 2.13, multidões de anjos apareceram na
noite do nascimento de Cristo, clamando de alegria em visita do início da nova
criação, como tinham feito no principio da primitiva criação. Quão vasto é o
número deles, somente o sabe Aquele cujo nome é Jeová-sabaote, o Senhor dos
Exércitos. Cenário de beleza nunca vista; João ouviu a voz de muitos anjos. Não
está escrito que os anjos aqui cantavam. Alguns acreditam assim. (Jo, descreve
que os anjos cantam! Quando cantaram os anjos? Na criação do universo
(particularmente da terra): “...Quando se fundava a terra... as estrelas da
alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?”. Jó
38.4, 7).
12. Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças”.
I. “...Digno é o Cordeiro, que foi morto”. O Cordeiro é o centro do livro do Apocalipse e, místico e brilhante, como enfatizado na nota triunfal repetida sete vezes (v.12): “...poder, riquezas sabedoria, força, honra, glória, e ações de graças...”. Neste capítulo temos o palco divino preparado para o juízo. No versículo seis, fala-se de um “Cordeiro” como havendo sido “morto”. Nesta passagem, porém, aparece novamente o mesmo cordeiro como sendo “Digno” de toda a honra. A palavra “Cordeiro” em sentido etimológico, naturalmente tem ligação com os sacrifícios estabelecidos pela lei cerimonial. A dignidade de Cristo inspira a longa lista de palavras elogiosas, as quais combinam mas ultrapassam aquilo que já fora dito em Ap 4.9, 11. Notemos que em Ap 4.11, Deus também é chamado de “Digno”. Assim, pois, tanto a dignidade especifica é conferida a Deus Pai como a Deus Filho.
13. “E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que nelas há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”.
I. “...E, ouvi a toda a criatura...”. O presente versículo lembra o Salmo 29, onde o Salmista apresenta “cântico similar” sobre uma tempestade, e o mesmo é ouvido no “interior do céu”, e os anjos (filhos de Deus) são convidados para se ajuntares ao louvor e à adoração a Jeová, na beleza da sua santidade. Leslie S. – M’Caw descreve o que segue: “O âmago do poema, descreve uma tempestade vinda do mar Ocidental que atravessou as colinas cobertas de florestas no Norte da Palestina e chegou aos lugares áridos de Cades, nas fronteiras extremas de Edom (Nm 20.16). Tal acontecimento é apresentado não como demonstração de poder natural, mas como uma sinfonia de louvor ao Criador, que realmente participou com uma voz de trovão (cf. Salmo 18.13). A porção descrita do poema se divide em três estrofes iguais que correspondem com:
1. (a) a formação; (b) o assalto; (c) a
passagem da tempestade:
2. Observemos: (aa) A aproximação da
tempestade. Vs 3 a 4; (bb) O assalto. Vs. 5 a 7; (cc) A passagem da tempestade.
Essas três coisas, que sugerem turbulenta energia, se resumem em duas palavras:
(aaa) “dá”; (bbb) “paz”. A primeira palavra, dá, é uma conclamação à adoração;
e a última palavra, paz, implica em sua vontade de abençoar”. Aqui, agora, a
cena se repete em forma crescente e pluralizada: “...sejam dadas...etc”. No
salmo em foco, a impressão geral é de pressentimento opressivo, a atividade
está oculta, o poder está sendo controlado, o Deus da glória (v.3) ainda não se
tornou evidente, e Sua voz está abafada. E, temos extremo, os angélicos filhos
de Deus se prostram em santa adoração. A mesma ação, se reproduz aqui, toda
natureza entra em ação: todas as coisas!!!
14. “E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre”.
I. “...os vinte e quatro anciãos prostravam-se, e adoravam”. O Dr. R. Norman Champrin, declara: “A primeira das três doxologias começou diante do trono, entoada pelos anciãos e pelos seres viventes. A segunda aumentou o escopo da doxologia, em um círculo crescente, incluindo os céus, através da agência das inumeráveis hostes angelicais. A terceira ampliou ainda mais seu escopo, envolvendo os lugares celestiais, a terra e até mesmo o Hades, da qual participaram todos os seres criados e até mesmo a natureza inanimada”. Os anciãos e os animais vistos no presente versículo, percorrem todo esse livro como figuras elevadíssimas. Só no capítulo 19.4, eles nos “dão um adeus” e a partir daí nos esperam na eternidade. Este louvor do versículo 14 (do céu), encontra-se em harmonia com o louvor do versículo 13 (da terra). É a antevisão de uma Era Futura. Futura, mas iminente. As cenas do capítulo cinco são proféticas, e de tais eventos participará a Igreja Invisível de todos os tempos.