Com efeito, não é inimigo que me afronta; se o fosse, eu o
suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim, pois dele eu me
esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu íntimo amigo.
Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de
Deus.
Os advogados podem atestar que os casos mais horríveis estão
na audiência de divorcio. A mídia americana constantemente relata casos de
homicídios cometidos por membros desesperados de uma família. O lar,
constituído para ser um abrigo de proteção, provisão e crescimento, onde
aprendemos a dar e a receber amor é, freqüentemente, a raiz de toda a dor. A
história nos mostra que as guerras mais sangrentas são as civis. Irmão contra
irmão. Filho contra pai. Pai contra filho.
A lista de ofensa é tão interminável como a de
relacionamento, não importa quão simples ou complexa. Verdade seja dita: apenas
aqueles com quem você se importa são capazes de feri-lo. Você tem uma
expectativa maior em relação a eles - afinal, você deu mais de você a eles.
Quanto maior a expectativa, maior a queda.
O egoísmo impera em nossa sociedade. Os homens e as mulheres
estão preparando-se para a rejeição e a dor que os outros lhes podem causar.
Isso não deveria ser uma surpresa para nós. A Bíblia é bem clara que nos
últimos dias os homens serão "egoístas" (2 Tm 3:2). Podemos esperar
isto de não crentes, mas Paulo não se está referindo àqueles fora da igreja.
Ele está falando dos que estão dentro da igreja. Muitos estão feridos,
amargurados e machucados. Estão ofendidos, mas não conseguem perceber que
caíram na armadilha de Satanás.
É nossa culpa? Jesus deixou claro que é inevitável que
sejamos escandalizados. Mesmo assim, muitos crentes ficam chocados, confusos e,
até mesmo, surpresos quando isso acontece. Acreditamos que somos os únicos a
sofrer uma ofensa. Isso nos deixa vulneráveis à raiz de amargura. Assim,
devemos estar preparados e armados contra a ofensa e contra o escândalo, porque
nossa reação determina nosso futuro.
A palavra "escandalizar", de Lucas 17:1, vem do
grego skandalon, que originalmente se referia à parte da armadilha onde
se colocava a isca. Dessa forma, a palavra significa montar um armadilha no
caminho de alguém!
No Novo Testamento, ela geralmente descreve um engodo do
inimigo. O escândalo e a ofensa são ferramentas do diabo para levar as pessoas
cativas. Paulo instruiu o jovem Timóteo:
Independentemente da situação, podemos dividir os ofendidos
em duas, grandes categorias: a) aqueles que foram injustiçados ou b)
aqueles que acreditam que foram injustiçados. As pessoas da segunda categoria
acreditam de todo o coração que foram traídas. Geralmente, a conclusão a que
chegam provém de informações incorretas; ou a informação está correta, mas a
conclusão está distorcida. De qualquer forma, elas estão feridas e seu
entendimento obscurecido. Julgam por dedução, aparência e rumor.
Uma forma de o inimigo usar a pessoa escandalizada é mantendo
a ofensa escondida, num manto de orgulho. O orgulho nos impedirá de admitir
nossa verdadeira condição.
Certa vez fui severamente magoado por alguns ministros. As
pessoas diziam “Não acredito que eles fizeram isso com você. Você está
magoado?”
Eu respondia rapidamente: "Não, estou bem. Não estou
magoado”. Sabia que estava errado em sentir-me escandalizado e ofendido,
mas o que fiz, então, foi negar e reprimir esse sentimento. Convenci-me de que
não estava ressentido, mas na realidade estava, e muito. O orgulho mascarou a
verdadeira condição do meu coração.
O orgulho nos impede de lidar com a verdade. Ele distorce
nossa visão. Nunca mudaremos se acreditarmos que estamos bem. O orgulho
endurece o coração e obscurece os olhos do entendimento. Impede a mudança - o
arrependimento - que nos vai libertar (veja 2 Tm 2:24-26).
O orgulho faz com que nos vejamos como vítimas. A nossa
atitude, então, é: "Fui maltratado e mal-entendido; então, tenho
justificativa para meu comportamento". Porque achamos que somos inocentes
e que fomos falsamente acusados, retemos o perdão. Embora a verdadeira condição
do coração esteja escondida aos nossos olhos, não está escondida de Deus. Só
porque fomos maltratados não podemos nos agarrar à ofensa.
No livro de Apocalipse, Jesus se dirige à igreja de Laodicéia
dizendo, inicialmente, como eles se vêem como pessoas ricas, abastadas, sem
precisar de coisa alguma e depois expõe a verdadeira condição - eles eram
infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus (Ap 3:14-20). Eles confundiram sua
força financeira com a espiritual. O orgulho escondeu sua verdadeira
condição.
Muitos são assim em nossos dias. Não enxergam a verdadeira
condição de seu coração da mesma forma como fui incapaz de enxergar meu
ressentimento contra aqueles ministros. Havia-me convencido de que não estava
magoado. Jesus diz ao povo de Laodicéia como sair do engano: comprando o ouro
de Deus e vendo sua verdadeira condição.
A primeira instrução de Jesus para nos livrar do engano é
comprando ouro refinado pelo fogo (Ap 3:18). O ouro refinado é maleável e não
pode ser corroído. Só quando é misturado a outros metais (cobre, ferro, níquel
e assim por diante) é que se torna duro, menos maleável e mais corrosivo. A
mistura é chamada liga. Quanto mais alta a porcentagem de metais estranhos,
mais duro ouro fica. Inversamente, quanto mais baixa a porcentagem de liga,
mais maleável e flexível.
Imediatamente vemos o paralelo: o coração puro é como o ouro
- maleável e flexível. Hebreus 3:13 nos diz que o coração pode ser endurecido
através do engano do pecado! Se não conseguimos lidar com uma ofensa, ela vai
produzir mais fruto de pecado, como amargura, ódio e ressentimento. Essas
substâncias misturadas endurecem o coração, assim como as ligas fazem com o
ouro. Elas reduzem ou tiram a ternura, causando uma grande insensibilidade.
Somos, dessa forma, impedidos de ouvir a voz de Deus. Nossa capacidade visual é
obscurecida. Cria-se um ambiente perfeito para o engano.
O primeiro passo no refino do ouro é pulverizá-lo e
misturá-lo a uma substância chamada solvente. Essa mistura é levada ao forno em
alta temperatura, as ligas e impurezas são atraídas ao solvente e levadas a
superfície. O ouro (que é mais pesado) permanece no fundo. As Impurezas ou escória
(como cobre, ferro e zinco, combinados com o solvente, são removidas,
rendendo um metal mais puro.
Note o que Deus nos diz: "Eis que te acrisolei, mas
disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição" (Is 48:10). E
também:
O pecado facilmente se esconde onde não há o calor das
provações e aflições. Em épocas de prosperidade e sucesso, até mesmo o ímpio
parece generoso e gentil. Sob o calor das provações, as impurezas vêem a tona.
Houve uma fase em minha vida que passei por uma provação que
nunca havia experimentado. Tornei-me grosseiro e áspero para com os que me eram
mais queridos. Minha família e meus amigos começaram a me evitar. Eu clamei ao
Senhor: "De onde vem todo este ódio? Ele não estava aqui antes!" O
Senhor me respondeu: "Filho, quando o ouro é liquefeito, as impurezas
aparecem". Então, Ele me fez uma pergunta que mudou minha vida: "Você
consegue ver as impurezas do ouro antes de que seja levado ao fogo?
"Não", respondi. "Mas não significa que não estejam lá. Quando o
fogo das provações o atinge, essas impurezas vêm à tona. Embora lhe pareçam
escondidas, elas são sempre visíveis para mim. Agora você tem uma escolha que
poderá mudar seu futuro: pode permanecer com raiva, culpando sua esposa, seus
amigos, o pastor e até mesmo as pessoas com quem trabalha ou você pode ver a
escória como ela verdadeiramente é e se arrepender, receber perdão, e Eu
pegarei minha pá e removerei as impurezas de sua vida."
Jesus disse que nossa habilidade de enxergar corretamente é
outra chave para nos livrarmos do engano. Geralmente, quando somos ofendidos
nos vemos como vítimas e culpamos aqueles que nos magoaram. Justificamos a
amargura, a falta de perdão, a raiva, a inveja e ressentimento quando eles vêm
à tona. Algumas vezes, até mesmo nos ressentimos com aqueles que nos fazem
lembrar dos que nos magoaram. Por essa razão, Jesus nos aconselha a ungir
nossos olhos com colírio, para que vejamos (Ap.3.18) Vejamos o quê? Nossa
verdadeira condição! Este é o único modo de conseguirmos "ser zelosos e
nos arrependermos" conforme Jesus nos manda fazer. Só nos arrependemos
quando paramos de culpar os outros.
Quando culpamos outras pessoas e defendemos nossa posição,
estamos cegos. Lutamos para remover o argueiro do olho de nosso irmão enquanto
temos uma trave em nosso próprio olho. É a revelação da verdade que nos traz
liberdade. Quando o Espírito de Deus nos revela o pecado sempre o faz de tal
forma que é separado de nós. Somos, então, convencidos, e não condenados.
Minha oração é que, à medida que você for lendo este livro, a
Palavra de Deus ilumine seus olhos do entendimento para que veja sua verdadeira
condição e livre-se da ofensa que guarda. Não permita que o orgulho o impeça de
enxergar e arrepender-se.