Ao meio-dia deveríamos entregar aos ex-proprietários o cheque
da prestação seguinte. Precisávamos de 15.000 dólares.
— Quanto dinheiro temos no banco? perguntei a Paul DiLena.
— Nem quero dizer.
— Quanto?
— Quatorze dólares.
Contara tanto com outro milagre! De alguma forma, eu sentia
no coração a confiança de que não iríamos perder o Centro; mas eis que
chegávamos ao final do prazo estipulado, e não tínhamos o dinheiro.
Meio-dia chegou, e nada de milagre.
Comecei a fazer perguntas a mim mesmo sobre a minha
confiança. Será que estava apenas tentando iludir a mim mesmo? Será que
esperara demais da parte de Deus, sem fazer alguma coisa, mesmo?
— Escute, disse eu a Júlio Fried, nosso advogado: Não vou me
apresentar a eles sem um tostão. Será que você conseguiria um prorrogamento do
prazo?
Júlio passou a tarde estudando documentos e assinando papéis
e, quando terminou o trabalho, disse que havia conseguido uma prorrogação.
— Concordaram em esperar até o dia 10 de setembro, David, mas
se o dinheiro não estiver em suas mãos até esse prazo, tomarão as devidas
providências. Você tem alguma idéia?
— Sim, respondi.
E ele ficou animado. Mas logo se desiludiu quando expliquei
qual era a minha idéia.
— Vou orar a respeito, disse.
Júlio estava acostumado ao sistema de oração do Centro, mas
naquele momento, acho que ele gostaria de ter tido um diretor com mais senso
prático.
Naquela mesma tarde, fiz uma coisa um tanto ousada. Reuni
todos os jovens — membros de quadrilhas, viciados, estudantes, obreiros — e
disse-lhes que o problema estava solucionado. Houve grande regozijo.
— Penso que devemos todos ir à capela agradecer a Deus,
continuei.
Assim fizemos. Entramos, fechamos as portas, e começamos a
agradecer e louvar a Deus por ter salvo a casa para o seu uso. Afinal, alguém
perguntou:
— David, de onde veio o dinheiro?
— Não, ainda não veio.
Vinte e cinco jovens pasmados. Vinte e cinco sorrisos forçados.
— Não chegou ainda, continuei. Mas antes do dia dez de
setembro, o dinheiro estará em nossas mãos. Tenho certeza. Até a data marcada,
terei um cheque de 15.000 dólares para mostrar-lhes. Mas pensei que deveríamos
agradecer a Deus por antecipação.
Chegou o dia primeiro de setembro. Dia dois, três, quatro.
Passei muito tempo ao telefone, procurando encontrar a solução do problema.
Tudo indicava que era a vontade de Deus que continuássemos o nosso trabalho.
Durante o verão, tivemos bastante êxito.
Nossos registros mostravam que 2.500 jovens de toda a cidade
haviam tido um contato real com o amor — haviam entregado a vida a Cristo.
Centenas de rapazes e moças haviam passado pelo Centro a caminho de novos
empregos, novas ambições, novos ideais. Doze desses estavam se preparando para
o ministério.
— Tudo isso começou com aquele desenho na revista Life, disse
eu a Gwen, certa noite, quando estávamos recordando o ano que se findava.
— Não é estranho que você nunca conseguiu ver aqueles rapazes
do julgamento? disse Gwen.
Era mesmo estranho. Havia telefonado, escrito e batido em
muitas portas durante quase quatro anos. Mas por razões que vão além da minha
compreensão, não me foi permitido trabalhar com os rapazes cuja tragédia me
trouxera a Nova Iorque. O seu destino e o de Israel (Ex-presidente dos Mau
Maus) permanecia, pelo menos por enquanto, nas mãos do Estado. Talvez quando
os rapazes saíssem da cadeia, eu poderia dizer-lhes da preocupação que sentia
pelo futuro deles.
Havia um rapaz, entretanto, daqueles primeiros dias em Nova
Iorque, com o qual ainda tinha contato — Ângelo Morales.
Certa manhã, Ângelo veio nos visitar. Juntos, recordamos
aquele primeiro dia, quando nos encontramos na escada do prédio em que morava o
pai de Luis Alvarez. E agora, o próprio Ângelo estava terminando o seu curso
no seminário. Ele também iria trabalhar no Centro.
— Se ainda houver um Centro, Ângelo, disse eu,
compartilhando com ele nossos problemas financeiros.
— Posso fazer alguma coisa? perguntou Ângelo.
— Sim, vá à capela com os outros, e ore. Enquanto vocês oram,
nós estaremos no telefone.
Todos os membros da diretoria estavam ocupados dando
telefonemas para os amigos do Centro. Recebemos auxílio, mas em quantidades
pequenas que não resolveriam o problema dos 15.000 dólares.
Entre os telefonemas, um foi para o escritório de Clem Stone,
em Chicago. Foi Harald Bredesen quem o fez, confessando que se sentia acanhado
em fazê-lo. Clem já havia sido mais do que generoso com o Centro. Procurávamos
mantê-lo sempre informado acerca do progresso de nosso trabalho, não apenas
quando precisávamos de dinheiro; mas penso que quando Clem recebeu o telefonema
vindo do Desafio Jovem, a sua reação natural foi colocar a mão sobre a carteira,
protegendo-a.
Foi com o filho de Clem que Harald falou pelo telefone, no
dia oito de setembro. Conversaram muito, e Harald contou o que já havia
acontecido, e agradeceu à família Stone pela sua participação naquilo que já
havia sido feito. Depois, não podendo rodear mais, finalmente chegou ao motivo
principal do telefonema.
"Nós precisamos de 15.000 dólares até o dia dez, depois
de amanhã", disse ele, e explicou por quê. "Não sei qual a sua
posição no momento, e certamente não vou pedir uma resposta agora. Mas,
converse com seu pai, diga-lhe muito obrigado pelo que ele já fez, e vamos ver
o que acontece."
Chegou o dia dez de setembro.
O correio da manhã chegou. Abrimos as cartas ansiosamente, e
recebemos muitos envelopes de jovens que mandavam seu dinheirinho.
"Obrigado, Senhor", disse eu. "Não poderíamos
continuar sem estes trocados."
Mais nada.
Chegou a hora do culto da manhã. Estavam todos reunidos, e todos oravam e cantavam. Aqui e ali eu ouvia os jovens ainda agradecendo a Deus pelos 15.000 dólares.
Durante o culto, chamaram-me à porta. Era uma carta expressa.
Olhei o carimbo — Chicago, Illinois.
Abri o envelope, e dentro havia um cheque visado no valor de
exatamente 15.000 dólares!
Eu nem podia falar, quando levei aquele pedaço de papel para
a capela. Fiquei de pé diante da lareira que tinha aquele feixe de trigo
esculpido em baixo-relevo. Sem dizer palavra, levantei a mão pedindo silêncio,
e quando todos se calaram, Paul DiLena entregou o cheque ao rapaz que estava
mais perto de mim.
"Quer mostrar aos outros, por favor?" disse Paul
numa voz quase inaudível.
O cheque que Clem Stone agora tem no seu arquivo em Chicago,
já compensado, conta a história da maravilhosa operação de Deus entre os
jovens de Nova Iorque. O cheque está endossado de forma correta, depositado
corretamente, porém, mais do que isso. Se olharem bem para aquele cheque, verão
que está manchado; posso dizer que está sujo, depois de ter passado pelas mãos
de duas dúzias de jovens que aprenderam o que é crer. Sem dúvida, haverá sinais
de algumas lágrimas também; lágrimas de gratidão a Deus, que age de maneira misteriosa
para executar os seus milagres.
Esta história, é claro, está longe de ter chegado ao fim.
Diariamente se escrevem novos capítulos na vida transformada de jovens, em
toda Nova Iorque. Mas outro volume também está sendo escrito. Esse se refere a
Chicago, e não a Nova Iorque. Um novíssimo Centro Desafio Jovem já existe, e
está em franca operação naquela cidade. Aprendendo dos nossos sucessos e erros,
do nosso projeto-piloto aqui, o Centro de Chicago está progredindo.
Como o nosso Centro em Nova Iorque, terá despesas de
aproximadamente 50.000 dólares durante o primeiro ano, possuindo saldos
bancários de quatorze, quinze e dezesseis dólares. Quando fui a Chicago ajudar
no início do Centro, podia ouvir ecos da pergunta de Paul DiLena:
"Onde está o dinheiro, onde estão os livros, quem é o
responsável?"
O Espírito Santo é o responsável.
Enquanto ele for o responsável, os programas progredirão. No
instante em que tentarmos resolver as coisas pelo nosso próprio poder,
fracassaremos.
Esse é o princípio de direção do Centro aqui em Nova Iorque;
é o princípio que dirigirá o nosso Centro em Chicago e o que está para começar
em Filadélfia, em Boston, Los Angeles e Toronto.
O Espírito Santo é o responsável.
Deveríamos escrever essas palavras nos umbrais de nossas
casas. Mas como palavras não podem significar muito, faremos melhor; nós as
escreveremos em nossa vida, e na vida de todos aqueles que pudermos alcançar e
inspirar com o Espírito do Deus Vivo.