E3ste livro é dedicado com muito amor ao pastor Bob Walker e
sua esposa, Jeannette, que têm sido para nós uma enorme bênção.
Eles nos proporcionaram uma cobertura pastoral durante todo
o tempo — tão longo e difícil — em que o estivemos escrevendo.
Juntamente com os membros da nossa igreja, a Bethel Chapei,
perseveraram em meio a numerosos ataques pessoais e inimagináveis batalhas
espirituais por amor do Reino e pela publicação deste livro.
Não temos palavras para agradecer tudo que fizeram. Oramos
para que Deus os recompense por suas orações, pelo amor que a Ele demonstram e
por sua obediência ao Senhor! Temos a conscência de que esta obra não poderia
vir a lume sem o que eles tiveram de suportar, com paciência e resignação.
Queremos também reconhecer as orações, a inspiração, a
ajuda, o incentivo e a assistência de muitos que, com dedicação, contribuíram
conosco nos estágios finais deste livro.
Toda vez que se faz referência a pessoas, há sempre o perigo
de se omitir o nome de alguém importante. Todavia, queremos agradecer ao Senhor
e pedir que abençoe Marjorie Bennett, Doug Browning, Rob e Anna Gascoigne, o
tenente Larry Jones, Aron Rush, e Mary e Anya Starr. E, de um modo especial,
queremos agradecer a todos que, anonimamente, intercederam por nós.
Você não faz idéia do que seja acordar com uma necessidade
de sentir gosto de sangue em sua boca.
Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite,
pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para encontrar uma mulher
solitária com quem possa satisfazer um forte desejo... e, ao mesmo tempo, com
outra parte sua torcendo para que não a encontre, temendo o que realmente você
possa fazer.
Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mesmo
ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo, porém, ao
introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado.
Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de
poder avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é mais
importante, o que Jesus Cristo pode fazer por elas.
Eu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir
gosto de sangue em minha boca, tal como o fumante inveterado levanta-se
tateando com a mão, procurando o maço de cigarros ao lado de sua cama. Meu
despertar era diferente do da maioria das pessoas, pois acontecia no fim da
tarde. Tinha arranjado trabalho à noite — primeiro como vigia, depois como
entregador da edição matutina de um jornal.
Geralmente, eu dormia num quarto pequeno, com as janelas
totalmente revestidas com cortinas de veludo púrpura, para não deixar entrar um
raio sequer de sol. Dormia no chão, tendo ao meu redor pinturas satânicas nas
paredes e no teto, as quais tinham o propósito de serem portas de entrada para
outras dimensões da realidade — outros universos.
Em certas épocas do ano, quando eu enfrentava uma situação
mais difícil, dormia num caixão funerário especialmente construído para mim, de
acordo com prescrições ocultistas bem precisas, forrado no fundo com uma terra
“sagrada”, trazida do cemitério católico da minha cidade natal. Muito desta
terra ficava bem embaixo do meu travesseiro.
Mas eu tinha necessidade de sangue! Diferentemente dos
outros pecadores, interessados sexualmente no corpo de uma mulher, meu único
interesse era o seu pescoço ou as suas artérias do fêmur.
Minha vida era vivida praticamente nas trevas, e eu adorava
entidades espirituais que eu chamava de os “Grandes Seres da Antiguidade”.
Lúcifer era apenas um deles, embora um dos mais importantes. Eu acreditava que
esses seres estavam me transformando num ser imortal.
Meus heróis eram homens como Nero, Hitler e Drácula, e eu
acreditava ter contato diário com eles mediante o recebimento de espíritos.
Eles me guiavam — eram espíritos destituídos de qualquer santidade, que serviam
a um senhor também profano —, e eu obedecia a ‘‘eles” com um prazer embriagador
e sinistro.
Como é que um ser humano pode degradar-se a tal ponto?
Como pode alguém tornar-se tão pervertido e maligno, tendo
de viver à custa de sangue humano? As respostas para estas perguntas
encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi vítima de uma
trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto por meio de Jesus.
3 1 de outubro de 1959
A véspera do Dia de Todos os Santos veio sobre aquela cidade
do interior, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, como um grande fantasma predador
— com o som do seu esqueleto se arrastando pela noite afora.
Era esse o segundo dia do ano preferido daquele garoto, só
perdendo para o Natal. Todo ano, no dia de Halloween, ele vestia uma fantasia
bizarra e saía para pedir doces, pipoca e chocolate, como é costume nos Estados
Unidos. Ele gostava das guloseimas que ganhava, mas sentia que havia algo muito
estranho na atmosfera daquele dia.
O menino gostava do ar agradável do outono, perfumado com a
fragrância das folhas secas se queimando. Apreciava também a camaradagem de seu
melhor amigo, que com ele saía em busca das prendas por toda a cidade. E,
naquela noite, havia certa sensação de perigo no ar, suficiente para tornar a
amizade que os unia algo muito especial.
Seus pais só estavam preocupados com o fato de ele nunca ter
saído para pedir guloseimas, no Halloween, trajando algo que tivesse uma
aparência do mal e lembrasse um demônio ou um bruxo. Aquele ano não foi
exceção. Ele saiu com uma roupa em farrapos e maquiado para parecer um mendigo.
Seus pais lhe haviam ensinado, desde a idade em que pôde
começar a sair para a “brincadeira” do Dia das Bruxas, que “fantasmas, bruxas e
demônios não existem”. Mas o clima sinistro da festa criava uma espécie de
temor seguro e cômodo, que fazia da condição de ter amigos a coisa mais
desejável naquela noite.
Dez anos se passaram até o dia em que a alegria do Halloween
seria manchada como que por doces envenenados e pipocas com agulhas escondidas
no melado. O charme daquela noite seria assim, sutilmente temperado, como se
fosse uma bebida forte contendo uma pitada de algo desconhecido. E, ainda, para
que tudo ficasse do jeito que o menino gostava, ele freqüentava um colégio
católico, que guardava feriado no Dia de Todos os Santos, o que resultava, para
ele, motivo de grande alegria, a falta de aula no dia seguinte.
A estratégia dos dois meninos era percorrer de cima a baixo
todas as ruas situadas na direção norte—sul daquela pequena comunidade e depois
irem no sentido das transversais leste-oeste.
Era um vilarejo de menos de mil habitantes, de modo que
aqueles meninos, cheios de energia e bastante animados, podiam perfeitamente
passar por todas as casas, o que, para eles, era um verdadeiro divertimento.
Quando chegaram à velha pensão da cidade, eles “faturaram”
como nunca. A gerente tinha feito com que os seus hóspedes,
em torno de dez, colocassem suas dádivas numa enorme mesa, na entrada da pensão,
para que os meninos não precisassem subir e descer as escadas para os
corredores. Os meninos haviam programado chegar lá bem cedo; mesmo assim, suas
sacolas já estavam quase pela metade! Seus pais os queriam de volta a casa por
volta das 8h30 da noite; assim, contavam ainda com mais de uma hora.
Naquela noite, quando estavam indo pela Rua Três em direção
à escola pública, o garoto e seu companheiro deram, então, uma parada e, por um
momento, ficaram em silêncio, contemplando as luzes e as lanternas feitas de
abóbora moranga, como máscaras, através de cujos “olhos” e “boca”, recortados,
brilhavam velas acesas em seu interior — iluminando as escuras calçadas
cobertas de folhas secas do outono. Então, casualmente, o menino
olhou para cima, por entre os galhos despidos das árvores da
rua, e viu algo que transformaria para sempre a sua vida.
O brilhar das estrelas naquela noite de outubro, que até
então ele podia ver muito bem, de repente desapareceu — ou foi coberto por
alguma coisa.
Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo
vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o menino não
conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam muitos cachos de uvas que se
sacudiam de dor, suspensos como se fossem tumores obscenos, escuros, que
obscureciam o firmamento estrelado.
Assim que o menino, boquiaberto foi saindo bem devagar de
sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas as direções, as
coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um daqueles cachos começou a se
abrir, aos poucos, tornando-se horripilantes. Então ele percebeu o que de fato
eram: um bando de enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com
suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão noturna!
Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de
serem demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com maior
facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido.
Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho
acentuado faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproximavam. Os
olhos que ele via pareciam entorpecer a sua lma.
— Agora você nos pertence.
Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de um
grande sino.
— Agora você nos pertence.
Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortável,
mas um gélido e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu de cima a baixo
toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder, com uma força irresistível,
despencou sobre ele, fazendo-o cair de joelhos.
— Ei, Bill! O que você está fazendo aí?
O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se
afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou para o amigo,
agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os dentes num falso sorriso,
nervoso, demonstrando não saber o que
estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas
nada viu, senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido nada
de anormal.
Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e
recuperando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu então
para alcançar seu amigo.
No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma
estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a cada noite de
Halloween, com o passar dos anos e avançando em sua adolescência, olhava para o
céu para ver se aquelas horrorosas e desagradáveis criaturas de olhos vermelhos
apareceriam de novo no céu. Mas nunca voltaram.
Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais
fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de discos voadores,
fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e Triângulo das Bermudas.
Devorava todos os livros sobre esses assuntos que podia encontrar, para
estranheza de seus pais. Todo ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do
Halloween, mas jamais voltou a ter uma visão como aquela.
Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava,
alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar o
desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoada noite de
Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma
do menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno
viera entronizar-se nele.
Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo, parece
que a pessoa — mesmo uma criança -— fica excepcionalmente sensibilizada por
certos momentos e lugares. É quando o véu que separa o nosso mundo “real” do
Mal Supremo parece rasgar-se levemente, e um horror sem controle penetra em
nosso tempo e espaço.
KHiíielAnder, wisconsin - 1965
Desde o início de sua adolescência, a cada dois anos, o menino
ia com seus pais a um local de veraneio junto às florestas do norte de
Wisconsin. Eles alugavam uma cabana junto a um lago. Era um belo lugar.
Certa ocasião, quando lá chegaram, numa noite de verão, o
3-5 menino, agora um adolescente, estava no embarcadouro contemplando o lago.
Era um local relativamente deserto, mas luminárias brilhavam por toda a margem.
O fulgor das estrelas era excepcional. Ele desfrutava da beleza daquela noite e
não lhe ocorria pensamento algum sobre espíritos ou coisas estranhas. De
repente, algo esquisito começou a acontecer ao seu redor.
As árvores em torno do lago passaram a agitar-se, como que
sacudidas por um forte vento — mas não estava ventando. Muito admirado e com
certo medo, ele olhou para os pinheiros que balançavam de um lado para o outro.
Parecia assistir à televisão com o som desligado! Ele chegou a tapar os
ouvidos, testando-os, para ver se não estava tendo algum problema auditivo.
Até mesmo o ruído noturno dos insetos e dos sapos havia
desaparecido. Não fosse o suave barulho das águas roçando nos pilares do
embarcadouro e o som ocasional de madeira contra madeira dos barcos presos que
batiam nas águas, teria julgado que estivesse totalmente surdo! Veio-lhe,
então, um pensamento de que talvez um óvni, ou melhor, um disco voador,
estivesse sobrevoando. Lera muito a respeito do aparecimento desses objetos
desconhecidos e sabia que às vezes, nessas ocasiões, podem acontecer fenômenos
meteorológicos estranhos. Podia ser esse o caso que estava ali presenciando,
com a cessação de todos os ruídos da natureza viva. Mas o seu receio
transformou-se rapidamente numa forte excitação quando desviou o olhar das
árvores e o fixou no céu estrelado.
Ele somente havia visto óvnis espetaculares em ilustrações e
filmes. Certa vez, chegou a observar apenas um par de luzes estranhas, muito
longe, que poderiam ser discos voadores, mas talvez fossem balões
meteorológicos ou algum avião fora da rota. Assim, naquele momento, o
adolescente ficou ansioso e mordeu os lábios de nervosismo. Isso só poderia ser
algo realmente fora de série!
As árvores continuavam sendo agitadas cada vez mais, sem que
se ouvisse ruído algum. Elas o fizeram lembrar-se de filmes a que assistira
cujas árvores agitavam-se com a descida de um helicóptero. Continuou com os
olhos fixos no céu. Finalmente, algo como um óvni apareceu, mas diferente de
tudo o que ele poderia jamais ter imaginado.
Devagar, no longínquo horizonte, foi surgindo uma gigantesca
escuridão. A princípio, parecia uma enorme esfera negra que eclipsava mais de
um terço das estrelas no horizonte. Mas se movia numa velocidade que seria
impossível para algo assim tão grande.
Antes que tivesse tempo para qualquer reação, a esfera de
total escuridão foi seguida por algo ainda maior, que efetivamente veio a obscurecer
a maioria das estrelas no céu. Havia uma conexão entre os dois fenômenos. De
repente, ele se deu conta de que estava vendo algo extraordinário, uma enorme
silhueta de homem!
Mal havia percebido isso quando aquela coisa gigantesca
começou a se movimentar por toda a abóbada celeste. Ele via, no horizonte,
aquela sombra vindo em direção à sua cabeça. O rapaz sentiu-se como uma formiga
que vê um homem marchando sobre o seu formigueiro Depois quase todo o céu ficou
escurecido por aquela enorme mancha negra. O rapaz teve, então, a impressão de
ver um par de olhos vermelhos, o que o fez lembrar-se dos olhos daquele bando
de seres noturnos que lhe apareceram na noite de Halloween, anos atrás. Isso o
inquietou um pouco, mas a imagem durou apenas um segundo. A silhueta negra deu,
então, um enorme passo, desaparecendo no horizonte atrás do rapaz.
As estrelas voltaram a brilhar da forma normal; não mais
estavam obscurecidas. As árvores pararam de balançar. Gradualmente, os sons
noturnos do lago voltaram à normalidade, e o rapaz ficou embasbacado,
questionando consigo mesmo a natureza do fenômeno que acabara de presenciar.
Com um arrepio e uma forte sensação de náusea, ele retornou à cabana. Como era
de esperar, não comentou nada com seus pais.
Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas
florestas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele da visão na
Rua Três, tempos atrás.
Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen
atingira a maioridade.
Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as
luzes de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween, pela
primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.