terça-feira, 4 de maio de 2021

Lúcifer destronado - Introdução - 00


 Dedicatória

E3ste livro é dedicado com muito amor ao pastor Bob Walker e sua esposa, Jeannette, que têm sido para nós uma enorme bênção.

Eles nos proporcionaram uma cobertura pastoral durante todo o tempo — tão longo e difícil — em que o estivemos escrevendo.

Juntamente com os membros da nossa igreja, a Bethel Chapei, perseveraram em meio a numerosos ataques pessoais e inimagináveis batalhas espirituais por amor do Reino e pela publicação deste livro.

Não temos palavras para agradecer tudo que fizeram. Oramos para que Deus os recompense por suas orações, pelo amor que a Ele demonstram e por sua obediência ao Senhor! Temos a conscência de que esta obra não poderia vir a lume sem o que eles tiveram de suportar, com paciência e resignação.

Queremos também reconhecer as orações, a inspiração, a ajuda, o incentivo e a assistência de muitos que, com dedicação, contribuíram conosco nos estágios finais deste livro.

Toda vez que se faz referência a pessoas, há sempre o perigo de se omitir o nome de alguém importante. Todavia, queremos agradecer ao Senhor e pedir que abençoe Marjorie Bennett, Doug Browning, Rob e Anna Gascoigne, o tenente Larry Jones, Aron Rush, e Mary e Anya Starr. E, de um modo especial, queremos agradecer a todos que, anonimamente, intercederam por nós.

 Introdução

Você não faz idéia do que seja acordar com uma necessidade de sentir gosto de sangue em sua boca.

Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite, pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para encontrar uma mulher solitária com quem possa satisfazer um forte desejo... e, ao mesmo tempo, com outra parte sua torcendo para que não a encontre, temendo o que realmente você possa fazer.

Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mesmo ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo, porém, ao introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado.

Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de poder avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é mais importante, o que Jesus Cristo pode fazer por elas.

Eu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir gosto de sangue em minha boca, tal como o fumante inveterado levanta-se tateando com a mão, procurando o maço de cigarros ao lado de sua cama. Meu despertar era diferente do da maioria das pessoas, pois acontecia no fim da tarde. Tinha arranjado trabalho à noite — primeiro como vigia, depois como entregador da edição matutina de um jornal.

Geralmente, eu dormia num quarto pequeno, com as janelas totalmente revestidas com cortinas de veludo púrpura, para não deixar entrar um raio sequer de sol. Dormia no chão, tendo ao meu redor pinturas satânicas nas paredes e no teto, as quais tinham o propósito de serem portas de entrada para outras dimensões da realidade — outros universos.

Em certas épocas do ano, quando eu enfrentava uma situação mais difícil, dormia num caixão funerário especialmente construído para mim, de acordo com prescrições ocultistas bem precisas, forrado no fundo com uma terra “sagrada”, trazida do cemitério católico da minha cidade natal. Muito desta terra ficava bem embaixo do meu travesseiro.

Mas eu tinha necessidade de sangue! Diferentemente dos outros pecadores, interessados sexualmente no corpo de uma mulher, meu único interesse era o seu pescoço ou as suas artérias do fêmur.

Minha vida era vivida praticamente nas trevas, e eu adorava entidades espirituais que eu chamava de os “Grandes Seres da Antiguidade”. Lúcifer era apenas um deles, embora um dos mais importantes. Eu acreditava que esses seres estavam me transformando num ser imortal.

Meus heróis eram homens como Nero, Hitler e Drácula, e eu acreditava ter contato diário com eles mediante o recebimento de espíritos. Eles me guiavam — eram espíritos destituídos de qualquer santidade, que serviam a um senhor também profano —, e eu obedecia a ‘‘eles” com um prazer embriagador e sinistro.

Como é que um ser humano pode degradar-se a tal ponto?

Como pode alguém tornar-se tão pervertido e maligno, tendo de viver à custa de sangue humano? As respostas para estas perguntas encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi vítima de uma trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto por meio de Jesus.

3 1 de outubro de 1959

A véspera do Dia de Todos os Santos veio sobre aquela cidade do interior, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, como um grande fantasma predador — com o som do seu esqueleto se arrastando pela noite afora.

Era esse o segundo dia do ano preferido daquele garoto, só perdendo para o Natal. Todo ano, no dia de Halloween, ele vestia uma fantasia bizarra e saía para pedir doces, pipoca e chocolate, como é costume nos Estados Unidos. Ele gostava das guloseimas que ganhava, mas sentia que havia algo muito estranho na atmosfera daquele dia.

O menino gostava do ar agradável do outono, perfumado com a fragrância das folhas secas se queimando. Apreciava também a camaradagem de seu melhor amigo, que com ele saía em busca das prendas por toda a cidade. E, naquela noite, havia certa sensação de perigo no ar, suficiente para tornar a amizade que os unia algo muito especial.

Seus pais só estavam preocupados com o fato de ele nunca ter saído para pedir guloseimas, no Halloween, trajando algo que tivesse uma aparência do mal e lembrasse um demônio ou um bruxo. Aquele ano não foi exceção. Ele saiu com uma roupa em farrapos e maquiado para parecer um mendigo.

Seus pais lhe haviam ensinado, desde a idade em que pôde começar a sair para a “brincadeira” do Dia das Bruxas, que “fantasmas, bruxas e demônios não existem”. Mas o clima sinistro da festa criava uma espécie de temor seguro e cômodo, que fazia da condição de ter amigos a coisa mais desejável naquela noite.

Dez anos se passaram até o dia em que a alegria do Halloween seria manchada como que por doces envenenados e pipocas com agulhas escondidas no melado. O charme daquela noite seria assim, sutilmente temperado, como se fosse uma bebida forte contendo uma pitada de algo desconhecido. E, ainda, para que tudo ficasse do jeito que o menino gostava, ele freqüentava um colégio católico, que guardava feriado no Dia de Todos os Santos, o que resultava, para ele, motivo de grande alegria, a falta de aula no dia seguinte.

A estratégia dos dois meninos era percorrer de cima a baixo todas as ruas situadas na direção norte—sul daquela pequena comunidade e depois irem no sentido das transversais leste-oeste.

Era um vilarejo de menos de mil habitantes, de modo que aqueles meninos, cheios de energia e bastante animados, podiam perfeitamente passar por todas as casas, o que, para eles, era um verdadeiro divertimento.

Quando chegaram à velha pensão da cidade, eles “faturaram”

como nunca. A gerente tinha feito com que os seus hóspedes, em torno de dez, colocassem suas dádivas numa enorme mesa, na entrada da pensão, para que os meninos não precisassem subir e descer as escadas para os corredores. Os meninos haviam programado chegar lá bem cedo; mesmo assim, suas sacolas já estavam quase pela metade! Seus pais os queriam de volta a casa por volta das 8h30 da noite; assim, contavam ainda com mais de uma hora.

Naquela noite, quando estavam indo pela Rua Três em direção à escola pública, o garoto e seu companheiro deram, então, uma parada e, por um momento, ficaram em silêncio, contemplando as luzes e as lanternas feitas de abóbora moranga, como máscaras, através de cujos “olhos” e “boca”, recortados, brilhavam velas acesas em seu interior — iluminando as escuras calçadas cobertas de folhas secas do outono. Então, casualmente, o menino

olhou para cima, por entre os galhos despidos das árvores da rua, e viu algo que transformaria para sempre a sua vida.

O brilhar das estrelas naquela noite de outubro, que até então ele podia ver muito bem, de repente desapareceu — ou foi coberto por alguma coisa.

Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o menino não conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam muitos cachos de uvas que se sacudiam de dor, suspensos como se fossem tumores obscenos, escuros, que obscureciam o firmamento estrelado.

Assim que o menino, boquiaberto foi saindo bem devagar de sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas as direções, as coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um daqueles cachos começou a se abrir, aos poucos, tornando-se horripilantes. Então ele percebeu o que de fato eram: um bando de enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão noturna!

Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de serem demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com maior facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido.

Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho acentuado faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproximavam. Os olhos que ele via pareciam entorpecer a sua lma.

— Agora você nos pertence.

Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de um grande sino.

— Agora você nos pertence.

Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortável, mas um gélido e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu de cima a baixo toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder, com uma força irresistível, despencou sobre ele, fazendo-o cair de joelhos.

— Ei, Bill! O que você está fazendo aí?

O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou para o amigo, agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os dentes num falso sorriso, nervoso, demonstrando não saber o que

estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas nada viu, senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido nada de anormal.

Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e recuperando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu então para alcançar seu amigo.

No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a cada noite de Halloween, com o passar dos anos e avançando em sua adolescência, olhava para o céu para ver se aquelas horrorosas e desagradáveis criaturas de olhos vermelhos apareceriam de novo no céu. Mas nunca voltaram.

Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de discos voadores, fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e Triângulo das Bermudas. Devorava todos os livros sobre esses assuntos que podia encontrar, para estranheza de seus pais. Todo ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do Halloween, mas jamais voltou a ter uma visão como aquela.

Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava, alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar o desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoada noite de Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma

do menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno viera entronizar-se nele.

Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo, parece que a pessoa — mesmo uma criança -— fica excepcionalmente sensibilizada por certos momentos e lugares. É quando o véu que separa o nosso mundo “real” do Mal Supremo parece rasgar-se levemente, e um horror sem controle penetra em nosso tempo e espaço.

KHiíielAnder, wisconsin - 1965

Desde o início de sua adolescência, a cada dois anos, o menino ia com seus pais a um local de veraneio junto às florestas do norte de Wisconsin. Eles alugavam uma cabana junto a um lago. Era um belo lugar.

Certa ocasião, quando lá chegaram, numa noite de verão, o 3-5 menino, agora um adolescente, estava no embarcadouro contemplando o lago. Era um local relativamente deserto, mas luminárias brilhavam por toda a margem. O fulgor das estrelas era excepcional. Ele desfrutava da beleza daquela noite e não lhe ocorria pensamento algum sobre espíritos ou coisas estranhas. De repente, algo esquisito começou a acontecer ao seu redor.

As árvores em torno do lago passaram a agitar-se, como que sacudidas por um forte vento — mas não estava ventando. Muito admirado e com certo medo, ele olhou para os pinheiros que balançavam de um lado para o outro. Parecia assistir à televisão com o som desligado! Ele chegou a tapar os ouvidos, testando-os, para ver se não estava tendo algum problema auditivo.

Até mesmo o ruído noturno dos insetos e dos sapos havia desaparecido. Não fosse o suave barulho das águas roçando nos pilares do embarcadouro e o som ocasional de madeira contra madeira dos barcos presos que batiam nas águas, teria julgado que estivesse totalmente surdo! Veio-lhe, então, um pensamento de que talvez um óvni, ou melhor, um disco voador, estivesse sobrevoando. Lera muito a respeito do aparecimento desses objetos desconhecidos e sabia que às vezes, nessas ocasiões, podem acontecer fenômenos meteorológicos estranhos. Podia ser esse o caso que estava ali presenciando, com a cessação de todos os ruídos da natureza viva. Mas o seu receio transformou-se rapidamente numa forte excitação quando desviou o olhar das árvores e o fixou no céu estrelado.

Ele somente havia visto óvnis espetaculares em ilustrações e filmes. Certa vez, chegou a observar apenas um par de luzes estranhas, muito longe, que poderiam ser discos voadores, mas talvez fossem balões meteorológicos ou algum avião fora da rota. Assim, naquele momento, o adolescente ficou ansioso e mordeu os lábios de nervosismo. Isso só poderia ser algo realmente fora de série!

As árvores continuavam sendo agitadas cada vez mais, sem que se ouvisse ruído algum. Elas o fizeram lembrar-se de filmes a que assistira cujas árvores agitavam-se com a descida de um helicóptero. Continuou com os olhos fixos no céu. Finalmente, algo como um óvni apareceu, mas diferente de tudo o que ele poderia jamais ter imaginado.

Devagar, no longínquo horizonte, foi surgindo uma gigantesca escuridão. A princípio, parecia uma enorme esfera negra que eclipsava mais de um terço das estrelas no horizonte. Mas se movia numa velocidade que seria impossível para algo assim tão grande.

Antes que tivesse tempo para qualquer reação, a esfera de total escuridão foi seguida por algo ainda maior, que efetivamente veio a obscurecer a maioria das estrelas no céu. Havia uma conexão entre os dois fenômenos. De repente, ele se deu conta de que estava vendo algo extraordinário, uma enorme silhueta de homem!

Mal havia percebido isso quando aquela coisa gigantesca começou a se movimentar por toda a abóbada celeste. Ele via, no horizonte, aquela sombra vindo em direção à sua cabeça. O rapaz sentiu-se como uma formiga que vê um homem marchando sobre o seu formigueiro Depois quase todo o céu ficou escurecido por aquela enorme mancha negra. O rapaz teve, então, a impressão de ver um par de olhos vermelhos, o que o fez lembrar-se dos olhos daquele bando de seres noturnos que lhe apareceram na noite de Halloween, anos atrás. Isso o inquietou um pouco, mas a imagem durou apenas um segundo. A silhueta negra deu, então, um enorme passo, desaparecendo no horizonte atrás do rapaz.

As estrelas voltaram a brilhar da forma normal; não mais estavam obscurecidas. As árvores pararam de balançar. Gradualmente, os sons noturnos do lago voltaram à normalidade, e o rapaz ficou embasbacado, questionando consigo mesmo a natureza do fenômeno que acabara de presenciar. Com um arrepio e uma forte sensação de náusea, ele retornou à cabana. Como era de esperar, não comentou nada com seus pais.

Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas florestas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele da visão na Rua Três, tempos atrás.

Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen atingira a maioridade.

Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as luzes de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween, pela primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.