domingo, 2 de maio de 2021

Aprenda a viver como um filho do rei - Capítulo 15


 COMO SENTIR-SE EXTATICAMENTE FELIZ NO TRÁFEGO

Tráfego. Essa foi uma das principais áreas de problema em minha vida, e acontecia regularmente entre as quatro e meia e cinco e meia da tarde. Eu dirigia o carro ao voltar para casa, procedente de minha fábrica localizada na zona industrial de Baltimore, na zona em que se encontram a Bethlehem Steel, a General Motors e umas poucas outras empresas pequenas como essas. . . Havia cerca de umas quarenta mil pessoas tentando chegar às suas casas na mesma hora, trafegando em estradas construídas para tráfego de veículos de tração animal, estradas de mão única.

Oh, como eu costumava magoar-me, dirigindo naquela balbúrdia da tarde. Eu havia trabalhado o dia todo e me dera bem louvando ao Senhor; mas depois tinha de enfrentar o tráfego da tarde. Dentro de quinze minutos eu me sentia completamente exausto. Eu costumava sentar-me ao chegar a um semáforo, pronto para entrar em ação, com o motor acelerado e minha pressão sangüínea também. Não podia descontrair-me naqueles trinta segundos de espera pela mudança de farol, porque alguém podia passar à minha frente. Eu tinha de sair adiante de todos quando o farol abrisse, e deixá-los tragando a fumaça do escapamento. Todos os faróis me pareciam os mais demorados. Eu era capaz de jurar que o marcador de tempo estava errado, e lá no meu íntimo suspeitava que aquilo era obra de intento maldoso de alguém para me importunar.

Meu desejo era ter uma longa barra de aço sob o eixo de transmissão do carro. Ela estaria ligada a um botão sob o painel, e quando alguém entrasse em meu caminho, alguém que demorava e 'não me permitia tomar a dianteira do tráfego, era só eu apertar o botão. A barra atravessaria o tanque de gasolina do indivíduo e iria sair no radiador, e isso lhe daria uma boa lição.

Então um dia dei com os olhos no texto bíblico que dizia: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam.” Vinha direto para mim como “Bendiga aqueles que o importunam”, e eu sabia que Deus falava acerca de minha atitude quando eu estava na direção do carro.

“Mas, Senhor, todos no tráfego me importunam”, disse-lhe eu.

Está bem, disse ele, foi você que disse que ia tentar todas as regras do Manual do Fabricante. Por isso, comece bendizendo os que o importunam no tráfego.

Bem, era difícil fazê-lo, mas prometi ao Senhor que tentaria. Em primeiro lugar, teria de desfazer-me de minha arma imaginária. Então, pela graça de Deus, tentei bendizer os que acintosamente abusavam de mim em situações de tráfego.

Isso exigia uma boa dose de bendizer.

A primeira noite em que experimentei o modo de Deus no tráfego, localizei um camarada assentado numa rua lateral em total melancolia. Estava com fome, havia trabalhado duro o dia todo, e sabia que havia dez mil carros cheios de pagãos que ainda tinham de passar apressados por aquele cruzamento antes que ele tivesse esperança de sair dali.

Quando parei e lhe fiz sinal que passasse à minha frente, esse gesto quase acabou com ele. Seus olhos se estatelaram e, por um breve momento, parece que se havia esquecido de como dirigir o carro. Ele pensara que não conseguiria sair dali dentro de duas horas, por isso desligou o motor e desistiu.

Bem, quando ele deu partida e saiu, todo o padrão do tráfego mudou. Vi que ele deixou alguém mais sair. Pude sentir que aliviava o espírito de correria daquela hora, e me senti tão abençoado que mal podia conter-me.

Agora eu me divirto a valer no tráfego. Quando paro num semáforo, observo o motorista tenso ao lado do meu carro, fazendo o que eu costumava fazer. Pisa no acelerador para ter certeza de que o motor funciona bem, emite fumaça poluidora suficiente para matar a vizinhança.

Quando a luz fica verde, de propósito espero um pouco para permitir que ele saia primeiro. E ao sair, ele abre a boca num sorriso que vai duma orelha à outra.

Talvez, pela primeira vez nos últimos trinta dias ele tenha sido excelente numa manobra. Pode ser que ele tenha aceitado o fato de que é um fracasso total, e então fi-lo sentir-se um êxito retendo meu carro. Contribuí para o seu dia, e posso vê-lo todo radiante em seu calhambeque.

Bem posso ouvir esse cavalheiro quando ele chegar a casa. Entra, e a esposa se admira por ele estar feliz. Ela estava acostumada a vê-lo entrar mal-humorado, como eu costumava entrar em minha casa, mais que exausto.

Mas hoje ele está eufórico.

— Querida, afinal de contas meu calhambeque não é tão ruim como parece. Você precisava ver como esta tarde deixei para trás um Mercedes novinho em folha num semáforo.

Talvez ele lhe dê um abraço extra e para variar a leve a jantar fora, e quem sabe? a garçonete receba uma gorjeta extra. Um gesto de bênção partido de um filho do Rei que procede como filho do Rei tem efeito duradouro.

Chego à minha casa descontraído, louvando ao Senhor, intercedendo por todos em toda parte, e quando entro, minha esposa sabe que me estive comportando como filho do Rei. Se, porém, chego fatigado, ela sabe que voltei ao meu velho sistema de dirigir.

Não existe área alguma de nossa vida que Deus não possa endireitar se lhe permitimos que ele faça o trabalho a seu modo.