sábado, 24 de abril de 2021

Vaso para honra - 09 - A Profanação do Templo de Deus



Capítulo 9

A Profanação do Templo de Deus


          "Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, Santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra." (2 Timóteo 2:19-21 - SBTB)
          Vez após vez, em todo o Novo Testamento, somos exortados a nos purificarmos, a limparmos o nosso vaso - nós mesmos. Nosso Senhor Jesus Cristo pagou um terrível preço na cruz para que cada um de nós "aparte-se da iniqüidade", e torne-se um "vaso para honra".
          Há duas áreas em que essa "purificação" é necessária. A primeira é a área da nossa natureza pecaminosa. Temos de colocar a nossa natu­reza pecaminosa sob controle e eliminar todo pecado presente em nossa vida. Em segundo lugar, devemos eliminar toda profanação do templo de Deus (nós mesmos). Creio que o templo de Deus é profa­nado, não somente pela nossa ativa participação no pecado, mas tam­bém pela presença de demônios.
          Isso nos leva a essa questão que é discutida tão acaloradamente: "pode um cristão ter demônios habitando em si?" Creio que as Escri­turas nos mostram claramente que sim.
          Os demônios não podem, sem mais nem menos, pular para dentro de alguém, a seu bel prazer. Nós estamos cercados por um muro, de forma que eles não podem entrar a não ser que rompamos o muro, abrindo uma brecha na proteção (ver figura 9-1).


Figura 9-1 ("...quem rompe um muro, mordê-lo-á uma cobra." - Ec 10:8)


Figura 9-2

          Como abrimos uma brecha no muro protetor? Por meio do pecado. O pecado abre uma brecha na nossa proteção - abre uma porta de acesso em nossa vida (ver figura 9-2).

          Esse pecados, que permitem a entrada de demônios, eu os chamo de pecados de profanação do templo. Por quê? Porque esta questão de demônios em cristãos no fundo se resume nisto: "Pode o templo de Deus, que somos nós, ser profanado, e, se sim, como as Escrituras definem o termo profanação?"
          Para podermos responder a esta pergunta temos de primeiro examinar o Antigo Testamento.
          No Antigo Testamento, Deus deu ao seu povo - os filhos de Israel - muitas "ilustrações'', em sua vida, para que pudessem compreender a vinda de Cristo e a obra que ele realizaria.
          Por exemplo, através das ofertas pelo pecado, eles eram levados à compreensão da necessidade do derramamento de sangue inocente e da entrega de uma vida para pagar o preço de seus pecados. As ofertas pelo pecado deram uma visão pungente do que Jesus realizou de uma só vez e para sempre na cruz.
          Da mesma forma, o templo de Deus, construído pelo rei Salomão, foi uma ilustração de todos nós que entramos no novo pacto com Cristo. Nós somos o templo de Deus, com o Espírito Santo habitando em nós, assim como a presença de Deus habitou no templo de Salomão (ver figura 9-3).


Figura 9-3 - Templo de Salomão

          Voltemos agora ao passado e vejamos a profanação do templo de Salomão. Eis aí um esboço do templo.
          O templo estava voltado para o norte (Ezequiel 8:14). Ele era cercado por um muro com dois portões, um no muro do norte e outro no muro do leste. O altar de bronze, que era usado para as ofertas pelo pecado, e o mar, ficavam na frente do templo.
          O templo era dividido em duas partes. A parte da frente era chamada de átrio interior, e a parte de trás era chamada de "santo dos santos". A presença de Deus habitava no santo dos santos sobre o trono de misericórdias. O sumo sacerdote podia entrar nesta parte do templo somente uma vez por ano.
          Após a morte de Salomão, seu filho Roboão assumiu o trono. Mas Roboão recusou o conselho divino e oprimiu o povo, de forma que eles se rebelaram e a nação de Israel foi dividida em duas partes. A cidade de Jerusalém estava na parte chamada Judá, a outra metade da nação foi chamada Israel. O maligno rei Manassés levantou altares dentro do templo aos seus deuses demônios:
          "Também edificou altares a todo o exército dos céus nos dois átrios da casa do Senhor." (2 Crônicas 33:5)

          Depois disso, o Senhor suportou durante aproximadamente 100 anos os prolongados períodos de profanação de sua casa antes de retirar a sua presença do templo.
          A meia-nação de Israel foi levada ao cativeiro antes da meia-nação de Judá. Ezequiel profetizou no cativeiro em Babilônia, na mesma época em que Jeremias profetizou em Jerusalém. Em Ezequiel, capítulos 8-10, o Senhor transportou Ezequiel, em espírito, de Babilônia a Jerusalém, para mostrar-lhe a profanação do seu templo (ver figura 9-4). "Estendeu ela dali uma semelhança de mão e me tomou pelos cachos da cabeça; o Espírito me levantou entre a terra e o céu e me levou a Jerusalém em visões de Deus, até a entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o norte, onde estava colocada a imagem dos ciúmes, que provoca o ciúme de Deus... Ele me disse: Filho do homem, - levanta agora os olhos para o norte. Levantei os olhos para lá, e eis que da banda do norte, à porta do altar, estava esta imagem dos ciúmes, à entrada!" (Ezequiel 8:3-5)


Nós não sabemos exatamente como era a aparência daquele ídolo, mas sabemos que demônios estão associados com todos os ídolos, Paulo escreveu especificamente sobre isso:
          "Que digo, pois? que o sacrificado ao ídolo é alguma cousa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as cousas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam.." (1 Coríntios 10:19-20)

          É claro, então, que demônios estavam presentes junto ao altar de bronze, com o ídolo. Em seguida, o Senhor mostrou a Ezequiel as paredes ao redor do templo. O versículo 10 diz:
          "Entrei, e vi; eis toda forma de répteis e de animais abo­mináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel, pinta­dos na parede em todo o redor." (Ezequiel 8:10)

          Bem, qual é o propósito desses desenhos ocultistas que se parecem com as nossas "pichações" da atualidade? É um fato bem conhecido, em todas as formas de bruxaria, que no ponto central de um desenho ocultista são colocados demônios. Portanto, havia demônios colocados sobre os muros ao redor do templo. Agora, olhe novamente o desenho do templo. A próxima ação acontece bem no interior do portão norte (ver figura 9-5).
          "Levou-me à entrada da porta da Casa do Senhor, que está na banda do norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz" (Ezequiel 8:14)


A maioria dos cristãos não percebe o significado desta afirmação. Antes de mais nada, você deve entender que o propósito de todos os rituais ocultistas é trazer demônios para estarem presentes com os seres humanos que realizam o ritual. Então por que as mulheres estavam "chorando  por Tamuz?''
          As mulheres estavam participando de uma forma comum de adoração a demônios, praticada pelos babilônios.
          Tamuz era um deus demoníaco que se supunha ser Nimrode reencarnado. Quem era Nimrode? Nimrode e a sua esposa Semíramis eram seres humanos que foram os líderes da adoração a demônios após o dilúvio.
          Nimrode é brevemente mencionado em Gênesis 10:9-10. A história antiga mostra-nos que Nimrode é o mesmo que Ninus, o primeiro rei Assírio, fundador e edificador da antiga Babilônia, onde a torre de Babel foi construída. Nimrode era adorado no Egito como Osíris. É nos registros egípcios que encontramos uma narrativa da morte de Nimrode, que foi uma morte violenta.
          Aparentemente ele foi morto por Sem, filho de Noé, em juízo por suas práticas abomináveis de adoração a demônios. "Se houve alguém que ficou profundamente entristecido com a morte trágica de Nimrode, mais do que qualquer outra pessoa, este alguém foi sua esposa Semíramis, que, vinda de uma posição humilde, tinha sido elevada para compartilhar com ele o trono da Babilônia.
          O que, nessa emergência, ela deveria fazer? Deveria ela silenciosamente abandonar a pom­pa e o orgulho ao qual tinha sido elevada? Não. Apesar da morte de seu marido ter causado um duro abalo ao seu poder, ainda assim sua determinação e ambição ilimitadas não fo­ram de forma alguma abaladas. Ao contrário, sua ambição alçou um vôo ainda mais alto.
          Em vida, seu marido havia sido honrado como herói; na morte ela lhe daria louvor como um deus, sim, como a semente prometida à mulher, "Zeroashta", que foi destinada a esmagar a cabeça da serpente, e que, fazendo isso, teria seu próprio calcanhar esmagado.
          Os pa­triarcas, e o mundo da antigüidade em geral, estavam perfei­tamente familiarizados com a grande promessa original do Éden, e eles sabiam muito bem que a ferida no calcanhar daquele que era a semente prometida implicava em sua mor­te, e que a maldição somente poderia ser removida do mundo pela morte do grande Salvador. Se a promessa acerca do esmagar da cabeça da serpente, registrada em Gênesis, con­forme feita aos nossos primeiros pais, ocorreu de fato, e se toda a humanidade descendeu deles, então seria de se espe­rar que algum vestígio dessa promessa fosse encontrado em todas as nações. E assim ocorre. Dificilmente se encontra um povo ou raça na terra em cuja mitologia isso não seja, de alguma forma, prenunciado." - The Two Babylons [Os Dois Babilônios], por Rev. Alexander Hislop, Loizeaus Brothers, New Jersey, 1916, pp. 58-60.
          Assim, Semíramis proclamou o morto Nimrode como sendo o "salvador" prometido por Deus a Adão e Eva no jardim do Éden. Pouco tempo depois da morte de seu marido, ela teve um filho, a quem deu o nome de Tamuz. Semíramis proclamou que Tamuz era Nimrode, que havia voltado à vida conforme prometido por Deus, na grande promessa  messiânica dada a Eva. Por todas as eras e em todos os lugares, ao redor do mundo, essa falsa mãe e esse falso filho têm sido adorados sob vários nomes. Semíramis tornou-se a "rainha dos céus"  e assim permanece até hoje.
          Portanto, "chorar por Tamuz" era chorar com a intenção de trazer Nimrode de volta à terra, e chorar para que o demônio adorado por aquele nome estivesse presente nas pessoas que realizavam aquela cerimônia. Portanto, vemos claramente que demônios estavam no in­terior do portão norte (ver figura 9-6).
          Então o Senhor disse a Ezequiel que iria mostrar-lhe a maior abomi­nação de todas.
          "Levou-me para o átrio de dentro da Casa do Senhor, e eis que estavam à entrada do templo do Senhor, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do Senhor e com o rosto para o oriente; adoravam o sol, virados para o oriente." (Ezequiel 8:16)


Figura 9-6 (Adorando "o sol, virados para o oriente")

          Adorar "o sol virados para o oriente" é uma forma egípcia de adora­ção a demônios, porque é louvor ao deus egípcio do sol, Osíris, que, como foi previamente exposto, era o nome egípcio de Nimrode.
          No­vamente, o propósito era chamar demônios para estarem presentes com as pessoas. Assim, demônios estavam bem no átrio interior do templo. 2 Crônicas 33:5, mencionado anteriormente neste capítulo com respeito a Manassés, também mostra claramente a presença de demônios dentro do templo de Deus, e mostra que a presença de Deus ainda não havia deixado o templo.
          Os demônios e a presença de Deus estavam juntos no mesmo tem­plo. Creio que esta é uma figura do que pode acontecer conosco. So­mente depois de Deus ter mostrado a Ezequiel todas essas abominações foi que Ezequiel viu então a glória de Deus elevar-se do templo e deixá-lo. Mas, queira lembrar-se, eu mostrei anteriormente como essa condi­ção de profanação pela presença de demônios no templo havia perma­necido, com períodos alternados de santificação e re-profanação, du­rante quase 100 anos. Finalmente, Deus trouxe juízo. Ele removeu sua presença do templo e então o templo foi totalmente destruído!
          Agora, vejamos o Novo Testamento:
          "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espí­rito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo." (1 Coríntios 3:16-17 - SBTB)

          Estes dois versículos são claramente dirigidos aos cristãos. Agora, se fosse impossível profanar o templo de Deus, estes versículos não estariam nas Escrituras. Estes versículos trazem uma advertência sole­ne. Não permita que o seu templo seja profanado. Se você fizer isso, acabará sendo destruído.
          É interessante que a palavra grega usada nestes versículos para "des-truir" pode também significar "profanar" - ela tem o sentido de danifi­car, corromper, destruir; levar a um estado pior; depravar (cf. A Critical Lexicon and Concordance to the English and Greek New Testament [Dicionário e Concordância Crítica do Novo Testamento em Inglês e Grego] por Ethelbert W. Bullinger, Zondervan Publishing, Grand Rapids, MI 1975, p. 213), podendo o versículo 17 ser traduzido "se alguém profanar o templo de Deus, Deus o destruirá", como ocorre na versão inglesa da Bíblia.
          Creio que o sentido aqui é que a profanação que uma pessoa permite no templo (em si mesma) resultará em sua destruição. Por exemplo, se uma pessoa sai e participa de uma relação homossexual, não somente ela irá receber a profanação de demônios, como poderá também receber AIDS. A AIDS destruirá o seu corpo físico, destruindo assim o templo. Um crente, nascido de novo, não pode esperar que Deus o proteja da AIDS se ele participar de um encontro homossexual, assim como não pode esperar que Deus o proteja de receber demônios!
          Muitas pessoas me têm perguntado se eu penso que a destruição mencionada aqui significa a perda eterna da salvação. Eu não tenho todas as respostas definitivas, mas, em minha opinião pessoal, não creio assim. Penso que o corpo físico será destruído, mas o espírito e alma partirão para estar com o Senhor. Entretanto, o crente irá sofrer a perda de recompensas no céu. Nos versículos imediatamente anteri­ores à declaração acima, Paulo aborda este assunto:
          "Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamen­to edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo." (1 Coríntios 3:13-15)

          Ouvimos muito poucos sermões sobre estes versículos. As pessoas não gostam de pensar em sofrer perdas no céu. Nós gostamos de pensar que iremos todos receber a mesma recompensa, não impor­tando o que tenhamos feito aqui na terra. Isso simplesmente não é verdade. Uma pessoa pode não perder a salvação, mas, se ela permi­tir que a profanação continue em sua vida, ela não irá receber as re­compensas que iria receber se tivesse tido uma vida em completa obe­diência ao Senhor.
          Um dos principais argumentos usados contra cristãos terem demônios é: "que comunhão pode ter as trevas com a luz?". Agora, examinemos este ensino bíblico em seu contexto:
          "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça ? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor. E não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Pode­roso." (2 Coríntios 6:14-18 - SBTB)

          Esta passagem foi dirigida aos cristãos de Corinto, portanto alguns deles estavam obviamente sob jugo desigual. Paulo estava dizendo a eles para limparem a sua vida. Portanto, esta passagem não pode ser usada como uma prova de que os cristãos não podem ter demônios. Justamente o contrário. Paulo continua escrevendo, no capítulo 7:
          "Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus?'' (2 Co­ríntios 7:1-SBTB)
          "...e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para hon­ra, Santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra" (2 Timóteo 2:19-21 - SBTB)

          Temos que purificar o nosso vaso e limpar o templo de Deus, que somos nós. Está claro que o Espírito de Deus e os demônios habitaram dentro do mesmo templo, simultaneamente, no Antigo Testamento.
          Está claro, também, que as Escrituras nos advertem quanto a profa­nar o templo de Deus, que somos nós. Vez após vez somos exortados a purificar a nós mesmos!
          O restante deste livro foi escrito para ajudá-lo a obedecer a Deus e a purificar-se a si mesmo. Você está disposto a tolerar que uma situa­ção de profanação exista em você?