Capítulo 9
A Profanação do Templo de Deus
"Todavia o fundamento
de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e
qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande
casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns
para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar
destas coisas, será vaso para honra, Santificado e idôneo para uso do
Senhor, e preparado para toda a boa obra." (2 Timóteo 2:19-21 -
SBTB)
Vez após vez, em todo o
Novo Testamento, somos exortados a nos purificarmos, a limparmos o nosso vaso -
nós mesmos. Nosso Senhor Jesus Cristo pagou um terrível preço na cruz para que
cada um de nós "aparte-se da iniqüidade", e torne-se um "vaso
para honra".
Há duas áreas em que essa
"purificação" é necessária. A primeira é a área da nossa natureza
pecaminosa. Temos de colocar a nossa natureza pecaminosa sob controle e
eliminar todo pecado presente em nossa vida. Em segundo lugar, devemos eliminar
toda profanação do templo de Deus (nós mesmos). Creio que o templo de Deus é
profanado, não somente pela nossa ativa participação no pecado, mas também
pela presença de demônios.
Isso nos leva a essa
questão que é discutida tão acaloradamente: "pode um cristão ter demônios
habitando em si?" Creio que as Escrituras nos mostram claramente que sim.
Os demônios não podem, sem
mais nem menos, pular para dentro de alguém, a seu bel prazer. Nós estamos
cercados por um muro, de forma que eles não podem entrar a não ser que rompamos
o muro, abrindo uma brecha na proteção (ver figura 9-1).
Figura 9-1 ("...quem rompe um muro, mordê-lo-á uma cobra." - Ec
10:8)
Figura 9-2
Como abrimos uma brecha no
muro protetor? Por meio do pecado. O pecado abre uma brecha na nossa proteção -
abre uma porta de acesso em nossa vida (ver figura 9-2).
Esse pecados, que permitem
a entrada de demônios, eu os chamo de pecados de profanação do templo. Por
quê? Porque esta questão de demônios em cristãos no fundo se resume nisto:
"Pode o templo de Deus, que
somos nós, ser profanado, e, se sim, como as Escrituras definem o termo profanação?"
Para podermos responder
a esta pergunta temos de primeiro examinar o Antigo Testamento.
No Antigo Testamento, Deus
deu ao seu povo - os filhos de Israel - muitas "ilustrações'', em sua
vida, para que pudessem compreender a vinda de Cristo e a obra que ele
realizaria.
Por exemplo, através das
ofertas pelo pecado, eles eram levados à compreensão da necessidade do
derramamento de sangue inocente e da entrega de uma vida para pagar o preço de
seus pecados. As ofertas pelo pecado deram uma visão pungente do que Jesus
realizou de uma só vez e para sempre na cruz.
Da mesma forma, o templo de
Deus, construído pelo rei Salomão, foi uma ilustração de todos nós que entramos
no novo pacto com Cristo. Nós somos o templo de Deus, com o Espírito Santo
habitando em nós, assim como a presença de Deus habitou no templo de Salomão
(ver figura 9-3).
Figura 9-3 - Templo de Salomão
Voltemos agora ao passado e
vejamos a profanação do templo de Salomão. Eis aí um esboço do templo.
O templo estava voltado
para o norte (Ezequiel 8:14). Ele era cercado por um muro com dois portões, um
no muro do norte e outro no muro do leste. O altar de bronze, que era usado
para as ofertas pelo pecado, e o mar, ficavam na frente do templo.
O templo era dividido em
duas partes. A parte da frente era chamada de átrio interior, e a parte de trás
era chamada de "santo dos santos". A presença de Deus habitava no
santo dos santos sobre o trono de misericórdias. O sumo sacerdote podia entrar
nesta parte do templo somente uma vez por ano.
Após a morte de Salomão,
seu filho Roboão assumiu o trono. Mas Roboão recusou o conselho divino e
oprimiu o povo, de forma que eles se rebelaram e a nação de Israel foi dividida
em duas partes. A cidade de Jerusalém estava na parte chamada Judá, a outra
metade da nação foi chamada Israel. O maligno rei Manassés levantou altares
dentro do templo aos seus deuses demônios:
"Também edificou
altares a todo o exército dos céus nos dois átrios da casa do Senhor." (2 Crônicas 33:5)
Depois disso, o Senhor
suportou durante aproximadamente 100 anos os prolongados períodos de profanação
de sua casa antes de retirar a sua presença do templo.
A meia-nação de Israel foi
levada ao cativeiro antes da meia-nação de Judá. Ezequiel profetizou no
cativeiro em Babilônia, na mesma época em que Jeremias profetizou em Jerusalém.
Em Ezequiel, capítulos 8-10, o Senhor transportou Ezequiel, em espírito, de
Babilônia a Jerusalém, para mostrar-lhe a profanação do seu templo (ver figura
9-4). "Estendeu ela dali uma semelhança de mão e me tomou pelos cachos
da cabeça; o Espírito me levantou entre a terra e o céu e me levou a Jerusalém
em visões de Deus, até a entrada da porta do pátio de dentro, que olha para o
norte, onde estava colocada a imagem dos ciúmes, que provoca o ciúme de Deus...
Ele me disse: Filho do homem, - levanta agora os olhos para o norte. Levantei
os olhos para lá, e eis que da banda do norte, à porta do altar, estava esta
imagem dos ciúmes, à entrada!" (Ezequiel 8:3-5)
Nós não sabemos exatamente como era a aparência daquele ídolo, mas sabemos
que demônios estão associados com todos os ídolos, Paulo escreveu
especificamente sobre isso:
"Que digo, pois? que o
sacrificado ao ídolo é alguma cousa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor?
Antes, digo que as cousas que eles sacrificam, é a demônios que as
sacrificam.." (1 Coríntios 10:19-20)
É claro, então, que
demônios estavam presentes junto ao altar de bronze, com o ídolo. Em seguida, o
Senhor mostrou a Ezequiel as paredes ao redor do templo. O versículo 10 diz:
"Entrei, e vi; eis
toda forma de répteis e de animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa
de Israel, pintados na parede em todo o redor." (Ezequiel 8:10)
Bem, qual é o propósito
desses desenhos ocultistas que se parecem com as nossas "pichações"
da atualidade? É um fato bem conhecido, em todas as formas de bruxaria, que no
ponto central de um desenho ocultista são colocados demônios. Portanto, havia
demônios colocados sobre os muros ao redor do templo. Agora, olhe novamente o
desenho do templo. A próxima ação acontece bem no interior do portão norte (ver
figura 9-5).
"Levou-me à entrada da
porta da Casa do Senhor, que está
na banda do norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a
Tamuz" (Ezequiel 8:14)
A maioria dos cristãos não percebe o significado desta afirmação. Antes de
mais nada, você deve entender que o propósito de todos os rituais ocultistas
é trazer demônios para estarem presentes com os seres humanos que realizam o
ritual. Então por que as mulheres estavam "chorando por Tamuz?''
As mulheres estavam
participando de uma forma comum de adoração a demônios, praticada pelos
babilônios.
Tamuz era um deus demoníaco
que se supunha ser Nimrode reencarnado. Quem era Nimrode? Nimrode e a sua
esposa Semíramis eram seres humanos que foram os líderes da adoração a demônios
após o dilúvio.
Nimrode é brevemente
mencionado em Gênesis 10:9-10. A história antiga mostra-nos que Nimrode é o
mesmo que Ninus, o primeiro rei Assírio, fundador e edificador da antiga
Babilônia, onde a torre de Babel foi construída. Nimrode era adorado no Egito
como Osíris. É nos registros egípcios que encontramos uma narrativa da morte de
Nimrode, que foi uma morte violenta.
Aparentemente ele foi morto
por Sem, filho de Noé, em juízo por suas práticas abomináveis de adoração a
demônios. "Se houve alguém que ficou profundamente entristecido com a
morte trágica de Nimrode, mais do que qualquer outra pessoa, este alguém foi
sua esposa Semíramis, que, vinda de uma posição humilde, tinha sido elevada para
compartilhar com ele o trono da Babilônia.
O que, nessa emergência,
ela deveria fazer? Deveria ela silenciosamente abandonar a pompa e o orgulho
ao qual tinha sido elevada? Não. Apesar da morte de seu marido ter causado um
duro abalo ao seu poder, ainda assim sua determinação e ambição ilimitadas não
foram de forma alguma abaladas. Ao contrário, sua ambição alçou um vôo ainda
mais alto.
Em vida, seu marido havia
sido honrado como herói; na morte ela lhe daria louvor como um deus, sim, como
a semente prometida à mulher, "Zeroashta", que foi destinada a
esmagar a cabeça da serpente, e que, fazendo isso, teria seu próprio calcanhar
esmagado.
Os patriarcas, e o mundo
da antigüidade em geral, estavam perfeitamente familiarizados com a grande
promessa original do Éden, e eles sabiam muito bem que a ferida no calcanhar
daquele que era a semente prometida implicava em sua morte, e que a maldição
somente poderia ser removida do mundo pela morte do grande Salvador. Se a
promessa acerca do esmagar da cabeça da serpente, registrada em Gênesis, conforme
feita aos nossos primeiros pais, ocorreu de fato, e se toda a humanidade
descendeu deles, então seria de se esperar que algum vestígio dessa promessa
fosse encontrado em todas as nações. E assim ocorre. Dificilmente se encontra
um povo ou raça na terra em cuja mitologia isso não seja, de alguma forma,
prenunciado." - The Two Babylons [Os Dois Babilônios], por Rev. Alexander
Hislop, Loizeaus Brothers, New Jersey, 1916, pp. 58-60.
Assim, Semíramis proclamou
o morto Nimrode como sendo o "salvador" prometido por Deus a Adão e
Eva no jardim do Éden. Pouco tempo depois da morte de seu marido, ela teve um
filho, a quem deu o nome de Tamuz. Semíramis proclamou que Tamuz era Nimrode,
que havia voltado à vida conforme prometido por Deus, na grande promessa messiânica dada a Eva. Por todas as eras e em
todos os lugares, ao redor do mundo, essa falsa mãe e esse falso filho têm sido
adorados sob vários nomes. Semíramis tornou-se a "rainha dos
céus" e assim permanece até hoje.
Portanto, "chorar por
Tamuz" era chorar com a intenção de trazer Nimrode de volta à terra, e
chorar para que o demônio adorado por aquele nome estivesse presente nas
pessoas que realizavam aquela cerimônia. Portanto, vemos claramente que demônios
estavam no interior do portão norte (ver figura 9-6).
Então o Senhor disse a
Ezequiel que iria mostrar-lhe a maior abominação de todas.
"Levou-me para o átrio
de dentro da Casa do Senhor, e eis
que estavam à entrada do templo do Senhor,
entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e cinco homens, de costas para
o templo do Senhor e com o rosto
para o oriente; adoravam o sol, virados para o oriente." (Ezequiel 8:16)
Figura 9-6 (Adorando "o sol, virados para o oriente")
Adorar "o sol virados
para o oriente" é uma forma egípcia de adoração a demônios, porque é
louvor ao deus egípcio do sol, Osíris, que, como foi previamente exposto, era o
nome egípcio de Nimrode.
Novamente, o propósito era
chamar demônios para estarem presentes com as pessoas. Assim, demônios estavam
bem no átrio interior do templo. 2 Crônicas 33:5, mencionado anteriormente
neste capítulo com respeito a Manassés, também mostra claramente a presença de
demônios dentro do templo de Deus, e mostra que a presença de Deus ainda
não havia deixado o templo.
Os demônios e a presença de
Deus estavam juntos no mesmo templo. Creio que esta é uma figura do que pode
acontecer conosco. Somente depois de Deus ter mostrado a Ezequiel todas essas
abominações foi que Ezequiel viu então a glória de Deus elevar-se do templo e
deixá-lo. Mas, queira lembrar-se, eu mostrei anteriormente como essa condição
de profanação pela presença de demônios no templo havia permanecido, com
períodos alternados de santificação e re-profanação, durante quase 100 anos.
Finalmente, Deus trouxe juízo. Ele removeu sua presença do templo e então o
templo foi totalmente destruído!
Agora, vejamos o Novo
Testamento:
"Não sabeis vós que
sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém
destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois
vós, é santo." (1 Coríntios 3:16-17 - SBTB)
Estes dois versículos são
claramente dirigidos aos cristãos. Agora, se fosse impossível profanar o templo
de Deus, estes versículos não estariam nas Escrituras. Estes versículos trazem
uma advertência solene. Não permita que o seu templo seja profanado. Se
você fizer isso, acabará sendo destruído.
É interessante que a
palavra grega usada nestes versículos para "des-truir" pode também
significar "profanar" - ela tem o sentido de danificar, corromper,
destruir; levar a um estado pior; depravar (cf. A Critical Lexicon and
Concordance to the English and Greek New Testament [Dicionário e
Concordância Crítica do Novo Testamento em Inglês e Grego] por Ethelbert W.
Bullinger, Zondervan Publishing, Grand Rapids, MI 1975, p. 213), podendo o
versículo 17 ser traduzido "se alguém profanar o templo de Deus, Deus o
destruirá", como ocorre na versão inglesa da Bíblia.
Creio que o sentido aqui é
que a profanação que uma pessoa permite no templo (em si mesma) resultará em
sua destruição. Por exemplo, se uma pessoa sai e participa de uma relação
homossexual, não somente ela irá receber a profanação de demônios, como poderá
também receber AIDS. A AIDS destruirá o seu corpo físico, destruindo assim o
templo. Um crente, nascido de novo, não pode esperar que Deus o proteja da AIDS
se ele participar de um encontro homossexual, assim como não pode esperar que
Deus o proteja de receber demônios!
Muitas pessoas me têm
perguntado se eu penso que a destruição mencionada aqui significa a perda
eterna da salvação. Eu não tenho todas as respostas definitivas, mas, em minha
opinião pessoal, não creio assim. Penso que o corpo físico será destruído, mas
o espírito e alma partirão para estar com o Senhor. Entretanto, o crente irá
sofrer a perda de recompensas no céu. Nos versículos imediatamente anteriores
à declaração acima, Paulo aborda este assunto:
"Manifesta se tornará
a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo
fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a
obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a
obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo,
todavia, como que através do fogo." (1 Coríntios 3:13-15)
Ouvimos muito poucos
sermões sobre estes versículos. As pessoas não gostam de pensar em sofrer
perdas no céu. Nós gostamos de pensar que iremos todos receber a mesma
recompensa, não importando o que tenhamos feito aqui na terra. Isso
simplesmente não é verdade. Uma pessoa pode não perder a salvação, mas, se ela
permitir que a profanação continue em sua vida, ela não irá receber as recompensas
que iria receber se tivesse tido uma vida em completa obediência ao Senhor.
Um dos principais
argumentos usados contra cristãos terem demônios é: "que comunhão pode ter
as trevas com a luz?". Agora, examinemos este ensino bíblico em seu
contexto:
"Não vos prendais a um
jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a
injustiça ? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre
Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o
templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como
Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles
serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor. E
não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós
sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso." (2 Coríntios 6:14-18 -
SBTB)
Esta passagem foi dirigida
aos cristãos de Corinto, portanto alguns deles estavam obviamente sob jugo
desigual. Paulo estava dizendo a eles para limparem a sua vida. Portanto, esta passagem
não pode ser usada como uma prova de que os cristãos não podem ter demônios.
Justamente o contrário. Paulo continua escrevendo, no capítulo 7:
"Ora, amados, pois que
temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do
espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus?'' (2 Coríntios 7:1-SBTB)
"...e qualquer que
profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade. Ora, numa grande casa não
somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para
honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar destas
coisas, será vaso para honra, Santificado e idôneo para uso do Senhor, e
preparado para toda a boa obra" (2 Timóteo 2:19-21 - SBTB)
Temos que purificar o nosso
vaso e limpar o templo de Deus, que somos nós. Está claro que o Espírito
de Deus e os demônios habitaram dentro do mesmo templo, simultaneamente, no
Antigo Testamento.
Está claro, também, que as
Escrituras nos advertem quanto a profanar o templo de Deus, que somos nós. Vez
após vez somos exortados a purificar a nós mesmos!
O restante deste livro foi
escrito para ajudá-lo a obedecer a Deus e a purificar-se a si mesmo. Você está
disposto a tolerar que uma situação de profanação exista em você?