sábado, 24 de abril de 2021

Prepare-se para a guerra - Capítulo 03


 UM ANO DE LUTAS

                Dando um suspiro de cansaço, Rebecca abriu a porta de sua casa, fechou-a com um chute para trás e caiu exausta na poltrona. Chico, seu gato siamês, imediatamente pulou para o lado dela e começou a ronronar.

                — "O que há de bom para se ronronar, velho amigo?", — ela resmungou, afagando seu pelo sedoso. — Já passam das dez da noite e eu ainda não comi nada.

                Chico miou em concordância.

                — Bem, ficar sentada aqui não vai resolver nada, — Rebecca disse com um bocejo, enquanto se levantava da poltrona. Ela acendeu um abajur e dirigiu-se para ligar o som estéreo.

                - Não!

                O comando vindo do Espírito Santo surgiu em sua mente. Sua mão parou sobre a chave que ligava o aparelho.

                - Não? — ela perguntou, — o que dizer com isso, Senhor?

                — Não ligue o estéreo, — foi a pronta resposta, e então houve silêncio.

                — O que é agora? — Rebecca resmungou, — será que eles nunca desistem? Por quanto tempo isso ainda vai continuar?

                Ela ligou outra luz e cautelosamente arrastou o aparelho estéreo, examinando os fios na parte de trás do amplificador. Ali estava uma pequena bomba incendiária, parecida com um bastão de dinamite, ligada ao estéreo. Se ela o tivesse ligado, ela teria se tornado história. Delicadamente ela retirou a tomada da parede e, com cuidado, desconectou os fios. Felizmente Elaine tinha ensinado muito bem. Elaine costumava fazer tais bombas quando estava na seita satânica e ela havia ensinado a Rebecca como desativá-las.

                Com um suspiro de alívio, Rebecca cuidadosamente colocou a bomba numa caixa para livrar-se dela mais tarde de forma segura, e então reconectou os fios do estéreo. Pondo um disco com músicas de louvor, ela dirigiu-se à cozinha para comer alguma coisa. Enquanto examinava, cansada, o que havia na geladeira, o Senhor falou-lhe novamente.

                - Verifique qual é o antídoto de Pavulon; já que você se esqueceu disso.

                - Agora, Senhor? Estou faminta!

                Rebecca havia trabalhado no hospital quase ininterruptamente desde as 7 horas da manhã, naquele dia. Ela estava há várias semanas com um horário sem dias de folga e com muito pouco tempo de repouso. A prolongada situação crítica de Elaine juntamente com os ataques incansáveis dos satanistas estava lhe pesando. Ela estava completamente exausta, física e emocionalmente.

                - Agora! — foi a ordem do Senhor.

                A intensidade dos últimos dois anos haviam sedimentado em Rebecca o hábito de obediência instantânea a qualquer direção do Senhor. Ela fechou a porta do refrigerador e foi à estante onde estavam seus livros de medicina.

                Pavulon é um remédio utilizado diariamente em cirurgias nos hospitais. Ele é ministrado diretamente nas veias do paciente, através de uma injeção intravenosa. Causa completa paralisia de todos os músculos em segundos e o efeito dura cerca de uma hora, a não ser que a dosagem seja repetida. É usado durante cirurgias para paralisar os músculos do paciente, para evitar espasmos e assim minimizar danos aos músculos du-rante as cirurgias. Entretanto, na cirurgia, o anestesista usa um dispositivo especial para fazer o paciente respirar. Se não fizesse isso, o paciente morreria porque a paralisia muscular causada pelo Pavulon torna-lhe impossível respirar. O antídoto é a piridostigmina, uma substância também injetada nas veias, que reverte de forma quase instantânea a paralisia causada pelo Pavulon. Quando Rebecca fechou o livro de farmacologia, o Senhor falou com ela novamente, desta vez com urgência.

                — Agora volte ao hospital, porque alguém está neste exato momento começando a injetar Pavulon nas veias de Elaine.

                Rebecca apanhou as chaves e correu à porta. Ela morava a cerca de dois minutos do hospital. Ela saiu do seu carro e foi correndo pelas escadarias até o quarto de Elaine. Com efeito, quando chegou, encontrou Elaine azul pela falta de oxigênio, sem respirar. Ela acionou o código de emergência e as enfermeiras vieram correndo trazendo o carrinho de emergência.

                Acontecia que o médico responsável por Elaine, Jerry (este não é o seu verdadeiro nome), estava no andar de baixo, na sala de emergência, examinando um paciente. Quando Jerry ouviu o número do quarto sendo anunciado pelo sistema de comunicação interna do hospital, ele percebeu que se tratava do quarto de Elaine e veio correndo.

                No momento em que Jerry chegou, Rebecca e os outros médicos da equipe encarregada haviam colocado um tubo pela garganta de Elaine até seus pulmões e estavam usando um aparelho denominado Bolsa de Ambu para fazê-la respirar.

                — O que é que está acontecendo? — foi a pergunta de Jerry.

                — Eu não sei — respondeu Rebecca, — encontrei Elaine azul e sem respirar. Ela ainda não está respirando.

                — Posso ver isto, mas por quê? - Jerry correu com a mão pelo cabelo, frustrado. — Nunca vi nada igual! E uma coisa atrás da outra, e não temos explicação para nenhum dos problemas dela!

                Rebecca hesitou em responder, pensando consigo mesma o quanto do que sabia poderia dizer. Finalmente, decidiu dizer o que tinha em mente.

                — Olhe, Jerry, eu sei que isto parece loucura, mas estes episódios nos quais Elaine pára de respirar parecem exatamente como um paciente que toma Pavulon ou algo similar. Por que não tentamos usar um pouco de piridostigmina?

                — Diabos! Como é que Pavulon iria parar nas veias de Elaine?

                "E isso mesmo", Rebecca pensou, "você não sabe o quanto o diabo está envolvido em tudo isto!" Calmamente ela disse:

                - Eu não sei, Jerry, mas o que temos a perder? A piridostigmina não fará mal a ela e, se funcionar, teremos muitas questões respondidas.

                — Sim, mas teremos muito mais de perguntas, também! Oh, está bem, o que temos a perder, vamos tentar a piridostigmina — Jerry disse sacudindo os ombros. Todos no quarto aguardavam com a respiração presa enquanto Jerry lentamente injetava a droga nas veias de Elaine. Em poucos segundos ela começou a mover-se e a respirar por conta própria.

                Lágrimas começaram a correr pelo seu rosto — ela não podia falar, porém, devido ao tubo endotraqueal na sua garganta, que ia até os pulmões. A experiência de repentinamente estar paralisada e então finalmente perder a consciência por não poder respirar havia sido horrível. Expressões de choque estavam na face de todos os médicos e enfermeiras. Rapidamente eles foram saindo do quarto, não desejando estar envolvidos na situação. Se qualquer um deles fosse interrogado acerca do incidente, negariam que tivesse jamais ocorrido. É assim que as coisas são no mundo médico.

                Jerry olhou para Rebecca.

                — Você estava certa! Eu sei que há muito mais coisas envolvidas nesta situação do que parece, e eu digo mais, eu não quero saber o que está acontecendo! Apenas quero retirar Elaine daqui. Agora, me diga, como foi que você conseguiu estar aqui na hora certa?

                — O Senhor me disse — foi a simples resposta de Rebecca.

                — De alguma forma eu sabia que essa seria sua resposta: - Jerry disse. — mas deixe-me dar-lhe um conselho: não saia por aí falando esse negócio de "o Senhor me disse" para mais ninguém, por aqui. Eles a prenderiam e jogariam fora a chave da cela. Você sabe o quanto isto parece loucura, Rebecca. Você realmente acredita que o Senhor fala com você?

                — Você sabe que sim, Jerry. Ele falaria com você, também, se tão somente você fizesse de Jesus Cristo seu Senhor e Salvador."

                — Não comece com isto de novo, Rebecca. Estou cansado demais esta noite. Bem, quem quer que tenha feito isso terá algo sobre o que pensar, já que não funcionou. Eu vou transferir Elaine para a UTI esta noite e retirar o tubo pela manhã. O que eu gostaria de saber é o que devo escrever na ficha dela, para que isso não soe como uma completa loucura. Resmungando baixinho e sacudindo a cabeça, Jerry deixou o quarto.

                Rebecca curvou-se e alisou o cabelo de Elaine.

                — Está tudo bem, querida: — ela disse — o Senhor está agindo, como sempre. Eu lamento que você tenha tido de passar por esta experiência tão horrível. Você conseguiu ver quem colocou aquilo em suas veias?

                Elaine disse que não com a cabeça. Rebecca suspirou. Quando tudo terminaria? Ela olhou para o seu relógio. Já passava da meia-noite. Ela ficaria até que Elaine fosse transferida para a UTI.

                O incidente com o Pavulon nas veias de Elaine foi apenas uma das muitas tentativas de matar Elaine. A batalha havia sido interminável e a doença de Elaine parecia não ter cura à vista. Não havia somente as tentativas de matar Elaine; mas continuamente ocorriam doenças catastróficas. Primeiro a devastadora infecção do rim que acabou passando para a corrente sanguínea.

                Então o coágulo na sua perna, que se moveu para o pulmão quase matando-a por destruir grande parte de um dos pulmões. Depois outra infecção, seguida por outro coágulo. Mais recentemente, os episódios frequentes em que Elaine simplesmente parava de respirar sem haver nenhum motivo explicável e tinha que ser colocada em uma máquina que respirasse por ela. Naquela noite o Senhor havia revelado a explicação para os casos em que ela teve apnéia (falta de respiração).

                Rebecca realmente estava ficando desencorajada e o mesmo ocorria com Elaine. Ela não tivera nem uma noite de repouso ininterrupto desde a libertação de Elaine, há um ano atrás. Os ataques não eram somente dirigidos a Elaine, mas Rebecca também era atacada. Sua casa era constantemente invadida; episódios como este da bomba ocorreram várias vezes. Tais bombas foram ligadas à ignição do seu carro, no seu telefone e no estéreo.

                Também, ocorreram múltiplas tentativas de envenenar a sua comida, especialmente o seu café. Muitas, muitas vezes o Espírito Santo parou-a quando estava para tomar o primeiro gole de uma xícara de café. Muitas vezes ela acabava de fazer o seu prato no refeitório e o Senhor lhe dizia para colocar a bandeja inteira no lugar para bandejas sujas, sem comer nada. Rebecca havia certamente aprendido o significado literal das Escrituras, quando dizem:

                "Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ação de graças, nada é recusável, porque pela palavra de Deus e pela oração, é santificado." 1 Timóteo 4:4-5

                [Jesus falando] "Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem ... se alguma cousa mortífera beberem, não lhes fará mal ..." Marcos 16:17-18

                 Rebecca nunca tomou um gole sequer de água sem antes agradecer ao Senhor, pedindo-lhe que a santificasse e purificasse. Em mais de uma ocasião, ao terminar de almoçar, ela notou alguns dos médicos da equipe do hospital olhando estranhamente para ela; alguns até mesmo perguntaram se ela sentia-se bem. Ela não tinha dúvidas de que o Senhor havia respondido à sua oração e purificado sua comida de qualquer veneno que tivesse sido colocado. Uma enfermeira veio falar com ela um dia e aceitou Jesus como seu Salvador, dizendo a Rebecca que havia ficado tão espantada por ela sobreviver ao veneno colocado em sua comida que queria servir ao Senhor de Rebecca, ao invés de a Satanás.

                David (este era na seita o nome de um médico do mesmo hospital de Rebecca, que era também o sumo sacerdote local) estava obviamente ficando cada dia mais bravo. Ele parou Rebecca no corredor uma noite e ameaçou a sua vida. Os quartos de dormir para os médicos de plantão eram bastante isolados. As portas dos quartos podiam ser trancadas por dentro, mas não podiam ser trancadas enquanto o ocupante estava fora do quarto.

                Rebecca havia sido instruída pelo Espírito Santo a deixar pequenos pedaços de papel ou tecido em cima da porta ou sob a porta, de forma que pudesse saber se alguém havia aberto a porta na sua ausência. Muitas noites ela não podia retornar ao seu quarto porque David ou alguma outra pessoa esperava por ela em seu quarto. Então, ao invés disso, ela passava o resto da noite sentada na sala de estar dos médicos.

                Algumas vezes Rebecca ria silenciosamente, ao perceber que os satanistas estavam ficando quase tão frustrados quanto ela. Eles não podiam compreender por que fracassavam tanto.

                Uns poucos vieram e perguntaram abertamente a ela qual o poder que ela tinha que eles não tinham. Estes aceitaram Jesus Cristo como seu Senhor e deixaram o Satanismo. Rebecca regozijava-se porque sabia que não somente a sua sobrevivência dependia de contínua obediência ao Senhor, mas, enquanto Ele a fazia passar segura por todos os ataques, outros eram conduzidos a aceitar Jesus como Salvador.

                Frequentemente Rebecca clamava ao Senhor por alívio, mas nenhum alívio vinha. Repetidamente o Espírito Santo trazia à sua mente a passagem em Efésios 6:

                "Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis." Efésios 6:12-13

                 Esta foi a única resposta que o Senhor deu a Rebecca naquela situação. Ele as havia guardado em segurança durante a Missa Negra da Páscoa, mas, afora isso, parecia haver diminuição na batalha.

                Duas semanas após o incidente com o Pavulon, Rebecca estava uma noite dirigindo para casa em lágrimas.

                "Senhor," ela clamou, "por que não conseguimos ter uma vitória nesta situação? Por favor, o Senhor não poderia nos abençoar com a saída de Elaine do hospi¬tal, pelo menos?"

                "Quanto valor você dá a uma bênção minha?" foi a resposta imediata.

                Então o Espírito Santo inundou a mente de Rebecca com passagens de Gênesis, que narravam a história de Jacó.

                "Ficando ele [Jacó] só; e lutava com ele um homem, até ao romper do dia ... Disse este: Deixa-me ir, pois já rompeu o dia. Respondeu Jacó: Não te deixarei ir se me não abençoares. Perguntou-lhe, pois: Como te chamas? Ele respondeu: Jacó. Então disse: Já não te chamarás Jacó e sim Israel: pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. Tornou Jacó: Dize, rogo-te, como te chamas? Respondeu ele: Por que perguntas pelo meu nome? E o abençoou ali. Aquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva." Gênesis 32:24-30

                Enquanto Rebecca meditava na Palavra o Senhor falou a ela novamente:

                "Diga-me, filha, você valoriza uma bênção minha o bastante para lutar uma noite inteira por ela?"

                Rebecca considerou a questão. Já passavam das 9 horas da noite e ela estava exausta. Todo o seu corpo clamava por descanso. Ao tomar a pista principal ela decidiu-se e respondeu:

                "Sim." Aquela noite foi uma das primeiras, das muitas outras que se seguiram, em que Rebecca ficou até o dia seguinte sem dormir, de joelhos. Ela orou, leu a Palavra, e meditou nas coisas de Deus. Ela pediu ao Senhor para lhe revelar qualquer pecado em sua vida, e gastou muito tempo em lágrimas, seu coração angustiando-se pelo sofrimento de Elaine. Quando amanheceu a paz veio ao seu coração e ela preparou-se para outro dia de trabalho.

                Deus respondeu à vigília de Rebecca e em uma semana Elaine melhorou o suficiente para ser autorizada a sair do hospital. A própria Rebecca também deixou aquele hospital pela última vez e preparou-se para mudar-se para uma outra cidade para exercer a atividade médica. As lições aprendidas naquele ano de intensa batalha pela vida de Elaine seriam necessárias nos anos seguintes, quando Rebecca e Elaine trabalhariam para o Senhor, retirando muitos outros da servidão a Satanás, trazendo-os para a maravilhosa luz do reino de Jesus Cristo.