“Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e
deu dons aos homens" (Ef 4.8).
Deus, o Criador de todas as coisas, do universo, dos seres
vivos e do homem, compraz-se em ser um doador de bênçãos. Faz parte de sua
natureza divina, do seu caráter e de sua essência, conceder dádivas ou dons ao
ser criado à sua imagem, conforme a sua semelhança. Ao criar o ser humano,
homem e mulher, deu-lhes o sopro divino, o primeiro dom, o dom da vida. Não
apenas a vida biológica, mas a vida espiritual, a vida eterna, com a qual o
homem poderia desfrutar para sempre da gloriosa presença do Criador, sem sofrer
os males decorrentes do pecado.
A Queda foi a tragédia de dimensão espiritual, humana e
cósmica. O homem não soube aproveitar a grande dádiva da existência e da vida,
propiciada pelo Ser Supremo. E desperdiçou a grande oportunidade de viver com
Deus, no paraíso, que se estenderia por todo o planeta, num ambiente plenamente
adequado para uma vida especial. Perdeu a vida eterna, restando-lhe o dom da
vida na dimensão biológica, sujeito às fraquezas e desordens naturais.
Mas Deus provou que tem um plano especial para o homem, na
face da Terra. E propiciou a redenção da humanidade, com a promessa da “semente
da mulher” (Gn 3.15), que haveria de ferir a cabeça da serpente, o Diabo e seus
seguidores. Jesus, a maior dádiva de Deus à D O NS ESPIRITUAIS &
MINISTERIAIS
humanidade, nasceria de uma mulher (cf. Is 7.14), para ser
morto, em sacrifício pelo homem perdido, e tornar-se o vencedor do pecado, da
morte e do Diabo. A salvação foi o maior dom de Deus ao mundo (Jo 3.16). O dom
da vida eterna, em Cristo Jesus.
No plano de Deus para o planeta Terra, Ele previu a formação
de um povo especial, que deveria representar os interesses do seu Reino. Foi o
povo de Israel (Ex 19.3-6).
O Senhor deu a Israel todas as condições para ser um “reino
sacerdotal e povo santo”. Mas Israel não entendeu os sublimes propósitos de
Deus para sua história. Ao longo de séculos, alternou-se em servir a Deus e a
desobedecer a sua vontade. Bênçãos e castigos fazem parte de sua história.
Culminando em sua rejeição por um tempo, para que Deus escolhesse outro povo
para servir aos interesses dos céus no universo. Esse povo é a Igreja de Nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo. Cumprindo a promessa feita no Éden, de redenção
da humanidade, Jesus veio ao mundo, no tempo de Deus (kairós), “na plenitude
dos tempos” (G1 4.4), para congregar a sua igreja, como “... um povo seu
especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).
Na Antiga Aliança, Deus concedeu a Israel líderes
extraordinários para guiá-los como povo eleito. Alguns tinham dons especiais,
como Moisés, Arão, Miriã, Josué; outros eram profetas ou mensageiros, que
tinham dons especiais, concedidos por Deus para a operação de sinais e
maravilhas. Mas aqueles dons não estavam à disposição de toda a comunidade.
Moisés fazia sinais ante Faraó, e o povo apenas tomava conhecimento e era
beneficiário dos milagres de Deus. Eliseu fazia sinais, multiplicando o azeite
da viúva; ou tornando doces as águas estéreis (2 Rs 3.20-22), e o povo era
apenas espectador, ou nem tomava conhecimento de tais maravilhas.
Entretanto, na Nova Aliança (Novo Testamento), como parte do
plano de Deus, em Cristo Jesus, Ele resolveu dar “dons aos homens” (Ef 4.8),
após sua vitória sobre a morte e sobre todos os poderes do mal. Indo além dos
“dons naturais”, Jesus resolveu capacitar seus servos, integrantes de sua
Igreja, dando-lhes dons {carismas), que são postos à disposição de todos os
salvos, no seio da comunidade cristã.
Os dons são “ferramentas”, por assim dizer, à disposição da
igreja, para que essa exerça sua missão profética, de proclamadora do evangelho
de Cristo, de modo eficaz, contra “...os principados, contra as potestades,
contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da
maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12), usando a “armadura do salvo”, E Deu
Dons aos Homens
na guerra espiritual sem tréguas a que todo salvo é
submetido. Neste estudo, veremos o que são os dons, seu propósito e sua
classificação, e como são postos à disposição dos salvos em Cristo Jesus.
Nunca foi tão necessária a manifestação dos dons do Espírito
Santo, como nos dias atuais visto que estamos vivendo numa sociedade corrompida
pelo pecado e enganada por falsos milagres e ensinamentos que contradizem o
verdadeiro evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Existe em toda a Bíblia Sagrada pelo menos quatorze palavras
para referir-se a dons, cinco delas em hebraico e nove em grego. Porém o
apóstolo Paulo emprega a palavra charisma, para indicar os dons do Espírito
Santo, as suas graças, gratuitamente conferidas para a obra do ministério (1 Co
12.4,9,28,30,31). A Palavra Charisma é usada por dezessete vezes no Novo Testamento,
com certas variedades de aplicação.
As habilidades dadas a cada pessoa pelo Espírito Santo são
chamadas de dons espirituais. E capacita a quem os recebe para ministrar às
necessidades principalmente do Corpo de Cristo que é a Igreja. Nesta análise,
de natureza introdutória, chamamos de “dons de Deus” a todos os carismas
concedidos por Deus, de diversas formas, como recursos de origem divina, que
têm o propósito de capacitar os salvos em Cristo Jesus, como membros da Igreja,
para que esta alcance sua Missão e seus objetivos, definidos pelo seu Senhor,
Cabeça e Mestre.
I - Os dons na Bíblia
1. NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra “dom” tem vários significados no texto bíblico. No
Antigo Testamento, escrito em hebraico, há várias palavras que traduzem o
sentido de “dom”. Dentre elas, destacamos os termos mattan, com o sentido de
alguma coisa oferecida gratuitamente, ou “um presente”, como em Provérbios
19.6; 21.14; ou como dote, dádiva (Gn 34.12). Há o termo maseth, que também
significa “presente”, “dádiva” (Et 2.18; Jr 40.5); a mais usada, no entanto, é
minchach, que ocorre duzentas e nove vezes, com o significado de “oferta”,
“presente” (SI 45.12;
72.10). Em todas as ocorrências, o sentido é sempre o de
algo que é dado ou oferecido gratuitamente. No Antigo Testamento, os dons eram D
o n s Es p i r i t u a i s & M i n i s t e r i a i s
concedidos a pessoas específicas, chamadas por Deus para
cumprir determinadas missões. Os dons não estavam à disposição de todo o povo
de Deus.
2. NO NOVO TESTAMENTO
No Novo Testamento, escrito em grego, a palavra “dom” assume
de igual modo significados diversos. O termo “doma” indica a oferta de um
“presente”, “boa coisa” (Mt 7.11); o “pão nosso” é uma dádiva de Deus (Lc
11.13); “dons”, concedidos por Deus aos homens (Ef 4.8), com base no Salmo
68.19. A palavra cháris indica “dom gratuito”, ou “graça” (2 Co 8.4). O termo
charisma é muito utilizado em estudos bíblicos, pois tem o significado de “dons
do Espírito”, concedidos pela graça de Deus, com propósitos muito elevados; é
relacionado ao termo ta charismata, utilizado em 1 Coríntios 12.4,9,28,30,31,
que tem o sentido de “dons da graça”. Há o termo grego ta pneumática, usado por
Paulo, em 1 Coríntios 12.1; 14.1, que se refere a “dons espirituais”. Em o Novo
Testamento, os dons de Deus estão à disposição de todos os que creem, com a
finalidade de promover graça, poder e unção à Igreja no exercício de sua
missão, de forma que Cristo seja glorificado.
3. DONS NATURAIS
O objetivo deste capítulo é enfatizar os dons no sentido
espiritual. No entanto, incluímos rápida referência aos “dons naturais”, visto
que eles são também dádivas ou concessões de Deus a todos os homens. Eles podem
ser dados através de dois meios, e não devem ser confundidos com dons
espirituais.
1) Através da natureza
Em sua infinita bondade, Deus “...é quem dá a todos a vida,
a respiração e todas as coisas” (At 17.25). Além da vida humana, infundida no
ato da criação, e na geração de cada novo ser vivo, Deus concede, através da
natureza, o ar, a água, o sol, a chuva, a germinação das plantas, os frutos, os
alimentos e tudo o que é necessário à sobrevivência no planeta. São “dons” ou
dádivas naturais. E fruto da graça de Deus.
Para o naturalista, tudo isso é resultado de um processo
ecológico, fruto do acaso cego. E a suprema ignorância sobre a verdadeira
origem da Terra e do universo em geral. Mas os cristãos verdadeiros, que
conhecem a Palavra de Deus, como revelação divina, sabem que todo o
funcionamento dos ecossistemas são fruto da criação de Deus e de sua bondade
para com o homem, face o seu plano glorioso para o planeta Terra, que é
propriedade de Deus (SI 24.1).
2) Através das aptidões humanas
De modo geral, cada pessoa tem algum tipo de habilidade para
realizar determinadas coisas. A psicometria, que usa o Quociente de
Inteligência (QI) como parâmetro, indica que há pessoas com nível de
inteligência maior ou menor que outra. Numa outra linha de entendimento, o
psicólogo Howard Gardner (1980) entende que existem 7 tipos de inteligência:1
Inteligência linguística. As pessoas que possuem este tipo
de inteligência tem grande facilidade de se expressar tanto oralmente quanto na
forma escrita. Elas além de terem uma grande expressividade, também têm um alto
grau de atenção e uma alta sensibilidade para entender pontos de vista alheios.
É uma inteligência fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro é uma das
inteligências mais comuns.
Inteligência lógica: Pessoas com esse perfil de inteligência
têm uma alta capacidade de memória e um grande talento para lidar com
matemática e lógica em geral. Elas têm facilidade para encontrar solução de
problemas complexos, tendo a capacidade de dividir estes problemas em problemas
menores e ir resolvendo até chegar à resposta final. São pessoas organizadas e
disciplinadas. E uma inteligência fortemente relacionada ao lado direito do
cérebro.
Inteligência Motora: Talento para os esportes e para a
dança. Pessoas com este tipo de inteligência possuem um grande talento em
expressão corporal e tem uma noção espantosa de espaço, distância e Dons Espirituais e Ministeriais.
profundidade. Tem um controle sobre o corpo maior que o
normal, sendo capazes de realizar movimentos complexos, graciosos ou então
fortes com enorme precisão e facilidade. E uma inteligência relacionada ao
cerebelo que é a porção do cérebro que controla os movimentos voluntários do
corpo. Presente em esportistas olímpicos e de alta performance. E um dos tipos
de inteligência diretamente relacionado à coordenação e à capacidade motora.
Inteligência Espacial. Pessoas com este perfil de
inteligência têm uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens
2D e 3D. Elas tem uma grande capacidade de criação em geral, mas principalmente
tem um enorme talento para a arte gráfica. Pessoas com este perfil de
inteligência têm como principais características a criatividade e a
sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e enxergar coisas que quem não
tem este tipo de inteligência desenvolvido, em geral, não consegue dominar
esses assuntos.
Inteligência Musical: É um dos tipos raros de inteligência.
Pessoas com este perfil têm uma grande facilidade para escutar músicas ou sons
em geral e identificar diferentes padrões e notas musicais. Eles conseguem
ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue, sendo
capazes também de criar novas músicas e harmonias inéditas. Pessoas com este
perfil é como se conseguissem “enxergar” através dos sons. Algumas pessoas têm
esta inteligência tão evoluída que são capazes de aprender a tocar instrumentos
musicais sozinhas. Assim como a inteligência espacial, este é um dos tipos de
inteligência fortemente relacionados à criatividade.
Inteligência Interpessoal: E um tipo de inteligência ligada
à capacidade natural de liderança. Pessoas com este perfil de inteligência são
extremamente ativas e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas.
São os líderes práticos, aqueles que chamam a responsabilidade para si. Eles
são calmos, diretos e tem uma enorme capacidade para convencer as pessoas a
fazer tudo o que ele achar conveniente. São capazes também de identificar as
qualidades das pessoas e extrair o melhor delas organizando equipes e
coordenando trabalho em conjunto.
Inteligência Intrapessoal: Liderança indireta para
influenciar as pessoas. E um tipo raro de inteligência, também relacionado à
liderança.
Quem desenvolve a inteligência intrapessoal tem uma enorme
facilidade em entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam. Ao contrário
dos líderes interpessoais que são ativos, os líderes intrapessoais são mais
reservados, exercendo a liderança de um modo mais indireto, através do carisma
e influenciando as pessoas através de ideias e não de ações. Entre os tipos de
inteligência, este é considerado o mais raro.
Numa análise teológica, podemos dizer que esse ou aquele
tipo de inteligência ou habilidade humana é dom natural de Deus, manifestado
através de talentos, virtudes, capacidades inatas, ou vocações para
determinadas tarefas.
Inteligência Espiritual. O apóstolo Paulo, em sua visão
ampla acerca da vida espiritual, incluiu, em seus ensinos o conceito de
“Inteligência Espiritual” (Cl 1.9). Sem dúvida alguma, é a inteligência
concedida por Deus para os crentes compreenderem, discernirem e praticarem a
vontade de Deus, em todas as áreas e situações de sua vida. A inteligência
espiritual transcende os dons naturais e situa-se na esfera da ação do Espírito
Santo na vida do crente. Certamente, podemos dizer que também é um dom de Deus.
II - DONS ESPIRITUAIS (1 CO 12.1-11)
Como consta do item I, tanto no Antigo como no Novo
Testamento, a palavra “dons” sempre se refere à dádiva, ofertas ou presentes,
concedidos graciosamente. Os dons espirituais ou carismáticos são manifestações
espirituais ou poderes, concedidos pelo Espírito Santo com o propósito maior de
glorificar a Cristo. O Novo Testamento faz uso da expressão pneumática (gr.
derivada de pneuma, “espírito”), indicando que a expressão “dons espirituais”
refere-se às manifestações sobrenaturais concedidas como dons da parte do
Espírito Santo, e que operam através dos crentes, para o seu bem comum (w. 1,7;
14.1). A expressão pneu- matikon, usada por Paulo (1 Co 12.1), refere-se a
“coisas espirituais”, entendidas como os dons espirituais.
Após a ressurreição de Cristo, Ele se credenciou, diante de
Deus, dos anjós e dos poderes do mal, para dar “dons aos homens” (Ef 4.8). Indo
além dos “dons naturais”, Jesus resolveu capacitar seus servos, integrantes de
sua Igreja, dando-lhes dons (carismas), que são postos à disposição de todos os
salvos, no seio da comunidade cristá. Esses dons não são privilégio ou
exclusividade dos líderes, dos pastores, evangelistas, presbíteros, ou dos ensinadores
da igreja. Eles estão à disposição dos santos, para que, por eles, o Senhor
realize seus propósitos especiais. Ele os reparte “particularmente a cada um
como ele quer” (1 Co 12.11).
A Igreja de Jesus é “...a geração eleita, o sacerdócio real,
a nação santa, o povo adquirido, para” anunciar “as virtudes daquele que vos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Esse povo é “o seu
Corpo”, do qual Ele é a cabeça (Cl 1.18). A Igreja é a “...universal assembleia
e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de
todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). E não pode ser
confundida com “igrejas e igrejas”, que existem, cuja origem não é divina, mas
humana e criadas com propósitos humanos. Os dons espirituais contribuem para
estabelecer e demonstrar a diferença entre “igrejas” e a Igreja de Nosso Senhor
e Salvador Jesus Cristo.
1. O CONHECIMENTO DOS DONS ESPIRITUAIS
Os salvos em Cristo Jesus não podem ser ignorantes acerca
dos dons espirituais (1 Co 12.1-3). É interessante, ainda que no aspecto
negativo, como há falta de ensino, em muitas igrejas, acerca do batismo com o
Espírito Santo e mais ainda sobre os dons espirituais. Essa omissão contribui
para a ignorância acerca dos dons, e dá lugar a comportamentos estranhos, de
origem carnal e emocional, como expressões falsas de espiritualidade. E o caso
do “cair no espírito”, quando certos pastores ou pregadores, sem base bíblica,
dão palavras de ordem a pessoas incautas e carentes de ensino, e elas caem
desmaiadas. E isso é visto como “elevado sinal de espiritualidade”. Quanto mais
pessoas o pregador “derrubar”, é visto como muito espiritual. Se não derrubar
crentes não é espiritual!
2. A NECESSIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
A Igreja, como “Corpo de Cristo”, precisa de poder, de unção
e de manifestações espirituais, que se expressam genuinamente através dos dons
espirituais. Esses dons são indispensáveis à unidade e à ação da Igreja, por
diversas razões.
1) Na espera pela vinda de Jesus. Em toda a sua história,
desde sua fundação por Jesus Cristo, a Igreja tem sido a instituição mais
atacada pelas forças do mal. Ela nasceu debaixo da perseguição. Impérios
humanos tentaram destruí-la, apagando seu nome da face da terra. Filosofias
humanistas e materialistas tentaram sufocá-la, abafando sua mensagem; sistemas
políticos totalitários e ateístas, a serviço do Diabo, tentaram eliminar sua influência
no mundo.
Os ataques contra a integridade espiritual da Igreja
continuam, ao longo dos séculos. Como Noiva do Cordeiro, Ela precisa de poder
para vencer às mais diferentes investidas malignas, na longa espera pelo Noivo.
Ainda que, no século XXI, haja, no meio das igrejas locais, recursos que os
primeiros cristãos não possuíam, em termos teológicos, educacionais ou
tecnológicos, o único recurso que lhe dá condições de suplantar o império do
mal é o Poder do Espírito Santo. E este poder se manifesta na operação
sobrenatural dos dons espirituais.
2) Os dons espirituais fazem a diferença. Na parábola das
Dez Virgens (Mt 25.1-13), Jesus demonstrou a seus discípulos que a chegada do
Noivo poderia demorar. As cinco virgens loucas representam a parte da Igreja
que não estará preparada para esperar a Volta de Jesus. As virgens prudentes
representam os crentes salvos, que, além de terem o “azeite” nas lâmpadas, ou
em suas vidas e testemunho, têm “azeite” nas vasilhas de reserva.
O “azeite” representa a presença e o poder do Espírito Santo
na vida dos crentes que vão subir ao encontro do Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Ts
4.16,17). Os dons espirituais é que fazem a diferença,
atuando no meio da igreja, nesses “tempos trabalhosos” (2 Tm 3.1), em que a
pecami- nosidade e a rebeldia contra Deus estão aumentando. Há milhares e
milhares de “igrejas”, mas só vão subir ao encontro do Noivo os crentes salvos,
santos e irrepreensíveis para a vinda de Jesus (1 Ts 5.23).
3) Os dons podem ser abundantes. A igreja de Corinto é um
exemplo eloquente de que uma igreja cristã pode experimentar a ocorrência de
uma variedade enorme de dons espirituais. Na introdução à sua primeira Carta
aos Coríntios, Paulo tece considerações elogiosas àqueles crentes, acentuando
que nenhum dom (espiritual) lhes faltava, “esperando a manifestação de nosso
Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1.7), que os haveria de confirmar até o fim para
serem” irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.8).
4) Os dons são indispensáveis à evangelização. A missão da
Igreja, levada a efeito através das igrejas locais, é de proclamar o evangelho.
Nos tempos pós-modernos, a incredulidade, a frieza e a indiferença pelo
evangelho de Cristo é tão grande e tão latente, que, sem a manifestação
espiritual de forma evidente, as pessoas não vão saber discernir entre os
falsos evangelhos e o verdadeiro evangelho de Jesus. Sempre houve essa
necessidade.
Nos primórdios da evangelização, através de Jesus Cristo, as
pessoas criam nEle, a ponto de multidões segui-lo, não só pela sua mensagem que
tinha autoridade, e fazia diferença (Jo 7.46), mas, principalmente, por causa
dos sinais e prodígios que Ele fazia.
III - A GENUIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
Os dons espirituais devem ser utilizados na igreja,
respeitados os requisitos e condições estabelecidos na palavra de Deus. Fora
disso, há o risco de haver manifestações espúrias ou falsas em relação ao
verdadeiro caráter dos dons.
1. OS DONS DEVEM SER EXERCIDOS COM AMOR
A divisão da Bíblia em capítulos só ocorreu em 1227 e, em
versículos, em 1551.2 Quando se lê o capítulo 12 de 1 Coríntios, sobre os dons
espirituais e se passa para o capítulo seguinte, sobre o amor cristão, tem-se a
impressão de que são temas distintos. Na verdade, originalmente, antes da
divisão da Bíblia em capítulos, o texto dos capítulos 12 a 14 trata do mesmo
tema dos dons.
Paulo termina o capítulo 12, com sua belíssima dissertação
sobre os dons espirituais, com uma exortação por demais relevante, dizendo:
“Portanto, procurai com zelo os melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho
ainda mais excelente” (1 Co 12.31 — grifo nosso). Que “caminho ainda mais
excelente” é esse? A resposta vem de imediato, na ligação entre o último
versículo do capítulo 12 e o primeiro versículo do capítulo 13, quando o
apóstolo dá sequência ao seu precioso ensino sobre os dons espirituais. E
afirma de modo peremptório: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos
anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que
tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse
os montes, e não tivesse caridade, nada seria” (1 Co 13.1,2).
Fica bem claro que, se os crentes tiverem dons espirituais
em abundância, mas não tiverem amor, o exercício desses carismas de nada
adianta diante de Deus. Nesses dois versículos Paulo mostra a síntese da
inutilidade dos dons, quando usados sem amor.
2. OS DONS DEVEM SER USADOS DE ACORDO COM A PALAVRA
A Palavra de Deus deve ser a referência número um para
qualquer atividade ou manifestação na igreja? “Lâmpada para os meus pés é tua
palavra e luz, para o meu caminho” (SI 119.105). E o Espírito Santo quem
inspira a Palavra de Deus e a seus escritores. Logo, não há nenhuma
justificativa para que um dom seja exercido em desacordo com os preceitos da Palavra
de Deus.
3. OS DONS NÁO DÁO ORIGEM A DOUTRINAS
A fonte primordial e única de qualquer doutrina, na igreja
cristã, é a Palavra de Deus. É altamente danoso para a integridade espiritual
de qualquer igreja, quando um líder, ou um outro membro da igreja, apresenta
como doutrina aquilo que não tem fundamento na Bíblia. Determinado obreiro
ensinou que os crentes que possuem internet estão em pecado. Para se dizer que
algo é pecado é necessário fundamentar na Palavra de Deus. Na realidade, tal
ensino é fruto de opinião pessoal do líder. Do contrário, é imposição
autoritária, que só traz prejuízo à obra do Senhor. Ensinar que quem usa a
internet de maneira ilícita, para visualizar coisas que não agradam a Deus,
está pecando, é correto, mas afirmar que possuir internet é pecado é abuso de
autoridade ministerial.
Não há necessidade de outra fonte de doutrina além da
Palavra de Deus (G1 1.8,9).
4. QUEM TEM UM DOM DEVE SER MAIS HUMILDE
Os dons espirituais são parte das riquezas sobrenaturais,
concedidas pelo Espírito Santo aos servos do Senhor, com o objetivo de servir à
igreja. Jamais o portador de um dom deve orgulhar-se e portar-se de modo
arrogante ou autoritário. Deve agir, sabendo que “Temos, porém, esse tesouro em
vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Co
4.7). Nunca devemos esquecer de que o Espírito Santo glorifica a Cristo e não
ao homem (Jo 16.14). Se o que tem o dom não tiver essa consciência de
humildade, poderá perder a graça para usá-lo. Deus não admite que o seu louvor
seja transferido para ninguém.
IV - Dons Ministeriais (Ef 4.11)
Ministérios são serviços ou funções exercidos na igreja
local, como parte do Corpo de Cristo, que é a sua Igreja. No âmbito cristão,
ministérios são serviços que devem ser exercidos por pessoas que tenham a
mentalidade de servas de Cristo. Quem não pode ser servo não pode ser ministro
na Igreja de Cristo. Ele disse que não veio para ser servido, mas para ser
servo (Mt 20.28).
1. O LADO ESPIRITUAL DA IGREJA
Igreja de Jesus Cristo é espiritual e humana. No lado
espiritual, precisa de poder espiritual, de sabedoria espiritual, de
capacitação espiritual. Daí, a necessidade dos dons espirituais, como foi visto
no item anterior. O lado espiritual reflete a natureza da Igreja como
organismo, ou o Corpo de Cristo, Paulo discerniu bem o aspecto espiritual da
Igreja, como organismo espiritual ao dizer: “Antes, seguindo a verdade em
caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o
corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa
operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor”
(Ef 4.15,16).
2. O LADO HUMANO DA IGREJA
No lado humano, a Igreja precisa de liderança. E esta não
pode ser exercida apenas pela capacidade humana, intelectual, teológica, por
mais que tais capacitações sejam importantes. A liderança eclesiástica deve ser
espiritual, ministerial e administrativa. Os ministérios ou serviços (gr.
diakonion), indispensáveis ao ordenamento e o funcionamento da igreja dependem
da graça de Deus. Os dons ministeriais fortalecem a unidade da Igreja, atuando
de modo equilibrado ao lado dos espirituais.
Os líderes cristãos podem ter formação secular ou teológica,
mas não podem prescindir da legitimação através dos dons que os capacitam para
liderar o Corpo de Cristo na Terra. Antes de tudo, precisam ter convicção da
chamada de Deus para serem servos-líderes.
Jesus, o Dono e Senhor da Igreja, só dá dons a homens que
têm esse perfil de homens-servos. Os dons espirituais estão à disposição de
todos os crentes, de todos os salvos. Mas os dons ministeriais são específicos
para homens que têm a chamada de Deus para o ministério de servir à Igreja.
Conclusão
A Igreja de Cristo Jesus, nestes tempos que antecedem à sua Vinda, precisa mais do que nunca do exercício e da experiência concreta dos dons espirituais e ministeriais. Espiritualidade sem organização ministerial pode levar a práticas fanáticas de falsos exemplos de espiritualidade. O exercício dos ministérios, sem a demonstração do poder de Deus, atuando pelos dons espirituais, seguramente leva à frieza institucional, transformando igrejas em meras instituições religiosas.